No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Silvio. O que importa é a boa ação.

Silvio.
O que importa é a boa ação.

             A campainha tocou e Silvinho sorriu. Passou toda a aula da professora Doralice a sonhar com a bela mochila e o cantil que vira ontem nas lojas Abil. Não era e nunca foi um mau aluno. Chefe Marcio sempre o parabenizava quando mostrava seu boletim. Isto dava pontos Patrulha. Os Morcegos eram amigos de fato. Eram irmãos de sangue como dizia seu monitor. Saiu apressado da escola em direção as Lojas Abil. Entrou sem correr. Não queria que pensassem que era um moleque qualquer. Não era. Era um Escoteiro, e dos bons. Foi até a vitrine onde expunham os materiais de camping. Viu a mochila verde acolchoada pendurada. Viu também o cantil de capa azul. Ainda não tinham vendido. Já tinha visto o preço. A mochila Cento e quarenta e o cantil sessenta. Um dia iria comprar os dois. Seus pais eram pobres muito pobres. Uma pequena Sapataria e muito fiado. Ele se orgulhava do pai. Era seu herói. Não demorou muito na loja. Saiu assoviando. Gostava de assoviar. “Vem depressa correndo Escoteiro, ajudar o cozinheiro a fazer o jantar!”. Gostava dessa canção.

               Desceu a Rua dos Caracóis e viu debaixo de um banco de rua uma carteira. Viu que estava recheada. Mais de mil reais. Uma fortuna. Daria para a mochila o cantil e muito mais. Não lhe passou pela cabeça ficar com o dinheiro. Já pensou uma parte para sua mãe fazer a feira? Ela iria sorrir como nunca. Era um Escoteiro e sabia que nunca faria isto. Lealdade não se impõe se aceita, caráter também ensinou o Chefe Marcio. Procurou seu pai. Explicou. Ambos olharam os documentos. Dr. Mario Marcelo, dentista. Morava no Bairro Palmeiras, Rua do Lavrador 115. Seu pai só tinha o dinheiro de ida para o ônibus, na volta só a pé. Vamos lá, os tostões que tenho para a carne fica para outro dia. Amava seu pai. Sempre o abraçando e sempre cantavam a mesma canção da Vovó: - A montanha feliz!

                  Silvinho foi de uniforme. Só pensava na sua boa ação. Orgulhava-se de vestir seu uniforme. Bateram a porta. Uma moça atendeu. – Poderia falar com o Doutor Mario? – Ele está ocupado respondeu ela de cara amarrada. Podem falar comigo. Preferimos que seja ele. Ela nem respondeu e fechou a porta. Os dois ficaram ali esperando e sentaram no meio fio da rua. Uma hora depois ele gritou na porta bruscamente do seu consultório – O que querem comigo? Estou muito ocupado! – Silvinho se aproximou – Doutor desculpe. Achei sua carteira e vim devolver. Por favor, meu pai insistia. Verifique se não está faltando nada! – O doutor olhou, e falou. Tudo bem não falta nada. Agora me deixem em paz, estou ocupado com dois clientes me esperando. E fechou a porta na cara dos dois.
 
                 Silvinho olhou para seu pai e perguntou? Está certo assim pai? Claro filho. Fez o que devia fazer. Se ele não reconheceu não importa. Importa seu ato de grandeza de dignidade. Eu tenho o maior orgulho de você e olhe, prometo que um dia vou lhe dar aquela mochila e o cantil. Quem sabe ganho um dinheiro a mais? E foram os dois cantando pela rua afora, sem ao menos guardar rancor do doutor Mario. Silvinho sentia-se feliz. Ia contar a boa ação para seu Chefe. Sabia que ele iria gostar. Não iria vangloriar e nem contar que o doutor fora mal educado. Ele sabia que o importante foi o que fez. O que os outros fazem deixe para Deus resolver lhe disse seu pai.

               “Acende o fogo, põe a panela, e dentro dela, o feijão cozinhar!”

O sorriso é sempre uma luz em sua porta!


O sorriso é sempre uma luz em sua porta!

Hoje levantei tentando sorrir e não consegui. O corpo não obedecia. Será que tinha ido para minha estrela de Capella? Pensei que seria um daqueles dias que fico na cama, sem forças, sem ar e esperando o dia passar. Resolvi pegar um livro meu amigo de todas as horas, pequeno, um livro simples cheio de brilhos e luzes que me encantam. Costumo ler quando me sinto assim. Como faço sempre abri o livro em qualquer página. Eis que li o que precisava para vencer a luta diária e prosseguir na minha trilha que eu mesmo escolhi. Como é bom saber que tem alguém que ora por mim. Obrigado Deus!

- Quem gosta de pessimismo, e se queixa de solidão, observe se este alguém estima repousar no espinheiro. Pense que se não houvesses nascido para melhorar o ambiente em que vives, estarias decerto em Planos Superiores. Com a lamentação é possível deprimir os que mais nos ajudam.  Se pretenderes auxiliar a alguém, começa mostrando alegria.  A conversa triste com os tristes deixam os tristes muito mais tristes.  Quem disser que Deus desanimou de amparar a Humanidade, medite na beleza do Sol, em cada alvorecer.

Se tiveres de chorar por algum motivo que consideres justo, chora trabalhando, para o bem, para que as lágrimas não se te façam inúteis. Nos dias de provação, efetivamente, não seriam razoáveis quaisquer espetáculos de bom humor, entretanto, o bom ânimo e a esperança são luzes e bênçãos em qualquer lugar. Guarda a lição do passado, mas não percas tempo lastimando aquilo que o tempo não pode restituir. Quando estiveres à beira do desalento pergunta a ti mesmo se estás num mundo em construção ou se estás numa colônia de férias.

Deus permitiu a existência das quedas d’água para aprendermos quanta força de trabalho e renovação podemos extrair de nossas próprias quedas. Não sofras pensando nos defeitos alheios; os outros são espíritos, quais nós mesmos, em preparação ou tratamento para a Vida Maior. Se procuras a paz, não critiques e sim ajuda sempre. Indica a pessoa que teria construído algo de bom, sem suor e sofrimento.


Toda irritação é um estorvo no trabalho. Deixa um traço de alegria onde passes e a tua alegria será sempre acrescentada mais à frente. Quem furta a esperança, cria a doença.  - Chico Xavier

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A chuva. Ela cai, molha a terra...


A chuva. Ela cai, molha a terra...

                           Ela chegou. Uma espera inolvidável. Quanta espera. Chegou agora. De mansinho, dizem que é das boas. Daquelas que chegam sem barulho. Duram horas, dias e tem casos de semana. Adoro a chuva. Não importa onde. Pode ser em casa, viajando de trem ou até em marcha de estrada ou em uma trilha de uma montanha. Nem posso falar. Na janela do trem ver a chuva cair é um espetáculo inesquecível. Ali vai ele, o trem. A correr pelas campinas sempre ao lado de um rio caudaloso ou não e a chuva cai. Que saudades! Estava na varanda, pensando no vento que soprava. Devagar. Calmo. E eis que ela chega. Trás uma gostosa brisa. Fresca. Espanta um pouco o calor de trinta e seis graus. Gostosa. Doce. Lembrei-me de acampamentos. Quantos foram e quantos a chuva chegou. Às vezes brava. Gritante. Raios enormes e trovões que ribombavam o céu. Outras aquelas que não faziam barulho. Simples. Calma como a dizer não se assuste Escoteiro. Só vim molhar a terra. Estava seca. Precisava de mim.

      Na barraca, ouvir os pingos na lona, é uma musica suave, gostosa, como um cantar da mamãe nas noites de chuva quando criança para me fazer dormir. Tempos que já se foram. As madrugadas, a chuva não para. Abrir a porta da barraca, sentir o cheiro da terra! O farfalhar das árvores, a floresta falando baixinho chove chuva. Maravilhoso! Chove chuva. Quantas melodias me vêm a memoria. Prefiro uma só. Saudades de tantas, deixa chover!


Gosto de ti, ó chuva, nos beirados,
Dizendo coisas que ninguém entende!
Da tua cantilena se desprende
Um sonho de magia e de pecados...

sábado, 20 de fevereiro de 2016

“Vania”


“Vania”

                      - Mamãe! Eu posso ser Lobinha? Vania sorriu. Precisava se informar. A internet tinha tudo que precisava. Parecia um bom lugar para sua filha se enturmar, pois era muito sozinha. Depois do divórcio Tomaz foi para a Europa. Trabalhava e criava a filha, pois ela era o que tinha de mais importante em sua vida. Viu que havia uma unidade escoteira bem próxima ao seu bairro. Era de Classe Media Alta. Melhor assim, pois sempre deu o melhor para sua filha. Viu que os lobinhos viviam na mística do livro da Selva de Rudyar Kliping. Conhecia seu poema famoso: - “Se és capaz de manter tua calma, quando, todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa, de crer em ti quando estão todos duvidando, e para esses, no entanto, achar uma desculpa”. Amava este poema. Se ele escreveu o livro que originou os lobos ela deu seu voto de confiança. Ligou para eles. – Quinze horas de sábado senhora e poderemos atendê-la. Chegou no horário. No portão um segurança. Bom isto. Tinham responsabilidade com as crianças.

                       - Um jovem rapaz a atendeu. Era o Profissional do Grupo Escoteiro. Explicou tudo, mensalidade, taxas e normas. Explicou dos acantonamentos, dos passeios e finalmente deu um belo sorriso dizendo: - Temos uma vaga na Alcatéia três. – Temos uma cantina. Inicialmente pode comprar a camiseta e o boné. Mais tarde daremos o telefone e o site da cantina nacional. Lá poderá comprar a vestimenta dos lobos. – E o pagamento? – Ele sorriu novamente. Por cartão de crédito ou depósito em conta. Não trabalhamos com boletos ou pagamentos na sede. Entregou a ela um pequeno manual sobre os direitos e deveres dos pais. No primeiro dia sua filha sorria, adorava, ela ficou junto a outras mães e pais em área própria. Não podia aproximar para não atrapalhar. Na terceira reunião se ambientou mais. Não gostou das fofocas. As mães contando sobre os namoros dos chefes, do Chefe mais bonito, e até coisas íntimas que ela não tinha costume em discutir com estranhos.
 

                         Resolveu tirar sua filha de lá. Teve que pagar uma pequena multa. Encontrou outra unidade escoteira mais próxima de sua casa. Dava para ir a pé. Grupo pequeno, quatro ou cinco chefes. Deram-lhe um belo sorriso. Todos fizeram questão de se apresentar. – E as mensalidades e taxas? – Falaremos disto depois. Temos um mínimo e um máximo. A Senhora vai escolher qual faixa entrar. – E o pagamento? – Aqui mesmo. No dia que escolher! - No final da reunião do primeiro dia uma jovem Chefe alegre e simpática lhe fez um convite: - Hoje é sábado e sempre nos reunimos em casa de alguém para conversar, dançar, trocar ideias e falar infelizmente sobre escotismo. E deu uma bela gargalhada. Aceita participar conosco? – Porque não? Iria para casa e ficar por conta de sua filha. Vania encantou com tudo. Encontrou no novo ambiente e nos amigos que fez uma sinceridade real. Quem sabe um dia seria um deles também? 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A fantástica estrada dos aflitos.


A fantástica estrada dos aflitos.

                  Eu sorria. Adorava acampar sozinho e chegou meu dia. Minha mochila verde musgo pronta. Afiei minha Faca Randall Modelo 3, meu pequeno facão Universal. Não esqueci minha Prismática que não usava há anos. Dos meus cinco cantis iria levar desta vez o Espanhol feito em couro natural que possui revestimento interno em polietileno. Funciona como uma moringa, ao ser molhado o exterior, a evaporação da água refresca o liquido interior. Era perfeito para minha jornada que iria realizar. Olhei de soslaio meu bastão de Peroba Rosa. Pesado, ponteira de aço, duas e meia polegadas de diâmetro. Melhor não. Peguei meu bornal de couro de Toscana, que dizem ser o melhor dos melhores. Sapequei nele cinco matutagens para me safar da fome. Uma caixa de bombons Ferro Rocher meu chocolate preferido. Em um cantinho bem embrulhado guardei três garrafinhas de uísque Johnniewalker. Era para as noites enluaradas nas minhas conversas ao pé do fogo. Dos meus três chapéus de abas largas, preferi o Velho Prada Paulista. Lenço bem dobrado, meião nos trinques lá fui eu pela estrada dos Aflitos a procura da Clareira na Floresta do Tenente. Gostava de acampar ali.

                   Nem bem percorri quatro quilômetros e na curva do Boi Bravo avistei a turma do CAN e do DEN. O que faziam ali? Esperando-me? – Preparava para gritar que era inocente. Que desejava a todos eles uma feliz reeleição neste ano. Afinal a maioria tinha a côrte escoteira nas mãos e eu não podia fazer nada. A menos de vinte metros parei. – Afinal sou um Velho desdentado, senil e esculhambado, escorado em uma bengala de madeira e não tinha defesa. Sabia que teria de enfrentá-los. Emboscaram-me em uma curva onde não podia fugir. Olhei para trás e pensei em voltar correndo. Correndo? Minino! Correr não é minha praia e vi ao longe se aproximando um batalhão de senadores e deputados do Congresso Nacional. Na frente o Chefão Cunha, com seu andar peculiar de Imperador do Universo. Ele acha que é Deus e faz o que quer. Ao seu lado uma chusma de seguranças. Cada um mais mal encarado que o outro. – E agora? Na frente à turma do CAN e DEN não deixavam eu passar; eram uns quinze, todos de vestimenta que a gente sabe como é. Bagunça solta, camisa fora da calça, meinha branca ou azul. Havia um presidente regional de chapéu de boiadeiro. Estava lindo de morrer.

                    O Cunha parou na minha frente. Gritou – Velhote Escoteiro! Deixou de criticar seus compinchas e esticou suas garras no congresso? O Fernando Henrique chegou correndo. – Calma Cunha, calma, é só um velhote senil que se acha o tal no escotismo! – Calma nada Fernandinho, se manda, vai tomar conta do filho que não é seu em Paris. Sua ex-namorada botou a boca no trombone. Você e o Lula são farinha do mesmo saco! Lula chegou apressado. Falando de mim? Hoje é sexta, irei de helicóptero para meu tríplex no Guarujá. Sem perceber disse ao Lula: Doutor Lula, já que não vai neste fim de semana ao seu sitio em Atibaia, posso mandar uma Tropa escoteira acampar lá? Foi um Deus nos acuda. Veio logo a Dilma com seu andar de princesa namorada do Shrek e gritando comigo. – Vá te catar chefete! Vá procurar a Zica se não tem o que fazer!  Jaques Wagner me olhou com aquele olhar de baiano feroz. Temer ria baixinho cochilando debaixo de uma árvore a espera que todos se danassem. Vi o Collor passar em disparada em uma Ferrari ultimo tipo.

                    Começaram a discutir uns com os outros. Procurei a Bancada Escoteira no Congresso. Não vi ninguém. Foi o Renan quem me alertou que estavam todos na fila para ver se recebiam algum “pixuleco” da Petrobrás. Achei uma passagem entre eles. Devagar fui me mandando e subi uma trilha desconhecida. Vi lá no alto Baden-Powell fazendo sinal. Era minha salvação. General famoso por estratégias sorri com gosto. Mas no meio do caminho surgiu cinco diretores de empreiteiras. Todos me olhando ferozmente. Um deles gritou: - É ele quem fez a delação premiada para acabar conosco! Desçam o pau! Sem dó e sem piedade. Comecei a chorar. Afinal não sou herói. Tenho a língua solta e escrevo com facilidade mas lutar? Ainda mais Velho e gagá? Gritei por socorro, fiz um sinal de fumaça com o S.O.S. Apitei como um louco. Tirei a camiseta branca em sinal de paz e nada. Rezei, pedi aos céus que se me safasse nunca mais iria dizer que a turma do CAN são enrolados. Disse a mim mesmo que iria bater palmas para a DEN.


                      Meus gritos ressoaram naquela montanha maldita que tantas vezes acampei. Ouvi a Célia me chamando – Osvaldo! Osvaldo! Acorda! De novo estes pesadelos? Ufa! Graças a Deus. Passei um aperto que não queria que fosse realidade. Sorri, se eles acham que vou calar estão enganados. Vou meter o pau enquanto não se mostrarem dignos de confiança. Alguém bateu na porta. A Célia foi atender. – Osvaldo está aqui o Japonês da Federal! Querem falar com você! Minha nossa! Desta vez estou roubado e mal pago!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

A canção que ela fez para mim!


A canção que ela fez para mim!

                     Vida de Sênior, um sábado, reunião, ufa! O dia não era de brigadeiro. Desanimado e mesmo assim fui cumprir minha jornada escoteira. Reunião de sede não gostava. Amava o campo, as trilhas as florestas e os rios caudalosos. Ao chegar pensei que não era um bom dia para animar a patrulha. Na sede ninguém. Por quê? Sempre nos encontramos ali antes do inicio, falar dos outros, papear, “causos” não era uma rotina? Fui para o pátio da sede. Então eu a vi. Fiquei sem fala. Linda! Impossivelmente linda! Seria uma princesa? Desceu das nuvens direto na sede? Ou quem sabe um anjo que Deus mandou para dar novo ânimo aos seniores? Meu coração disparou. Minha mente deixava o corpo e se transportava para os mais lindos campos e montanhas a explorar. Fui à Cachoeira do Sonho, fui à Montanha Das Borboletas Douradas, fui até no despenhadeiro da Mil Mortes. Joguei-me lá de cima. Sabia que não ia morrer.

                 Foi então que percebi. Lá estavam os Seniores. Todos eles. Não faltou ninguém. Estavam em pé encostados à parede da biblioteca. Como eu não tiravam os olhos da linda moça dos cabelos e cachos dourados. Cachos despencando como na Cascata do Sol Nascente. Olhos? Azuis! Incrivelmente azuis. Uni-me a eles. Não notaram a minha presença. Seus olhos esbugalhados assim como o meu só tinham uma direção. Cláudia Alvonaro. Seu corpo? Não posso dizer aqui. Mas parecia ter sido esculpido por Michelangelo, ou melhor, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni. Ah! Una Madonna Escoteira? Quem sabe ali estava sua obra prima da renascença sua bela escultura a Pietá. Não podia ser. Estávamos em 1958 e não 1498 quando ela foi esculpida.  

                   A paixão tomou conta de mim. De mim só não de todos os seniores. Doze rapazes perdidamente apaixonados pela bela Cláudia Alvonaro. Mas de onde ela veio? Da cidade não era. Conhecíamos todas as beldades. – Ela é de Vitória. Espírito Santo disse um Sênior. Meu Deus! Capixaba e linda assim? Bendita Vitória. Santino o Chefe Sênior adentrou ao pátio. Jovem ainda. Vinte e oito anos. Viu-nos e foi até nós cumprimentando. Ninguém olhou para ele. Inteligente como todo Chefe Sênior descobriu através de um “Kim” imaginário o motivo de nossa perplexidade e imutabilidade. – Ora, ora, parecem que nunca viram uma garota! Ele disse. Sem respostas. Continuávamos mudos. Olhos vidrados na bela Cláudia Alvonaro. A mais bela capixaba que o mundo conheceu. E nós os bravos seniores da tropa Anhanguera.

                     Ela estava linda. Uniforme azul, bonezinho de lobo. Saia curtinha (que pernas meu Deus!). Akelá? Não tinha mais de dezoito anos! Não seus bobos disse o Chefe Sênior. Ela é Assistente. Tem dezessete. Está fazendo uma visita. Vai embora hoje no trem noturno das oito. – Vou também! Falaram todos ao mesmo tempo. Chefe Santino riu sonoramente. Que vida. Descobre-se o amor de nossas vidas, a nossa alma gêmea e ela vai embora assim? E para piorar tudo ela começou a cantar. Os lobos sentados em círculo e ela cantando uma canção que não conhecia. Voz? Uma cantora nata! Ninguém na sede tirava os olhos dela. Maravilhosamente bela e uma voz harmoniosa, que podia seguramente ser a maior cantora de todos os tempos.

                   O céu que me condene! Que me mate! Que acabe comigo. Estava “deverasmente” apaixonado. Perdidamente apaixonado. E o pior aconteceu! Ela olhou para mim e deu um sorriso. Senti o corpo tremer. Tive que sentar. Que sorriso! Que voz! Que rosto! Que corpo! Não podia ser uma mulher Akelá. Era uma deusa trazida do Olimpo. E eis que como se fosse uma chicotada, como se tivesse caído uma pedra enorme em minha cabeça, um Chefe novo de uns vinte e cinco anos entrou acompanhado do Chefe do grupo.  – Vamos embora meu amor! O que? Meu amor? Então olhei melhor, ele estava com a aliança na esquerda e ela também. Marido e mulher.


                  Ela se foi. Deu um “xauzinho” e disse um Sempre Alerta que nunca mais, nunca mais mesmo e eu juro, irei esquecer. A mulher dos meus sonhos, a mulher que iria ser a minha vida, a minha alma gêmea se foi. Se houve reunião de seniores eu não sei. Acho que os outros também ficaram como eu no mundo da lua. Começamos mudos e terminamos calados. Chefe Santino sorria no alto dos seus vinte e oito anos. Um homem experimentado sabendo o que sentia aqueles garotos que estavam crescendo e aprendendo com a vida. Cláudia Alvonaro virou a esquina abraçado com seu amado. A tropa acompanhou com os olhos seu ultimo adeus. E eu? Fiquei meses sonhando e planejando ir acampar em Vitória. Mas será que ela iria deixar o marido e casar comigo?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

“Antonio”


“Antonio”

                         Se ele tivesse uma ampulheta do tempo diria que a areia findava e breve ela estaria vazia. Sabia que viver semanas seria uma dádiva, pois o especialista disse que não duraria tanto. Doença cruel que o fazia morrer devagar e sofrido. Cada sessão de quimioterapia era um suplicio e muitas vezes ele pediu a Deus que o levasse, mas sabia que não poderia decidir. Sua vida estava nas mãos Dele e se fosse para ser assim teria de ser. Um dia riu de si mesmo quando pensou em acabar com a vida do Professor Gerson. Foi um momento de raiva que ele ajoelhou e pediu perdão pelos pensamentos nefasto. Setenta anos de escotismo, um dos poucos fundadores iniciado como lobo via a cada dia o sonho Escoteiro se acabar. Uma legião que lutaram junto via angustiados tudo se perder nas mãos de um diretor hipócrita, que decidiu sem consultar ninguém retomar o terreno da sede escoteira.

                           Um documento entregue em uma solenidade na praça da cidade que não valia mais. Um prefeito que lhes deu uma posse de mentira, uma luta ano a ano para transformar uma saleta em uma sede com todas as necessidades de suas sessões. Quanto sangue derramado? Quanto suor e lágrima para conseguir um tijolo, uma telha, uma porta e tudo agora estaria perdido? Com que direitos? O advogado Jamil disse que não tinham como fugir. Tinham de entregar a sede em trinta dias. A lei era clara. Deu sua vida, deu seu amor, viveu ali fazendo tudo pela cidade e agora não havia retribuição. Prefeito, vereadores se curvavam ao novo Diretor Nomeado da FATEC uma entidade governamental. Para onde iriam? Como continuar? Todas as tardes ele procurava uma solução e nada. Mesmo espiritualista maldizia o Diretor que nunca foi Escoteiro e não queria entender os benefícios de uma educação extraescolar. Prefiro morrer antes, não dá para assistir esta derrocada final.


                      Foi levado ao hospital. Escoteiros e chefes acorreram ao local. Eis que extenuado chega o Presidente. Amigos o decreto do Professor foi anulado. Uma petição entregue ao Ministério da Educação que ninguém sabe quem enviou foi aprovada. Agora somos proprietários com escritura lavrada! Uma palma estrondosa ecoou na porta do hospital. Na UTI Antonio sorria. A luta se encerrava. Valeu enviar aquela petição. Agora poderia morrer em paz!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

“Lucy”



“Lucy”

                  Era uma amizade que diziam ser para sempre. Na Matilha Verde havia uma química entre elas. A conta de telefone sempre alta. – Lucy! Precisamos economizar! – Um dia a mãe de Lucy desistiu. Nas reuniões de Alcatéia conversavam o tempo todo. Os chefes compreensivos procuravam entender. Receberam o Cruzeiro do Sul no mesmo dia. A passagem por insistência também foi feita com ambas. Exigiram ficar na mesma patrulha. Os Leopardos tiveram seu momento de glória. Elas deram nova vida à patrulha. Aos quinze passaram para os seniores. Foi difícil ficar na mesma patrulha, pois eram duas e ambas com seis. Uma não poderia ficar com oito, seria desproporcional. Isto não impedia a conversa, os sorrisos, os causos e os segredos que duas moçoilas contavam da vida. Faziam planos para o futuro. Ambas diziam que não iriam casar. Seriam amigas para sempre.

                    Mirtes se apaixonou. Lucy viu o distanciamento. Chorava e pensava que não queria perder a amiga. Encontravam-se agora fora das reuniões poucas vezes. Lucy sentia falta, muita falta. Nas reuniões o sol para ambas não era o mesmo. Não esqueciam os momentos felizes, os acampamentos, os fogos de conselho e principalmente a excursão em Lagoa dos Mares. A lua ajudou, as estrelas deram nova conotação. – Um dia vou morar em uma estrela – Lucy riu. Eu também. Quero sentar em uma ponta brilhante e ver um cometa passar. – Eu não, quero fazer dela minha morada, meu transporte e viajar pelo cosmos conhecer um buraco negro e ir até onde ninguém até hoje foi. As duas riam e contavam suas ilusões seus pensamentos seus sonhos.


                      - Ele quer que eu saia. Disse- sem meias palavras – Ou o escotismo ou eu! Não posso viver sem ele. O amo demais e não tenho como escolher. – Lucy viu a partida de sua amiga e chorou por dias e dias. Ninguém nas patrulhas comentou. Parece que sua falta não era sentida. Ela tinha medo, muito medo de se apaixonar. Medo de ter de decidir entre um e outro. O que diria? Qual ação tomar? Conheceu Miguel, se apaixonou. Era compreensivo, muito mais amigo que um amante. A vida sempre nos coloca em nossa frente várias opções. A escolha é livre, mas, uma vez feita à opção, cessa nossa liberdade e somos forçados a recolher as consequências. Após a reunião ele estava à espera. Nem entrar entrava. Dizia não se sentir bem. De mãos dadas saíram a caminhar. Ela então ouviu o que nunca queria ouvir. Sempre pedia a Deus para isto não acontecer. – “Escolha, ou o escotismo ou eu”...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

“Amâncio”.


“Amâncio”.

                 Olhou para seu monitor e pensou em dar uma resposta à altura. Eram da mesma idade e Torpedo só mandava e nada fazia. Deu para empurrar a patrulha quando em fila. O jogou no chão algumas vezes. Fervia de raiva. Porque aceitar aquilo? Prometeu a si mesmo sair depois do acampamento em Aguas Formosas. Sonhava com ele. Um ano de preparação. Perder tudo que criou na sua mente? E o Ninho de Águia? E a Ponte Pênsil? Treinou amarras, costuras, desenhou. Deixar tudo para trás? Será que o Chefe não via as ações de Torpedo? Porque aceitar um monitor sem qualidades, mandão, déspota, prepotente a “comandar” uma patrulha que nunca iria aprender a andar com suas próprias pernas dirigidas por um monitor sem formação?

                  Foi para casa pensando o que fazer. Quantos entraram na patrulha e sairiam? Há dois anos quando entrou a patrulha tinha sete, Torpedo entrou e saíram tantos que agora só tinham quatro e olhe que mais de oito entraram depois. Uma conta que não fecha. Resolveu falar de homem para homem. Foi à casa de torpedo. Ficou horrorizado com o que viu. Seu padrasto com uma correia na mão lhe aplicava a maior surra. Sua mãe corria pedindo perdão. Torpedo chorava e gritava. A patrulha policial chegou. Levou o Padrasto de Torpedo. Sua mãe o levou para o hospital, pois estava todo machucado.


                 Chegou ao sábado na sede e abraçou Torpedo. Este espantado não sabia o que dizer. Amâncio sorriu. – Torpedo, a amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento. Duplica a nossa alegria quando dividimos a nossa dor. Torpedo sorriu e abraçou forte Amâncio. Ficaram amigos para todo o sempre!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

“Tininha”


“Tininha”

                  Abriu os olhos lentamente. Tateou com sua mão direita procurando Fofinho seu ursinho de estimação. Nada! – olhou para o lado e viu Betinha sua amiga lobinha deitada ao seu lado. Levantou a cabeça e se assustou. Não era seu quarto. Olhou para a porta de lona esperando sua mãe entrar para dizer que estava na hora da escola. Sua Mamãe não entrou. Ouviu uma voz conhecida gritando Lobo, Lobo, Lobo! Levantar com este frio? Nem morta. Virou para o lado e tentou dormir mais. Sua mente passeava. Onde estava? O que fazia ali? Dormia em uma barraca e nunca dormiu assim. Sorriu, era diferente era bom demais. Sabia que gostava. Lembrou que era Lobinha e as lobinhas são espertas, obedientes e disciplinadas. Será que tinha de lavar o rosto e escovar os dentes como sua mãe fazia quando acordava?

                  Outra vez o mesmo grito. Desta vez mais forte. Lobo, Lobo, Lobo! Levantou. Betinha acordou e olhou para fora da barraca. Já é hora? Tininha sorriu. Saiu devagar da barraca, um frio de rachar. Pegou sua blusa de frio. A Alcatéia se formava, mas faltavam muitos que ainda dormiam. O Balu e a Bagheera iam de barraca em barraca. Tininha sorriu. Foi à primeira vez que dormiu em uma barraca de pano. Acantonou antes, mas dormiram em um quarto bagunçado de tantos lobinhos. Gostava. Divertia-se, se sentia bem com as outras lobinhas. A Akelá era simpática, o Balu fazia cara de feroz, mas logo em seguida dava uma boa gargalhada. Bagueera era mãe, pai, tia e avó. Olhou para o céu e viu o sol chegando. Olhou para a Akelá e ela sorria.


                      Sabia que seria mais um dia divertido. Correu a formar. O dia passou e ela nem se lembrou da mamãe, do papai e do Fredinho seu irmão e do seu urso Fofinho. Quantos dias ainda estaria ali? Não sabia, não importava, amava muito tudo isto. Na matilha Azul ouviu um trinar de um passarinho. Olhou e ele estava em um galho próximo cantando. O mundo sorria, Tininha sorria, a Akelá sorria. Isto era bom demais. Sabia que seria uma Lobinha da selva de Mowgly para sempre. – Melhor Possivel Akelá!  

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

“Tonho”


“Tonho”

                     Na janela olhava os passantes sem falar. Sua mente corria solta tentando costurar os erros e acertos de sua vida. A conversa com Tico foi à gota. Não foi a primeira e sabia que não seria a última. – Chefe, Prisco meu amigo que é Escoteiro no outro grupo me disse que sou pirata. Perguntei a ele o que significava – Ele disse que o Chefe dele dizia que éramos intrusos e não tínhamos direitos. Tentou me convencer a passar para eles. – O que fazer quando um Escoteiro seu diz isto para você? Outras vezes um ou outro que não sabiam das diferenças perguntavam: - Chefe, porque não podemos participar das atividades e acampamento deles? – Afinal não somos todos irmãos? – Seria sua culpa? Tinha sido Escoteiro, fez uma promessa, amava a seu modo o movimento. Admirava o método do fundador. Agora adulto resolveu fazer uma Tropa. Uma experiência, sem a estrutura de um Grupo Escoteiro. As exigências para iniciar não o agradaram. O registro mais ainda. Soube que as normas eram cobradas para tudo.

                    Não tinha diretores. Para dar uma satisfação convidou a mãe de Ricardo uma simples lavadeira para ser a presidente. A Tropa cresceu. Dois anos e agora estavam completos. Vinte e oito escoteiros. Menos de um ou dois saiam por ano. A procura enorme. Não queria quantidade e sim fazer o escotismo que acreditava. Confiava nos monitores, às patrulhas saiam sozinhas, acampavam sozinhas. Dar responsabilidade era sua maneira de ver a formação escoteira. Fora assim com ele. Quando Juvenal o procurou para dizer que ia organizar um Grupo filiado a Direção Nacional ele o parabenizou. – Precisamos de mais escoteiros disse. Mas não foi bem assim. Exigiram de Juvenal o distanciamento. Ele queria fraternidade e encontrou animosidade. Os meninos de um e outro se conheciam, mas na farda eram desiguais. Agora eram piratas, ameaçados de extinção, diziam que seriam levados as barras dos tribunais.


                   Ouviu ao longe o cantar do Hino Rataplã. Eram os Touros chegando do acampamento. O povo da cidade aplaudia. Os escoteiros com suas mochilas, tralhas e carrocinha de peito estufado marchavam com garbo. Pararam em frente sua janela – Sempre Alerta Chefe! Patrulha Touro se apresentado após o acampamento! – Sorriu. As preocupações ficaram para trás. Ele sabia que formava meninos para serem o futuro da nação. O escotismo não tinha dono era de todos. – Sempre Alerta Touros! Parabéns! Estou orgulhoso de vocês!         

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

“Lorenzo”


“Lorenzo”

                  Você me pede para ser Escoteiro. Conta uma parte da sua vida e por isto não acredita em nenhuma religião. Diz para mim que fará tudo que eu pedir, mas que seja liberado da promessa, pois não irá prometer algum que não acredita. Você me confirma que é um humanista e agnóstico, que não pode provar que Deus existe e que suspeita que ele não exista e por isto não quer perder tempo em pensar em religião. Ri e me repete que duas mãos trabalhado fazem mais que milhares unidas rezando. Eu disse a você que seria bem vindo, mesmo que pensasse assim. Pedi para virem teus pais e você se recusou. Disse que eles não pensam como você e que com seus dezesseis anos já é dono de sua vida. Não quis formar opinião e nem discutir religião. Você desde o início dizia que não teme morrer e ir para o inferno ou quem sabe o Paraíso. Confirma que a morte seja um nada e por isto remove todos os medos possíveis da morte. Sorri dizendo que és muito agradecido ao ateísmo.

                    Eu fiquei calado ouvindo você, pensei comigo como seria sua participação junto aos seus companheiros, se aceitaria a fé que eles têm ou sublevaria para mostrar que a fé não existe. Pensei em dizer se você nas reuniões todos orando como se sentiria sozinho sem rezar? Iria respeitar ou iria sorrir? Pensei na sua promessa assistida por todos você dizendo: Prometo fazer o melhor possivel para... Sem Deus? Pensei como seria sua vivencia na natureza, prova viva da criação vendo as formigas, as borboletas coloridas, os beija flores e o cantar dos pássaros se eles também seriam como você. Não existe o outro lado o outro lado é aqui. O que diria quando sua patrulha no alto da montanha visse um lindo por do sol e alguns iriam fazer uma circunflexão e dizer obrigado senhor por ter deixado que eu veja sua grande criação. Até pensei em um santo que dizia: - Nenhum homem diz “Deus não existe”, a não ser aquele que têm interesse em que Ele não exista!

                    Você foi embora, tentou se explicar, mas desistiu. Fiquei tristonho, queria você Escoteiro, queria ter mais um irmão, mas você seria o único, eu e você sabíamos que não ficaria a vontade com alguém que pensa diferente de você.

Sujeito que clama e berra. Contra a vida a que se agarra,
Vive em perene algazarra, colado aos brejais da terra.
Do raciocínio faz garra, com que à verdade faz guerra,
Na desdita em que se aferra à ilusão em que se amarra.

De mente sempre na birra. Ouve a ambição que lhe acirra
A paixão que o liga à burra. Mas a luz divina jorra

E a vida ganha a desforra na morte que o pega e surra.

“Nina”


“Nina”

                   Não foi Lobinha. Entrou por causa de Marly. No inicio adorava. Tinha sonhos, queria acampar, excursionar tudo aquilo que sua Avó Maninha lhe contou. Entregou-se de corpo e alma. Que o sol queimasse que a tempestade caísse dos céus. Se o frio era de rachar ela sorria. Seguiu a trilha que lhe ensinaram. O que fazia virou paixão. Um amor profundo aquela filosofia que amava. Dizia para si que seria escoteira para sempre. Queria fazer tudo, estar em todos os lugares, conquistar milhões de amigos. Sorria e chorava nos fogos de conselho. Seu pai morreu de câncer. Nunca pensou que isto iria doer tanto. O amava tal qual o escotismo, mas muito mais.

                    Chorou pelos cantos da casa dia e noite e não conseguia esquecer. Perguntou a Deus o que tinha feito para perder alguém que amava tanto. Não tinha resposta. Pensou em deixar o Movimento Escoteiro. Sem seu pai para contar suas aventuras, seus amores, suas dores, suas paixões pelo sol quando se despedia nas tardes quentes, ou quando abria a porta da barraca e ele entrava sem pedir agora não tinha mais o sabor do passado. Abriu um livro que estava na mesa. Nas primeiras páginas estava escrito: Ama e faz o que quiseres. Se calares, calarás com amor. Se gritares, gritarás com amor. Se corrigires corrigirás com amor. Se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão teus frutos. Santo Agostinho.


            Olhou para o céu, sabia que seu pai aplaudia onde estivesse. Vestiu seu uniforme. Partiu rumo ao escotismo e seus amigos. A paz voltou a morar em seu coração. Ter fé é acreditar naquilo que você não vê. A recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita!