Conversa ao pé do fogo.
Um amor de criança.
Foi um amor incrível. Meu primeiro. Quando a vi, meu corpo tremeu.
Naquele dia ela nem me olhou. Estava com seus pais. Fui para casa só pensando
nela. Jantei com dificuldade. Dormi sonhando com ela. Não sabia seu nome. Uma
louca paixão desabrochava em mim. Treze anos e apaixonado. Acordei pensando
como me aproximar. No Ginásio não prestei atenção na aula. Não dava. Lembro que
o Padre Pedro me chamou a atenção. Não prestava atenção aos seus ensinamentos.
Professor de geografia. Minha mente tinha passado por uma lavagem cerebral. Eu
esperava ansioso a aula acabar. No portão do colégio nem liguei para os amigos.
Na minha bicicleta querida fui correndo até sua casa na Rua Peçanha. Meio dia e
eu encostado ao muro em frente à casa dela.
A janela fechada. Precisava vê-la. Eu tinha que vê-la. O sol do meio dia
fustigava. Mas eu não iria sair dali enquanto não a visse. Sabia que minha mãe
e minhas irmãs me esperavam para o almoço. Ninguém podia faltar a mesa, somente
meu pai que estava trabalhando. Eu era o responsável em levar sua marmita. Ela
não aparecia. Meu coração batia forte. Não dava mais para ficar. Corri até
minha casa. Almocei rápido dei minhas quarentas bombadas na bomba da cisterna
que fazia parte da rotina, e levei a marmita do meu pai. Voltei correndo para a
Rua Peçanha. Naquele dia seria impossível dormir sem vê-la de novo. Tive sorte.
A janela estava aberta. Ela chegou e me olhou. Um sorriso leve. Jogou seus
cabelos louros de um lado para outro. Nossa! Ela me amava! Puxa vida então era recíproco?
Agora eu sabia que seriamos felizes para sempre! Falei baixinho qual seu nome –
Cilene respondeu sorrindo. Pensei em nossa casinha pintada de branco no Bairro
onde morava. Janelas azuis, cerca de madeira pintada de branco. Canteiros de
flores. Begônias, rosas, violetas centenas delas. Quem sabe girassóis em volta
da cerca.
Ela ficou menos de
cinco minutos na janela. Cinco minutos que me fizeram o homem mais feliz do
mundo. Ninguém disse nada, mas tínhamos certeza que seriamos namorados eternos.
Chiquinho chegou correndo com sua bicicleta Phillips inglesa pneu faixa branca.
A minha era uma Hisqvarna sueca pneu balão. - A Patrulha estava em reunião na
sede, disse. Estão discutindo e planejando o acampamento da semana santa em Rio
Pomba. Seriam quatro dias. Já tínhamos planejado fazer um acampamento suspenso.
Tudo lá no alto inclusive a cozinha. Iríamos estudar levar até água na cozinha
suspensa. Eles me mandaram chamar você. Estão aguardando. Fui correndo com ele.
Cilene minha amada? Esqueci. Era sempre assim. Agora era o escotismo e mais
nada. Saudades dos meus treze anos, da minha Patrulha Raposa. Para dizer a
verdade só fui lembrar-me de Cilene quando retornamos. Mas o amor? Não era tão
louco assim. O escotismo sim, ele foi e é até hoje um grande amor na minha
vida!
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