No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Olhos Negros.


Olhos Negros.

Lagrimas caiam aos borbotões. Zeus sentia um nó na garganta. Como ajudar? Chefe minha vida acabou. Zeus não sabia o que dizer. Qual o papel do Chefe? Aconselhar? Mostrar o caminho? Difícil demais para formar jovens para a vida. Ele sabia que palavras bonitas se tornam descartáveis perto de atitudes estúpidas. – Quem foi em um curso que lhe disse que na dificuldade se conhecem os verdadeiros escoteiros? Zeus pensou novamente – Se você acredita que é capaz, ignore a opinião dos outros e siga em frente. Nem sempre é bom saber a opinião dos outros. Mas ele era um Chefe, um educador, alguém que os meninos confiavam. – Olhos Negros chorando disse: Quatro meses suspenso dos escoteiros. Meu pai é mau, não sabe o amor que tenho pelos escoteiros e faltar no Acampamento Anual? Zeus não disse nada. Não havia o que dizer. Pai é pai. Olhos Negros errou. Péssimas notas escolares. Afinal cumpriu a lei?  

A pior ambição do ser humano é desejar colher os frutos daquilo que nunca plantou. Ele comprou sua trilha com sinal de evitar. Zeus sabia que se ele não mudasse hoje, todos os amanhãs serão iguais a ontem. – Olhou profundamente nos olhos lacrimosos de Olhos Negros. – O que acha que posso fazer? Pensou em recomeçar? Todo amanhecer o sol aparece e nunca desistiu. Você não é derrotado quando perde. Você é derrotado quando desiste. – Começar de novo? Disse Olhos Negros. – Sim, algumas vezes coisas ruins acontecem em nossas vidas para nos colocar na direção das melhores coisas que poderíamos viver. – Devo estudar? Mostrar ao meu pai que notas altas é sinal de saber? – Zeus olhou para Olhos Negros. – Meu jovem, a vida é sua e não de seu pai. Um dia você será como ele e um filho a cuidar. Hoje deixe para trás o que não te leva prá frente. Outros acampamentos virão. Lembre-se a vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente seu passado fica para trás.


Zeus sabia que não tinha as respostas na mão. Era sua função ajudar e não substituir os verdadeiros responsáveis por Olhos Negros. As palavras surgiram naquela tarde modorrenta quando a reunião terminou. Ele sabia que a verdade dói, mas não mata. A mentira agrada, mas não cura. – Olhos Negros, não tenha medo de chorar. Quando você chora, três coisas são limpas: - Os olhos, o coração e a alma. Recomece, dê uma nova chance a si mesmo. Mostre que é capaz. Renove as esperanças na vida e o mais importante – Acredite em você de novo!

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Eu, ela e o sonho de uma noite de inverno.


Eu, ela e o sonho de uma noite de inverno.

Fim da reunião. Melhor possível, Sempre Alerta e todos se foram. Fiquei para dar uma última olhada na sede. Ruth estava lá chorando. – Não disse nada e ela me olhou com os olhos rasos d’água. – Chefe, não dá mais. Não consigo pensar viver sem ele, mas com ele nem sei se poderei viver. – Pensei comigo: - O amor é a única loucura de um sábio e a única sabedoria de um tolo. – O que dizer para ela? Eu sabia que para os erros, há perdão. Para os fracassos chance. Para os amores impossíveis, tempo. Olhei nos seus olhos negros e nada disse. – Ela se levantou dizendo que ia partir. Pensei em dizer alguma coisa, dizer que não deixasse que a saudade a sufoque, que a rotina acomode e que o medo lhe impeça de tentar... Eu não era um sábio, nunca tinha certeza de nada. A sabedoria eu sabia começava com a dúvida. Pensei em lhe dar um abraço. Sabia que tem palavras que chegam com um abraço... E tem abraços que não precisam de palavras. Não fiz nada disto. Ela partiu com o coração em prantos. Eu fiquei ali ruminando e a chamei sem esperança. Ela olhou para traz. – Ruth lute pelo que acredita, se nada mudar, invente, e quando mudar entenda. Se ficar difícil não desista, e quando ficar fácil agradeça. Se a tristeza rondar, alegre-se, e quando ficar alegre, contagie. E quando recomeçar acredite, você pode tudo. Tudo é possivel pelo amor e pela fé que você tem em Deus! – Ela não disse nada e partiu acenando seu último Adeus...


Retornando. Calmamente. Agradecendo pelos que se preocuparam comigo. O mundo precisa de gente que se preocupa com o próximo. Eu ainda luto com meu pulmão. Ele sabe disto. Afinal ainda não cheguei lá, mas estou mais perto do que ontem. Amanhã novos contos, artigos e rever amigos que aqui deixei. Até mais! 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Eu queria ter o mundo, mas Deus disse que não.


Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
Eu queria ter o mundo, mas Deus disse que não.

               - Ah! Eu queria ter o mundo aos meus pés. Queria fazer dele um lugar feliz para viver. Mas o mundo não é assim? A felicidade não está aqui? Porque então mudar? Não sei. Eu queria ter o mundo, fazer todos sorrirem, se abraçarem e dizerem que agora somos todos irmãos. – Mas é possivel? Afinal quantos estão sorrindo? Não seria muito mais dos que estão nas sombras sem perdão? Eu penso e transformo meu desejo em ilusão, ilusão de ter um mundo só meu. Mudar as pessoas, mudar tudo fazer todos iguais a mim! – Foi ela a poetiza quem me incentivou – Escoteiro nos demais mundos todos sabem, o coração tem moradia certa, fica bem aqui no meio do peito, pois a anatomia mudou para todos, e agora todos são corações.

               - Outro poeta no alto da sua criação, remendou em um triste soneto: - Sábio é quem se contenta com o espetáculo do mundo. Que grande circo, que espetáculo é este e eu não quero perder. Afinal será meu mundo, mais alegre, mais delicioso, mais pomposo na maneira de se andar falar e viver. Se eu mudar o mundo diria outro poeta, sempre eles: - Muda-se o ser, muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve ficaram as saudades. Não assim não, eu não farei a todos escoteiros, uns quem sabe talvez. Mas a honra seria o primeiro embate. No meu mundo quem não tem honra não vai viver.

                - Eu queria ter um mundo, de águas cristalinas, de fontes que nunca irão secar. De peixes que irão pular na catapulta da água, sorrindo do mundo novo que eles estão a viver. Meu mundo teria campinas, vales verdejantes, flores perfumadas onde todos pudessem caminhar. Meu mundo teria lindas montanhas, cascatas imensas a ribombar cantando uma sonata de Schubert. Nas ruas irei plantar árvores frutíferas onde a meninada pudesse se esbaldar. Meu mundo teria sol, teria chuva e teria lua. Teria estrelas? Sim brilhantes gritantes a piscar no céu. Meu mundo teria bandeira, a bandeira do Brasil. – Então não é só meu mundo, isto parece o meu país. Anjo, não me interrompa me deixe criar meu mundo, do jeito que gostaria de ser. Meu mundo não teria maldade, falsidade. Meu mundo teria caráter, honestidade, onde o aperto da mão esquerda seria o documento mundial.


                   - Sonhos? Não tenho este direito? Sei que Ele que está no céu a nos acompanhar deve estar pensando: - Ele quer ser como eu! Por um instante entrei na seara que não me pertence, esqueci que sou seu filho, sou sua criação, e depende de mim e todos que o mundo seja assim sorridente consciente de sua obrigação. E sem perceber, outro poeta entrou na minha imaginação: - Enquanto um chora, outro ri, é a lei do mundo meu rico senhor. É a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo cansativo, mas uma boa distribuição de lágrimas, de sambas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se assim o equilíbrio da vida...

domingo, 15 de maio de 2016

Uma reflexão para começar bem a semana. Um ato de bondade.


Uma reflexão para começar bem a semana.
Um ato de bondade.

Sinceramente tenho mais de 20 contos escritos para postar. Mas já é tarde e acabei de me levantar para um banho e respirar um ar que preciso para me recuperar. Nada haver com a siesta prolongada ou mesmo um “soninho” de gente grande. Como sempre isto acontece agora mais amiúde. Meu corpo de “Impisa - O lobo que nunca dorme” pede cama e sou obrigado a atender. Volto logo para ela que não é minha cama de Escoteiro, mas não perde nada para me fazer dormir, sonhar e pensar que amanhã estarei pronto novamente para postar historias, lendas e nada melhor que um artigo cheio de elogios a UEB. Risos. Brincando como sempre. Vocês sabem disto. Para não passar em branco pensem na reflexão que um dia li e amei. – A estrela do mar!

- Uma vez, um grande escritor passeava na beira da praia e, ao longe, avistou um rapaz que se abaixava, pegava algo no chão e atirava de volta ao mar. Continuou caminhando em direção do jovem, observando que ele repetia o gesto incessantemente. Quando estava bem próximo, viu que ele pegava as estrelas-do-mar que estavam ali na beirada e as atirava de volta para a água para que não morressem.

Ao perceber do que se tratava, dirigiu-se ao garoto dizendo: “O que você está fazendo?” - O rapaz respondeu: “Salvando as estrelas-do-mar da morte!”.

O escritor viu que haviam milhares delas ali na areia e, achando inútil o que o jovem fazia, disse com ar sábio: “Você está perdendo o seu tempo! Não percebe que são muitas estrelas e que não vai fazer diferença o que está fazendo?”.

O rapaz olhou humildemente o homem, abaixou- se, pegou mais uma estrela, atirou ao mar e respondeu: “Para essa aí vai fazer diferença, ela vai continuar viva!”.
Percebendo como havia pensado pequeno, o homem engoliu seco, arregaçou a perna da calça e começou a ajudar o garoto a salvar as estrelas-do- mar.

E você meu caro Chefe ou minha cara Chefe, em vez de reclamar da vida, levante a cabeça, sacuda a poeira e dê a volta por cima. Afinal, dias ruins são necessários para que os bons valham a pena!  Quando você chora, três coisas são limpas: os olhos, o coração e a alma. Uma bela semana para você com muita paz no coração.

Boa noite.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

No outono as tardes são para os velhos escoteiros.


Conversa ao pé do fogo.
No outono as tardes são para os velhos escoteiros.
  
                        Eu gosto de ver as tardes de outono chegando. São belas. Algumas têm um lindo por do sol, outras uma garoa gostosa, mas tem outros que gostam mais das tardes de inverno. Aquele frio cortante e mesmo com a chuva caindo fingindo que não vai molhar. Não importa se é verão inverno outono ou primavera. As tardes sempre irão me encontrar sentado na minha varanda quem sabe cantarolando, lembrando-se do passado, sonhando com os belos tempos que não voltam Mais. Minha varanda é um local simples, algumas plantas, cadeiras enfim uma varanda comum, mas que até penso quando partir irei sentir muitas saudades dos tempos que nela passei. As tarde eu fico ali até o dia terminar. Gosto de ver a noite chegar, os vizinhos os passantes contando causos e lá estou eu de olhos abertos ou semicerrados. Acredito que ela faz parte do meu lar.

                         Eu chamo da Morada da Felicidade. Na maioria das vezes a Celia está do meu lado. Ela tricotando e eu pensando. Ficamos horas em silencio.  Um olhar maroto acontece, um sorriso gostoso também. Nossos pensamentos viajam por plagas distantes, quem sabe sonhando com outras vidas, ou lembrando-se dos filhos uma saudade dos netos. Minha morada é de uma simplicidade sem igual. Nada de palacete, nada de casarão. Uma casa pequena, em uma rua comum, em um bairro de periferia, mas que não o troco por nada deste mundo. É uma morada humilde. Eu a tenho em alta conta. Não preciso de mais. Muitos fizeram de suas casas o sonho que tiveram em suas vidas. Eu nunca tive este sonho. Sei que quando me for só levarei o que fiz de bom e ruim. Serão somente as boas obras que prevalecem do outro lado da vida. 

                     Mas se precisar apresentar as obras que acredito ter feito não hesitarei. As que não fiz irei contar. Esconder não vai dar, dizem que lá em cima, no alto do mundo tem um livro onde tudo está escrito e nada a esconder. Dizem que quando partimos alguém nos chama para assistir o filme da nossa vida. Uma tela grande aparece como Cinemascope, em tecnicolor e ali nada se esconde. A vida é uma realidade e se preciso temos que prestar as contas do que não fizemos de certo. Muitos acreditam estar preparados para enfrentar a passagem do tempo, a passagem da vida e alguns até torcem para abreviar sua estadia aqui na terra. Eu não. Será quando Ele assim o decidir. Não irei reclamar, não irei chorar a não ser as saudades dos que aqui ficam que irão chorar por mim. Mas ainda tenho tempo. Nas nuances da vida o tempo é meu melhor amigo.

                     Hoje o tempo está chuvoso. Gosto da chuva da garoa fina que se espalhou por toda a manhã. Lembrei-me das garoas, das chuvas que um dia aconteceu nos acampamentos da minha vida. Nunca esqueci o dia de chuva fria e gelada no Pico da Bandeira, das densas neblinas no Itatiaia, das chuvas torrenciais quando acampava no Rio do Peixe. Lembrei-me quando resolvemos explorar onde se deu o desastre que vitimou os escoteiros na Serra da Mantiqueira. Foi lá que um menino herói se formou. Caio Vianna Martins. Sinto-me bem quando a chuva é continua. Gostava e ainda gosto dos trovões, pois quando caem o raio já aconteceu e estamos firmes de pés no chão. Nunca esqueci aquela tempestade, um raio na árvore próxima e caiu em cima de nossa barraca suspensa. Que susto! Mas era bom demais, nas jornadas a chuva caindo a escoteirada a cantar sorrindo e cantando o Rataplã.

                     Não dá para esquecer as centenas de vezes na Serra Da Piedade, onde um pingo de chuva se espalhou de tal maneira que tivemos de calar. Era um espetáculo inesquecível. Que seja na Serra do Cipó. Na travessia do Rio Doce em uma jangada de piteiras, com o rio cheio, e a chuva caindo sem parar. Para cada uma delas um sorriso de um tempo que não volta mais. A mente desperta, a volta ao passado surge no presente. Quantos sonhos realizados. Quantas saudades de um tempo que já se foi. Amo demais ser Escoteiro. Ele foi quem me ensinou a viver como eu sou hoje.


                      A chuva cai de mansinho. O ar recebe golfadas do vento sul. Olhei para a Celia. Ela parece dormitar. Seus apetrechos de agulhas, linhas e afins no colo. À noite chegando calma e gostosa. Uma brisa fresca no ar. O céu carregado de nuvens cinza cor de dobre. Será temporal que se descobre? Lá ao longe a cidade de pedra pisca milhões de luzes como se fossem um batalhão de vagalumes a maravilhar nossos olhos na floresta encantada. Daqui a pouco será hora de dormir. De descansar. De orar e pedir a Deus por aqueles que precisam. De agradecer a ele a vida que nos deu. Sem ostentação sem riqueza, mas cheia de felicidade. 

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O Senhor do Tempo.


Conversa ao pé do fogo.
O Senhor do Tempo.

O tempo vai passando. É mais que o relógio que marca as horas paulatinamente em nossas vidas. Algumas vezes ele deixa marcas, tristezas e alegrias, outras não. Marcas que ficam perdidas e gravadas na memória e até em nosso próprio modo de viver. Seria possível medir o tempo? Dizem que ele passa tão rápido que nem percebemos. Foi ele quem levou muitos amigos que me acompanhavam nas jornadas dos meus contos e se foram. Sinto falta deles. Por onde andam? São explicações que a gente não pode saber, pois o escotismo hoje talvez não seja mais o mesmo que antes. Nada se perde tudo se transforma. Uns vão outros chegam. Sempre amigos chegando e há me fazer bem. Escotismo é assim, não foi um Escoteiro quem nos disse que uns tem e não podem outros podem e não tem? Muitos sonhos que não se realizaram e outros que trouxeram a esperança de dias melhores. As fantasias foram esquecidas no fundo do “bornal”. O tempo não perdoa. Não dá mais para fechar os olhos e ver o último grão de areia da ampulheta sumir na estrada do tempo.

Todos os anos que aqui vivi como um pseudo escritor aprendiz, eu aprendi a agradecer e dar um viva por chegar tão longe e com tantos amigos. Quanto tempo mais? Não sei e não importa. Não vou deixar de aproveitar a cada minuto ou segundo para falar das flores, dos bosques, da lua e das estrelas. Já não posso mais beber meu chope, meu uísque e até esqueci como eram deliciosos antes da passagem do tempo. Em uma passagem bíblica eu li um dia: - Tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu. Tempo de nascer e tempo de morrer. Tempo de chorar e tempo de rir. Tempo de abraçar e tempo de afastar-se. Tempo de amar e tempo de aborrecer. Tempo de guerra e tempo de paz...

Um célebre físico poeta disse que o homem que tem coragem de desperdiçar uma hora do seu tempo não descobriu o valor da vida. Hoje passado anos cercado de amigos que nunca vi que nunca apertei a mão sinto dentro de mim uma alegria uma paz que me faz bem. Saber que tantos ainda estão a ler e dizer que gostam dos meus contos gostam das minhas histórias me traz uma felicidade imensa que não quero perder. Vez ou outra nos falamos por escrita com um ou outro. Todos impossível. Quantos são? Dez mil? Quinze mil em minhas três páginas? E nos grupos que construí? Vinte mil? Tanto assim? Infelizmente só posso agradecer a todos que me prestigiam. Não vou negar que eu tenho por todos eles enorme admiração e que saibam o quanto me fazem bem. A cada um que curte que comenta ou mesmo aqueles que gostam e compartilham eu agradeço. Que Deus que sabe o que faz eu agradeço por me dar tantos amigos. Obrigado. Que honra em saber que ainda estão comigo me fazendo feliz.

Eu sei que não se pode medir o tempo. Seria impossível imaginar que quando nascemos alguém virou a ampulheta e nossa vida começou ali a escorrer em um pequeno orifício de uma âmbula a outra. Grãos de areia a cair como se fosse os últimos anos do resto de nossas vidas. Vai chegar a hora que a ampulheta vai ficar vazia. É só dar tempo ao tempo. Nesta hora iremos recordar nossos sonhos de criança, o chegar à puberdade, o primeiro amor, a descoberta dos sonhos. Tempo em pensar que o mundo seria fácil para alcançar. E chega a velhice e vemos que nem tudo deu certo, que não a conseguimos realizar todos os sonhos, o poder a riqueza, o ser feliz para sempre. É nesta hora que chegamos à conclusão que alguns dos nossos sonhos ficaram para trás.

Mas não importa, pois o tempo passa. Não adianta preocupar se o relógio marca as horas e não para. Algumas vezes este tempo deixa marcas, tristezas e alegrias. Marcas que ficam gravadas na memória e até mesmo muda nosso modo de viver. Dizem que é impossível medir o tempo. O Monge de Chartres de nome Luitprand que viveu no século VIII dizem os historiadores foi o criador da Ampulheta do tempo. Para mim uma das maiores invenções da humanidade. Mostra o quão somos pequenos neste universo. Uma vez tive uma. Ficava na mesa e eu ficava olhando-a virada e vendo a areia cair calmamente grão por grão e pensava: - Seria assim o contar do tempo da vida de cada um? Esvaindo aos poucos o que nos resta nesta terra abençoada? Francamente não importa. Que o tempo venha que fique que siga seu caminho e se vai nos levar junto é uma rotina que não podemos fugir.

Medir o tempo não basta para duvidar que somos aquele grão de areia a cair até que o último grão caia encerrando o ciclo da vida. Devemos ter a certeza que podemos ser felizes se esquecermos de que a ampulheta mesmo real não passa de um sonho. Finalmente vou terminando com meu muito obrigado. A você que me lê, a você que curte a você que comenta ou mesmo você que achou que outros deveriam conhecer o que escrevi compartilhando. A rotina do tempo não para. Enquanto viver esperarei até o ultimo momento, o ultimo grão terminar dizendo que meu tempo acabou. Enquanto isto desejo a todos que sejam felizes. Que os anos sejam belos, que os sonhos mesmo não realizados valeram e que a vida ainda vale a pena viver. Meu abraço fraterno, um beijo suave simples de um Escoteiro e meu desejo que a felicidade esteja presente no coração de todos vocês! Sempre Alerta!


E aproveito esta minha postagem para dizer: Boa noite! Indo dormir mais cedo.

sábado, 7 de maio de 2016

Quinzinho, um amigo de verdade.


Lendas Escoteiras.
Quinzinho, um amigo de verdade.

                           - Eu juro palavra de Escoteiro que não fui eu! – Mas você estava lá, disse que não podia ir conosco, pois estava com o pé doendo, se ofereceu para tomar conta do campo na nossa ausência. Nós confiamos em você e agora disse que dormiu? – Tico, por favor, eu dormi um soninho de nada! – Tico olhou para os outros Monitores e para o Chefe Darli. Ele mesmo como presidente da Corte de Honra não sabia que atitude tomar. Estavam em reunião da Corte há mais de uma hora. Marlon sempre foi um bom Escoteiro. Mais de dois anos na tropa, mas por duas vezes em um acampamento na fazenda do Seu Jorginho alguém entrou no acampamento e roubou todos os víveres. Tiveram de voltar. Na primeira vez Marlon deu a mesma desculpa, mas duas vezes é demais. – Espere lá fora Marlon. Vamos deixar a Corte de Honra decidir. Chefe Darli não dizia nada. Deixava que os Monitores tomassem as decisões a não ser quando ele via que alguém poderia ser prejudicado o que não era o caso.

                              Meia hora depois Marlon foi chamado. – Foi Tico quem deu a sentença – Marlon, infelizmente você foi suspenso por trinta dias. Achamos que não foi você quem tirou os mantimentos, mas alguém foi e por sua culpa. A tropa Escoteira ficou desolada. Acharam que Marlon não merecia a suspensão. Mas o Chefe Darli explicou que cada um de nós tem que assumir nossas responsabilidades e se algum acontecer não podemos fugir as nossas  culpas. Todos ficaram pensando, quem poderia ser o culpado? Quem tirou os mantimentos? – Metido a detetive, Jairo dizia que iria investigar. Naquela época começaram a pipocar nas bancas livros de bolso e ele um leitor inveterado achou que tinha por obrigação de descobrir. Primeiro – Os roubos foram todos na Fazenda do Seu Jorginho. Segundo -  Marlon acampou em outros lugares e nada aconteceu. Terceiro - O local era longe da fazenda e impossível alguém de lá ir ao campo para isto. Quarto, melhor ir lá acampar e ver. Dito e feito. Mochila nas costas e lá foi Jairo e o Gentil. Foram em uma sexta a noite de bicicletas para voltar no sábado seguinte.

                            Jairo e Gentil combinaram tudo que deviam fazer. Barraca armada, intendência pronta, toldos nos lugares e o Gentil partiu como se fosse fazer uma jornada de Primeira Classe. Jairo ficou encostado em uma seringueira a dormitar. Ou seja, fingia dormitar. Caramba! E não é que ele dormiu mesmo? Acordou com um barulho na intendência. As linguiças, a farinha, meia dúzia de bananas, quatro laranjas, feijão cozido (levaram de casa) tinham desaparecido. Gentil não deu trégua. - O detetive de araque dormiu? - Fazer o que. Em volta da intendência nenhuma pista. Procuraram até o bosque e nada. Voltaram para a cidade. Na semana seguinte eles estavam de volta. Não eram seniores desistentes. Começou? Tem de terminar. À tarde, sonolenta Jairo (fingindo) foi deitar na sombra da seringueira. E foi então que avistou o famigerado ladrão de comida. Desta vez ele não ia escapar. Atrás do bosque ele veio de mansinho, cabeça baixa, levantando e abaixando como se estivesse cansado. Nada mais nada menos que um Macaquinho carvoeiro. Um pobre coitado, magro pelagem caindo e um olhar triste, pois só andava de cabeça baixa.

                            Não caminhava em linha reta. Parecia não ver o caminho ou como se estivesse com sono. Entrou na intendência e Jairo atrás. Pegou-o pelo rabo. Guinchou alto. Um berreiro tremendo, tentou correr e se soltou da sua mão. Correu a esmo e bateu a cabeça em uma árvore na entrada do bosque. Porque não subiu em uma árvore? Jairo pensou. Ele ficou grogue. Levou-o no colo até ao acampamento. Gentil chegou e deu belas risadas do ladrão de comida. – Melhor soltá-lo, veja – disse – está sozinho e seu bando? Realmente ele estava só. Nessa hora acordou. Levantou e viram em seus olhos manchados de vermelho que ele não olhava para ninguém. Só para os lados se virando sem parar. – Cego! Isto mesmo. O macaquinho era cego. Abandonado pelos seus. No bando se não podia se virar não podia ficar.

                            Resolveram ajudar. O levaram para casa. Foi sem reclamar. Dócil muito dócil. Havia uma seringueira enorme no quintal da casa de Jairo. Ele adorou. Todos os dias Jairo dava para ele um pouco de arroz e feijão cozidos, bananas e laranjas. Ele adorava. No sábado na reunião comunicaram ao Chefe Darli quem era o ladrão. Ele sorriu – Olhe Jairo, eu sabia que o Marlon não tinha roubado comida. Isto não. Mas ele foi negligente. Isto um dia poderia prejudicar muitas pessoas. Melhor ele aprender agora a ser responsável com suas obrigações. Jairo e Gentil concordaram com o Chefe. Levaram Quinzinho (novo nome que Jairo e o Gentil colocaram nele) o macaquinho para a sede. Os seniores construíram um ninho de águia para ele em duas mangueiras que existiam lá. Paradoxo, um macaco em um ninho de águia. Todos se revezaram levando comida para ele. Precisavam o ver nas reuniões, pulava, guinchava, gruía e fazia mil piruetas. Mesmo cego sabia que tinha amigos protetores. O seu bando o deixou e o bando dos escoteiros o adotou.

                        Aprendeu de tudo. Ensinaram-no a fazer a saudação. Vinham pessoas da cidade só para o ver fazendo a saudação, marchar, pular nos gritos de Patrulha. Ele conquistou um amigo, o maior amigo que já teve. Nada mais nada menos que Marlon. Sei que no Grupo Escoteiro ele ficou até morrer quinze anos depois. Nunca voltou a enxergar, mas agora sabia que seriam seus amigos. Estava em casa. Vivia feliz. Tinha uma nova família. Jairo ficou pouco tempo no Grupo Escoteiro. Seu pai doente foi para a capital e ele fui também. Mas sempre recebia uma carta, um telegrama falando de Quinzinho. Na capital ficou sabendo que ele não perdia um acampamento ou atividade extra sede. Ele acreditava que agora todos que o conheceram nunca o esqueceram. Jairo acreditava que Quinzinho ficou gravado no coração de todos os escoteiros que o conheceram.


                       Ops! Ultima notícia. Marlon juntou dinheiro, muito na época e comprou uma macaquinha fêmea que dizem jurou fidelidade para sempre a Quinzinho. Que os digam o Prince, Caledônio, Naninha e a própria esposa Juquita, quatro macacos carvoeiros que pelas noticias que Jairo recebe estão morando na sede até hoje!

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Um lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.


As coisas belas da vida.
Um lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.

               Tinha voltado da minha incrível caminhada de quinhentos metros. Estava cansado, respiração ofegante e tomava meu café quando bateram palmas na porta de casa. É sempre assim. Religiosos nos chamando para dizer se queremos ouvir a palavra do Senhor. Porque não? Gosto de vê-los lendo os mandamentos de Deus. Quando acontece descanso em uma cadeira, pois ficar em pé é difícil e ouço com amor, e olhem, evito dizer que sou espiritualista. Eles não gostam. Afinal ouvir é bom e não prejudica ninguém. Mas naquele dia não eram eles. Cheguei à porta da sala e vi no portão uma figura imponente que até me assustei. Cabelos brancos compridos até o ombro, barba branca bem penteada e uns olhos azuis que chamuscavam que olhava diretamente para ele. Vestia um tipo uniforme britânico, marrom, muitas medalhas e um chapéu esquisito na cabeça. Tinha um pequeno lenço verde amarrado no pescoço. Estranhamente em vez da bota de cano alto calçava uma sandália de couro sem meias. Trazia nas mãos uma forquilha. Nossa! Que forquilha! Linda, marrom e cinza, e onde o V fazia uma curva acentuada parecia estar cravejadas de pedras preciosas em delicioso arranjo.

               Quem seria? Nesta cidade grande todo cuidado é pouco. Loucos, assaltantes, pedintes, vem às centenas bater em nossa porta. Mas o sorriso do "Velho" era cativante. Cheguei mais perto. Um perfume de flores do campo veio até a mim. O "Velho" sorriu e sem eu esperar me disse – Posso lhe dar um abraço? Fiquei estarrecido! Nunca ninguém bateu em minha porta oferecendo um abraço! Peguei as chaves, abri o portão e ele entrou como se estivesse entrando em um castelo de Reis. Encostou a forquilha encantada na parede e me deu um abraço! Gente! Que abraço. Eu com meus 75 anos me sentia como se fosse um menino sendo abraçado pelo pai. Fiquei sem jeito. – Aceita um café? Perguntei – Obrigado. Mas não podemos perder tempo. Vou levar você para ver o alvorecer na Morada do Sol.

              Assustei-me. Tenho que tomar cuidado, pensei. Pode ser alguém com acesso de loucura – Ele como se estivesse lendo meus pensamentos sorriu e disse – Você precisa vir comigo. Sei que Dona Célia está fazendo a feira e volta logo. Mas estaremos de volta antes. – Pegou-me pela mão e sem fechar o portão saímos voando, ele me segurando, eu assustado! Ele soltou minha mão. Gente! Eu “volitava” sozinho no ar como se já tivesse feito isto há muito tempo. Em segundos estávamos em uma montanha, onde as árvores eram lindas, as folhas de um verde que nunca tinha visto e lá no alto um pico envolto em nuvens que para dizer a verdade, fez meu coração disparar. Lindo! Uma montanha das mais lindas que tinha visto – Como chama? Perguntei. – Você conhece você já esteve aqui. Serra do Sol Nascente. A morada do sol – Me lembrei. Mas não era assim! Eu disse. Ele me olhou e carinhosamente disse - Porque você só viu o que queria ver!

             De novo me pegou pela mão. Em segundos estávamos em uma cachoeira de uma beleza sem par. Linda mesmo. Uma névoa branca como se fosse orvalho caindo se formava em sua queda, o barulho da queda era como se fosse uma orquestra de cordas tocando maravilhosamente “The Lord of The Rings” e eu ali pensava – Devia ser um sonho. Pássaros dançavam balet fazendo acrobacias. – Onde estamos? Perguntei! – Na Cachoeira da Chuva, você já esteve aqui! – Como? Não vi nada disto que vejo agora. - Porque você só viu o que queria ver! De novo lá fomos nós a voar pelo espaço e em segundos chegamos a um vale, todo florido, flores silvestres de todas as cores que nunca tinha visto com um perfume inebriante, e a brisa leve tocando as pétalas e elas dançando ao sabor do vento. – Onde estamos? Perguntei! – No Vale Encantado da Felicidade. Você já esteve aqui. Muitas vezes acampando. – Não lembro, não lembro que fosse assim! – Porque você só viu o que queria ver!

              E lá fomos de novo voando nas nuvens brancas do céu. Descemos e ficamos a sombra de um lindo castanheiro. Era madrugada. O orvalho caia calmamente. Uma brisa fresca tocou-me o rosto. Foi então que assisti o cantar da passarada quando a manhã chega lépida e insistente. Havia beija flores, Tico-Tico, Sabiás, canários amarelos, pardais graciosos, uma multidão de pássaros pulando de galho em galho e com suas gralhas graciosas a cantar para todo o universo naquela bela manhã. Onde estamos? Perguntei – Não reconhece? O castanheiro do quintal da sua casa no passado; – Mas não era assim, eu disse. Ele gentilmente respondeu – Porque você só viu o que queria ver.

             E assim ele me levou a longínquos lugares perdidos neste mundo de Deus e sempre a me dizer – Você já esteve aqui. Por último, fomos até uma nuvem, enorme, milhares e milhares de escoteiros sentados, cantando canções sublimes. – Que lindas canções são estas? – As mesmas que você cantou sempre. Mas muitas vezes gritadas, sem nexo e você não procurou ver a beleza da melodia que elas possuíam, pois você só ouviu o que queria ouvir!

          Voltamos e como se eu fosse um pássaro alado no seu pouso encantador, avistei o meu portão e ele sorridente me disse – Procure ver as coisas como são, procure sentir a beleza das cores, do arco íris, dos lindos sonhos que acontecem com você. Procure ser sincero e diga a sí mesmo que a beleza da vida e a felicidade sempre estão ao nosso lado. As cores são belas quando sabemos olhar com amor. Os cantos são belos quando sabemos diferir a letra e a música tocada. Os pássaros são sempre os mesmos, mas saber ver neles a beleza e a singela simpatia que eles têm é uma arte fácil de ser observada. Seus cantares e seus gorjeios sabem que transmitem amor e felicidade. – Ele me olhou e disse – Posso lhe dar outro abraço? E me apertou em seu corpo e de novo senti que era meu pai me abraçando. Saiu calmamente pela rua, escorando na sua linda forquilha cravejada de brilhantes e ao chegar à esquina, virou-se e deu-me um último adeus com o sinal escoteiro. Uma pequena nuvem apareceu e o levou ao céu que agora era de um azul profundo, tão azul que pensei que nunca tinha visto aquela cor como agora.


           Sentei na cadeira de sempre na minha varanda emocionado. A Célia chegou. Sorriu para mim e disse – O que foi? Porque esta sorrindo assim? Sabe Célia, porque sempre vi o que queria ver e agora procuro ver as coisas como devem ser vista. Nunca tinha observado como você é bela, a mais linda mulher que conheci! Fiquei em pé me aproximei e disse – Posso lhe dar um beijo e um abraço?