No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Micoçar o Charreteiro e o Comissário Escoteiro Viajante. (uma história baseada em fatos reais)

  
Lendas Escoteiras.
Micoçar o Charreteiro e o Comissário Escoteiro Viajante.
(uma história baseada em fatos reais)

                 Poderia dizer que é uma história quase real. Duvidar de Micoçar, do Comissário Viajante seria desagradável pelos fatos acontecidos na época. Se querem saber eu nunca esqueci o Micoçar. Ele tinha uma charrete. Transportava pessoas. Naquela época eram chamadas de “freguês”. O termo cliente surgiu tempos depois. Se não me engano eram uns vinte charreteiros na cidade. Viviam disto. Quase não existia taxi na minha cidade. Só dois e um era um Fordeco azul desbotado. Os Charreteiros eram educados. Na estação da estrada de ferro formavam uma fila e ninguém atravessava o outro. Eu nos meus dezesseis anos conhecia todos eles. Micoçar era o mais conhecido por oferecer rosas brancas às moças que alugavam sua charrete. Andei muito em sua charrete.

                 Um dia ele apareceu na sede Escoteira. Ao seu lado um “freguês”, ou melhor, Chefe Escoteiro. Ficamos boquiabertos com a figura. Não era comum. Desceu uniformizado, garboso e se apresentou: - Sou o novo Comissário Escoteiro Viajante nesta região. Chame seu Chefe. Caramba! Nosso Chefe do Grupo era o Chefe João. Só ia a sede uma vez por mês. Sargento da policia militar. Gente boa, e meu segundo pai. Nossas reuniões não são como hoje. Sem aqueles programas de corre aqui corre ali. Tinhamos Bandeira, oração, e mais nada. Éramos duas patrulhas sêniores a Gavião e a Elefante. De vez em quando saia um jogo bolado ali na hora ou um repetido de um gostoso já feito. O restante era treinamento de técnicas Escoteiras ou sentar na praça em frente para contar patacas. Isto acontecia pouco pois na maioria das vezes estávamos navegando em alguma floresta, montanha ou explorando rios em um vale qualquer. Não sei se o que fazíamos era o certo, mas dos treze seniores só um tinha entrado como escoteiro os demais vieram dos lobinhos. Romildo Monitor pediu ao Chiquinho para levá-lo a casa do Chefe João.

                  À tarde daquele sábado fomos chamados a casa dele. Ele estava sério. - O Comissário quer fazer uma reunião para mostrar como se faz. Disse que o que viu vocês fazendo estava errado. Exigiu que eu estivesse presente. Se não fosse um Escoteiro educado eu teria mandado prendê-lo. Arrogante o moço. Eu não vou, mas vocês todos devem ir. A reunião ficou marcada para domingo pela manhã. Em frente à sede e atrás do Cine Pio XII. Havia um campinho de futebol onde nos reuníamos. Ele queria a tropa Escoteira, mas ela estava acampando na Caverna do Macaco próximo ao Rio Doce. No domingo lá estávamos. Ressabiados. Não sabíamos o que ele ia aprontar. Chegou como sempre com o Micoçar. Ele alugava a charrete pelo dia inteiro. Apresentou-se a nós – Sou Chefe Escoteiro do grupo “tal” no Rio de Janeiro. Como hoje viajo muito como representante comercial (conhecíamos como caixeiro viajante) fui nomeado Comissário Viajante para ensinar aos grupos da minha área como fazer escotismo e exigir o registro de cada um de vocês!

                 Assim ele começou a reunião. Sério e sizudo. Tudo nos padrões que hoje conhecemos. Eu mesmo dei muitas sessões em cursos falando sobre isto. Não estava errado. Mas aprontou uma correria que nos deixou perplexos. Queria a todo custo fazer uma competição entre nós. Éramos amigos. Nunca gostamos disto. Nenhuma Patrulha era mais que a outra. Até ai tudo bem. A missa acabou e um mundão de gente ficou ali nos olhando. Nesta hora ele resolveu cantar uma canção. Hoje muito apreciada e até adoro cantar. Mas naquela época? A “Piaba”. Sai, sai, sai oh piaba saia da lagoa. E quem entrava na roda dava uma umbigada e tinha que rebolar. O povo todo em volta dando gargalhadas. Nós todos vermelhos de vergonha. Na minha vez entrei rebolei um pouco e sem querer olhei para o Micoçar que ria a valer e gritava baixinho; - Telirio! Telirio! Para quem não sabe esse coitado (desculpe o termo) era o único Gay conhecido da cidade. Quer comprar uma briga? Chame o outro de Telirio. Desisti. Romildo também. O povo morrendo de rir. O chefão gritando: - voltem todos. Não dispensei ninguém!

                 Coitado. E quem obedeceu? Ficamos ali de braços cruzados morrendo de vergonha por ficar rebolando. O pior que hoje quando lembro penso comigo como eram os tempos passados. Hoje adoro cantar a Piaba e rebolar. Risos. Ele saiu com Micoçar e foi direto a casa do Chefe João. Micoçar olhou para trás rindo e falou baixinho para mim – Telirio! Oh! Vontade de esmurrar o Micoçar. Só sei que ele falou cobras e lagartos com o Chefe João. Ameaçou fechar o grupo. Ameaçou tanto que o Chefe João o pegou pela camisa, o arrastou até a Charrete de Micoçar e disse – Suma! Leve este lixo para o hotel. Se aparecer na minha frente de novo vou deixar você uma semana no xilindró! Dia seguinte o Chefe João nos contou toda a conversa. Disse que não éramos seniores. Sim um bando de indisciplinados (até certo ponto com razão). Exigiu que se fizesse um Conselho de Tropa e destituísse ambos os Monitores. Disse que enquanto não fizermos tudo isto o grupo nunca seria registrado.

                  Interessante. Nunca fomos registrados. Nosso grupo tinha mais de trinta anos de atividade e nunca fizemos registro. E quem precisava? “Belle Époque”, outros tempos. Uma Segunda Classe suada. Primeira Classe? Não era para qualquer um. Um orgulho do caqui curto e chapelão. Orientar com os ventos, com a lua, com as estrelas e as constelações. Pescar para comer na hora, armadilhas de pássaros para um bom assado. Comer mandioca do mato, aipim. Uma sopa de capim gordura. Bananas verdes fritas na brasa. Bundinhas de Tanajura na panela estouravam como pipocas. Risos. Nunca desistíamos do escotismo. Tinha pena dos novatos. Quase não havia vaga. Trinta e seis lobinhos onde só podia ficar vinte e quatro. Cinco Patrulha de oito onde deveriam ser quatro. Sênior? Este sim. Não era para qualquer um. Duas Patrulhas só. Cidade pequena. Nesta idade a maioria dos rapazes estouravam a idade na tropa e tinham de trabalhar. Serem aprendizes. Ainda não existia a Semana Inglesa. (parar aos sábados ao meio dia).

                   Outro escotismo? Pode ser. Escotismo do campo. Sem chefes. Só os monitores indo e vindo. Viver na natureza. Olhando as flores desabrocharem. Colocando os pés na água fria e cantar baixinho – Ah! Que delicia! Olhar o sol caminhando para o oeste e dizer – É para lá que vamos! Hoje não dá mais. GPS, ele lhe mostra tudo. O Chefe ali com você. Alguns fazendo tudo. Você não precisa pensar. Nem calcular mais se precisa. O Google lhe dá as respostas de tudo. Tabuada? Ficou na história. Um celular ou um smartphones para quando der uma parada na jornada entrar no Facebook. Ver os e-mails. Isto sim é moderno. Olhar os pássaros? Os animais? Descobrir novos caminhos? Quem sabe olhar a abóboda celeste e descobrir uma estrela desconhecida? Ver um cometa riscando os céus e saber de qual constelação estava vindo ou indo? Nada disto. Tudo mudou e para melhor. Nesta época moderna não cabe mais um Romildo, um Jessé, um Taozinho um Israel ou mesmo um Micoçar ou eu mesmo. Belos taxis hoje. Uma charrete só como peça de museu.

            E se quiserem saber eu e Micoçar anos depois nos tornamos grandes amigos. O tal Comissário alugou sua charrete por dois dias e não pagou. Foi embora e deu o cano. As patrulhas fizeram uma “vaquinha” e pagaram em suaves prestações. Sua charrete me levou a belos lugares por vales e rios desconhecidos. Charretes! Também foram engolidas pela modernidade. Pelos novos tempos!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Uma cidade chamada Felicidade.


Lendas escoteiras.
Uma cidade chamada Felicidade.

                  O Barão Franz Sebastian Denutz Nasceu em Regensburg no leste da Baviera. Seus pais quando conheceram Hitler se assustaram. Sua maneira de agir ao assumir o poder o assustou. Sentiu que tudo podia dar errado para sua família. O Barão estava com vinte e seis anos e sofria uma atrofia na perna o que doía horrivelmente. Médicos consultados não resolveram. Disseram ser uma doença incurável. Católicos e judeus tinham receio que quando Hitler mostrasse a que veio eles iriam perder tudo. Afinal ele e sua família eram judeus. Ele doente e Hitler falando em raça pura muita coisa ia mudar. Chamou toda a sua família para uma reunião. Explicou tudo. Falou sobre o Brasil. Poderiam comprar umas terras, plantar cana de açúcar e viver a paz que aquele pais oferecia. Corria o ano de 1937. Em agosto daquele ano embarcaram para o Brasil a bordo do navio Chalupas.

                   Chegaram a Santa Rita do Passa Quatro em uma tarde de setembro. O Barão Franz comprou no Rio de Janeiro um Ford 29, muito querido na época. O povo todo na rua para conhecer os novos visitantes. No dia seguinte foram conhecer as terras  Foram 25.000 hectares de terra adquiridos do Coronel Laviola. O Barão era incansável. Construiu um império. Não sabia como explicar, mas sua perna não doía mais. Ainda estropiada, mas sem dor. Em dez anos construiu uma grande Usina de Açúcar, plantou 800.000 pés de café e fundou uma cidade. Isto mesmo. “Felicidade” foi seu nome de batismo. Nos estatutos pouca coisa – 1ª’ – Nesta cidade todos serão felizes – 2ª’ Todos que forem possuídos possuidores de necessidades especiais terão aqui um tratamento especial. Eram quatro ruas, calçadas com pedras de granito em formato de mosaico. As casas não tinham muros. Eram separadas por canteiros de flores. Naquela região o Barão Franz fundou o primeiro Grupo Escoteiro. O chamou de Grupo Escoteiro Estrelas Cintilantes. Disse que todos os participantes teriam direito a uma estrela e ser feliz. Todos os meninos e meninas portadores de necessidades especiais seriam bem vindos.

                   Dois anos mais tarde mandou construir em uma área arborizada diversos chalés que eram destinados a famílias com filhos portadores de necessidades especiais. Contratou na Europa diversos professores, médicos, pedagogos, para que desse toda a assistência que fossem necessária aos jovens que ali agora residiam. Foi nesta época que nasceu Tim Tim Soneca. Ficou famoso em toda a região. Mudou toda a história Escoteiro da região. O Barão tinha por ele um amor especial. Não o demonstrava, mas sabia que em pouco tempo iria ir desta para melhor ou pior, só Deus sabia. A família de Tim Tim Soneca morava em Santa  Rita do passa Quatro. Quando ele nasceu foi uma surpresa. A parteira Dona Matilde nunca acreditou no que vira. Ele nasceu dormindo. Todos acharam que estava morto. Mas seu corpinho respirava. Não havia médicos na época. Só em Ribeirão Preto. Sem posses deixaram de lado.

                    Vinte dias depois Tim Tim Soneca acordou. Deu um belo de um sorriso e disse – Bom dia! Que susto! Vinte dias de nascido e falando? Muitos que estavam na morada da Família Souza saíram correndo. A cidade toda veio para ver. Tim Tim Soneca estava conversando naturalmente com todos na casa. Disse que precisava dormir treze horas por dia. Ninguém devia acordá-lo. Dito e feito. Às seis da tarde ele dormiu e só acordou dia seguinte às sete da manhã. Quando o Barão Franz soube de Tim Tim Soneca ofereceu uma bela casa bem no centro de Felicidade. Não deu outra. Lá foram eles para uma nova história em suas vidas. O Barão queria Tim Tim Soneca ao lado dele. Queria educá-lo. Uma grande amizade surgiu ali. Aos sete anos Tim Tim Soneca entrou para os lobinhos, aos onze foi para os escoteiros. Na sede ele tinha um quarto. Quando dava a hora ele ia para lá e dormia suas treze horas. Nos acampamentos ele tinha sua barraca e os chefes sabiam que na hora ele tinha licença para ir dormir. Assim ordenou o Barão e assim era feito.

 

                     Tim Tim Soneca passou para os sêniores e depois os pioneiros. Em 1951 com vinte anos assumiu a direção do grupo. Sempre dormindo suas treze horas. Tudo aconteceu quando a cidade foi invadida por um bando de bandoleiros que há tempos saqueava cidades na região. O Barão estava velho. Não tinha mais aquela força do passado. A cidade foi subjugada pelos bandidos. Quando eles dominaram todos Tim Tim Soneca dormia. O Chefe do bando um tal de Periquito Dedo Duro achou estranho aquele marmanjo dormir assim. Tentou acordá-lo e não conseguia. Mandou seus capangas o jogarem no Rio  Mogiguaçu. Tim Tim Soneca levou um baque. Acordou afundando na água turva do rio. Subiu a tona e viu uma turba de homens atirando nele. Nadou para a outra margem. Sentiu seu corpo encorpar. Sua pele ficou vermelha. Correu rio abaixo até a ponte da Laguna. Voltou a Felicidade. Uma luta sem trégua começou entre Tim Tim Soneca e o bando de Periquito Dedo Duro. A cada bandido um soco bem dado e ele caia para não levantar nunca mais. Periquito Dedo Duro soube que Tim Tim Soneca estava liquidando seu bando. – Como pode um homem como ele vencer mais de oitenta bandidos?

                     O Grupo Escoteiro foi chamado pelo Barão. Meninos e meninas em cadeiras de rodas, muletas, mancando, uns pulando se reuniram na praça. Declararam guerra para os bandidos. Tim Tim Soneca já tinha mandado por terra mais de quarenta bandidos. Infelizmente o sono chegou de novo. Bem na Praça Tim Tim Soneca deitou na rua e dormiu. Periquito Dedo Duro sorriu. Correu até onde estava Tim Tim Soneca. Sabia que se desse nele um tiro toda a cidade iria ficar sem reação. Quando ele chegou em frente à Tim Tim Soneca que deitado na rua dormia, apontou a arma e ao puxar o gatilho recebeu uma paulada na cabeça. Toda a cidade saiu às ruas e armados com faca, enxadas, facões e paus atacaram a bandidada que saiu correndo de Felicidade. No dia seguinte um batalhão de soldados de Ribeirão Preto chegou à cidade. Prenderam todo o bando de Periquito Dedo Duro.

                   Nunca em tempo algum um Grupo Escoteiro formado só por excepcionais mostraram tanta coragem. O próprio Barão trouxe do Rio de Janeiro toda a cúpula do escotismo brasileiro. Foram medalhas de valor para todos. Tim Tim Soneca foi considerado o herói Escoteiro da cidade. Felicidade seguiu seu caminho. Mostrou ao mundo que quando se quer se faz. Só que nem todo mundo tem em suas fileiras um Tim Tim Soneca que quando acordado virou um herói, um forte  e alguém que sabe fazer o que deve ser feito. Tim Tim Soneca até hoje tira sua soneca de treze horas. Agora investido no cargo do Barão que se aposentou, criou um corpo de oito homens, que carrega junto a ele dois colchonetes, pois se der sono, Tim Tim Soneca dorme onde estiver.

                   Quem me contou esta história jurou ser verdade. Antonio Lorota era meu amigo e escoteiro. Eu sempre acreditei nele. (risos). Eu mesmo quando fui a Santa Rita do Passa Quatro procurei a tal cidade Felicidade. Ninguém sabia ninguém conhecia. Verdade ou não, um dia saiu no jornal o Estado de Minas quase uma página inteira homenageando o falecimento de Tim Tim Soneca. De onde era o jornal só dizia que era a  cidade de Felicidade. Risos. Nunca ninguém soube onde ficava, mas que alguém pagou ao jornal pagou. Quem foi o jornal não disse. Para mim que sou um contador de histórias pode ser verdade. Que na eternidade Tim Tim Soneca possa dormir em paz!        

Apenas um poema.


Apenas um poema.

Hoje me lembrei deste pequeno poema que escrevi há muitos anos. Comecei a escrever um pequeno artigo para publicar hoje à noite, quando vou dormir, e me sentindo meio nostálgico pensei nele. Mas ele o poema não é triste falei pra mim mesmo. Tem razão. Não é, mas me faz lembrar que o escotismo tem tudo para transformar a juventude em homens e mulheres dignos da nossa pátria. Querem ler o poema? Fiquem a vontade.

Quem são eles?

Ei você, por favor, me diga, quem são eles?
Estes sorrisos cantorias são mesmo deles?
Aonde vão com essa tralha no costado,
Partem em bandos nem parecem assustados
Dizem que vão para os campos e montes,
Cheios de esperanças a beber água na fonte?

Sei que são meninos cheios de esperanças
A correr com bandeiras nas andanças,
No regato águas límpidas e formosas,
Contam casos contam prosas.
No lusco fusco do sol da tarde
Armam barracas sem fazer alarde.

Usam mochilas, distintivos e chapéu.
Usam lenço amarrados ao arganéu.
Na ravina eles gostam das flores
Orgulham da promessa, dos seus valores.
Armam barracas, arvoram bandeiras.
A moeda da boa ação está na algibeira.

Ei jovem, me diga quem são?
Vejo vocês fazendo boa ação,
Moço, sou menino, sou faceiro,
Olhe bem, sou Escoteiro!
Amo a Deus, amo meus amigos
Amo a pátria e da lei os seus artigos.

Pensei que eram simples meninos
Enganei-me, eram divinos.
Batutas, energia que consomem
Sem duvida em breve serão homens.
Nunca seriam esquecidos forasteiros
Pois ali estavam verdadeiros Escoteiros.

Se um dia perguntarem Aonde vão
Diga com calma com amor no coração.
Eles? Meu amigo, são alegres faceiros
São meninos, eles são Escoteiros.
Vivem de sonhos correndo neste céu cor de anil,
São sinceros, são amigos, são Escoteiros do Brasil!

Chefe Osvaldo

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Como é difícil dizer adeus!


Hora de dormir, descansar... e sonhar!
Como é difícil dizer adeus!

                      A tarde chegou e já partiu. A noite agora é minha companheira inseparável. Aqui sentado em minha varanda me lembrei dele. Porque não sei. Chamava-se  Antonio Trevisan, mas o apelido dele era Bocalarga. Nunca soube o porquê do apelido, pois ele não tinha uma boca grande. Quem pôs o apelido nele saiu do grupo e foi embora da cidade. Era uma espécie de norma ter um apelido. Chamavam-me de Vado, Pescoço ou Valente. Valente eu nunca fui, pois o medo sempre foi meu companheiro por toda a minha vida. Ele sempre chegava à sede sorrindo. Que belo sorriso. Era olhar para ele e a gente se sentia bem e logo estava sorrindo como ele. Um bálsamo para a tropa. Nos fogos de conselho bastava ele olhar para todos e sorrir e logo a tropa estava gargalhando. Ninguém nunca o viu triste. Seu rosto não demonstrava. Se precisasse de alguém que fazia questão do oitavo artigo da lei, Bocalarga seria ele. Um dia ele me contou que seu rosto era assim desde que nasceu, mas ele chorava e sofria muito com isto. Não dava para mudar sua expressão.

                           Lembro que ele um dia me procurou sorrindo. Mas quando falou seus olhos encheram-se de lagrimas. - Monitor, ele dizia. Meu pai foi preso. Dizem que ele era assassino, matava por dinheiro. Eu nunca soube disto Monitor. O que eu vou fazer de minha vida? Seus olhos vermelhos e seu sorriso era um contraste por aquela dor que ele sentia. O pai dele foi condenado a dezenove anos de prisão. Bocalarga continuou no Grupo Escoteiro. Não havia motivo para afastá-lo. Éramos um grupo de amigos e irmãos. O que aconteciam de ruim com os parentes para nós não tinha valor. O lema de um por todos e todos por um para nós era questão de honra. Lembro quando fomos acampar na Pedra do Mosquito. Bocalarga era da patrulha touro e eu da Raposa. Como era uma subida íngreme sempre amarrávamos um cabo em uma corda comprida para segurar quem escorregasse e não caísse no despenhadeiro. Bocalarga não amarrou bem o cabo. Escorregou e caiu de uma altura de mais de quarenta metros. Não foi em queda livre. Foi batendo o corpo nos arbusto até que se estatelou no fundo.

                   Todos correram para ajudar. A corda serviu para chegar até ele. Ele gemia de dor, mas sua face sorria. Que coisa gente. Que coisa! Fizemos um Balso pelo Seio e ele foi içado. Mais dores ele sentiu e sorria. Levado ao hospital teve fratura exposta no joelho e em uma costela. Época que não sabíamos ainda como carregar feridos nestes casos. Eu mesmo o levei nas costas por um quilometro até a Fazenda do seu Damião. Usou muleta por muitos anos. Sempre sorrindo. Sua mãe era costureira e resolveu ir embora para Monte Azul. Tinha lá uma tia e duas sobrinhas. Boca Larga não queria ir, mas ficar com quem? Na estação esperando o trem rápido da manhã, eu, Bocalarga e uma dezena de Escoteiros, calados não sabíamos o que dizer. Uma tristeza geral e Bocalarga sorrindo. Penso que ele dizia para si – Maldito sorriso. Meu coração sangra, não quero ir e não posso ficar aqui! Todos chorando e eu a sorrir?

                     O trem chegou de mansinho. Na plataforma fizemos um circulo. Cantamos para ele a Canção da Despedida. Todos chorando e Bocalarga sorrindo. Queríamos dizer que não era mais que um até logo. Um dia certamente tornaríamos a nos ver. O trem partiu. Ele na janela sorrindo. Vi em seus olhos as lagrimas caírem. Ficamos parados na plataforma até que o trem sumiu na curva do Boi Marinho. Voltamos tristes para casa. É muito difícil dizer adeus a quem está sorrindo, mas que sabemos estar chorando. Oito anos depois o vi em Caratinga. Falamos por pouco tempo. Ele estava com alguns cavaleiros e pensei que trabalhava de vaqueiro em alguma fazenda próxima. Ele balançou a mão dizendo adeus com o sorriso de sempre, eu fiz o mesmo. Nunca mais o vi, mas guardei dentro de mim o seu sorriso de fel. Um sorriso que não era dele. Ninguém nunca soube que ele chorava ninguém. Quem ia acreditar? É, é mesmo difícil dizer adeus a quem está sofrendo.

                      Enquanto estava a escrever estas pequenas memórias me lembrei de uma frase: -... Se meus olhos mostrassem a minha alma, todos, ao me verem sorrir, chorariam comigo... ''


Boa noite meus amigos e minhas amigas. Hora de dormir e pensar que a terça será especial para todos nós...

sábado, 24 de janeiro de 2015

O fantástico vôo do pára-quedas amarelo


Lendas Escoteiras.
O fantástico vôo do pára-quedas amarelo

“Se um homem dispuser de uma peça de pano impermeabilizado, tendo seus poros bem tapados com massa de amido e que tenha dez braças de lado, pode atirar-se de qualquer altura, sem danos para si”. A frase é de Leonardo da Vinci, considerado um dos primeiros projetistas de pára-quedas, invento que possibilitou ao homem realizar o eterno desejo de voar - mesmo que por alguns segundos.

                   Quando somos crianças temos sonhos, desejos e não nos preocupamos se será alcançado ou não. Basta sonhar. Criamos em nossa mente tudo aquilo que gostaríamos de realizar. Nada há ver com a história, mas quando minha mente me leva ao passado de criança, lembro-me da personagem de Dibs: em busca de si mesmo. (autoria de Virginia M. Axline) È a história de uma criança que lutou pra conquistar sua identidade através do processo psicoterápico. O Livro oferece uma visão daquilo que chama busca de si mesmo. No final Dibs consegue emergir como uma pessoa brilhante e talentosa. Um verdadeiro líder.

                  Eu estava com treze anos. Pertencia a patrulha da Raposa. Éramos sete. Uma felicidade sem par. Sem televisão, sem internet, ainda sem pensar nas namoradas, pois a patrulha escoteira era nossas vidas. Reuníamos praticamente todos os dias. Amigos dentro e fora do escotismo. Cuidávamos com cuidado de nossa intendência. Pobre claro. Pouca coisa – um lampião a querosene, panelas de alumínio doadas por nossas mães, uma machadinha um facão tudo conquistado a duras penas. Duas barracas de duas lonas era nosso céu nos acampamentos. Daquelas usadas pelo exército na década de trinta.

               Estavam velhas e por mais que cuidássemos elas estavam se diluindo. Não tínhamos mais o que fazer. Tudo que nos disseram para fazer fizemos. Estava difícil acampar. Lonas extras? Nem pensar. Um preço que não tínhamos como pagar. Um dia achei uma revista na casa de uma tia, e vi um lindo pára-quedas. Encantei-me com ele. Mas como ter um para nós? Seria uma grande barraca. Daria para armarmos facilmente e caberia todo mundo.

            Sabia que era um sonho. Cidade pequena, só um cinema, uma igreja, uma praça com um coreto, alguns ricos e a maioria pobres. Em nossos acampamentos de fins de semana perdíamos muito tempo montando abrigos naturais. Tínhamos uma técnica própria, mas mesmo assim perdíamos tempo na construção. Um dia, acho que foi em um domingo de sol, vimos um avião sobrevoando a cidade. Uma surpresa. Isto nunca acontecia. Só ouvíamos os roncos de um que passava todas as quartas feiras pela manhã.

           Em dado momento, vimos alguém voando fora do avião (um teco-teco). Um pára-quedas se abriu. O povo da cidade parou. Embasbacados todos olhavam para o céu. Que beleza! Que espetáculo! O homem do céu caiu bem na praça e um bêbado que todos chamavam de Sebastião Barrigada ajoelhou-se no pé do pára-quedista e gritou bem alto – Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! Todos caíram na risada.

              Eu não tirava os olhos do para queda amarelo. Ele enrolou tudo com carinho e explicou que sua irmã iria se casar e ele não queria chegar atrasado. Por isto o salto no para-queda. Ele não iria decepcionar Mercedes. Conhecia-a. Irmã de Laudivino nosso sub. Monitor. Grande. Fui correndo a casa dele. Chamei os demais da patrulha. Conseguimos o para quedas. Arquimedes o irmão de Laudivino nos presenteou. Um presente dos céus!

             Levamos o pára-quedas para a sede. Todos os escoteiros do Grupo se juntaram a nós. Ninguém tirava os olhos dele. Chefe Jessé chegou mais tarde. Sorriu. Grande chefe! “Fazer fazendo” era seu lema. Abrimos o pára-quedas para conhecer melhor. Muitas cordinhas de nylon que não conhecíamos. Uma época de cordas de cânhamo. Aquelas de fibras nos faziam arregalar os olhos. Foi aberto o para quedas. Nossa sede ficava na entrada da cidade. Na estrada do Alvarenga. Próximo ao rio das Flores.

              Um pé de vento apareceu de uma hora para outra. Levantou o pára-quedas. Todos correram. Eu não. Agarrei-me as cordas. Amarrei-me em uma delas. Era meu sonho! Não iria perdê-lo nunca! Fui levantado no ar. O pára-quedas com a força do vento se elevou a vários metros de altura. Virei um menino voador. Um medo incrível, mas não larguei o pára-quedas. Fui elevado a mais de oitenta metros de altura. Não vi. Meus olhos se mantinham fechados. Pedia a Deus que não deixasse perder o pára-quedas.

            A cidade inteira viu o menino escoteiro agarrado ao pára-quedas. Não entenderam nada. Uma multidão seguiu o pé de vento e o pára-quedas. Ele desceu suavemente na baixada do cristão. Graças a Deus! O local não tinha árvores e era um descampado onde acampamos várias vezes. Não tive um arranhão. Todos bateram palmas. Abri os olhos e vi uma multidão em minha volta. Sebastião Barrigada estava lá – Louvado seja o menino filho de Deus! Disse.

             O pára-quedas deu uma linda barraca. Durou anos. Mesmo depois que fui para os seniores e finalmente os pioneiros, lá estava os raposas orgulhosos de sua barraca de pára-quedas. A única nas redondezas. Ninguém tinha. Só ela. A Raposa que nunca mais esqueci. Não sei o que aconteceu depois. Cresci, mudei de cidade, participei de outros grupos, mas acreditem, nunca mais esqueci o fantástico pára-quedas amarelo. Um sonho que se realizou!

Um dia a maioria de nós irá se separar. Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos dos sonhos que tivemos dos tantos risos e momentos que compartilhamos...


Boa noite meus amigos, que o domingo seja fantástico para todos vocês!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Quando os destinos decidem o caminho a seguir.


Lendas Escoteiras.
Quando os destinos decidem o caminho a seguir.

             Eles se conheceram no Grupo Escoteiro Montanhas da Lua. No inicio quase não se falavam. Paulo era um Chefe entusiasta, vivia na tropa como se fosse um dos meninos de patrulha. Todos o adoravam. Ele fazia questão de dar o exemplo. Mesmo solteiro era homem honrado e trabalhador. Muitas vezes acreditou nas palavras dos meninos e nunca negou a nenhuma patrulha que fizessem atividade sem a presença do Chefe. Ele aprendeu a confiar. Sabia que quando fizesse um jogo onde não se poderia ver não precisava de venda. Se o Escoteiro ou a Escoteira disse que podia confiar e se completasse dizendo a palavra de Escoteiro ele sabia que ali tinha honra, tinha lealdade, tinha palavra. Ele fazia questão de aplicar o sistema de patrulhas corretamente. Quando começou viu a tropa com poucos jovens. Seis meninas, sete Escoteiros. Em menos de um ano as patrulhas estavam completas. Ele adorava isto, fazer atividades Escoteiras com uma tropa bem preparada, onde podia se dizer que não havia amadores era muito bom.

               Marlene nem sabia por que entrou para a Alcateia. Não conhecia ninguém. Um dia passou pela sede rumo à padaria do bairro. Viu olhou, entrou e gostou. Resolveu participar. Foi aceita, pois tinham poucos voluntários. A Alcateia cresceu, ela adorava os lobinhos. Entraram mais duas assistentes. Não conhecia o movimento e agora aprendia depressa. Notou a presença de Paulo na tropa. Ficaram amigos, mas só dentro do escotismo. Ele era simpático e educado. Nonato o Diretor Técnico um dia convidou a todos os chefes para passarem em sua casa, beberem um refrigerante, e comerem um churrasco. Sua esposa fazia aniversário. Não eram muitos, mas com a diretoria havia pelo menos uns quinze participantes. Marlene e Paulo sem perceber ficaram horas conversando. Descobriram que tinham muito em comum. O namoro teve efeito duradouro. O noivado não demorou. Casaram-se numa tarde de sábado na igreja São Pedro com as bênçãos do Padre Wolflang. Um alemão abrasileirado que adorava os Escoteiros, pois foi um em Aldenhoven cidade em que nasceu na Alemanha.

                   Paulo amava Marlene que amava Paulo. Todos diziam que era difícil ter um casal assim. Iam para as reuniões de uniforme a pé de mãos dadas. A vizinhança adorava os dois. Quando Paulo pediu a Akelá para liberar Marlene para a tropa ouve um susto, mas todos acharam que era direito. Afinal a Tropa Escoteira tinha dez meninas e só o Paulo como Chefe não era direito. Um belo dia Paulo chegou do trabalho e recebeu a noticia que sempre sonhou – Vamos ter um filho! Ele sorriu de orelha a orelha. Ser pai era seu sonho. Pediu para Marlene que não fizesse o exame para saber se seria menino ou menina. Ele gostaria de saber quando nascesse. Ela concordou. Todo diziam que era menino e ou menina. Não havia unanimidade. Dizem que todo parto se culmina à noite ou de madrugada. Em Três Ranchos havia um pequeno posto de saúde com um medico. Ela fez o pré-natal em Valverde, oitenta quilômetros de estrada ruim e cheia de buracos. Ia lá duas vezes por mês. O Hospital Santa Cecilia tinha boas condições para parto.

                   Nos meses de espera, não se preocuparam com nomes. – Quando chegar a hora vamos escolher dizia Paulo. Dito e feito, duas da manhã de terça começaram as contrações. Dona Epifania parteira achou melhor irem imediatamente para Valverde. Paulo preparou o mais que pode seu fusquinha. Foram em quatro, ele Dona Epifania, José de Arimatéia seu vizinho e amigo. Nem saíram da cidade caiu um enorme temporal. Paulo dirigia devagar, preocupado e esperançoso. Sorria em pensar que poderia ser um menino. Devia ser bom ter um filho homem pensava. Marlene sonhava com uma menina, ela queria ter uma, pois em sua família só havia homens. O carro derrapou e bateu em uma árvore. Ninguém se machucou. Marlene viu suas contrações aumentarem. Dona Epifania disse que não dava para fazer o parto ali – “O menino tá virado Chefe”! Ela disse. Paulo fechou os olhos sem saber o que fazer. Ele era um Escoteiro, tinha iniciativa, mas e agora? O que fazer? O Fusca não ligava e ele não tinha ideia de como proceder.

               Paulo começou a ficar desesperado. Rezava pedindo a Deus que não lhe tirasse seu filho e Marlene. José de Arimatéia disse que ele ia até a fazenda do Coronel Totonho. – Eu sei que ele tem uma charrete lonada. Vai me emprestar tenho certeza. Sumiu na trilha rumo à fazenda debaixo daquele mundaréu d’água. Duas horas depois chegou com a charrete. Ainda tinham mais de quarenta quilômetros a percorrer. A chuva caia aos borbotões. Marlene sofria, mas não dizia nada. Matinha um tênue sorriso e não reclamava dos solavancos da charrete na estrada. Menos de doze quilômetros para chegar e eis que a estrada estava fechada por um enorme barreira. Houve um desmoronamento. Não havia como passar. De novo José de Arimatéia pôs mãos à obra. Derrubou a cerca de arame farpado. Paulo o ajudou. Não foi fácil não tinham ferramentas. Uma hora depois e o dia clareando conseguiram atravessar o pasto cheio d’água e muitas vezes com a charrete atolando. Às seis da manhã chegaram ao hospital e não havia médicos!

           Paulo carregou Marlene no colo, pois ela parecia ter desmaiado. Pediu o telefone a atendente e ela se negou. José de Arimatéia pulou o balcão e deu o telefone para Paulo que ligou para Adalberto, um Chefe Escoteiro de lá. Às nove da manhã a rua do hospital estava cheia de Escoteiros. Faixas e cartazes diziam – Onde está o medico? Onde está a prestação de serviço do hospital de nossa cidade? Uma patrulha Senior foi até a casa do prefeito. Outra atrás do delegado. Dez e meia chegou um medico correndo. Onze e meia o parto foi realizado. Paulo nervoso não sabia o que fazer. Junto a ele o seu grande amigo que o salvou José de Arimatéia o abraçava. Dezenas de chefes da cidade dando a força que ele precisa. Um médico chegou com cara de quem não quer nada – Quem é o Senhor Paulo? – Sou eu, ele disse. Venha comigo, por favor. Precisamos conversar – Um silêncio enorme. Todos pensavam a mesma coisa. O pior aconteceu!


           Um minuto depois Paulo entrou na recepção gritando. Nasceu! Nasceram gêmeos, um menino e uma menina, Marlene está sorrindo de felicidade! Os gêmeos foram batizados em maio na Igreja de São Pedro sob as bênçãos do Padre Wolflang. A história do nascimento dos gêmeos foi contada por muitos e muitos anos. José de Arimatéia foi padrinho dos dois, de Nany e Nando. Tem histórias de finais tristes e de finais felizes. Esta eu sei que a felicidade graças a Deus existiu. Uma viagem que acredito nenhuma jovem esperando um filho pode passar. Dizem que nos finais de todos os contos se diz que eles foram felizes para sempre. Foram mesmo. A família de Paulo e Marlene sempre foram o casal mais feliz de Três Ranchos. Pode haver outros, mas escoteiramente falando eles tinham o sorriso do tamanho do coração Escoteiro que possuíam.

domingo, 18 de janeiro de 2015

A morada da felicidade existe entre o céu e a terra.


Lendas Escoteiras.
A morada da felicidade existe entre o céu e a terra.

                  Um silêncio sepulcral na sala de aula. Se entrasse uma mosca pela janela seria como o barulho de um avião levantando voo. Dona Nena de olhos semi-serrados em sua mesa lia um livro comum. Os meninos e meninas calados fazendo uma redação. “Como evitar Escorpiões”. Ela tinha dado uma aula sobre o tema. De vez em quando passava os olhos pela sala. Uma austeridade que era reconhecida em toda cidade. Seus ex-alunos tremiam quando encontravam com ela. Um grito estridente assustou todo mundo – Escorpiões na sala. Corram! Uma correria e uma gritaria sem fim. Dona Nena também assustou. Viu que a sala esvaziou em segundos. Olhou de novo. Só Ruanito sentado, compenetrado fazendo a redação. Dona Nena o pegou pelas orelhas e o levou ao Diretor. Não era a primeira vez.

                 Aniversário da cidade. Na praça um enorme palanque. Várias festividades programadas. O Prefeito Paredes discursando. Ao seu lado Dona Eufrásia sua esposa. Muitas autoridades juntos. O povo em pé na praça. Alguém gritou alto! – Uma cobra! Uma cobra! É uma cascavel! Ela atravessava o palanque devagar rumo às escadas. Um reboliço. O delegado Marcondes esvaziou seu revolver na cobra. Pá, pá e pá! Ela não parou. Gente gritando, caindo, o palanque quebrando. Dona Eufrásia caiu sobre a multidão. Seu vestido novo subiu até as orelhas. O Povo viu tudo. Ela adorava azul com bolinhas amarelas. A multidão dá praça correndo pela Avenida Tiradentes. A praça vazia. Muitos de pernas e braços quebrados foram para o pronto socorro. Só o Zé Bedeu um bêbado ria sem parar e gritava: “Viva Ruanito, o único gente boa da cidade!”. Sentado no banco da Praça Ruanito olhava sério para tudo aquilo. Na sua mão a linha de pesca que usou para puxar a cobra morta.

              Todos sabiam que onde havia estripulias tinha a mão de Ruanito. Seu pai já fora intimado várias vezes na delegacia. Alfredão adorava o filho. Sua mulher fora internada na casa de repouso Santo Angelo há muitos anos. Diziam que ela era louca. Ele não achava. Ela só gostava de se divertir. A cidade não tinha ninguém capaz de ajudar seu filho. Naquela época falar em psiquiatras ou analistas seria um palavrão. Chefe Cleyde era assistente de Tropa. Sempre soube de Ruanito. Tinha pena dele. Um dia tentou com todos os chefes do grupo a aceitá-lo. Ninguém quis. Convenceu o Chefe Manollo a dar uma oportunidade ao menino. – Ele quer se um de nós? – Não sei disse – Se ele quiser vamos tentar por seis meses.  Ela foi a sua casa. O pai de Ruanito gostou da ideia. Ele não disse nem sim e nem não. Olhou indiferente para a Chefe Cleyde.

               Quando foi apresentado à tropa todos se assustaram. Já conheciam sua fama. Romerito era o Monitor mais antigo. Dá Patrulha Peixe Boi. Com quinze anos ainda não tinha ido para os seniores. A pedido do Chefe Manollo ficou até os dezesseis. Era considerado o guia da tropa.  Ficou responsável por Ruanito. Ele o pegou pela mão e o levou até um grande abacateiro que dava sombra no pátio onde se reuniam. – Está vendo aquela formiga? Ela está a “Escoteira” significa aquela que anda só. Você vai ficar aqui e observar quando ela encontrar uma folha e levar para sua morada. Marque o tempo e quantas vezes ela deixa cair à folha! Ruanito olhou para Romerito, olhou para a formiga e não disse nada. Sentou na grama de olho na formiga. A reunião terminou às seis e meia da tarde. Ruanito sentado. Romerito o viu quando ia saindo. Romerito foi embora. O deixou lá. Nem até logo disse. A sede vazia. Ruanito firme sentado no pé do abacateiro.

              Às duas da manhã alguém bateu na porta da casa de Romerito. Ele com sono levantou-se e ao abrir a porta viu Ruanito todo molhado. Chovia a mais de quatro horas. O mandou entrar. Foram para a cozinha onde preparou um café forte.  – “Foram doze horas, vinte e quatro minutos e trinta segundos”. A folha caiu vinte e três vezes e vinte e três vezes a formiga repetia fazendo tudo de novo. Sempre com uma nova tentativa. Pensei em ajudá-la. Mas será que serviria para ela aprender como deveria fazer? Quando ela conseguiu entrou em um buraquinho no tronco do abacateiro não apareceu mais. Romerito olhou para Ruanito. Não disse nada. Pegou dois guarda chuva e o levou até sua casa. Seu pai dormia sono solto.

             No sábado seguinte pela primeira vez Ruanito foi apresentado a Patrulha. Romerito perguntou: - Algum de vocês conseguiram seguir a formiga do abacateiro? Cada um olhou para o outro e não disseram nada. Uma prova muito difícil. Apertem a mão de Ruanito. Ele conseguiu! Os escoteiros olharam espantados. Três meses depois Ruanito fez a promessa. A tropa feliz. Muitos seniores e chefes preocupados. Chefe Cleyde acreditava na mudança. Chefe Manollo era outro que sorria. A cidade se assustou quando viu Ruanito de Uniforme andando garboso pela Avenida Tiradentes. O delegado tirou o boné da cabeça. O Prefeito veio à janela da prefeitura para vê-lo. Zé Bedeu na sua bebedeira dava risadas e gritava: - Viva Ruanito, o maior Escoteiro do Brasil!

           E assim termina a história. Aquela cidade passou a ser uma feliz morada da felicidade. Ela ficava bem ali, bem próxima entre a terra e o céu!

Boa noite a todos vocês meus amigos e amigas. Que a semana seja frutífera e cheia de felicidade. Durmam com Deus! 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Maria Morena Escoteira que nos fez sonhar...


Lendas Escoteiras.
Maria Morena Escoteira que nos fez sonhar...

¶ Linda morena, morena, morena que me faz penar
A lua cheia que tanto brilha, não brilha tanto quanto o teu olhar.¶

              Ah! Rotina. Quanta rotina nos meus sábados Escoteiros. Não que eu não gostasse de estar lá com a meninada. Nada disto, eles para mim eram parte da minha vida, mas vai chegando momentos que a gente não se motiva, nada ajuda uma tarde modorrenta e mesmo acampando aquele “Tchan” do começo não existe mais. Vez ou outra eu me perguntava o que estava fazendo ali em Luar do Sertão. Já devia ter ido embora há muito tempo. Afinal estava solteiro vinte e cinco anos em uma cidade onde só se falava da vida dos outros, onde os velhos sentavam na praça a jogar damas, e o programa aos sábado se resumir a um baile no Clube Mediterrâneo, ou um sessão no cinema Palácios. Não podia reclamar, tinha um bom emprego no Banco do Brasil. Bem quisto e me disseram que seria um futuro gerente, pois meu trabalho era elogiado. Mas não era só isto, meus pais velhinhos não podiam ser abandonados pelo seu único filho. E os Escoteiros? Nasci lá como lobo e até hoje sou um eterno apaixonado.

¶ Tu és morena uma ótima pequena não há branco que não perca até o juízo
Onde tu passas sai às vezes bofetão toda gente faz questão do teu sorriso ¶

           Mas era só. As moçoilas de Luar do Sertão eram insossas, sem graça e até que namorei umas três, mas não deu certo. No inicio como Chefe estranhei. Queria era continuar Escoteiro, fazendo estripulias no campo, pioneirias impossíveis, descobrir novos campos campinas e montes onde eu achava que ninguém ainda conhecia. Mas o tempo foi passando, a rotina seguia seu rumo e o vento da alegria esqueceu de me dar um luar com muitas estrelas no céu. Os meninos Escoteiros da tropa estavam enfadados, já havia alguns que não apareciam sempre. Naquele sábado nem sei por que estava fazendo o jogo de feiticeiros e estátuas. Jogo chato, amolante e sem graça. Eu não gostava dele e sabia que a meninada Escoteira também não. Matias Risonho me fez um sinal – O que foi Matias? – O chefão está chamando. – De novo pensei. De vez em quando Matusalém o Diretor Técnico dava nos nervos. O cara era de doer e gostava de falar. Olhei para trás e até pensei em deixá-lo de molho por alguns minutos. Ele merecia.

¶ Teu coração é uma espécie de pensão de pensão familiar à beira-mar
Oh! Moreninha, não alugues tudo não deixe ao menos o porão pra eu morar.¶

               O que? Quem estava com ele? Quem era ela? Uma Deusa? Desceu do céu? Onde ele arrumou aquilo tudo? Uma linda morena como nunca tinha visto, linda? Não mais que isto estupenda morena. Larguei a tropa jogando e fui em passos rápidos até ela. Ela sorria para mim, meu Deus! Que sorriso! Morena linda, esgalga, penumbrosa, parece à flor colhida ainda orvalhada no justo amanhecer. Apresentou-se – Maria Morena, Escoteira da cidade do Garanhuns. Sou Chefe lá! Pronto! Já sabia qual cidade ia morar para sempre! Graças a Deus que naquele sábado de homem só eu. Mais Elisete, Elizabeth e Noreth da Alcateia. Estava pasmado, ou melhor abestalhado com tão magnifica mulher. Uma morena de olhos grandes, parecendo jabuticabas colhidas na hora ao amanhecer, lábios carnudos avermelhados, sorrisos que derrubavam os maiores exércitos que marchavam para a guerra. Era um sorriso de Atena, deusa da guerra, da sabedoria, da habilidade a titã da sabedoria.
    
¶ Por tua causa já se faz revolução vai haver transformação na cor da lua
Antigamente a mulata era a rainha desta vez, ó moreninha, a taça é tua.¶

             Dei um sempre alerta sem graça tentando fazer uma pose de Brad Pitt. Meu corpo tremia, meu coração batia e abestalhado por ver tão linda mulher no pátio da sede. Ela me olhou com os olhos húmidos brilhantes e com uma voz de Afrodite a dizer que seus exércitos iriam vencer a mais sublime das batalhas me perguntou: Posso fazer um estágio com o Senhor por dois meses? – Dois? Nunca, você vai estagiar comigo para sempre! Agora meu coração é seu e a tropa é sua, pensei. Uma voz chata me dizia – “Ah, porque não a deixas intocada Chefe Poeta, tu que és Chefe, na misteriosa fragrância do seu ser, feito de cada Coisa tão frágil que perfaz esta rosa”! – Uma voz esganiçada, grossa, feia, mil vezes maldita ecoou no ar – Mozinho! Vai demorar? – Olhei para o maldito. Moreno brabo, feio, atarraxado, pior de uniforme disformado, de uma vez só estraçalhou meu coração! Seu marido? Noivo? Acosturado? Pé de Café? Danado, estragou tudo! – Olhei para ela, ela desanuviou o horizonte que despontava raios e trovões e disse: – Já vou Mozinho! Virou para mim, com aquela cara inocente, tão doce, tão amada, tão linda, tão adocicada e disse: – Posso voltar no sábado? 

- ¶ Mas (diz-me a Voz) por que deixá-la em haste agora que ela é rosa comovida
De ser na tua vida o que buscaste tão dolorosamente pela vida ? Ela é morena rosa, poeta... Assim se chama... Sente bem seu perfume... Ela te ama...¶

Linda Morena, uma marchinha de Lamartine Babo.

Alguns versos de Vinicius de Morais. 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

As aventuras de Zezé Escoteiro. O encantador de serpentes!


Lendas Escoteiras.
As aventuras de Zezé Escoteiro. O encantador de serpentes!

              Quando Zezé fez nove anos seu pai lhe comprou uma corneta. Calma, era de plástico ele nunca poderia comprar uma de metal como as usadas nas fanfarras da escola e do Tiro de Guerra. Zezé não podia ver ninguém desfilando que ele ia atrás. Era um se fosse um menino da fabula do Flautista de Hamelin sendo levado pelo som do mágico que tocava a flauta. Uma linda fábula, mas aqui minha história é outra. Sei pai queria lhe comprar um tambor ou um tarol, mas o dinheiro andava curto. Durante dias ninguém aguentou Zezé e sua corneta. Ficava o tempo todo com ela a tocar, mas o som era aquele parecido com um berrante. Algumas semanas depois a vizinhança deu graças a Deus, pois Zezé esqueceu sua corneta. Com onze anos pediu ao seu pai para levá-lo nos Escoteiros. Apesar de família humilde lá foi ele de mãos dadas com seu pai no dia da reunião. Zezé amou o escotismo. Fez dele uma parte de sua vida. Não pensem que Zezé era especial, não era. Apenas mais um na Patrulha Pavão que ele aprendeu a defender com sua própria vida. Claro era assim que o Monitor ensinava.

                   Zezé era um dos primeiros a chegar à sede e um dos últimos a sair. Sabia que aos sábados não tinha ninguém na rua para brincar com ele e agora sendo Escoteiro não sentia vontade de ficar com seus amigos conversando. Eles não diziam nada com nada. Veio à primeira excursão, Zezé ria a toa. Era disciplinado e tudo que o Monitor ou o Chefe mandasse ele obedecia. Se for para ficar na fila ele fazia questão de andar bem atrás e olhando os passos do da frente para “acertar o passo” conforme gritava o sub Monitor lá atrás. Aprendeu tudo que o Monitor lhe ensinou. Armar barracas, andar com facas, facões, machadinhas e mesmo pesado ficou vários dias treinando com um machado do lenhador que existia em sua casa. Aprendeu orientação, a ler mapas, era bamba em sinais de pista e ninguém o superava em semáforas e Morse. No terceiro acampamento da tropa aconteceu um fato curioso. A patrulha jogava bastão para atravessar um regato e ele cair fincado do outro lado para esticar a corta de uma ponte que iriam fazer.

                  Quando iam saindo até o córrego das lagartixas voadoras, ele se lembrou de sua corneta. Sempre a levava consigo e nunca a tocou no campo. Sabia que o Chefe não gostava e ele sempre pensando um dia tocar para ver se os pássaros iriam pousar em seu ombro. Leu sobre isto e queria tentar. Naquele dia o Chefe estava preparando uma pista molhada, para todos aprenderem a reconhecer pessoas, pássaros e animais pelas pegadas. Ele sem ninguém ver pegou na mochila dentro da barraca sua corneta de plástico. Antes da patrulha seguir em marcha de estrada Zezé sorrindo tocou sua corneta. Um barulho horrível. Uma nota só. Todos os Escoteiros da patrulha olharam para ele espantados. Não é que ele parou e viram muitas cobras correndo? Toquinho nunca viu isso. Era Monitor de patrulha há três anos  e quase não se via cobras no campo. Mas desta vez elas estavam escondidas. Ao ouvir o som da corneta levaram o maior susto  e se mandaram.

                  Toquinho fez questão de contar para todos os monitores e eles insistiram para Zezé ir tocar a corneta no campo deles. Chefe Estrela não acreditou e foi com eles para ver Zezé tocar. Começou a rir com aquele som horrível. Mas não é que muitas serpentes que estavam por ali se mandaram? Claro que nunca houve um caso de mordida de cobra com eles, mas agora ele estava mais tranquilo. A fama de Zezé Escoteiro correu toda a cidade. Era dona Chiquinha pedindo para ele tocar no seu quintal, era Dom Manuel prefeito para ele tocar na praça onde já apareceram serpentes venenosas. Até o Coronel Ludovico insistiu com ele para ir a sua fazenda, passar uns dias lá e espantar as cascaveis que de vez em quando matavam suas vacas leiteiras que não sabiam defender. E os Grupos Escoteiros da cidade? Sempre atrás dele para ir ao acampamento tocar sua famosa corneta para as mães dos escoteiros dormirem em paz.

              Muitos quiseram pagar, mas Zezé Escoteiro naquele jeitinho de matuto caipira agradecia. Dizia que era um Escoteiro e o que fazia era sua boa ação. Seu pai e sua mãe começaram a ficar preocupados. Todos os dias havia alguém chamando Zezé para tocar sua corneta em algum lugar. Tudo que é bom dura pouco ou não dura nada. A sina de Zezé estava com dias contados. Claro, dizem que em volta da cidade e nos locais de acampamentos não havia mais cobras.  Começaram a reclamar de Zezé Escoteiro. Diziam que as pragas nas plantações de feijão e milho estavam aumentando. Sapos multiplicaram-se. Zezé era o culpado por tudo de ruim que acontecia com as plantações. Estava havendo um desaparecimento de espécies e subespécies que dependiam das serpentes para manter a diversidade biológica de tudo que existe em nosso planeta. Antes o Zezé Escoteiro era um herói e agora era condenado por diversificar a vida das espécies ali em sua cidade Ouro Negro.

               A vida de Zezé mudou, mas seu amor ao escotismo não. Ficou um menino triste, mas acreditava que fez o bem sem olhar a quem. Nunca cobrou nada. Ele sempre nos acampamentos era o que mais ria o que mais contava suas histórias. Era aquele que amava o campo, amava as estrelas, o luar, sempre pensando que um dia iria seguir o sol que caminha para o oeste. Montepino veio correndo avisar ao Zezé que proximo da lagoa do Jacaré havia uma enorme cobra. Zezé pegou sua corneta e foi lá ver. Era grande mesmo, sem mentira tinha mais de oito metros, gorda enorme e parecia dormir. Zezé não sabia ninguém tinha contado para ele como era uma Sucuri. Elas habitam em lagoas e rios e quando a fome aperta comem de tudo, tartarugas, quatis, capivara e até bezerros pequenos. Comem não vão engolindo aos poucos apertando sua vítima. Como enxerga mal usa a sensibilidade de sua língua e focinho para primeiro comer a cabeça da vítima.

              Zezé Escoteiro nunca tinha lido sobre isto. A Sucuri não tem veneno. Foge ao primeiro sinal de perigo. Zezé chegou devagar, a menos de dois metros tocou sua corneta. Nada, a cobra parecia dormir. Zezé tomou coragem e foi até a cabeça da cobra, com um pé pronto para correr tocou com a maior força sua corneta na cabeça da cobra. Só Zé Pequetito viu o que aconteceu. Contou para todo mundo e a história se espalhou pela cidade. Ao tocar a corneta a cobra levou o mais susto. Sem perceber abriu a bocarra e vomitou com força tudo que estava em seu estomago em cima de Zezé Escoteiro! Zezé espantado saiu correndo cheio de gosma, de pedaços de carne, sangue e outras coisas mais. Ficou mais de quatro horas se lavando no córrego da Traíra. Jogou longe sua corneta. Jurou para sim mesmo que nunca mais, mas nunca mais mesmo iria tocar corneta para espantar serpentes. 


               Não pensem que Zezé Escoteiro desistiu de ser Escoteiro. Quando alguém na cidade pedia para ele contar como foi ele nunca recusou. Dava belas risadas e dizem que até hoje a história da Sucuri que vomitou em Zezé é contada em todos os lugares que davam enormes gargalhadas de tudo!