No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Minhas quinze horas de terror.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Minhas quinze horas de terror.

                Esta é uma história que mistura realidade e ficção. Sei que vocês acham que não aconteceu e minha imaginação e fértil. Não importa. Esta é a história de Katia. Katia era guia. Da Patrulha Sete Quedas. Katia adorava o escotismo. Estava nele desde lobinha e nunca perdeu uma reunião, um acampamento. Ela, entretanto tinha um segundo amor. Orquídeas. Era louca por orquídeas. Em casa tentava fazê-las viver e rejuvenescer. Nem sempre conseguia. Tudo que escreviam ou falavam sobre elas ela lia. Ela nem bem fez quinze anos e a passaram para guia. Disseram que era uma tropa nova formada só por moças. Ela achou bom. Teria maior liberdade o que não acontecia quando sub-monitora na tropa Escoteira. Ela sabia que havia mais de trinta mil espécies de orquídeas e fáceis de cultivar em casa. Lindas, coloridas, perfumadas cabiam em qualquer lugar e como era cuidadosa duravam anos. Seus amigos e até um professor de seu colégio já tinha ido visitar seu orquidário.

                         Nos acampamentos sempre tentava descobrir alguma árvore, próximo ou não de uma floresta que tivesse uma orquídea. Quem sabe descobria alguma que não conhecia. Lorena sua monitora já alertara ela diversas vezes que nunca devia sair sozinha e sempre avisar aonde ia. Claro o tempo livre era pouco e Katia não perdia tempo. Já tinha dois dias que estavam acampadas em um sitio e bem próximo uma linda mata. Ela tinha certeza que iria encontrar lá a “Phalaenopsis”, pois o ambiente da floresta com pouca humidade era próprio para isto. No segundo dia logo após o almoço sabia que haveria um tempo livre de pelo menos três horas. Não era a cozinheira e pela manhã tinha construído uma bela de uma mesa com bancos reclináveis.

                             Sabia que não devia sair só, mas estavam todas tão entretidas com seus afazeres que escapuliu e se embrenhou na mata. Não andou muito. Próximo a um pequeno vale bem profundo ela avistou em uma árvore o que achava ser uma “Phalaenopsis”. Não se fez de rogada. Tirou a blusa de frio e lá foi ela arvore acima, pois tinha um bom treino em subir em árvores. Encantou-se com a orquídea. Linda, maravilhosa. Esqueceu que estava em uma arvore escorregadia. Caiu, um tombo enorme, quando batia nos galhos da árvore sentiu que um galho havia atravessado sua coxa esquerda. Na hora não sentiu nada, pois rolou em uma ribanceira caindo entre um vale onde havia uma vegetação espessa que escondia o que havia por ali.

                       Agora sim, via que não podia mexer com a perna. Uma dor terrível. Um braço estava quebrado. Não podia se movimentar. Teve vontade de chorar, pois sabia que ali dificilmente iriam encontrá-la. A tarde chegou e veio à noite. Ouviu vozes e gritos tentou gritar e não conseguiu. Alguma coisa a impedia de falar. Logo o silencio da noite voltou novamente. Para Katia seria uma noite de terror.

                          A Patrulha deu falta dela logo após a chamada geral. Busca daqui e dali e nada. O desespero passou a acompanhar todos os participantes. A Chefe Maria Célia ligou para os bombeiros na cidade. Não demoraram e antes do escurecer mais de vinte homens experimentados na arte de sobrevivência na selva lá estavam. Até meia noite tentaram e depois só no dia seguinte. Uma nevoa espessa e terrível tomou conta da floresta. Não se via um palmo adiante do nariz. Todos choravam. Ninguém conseguia dormir. Os pais de Katia chegaram. Ainda bem que eram calmos. Diziam confiar na filha e em Deus. Ela tinha experiência e não se deixaria levar pelo desespero. Aconteça o que acontecer.

                           Miltinho tinha cinco anos. Todos o chamavam de manteiga, porque ele não sabia. Sua mãe era assistente da tropa. Não tinha com quem deixar e o levou para o acampamento. Ele dizia ver coisas. Ninguém acreditava. Coisas de crianças diziam. Chamou sua mãe. – Mamãe, eu sei onde ela está. A mãe não acreditou. Ele pegou na mão do Capitão Marquetti. – Venha comigo, eu sei onde ela está. O capitão o olhou de soslaio. Resolveu segui-lo floresta adentro. Passava das quatro da manhã. O dia ainda não tinha amanhecido. – Ali ele apontou. O capitão Marquetti desceu até a ravina. Katia estava lá. Desmaiada. Praticamente com avançado estado de hipotermia. Sonolenta não ouviu e nem sentiu a chegada deles. O Capitão Marquetti viu que seu ritmo respiratório a estava levando a uma parada cardíaca. Se tivessem demorado mais meia hora Katia teria morrido.


                        Ele chamou pelo radio outros bombeiros. Levaram Katia ao hospital. Um mês depois ela estava em casa. Não houve sermões, admoestações ou ameaças. Ela voltou a Patrulha e a tropa. E agora nunca mais, mas nunca mais sairia sozinha do campo de Patrulha. Bastou àquelas quinze horas de terror para aprender a lição. Que sirva para todos os meus amigos escoteiros.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O delicioso casamento do porquinho Markito, na Floresta Encantada do Seu Mathias.


Lendas Escoteiras.
O delicioso casamento do porquinho Markito, na Floresta Encantada do Seu Mathias.

                     Markito era amigo do Neném, que era amigo do Jofre, que era amigo do Leialdo, que era amigo do Natalino, que era amigo do Zefiraldo, que era amigo do Denis e que sempre foi amigo do Lelé e Geraldinho. Bem, só tinha uma diferença. Markito era um lindo porquinho rajado de cinza com branco. Os demais escoteiros da Patrulha Pica-Pau. Desculpem. Sei que não estão entendo e vou explicar. A Patrulha Pica Pau era da Tropa Escoteira Santos Dumont e esta era do Grupo Escoteiro Leão do Norte. Eram muito amigos até o dia que apareceu Markito. Ninguém não deu nada por ele. Estavam em reunião e eis que aparece um porquinho pequeno, branco e cinza e melhor, limpinho. Parecia porco de cinema.

                      No cerimonial de bandeira ele ficou entre o Monitor da Pica-pau e o patrulheiro seis. Eles acharam graça e ninguém falou nada. Nem o Chefe da tropa. Durante toda a reunião ele acompanhou a Patrulha. Quando foram para casa pensaram que nunca mais iam ver o porquinho. Engano. No sábado seguinte lá estava ele, e no próximo e no próximo. Sem perceberem ele virou um patrulheiro. Formava, quando davam o grito ele grunhia junto. Em pouco tempo se tornou uma celebridade na tropa. Onde morava como se alimentava ninguém nunca soube. Fizeram pesquisa na vizinha e nada.

                     Dois meses depois a tropa foi para um acampamento de quatro dias aproveitando um feriado de finados na fazenda do Seu Mathias. Na saída ao subir para o ônibus lá estava o porco. Já o haviam apelidado de Markito. Disseram que ele parecia com um Sênior namorador do grupo e quando ele soube disto virou “bicho”. Brigou, berrou, levou o caso para O Conselho de Tropa, para a Corte de Honra e nada. O apelido do porco ficou. Markito deu um salto gigante. Bateram palmas para ele, mas subiu com elegância os degraus do ônibus. O acampamento foi uma festa. Markito era o máximo. No terceiro dia ele sumiu de manhã. Lá pelas três da tarde apareceu. Agora com uma companheira. Uma porquinha linda. Dizem que ele falou com o Denis, não acredito nisto, mas o Denis era um bom Escoteiro e não mentia nunca.

                    Chefe, disse o Denis. Markito quer casar. – Casar? O Chefe deu boas risadas. Ele quer que eu faça o casamento? – Sim Chefe. Se ele quer assim porque não? Diga a ele que amanhã no fogo do conselho eu irei celebrar ao casamento dele com a... Qual o nome dela? Fiorentina Chefe. Ele insiste que chamem o Seu Mathias. Ele será o padrinho. A tropa quando soube caiu na gargalhada. Foi o fogo do conselho mais gostoso que participaram. Em determinado momento o Chefe anunciou o casamento do porco Markito e a porca Fiorentina. Quando iam iniciar um fato inusitado. A arena do fogo se encheu de porcos, cavalos, bois, bezerros, galinhas, galos, cabras, gatos, cachorros e uma passarinhada enorme.

                    Não teve jeito. O casamento foi feito. Os escoteiros ficaram boquiabertos. A bicharada começou a cantar, a dançar e até uma Coruja com voz de anjo e acompanhada por um violão tocado pelo Urubu Rei engrandeceu aquele casamento histórico. O fato deveria ficar entre quatro paredes, mas não se sabe como na cidade de Bela Aurora uma semana depois se encheu de repórteres de todos os jornais e TV do país. Todos queriam conhecer Markito e Fiorentina. Mas eles? Sumiram. Procuraram em todo o lugar. Uma semana depois um jornal do Rio de Janeiro publicou que o casal foi visto em Búzios na praia das Caravelas se revezando na linda e tranquila praia da Tartaruga com suas águas transparentes.

                    Só dois meses depois quase no final da reunião, foi que Markito e Florentina apareceram na sede.  Ele com a barriga bem grande e Markito sorria de felicidade. Contou para o Denis que não ia voltar mais para a Patrulha Pica-pau. Construíram uma casinha na Ladeira do Porco, próximo a fazenda do Senhor Mathias, e lá pretendiam viver suas vidas. Todos desejaram felicidades e assim termina a história do Porco Markito, sua esposa Fiorentina e seus Filhos Newmar, Freed, Ronaldo, Pelé e um porquinho azulado, pequeno bem raquítico que poucos olhavam para ele. Maradona!


                  E acreditem se quiser. Eu conheci Markito e sua família. Mas eu sou um contador de histórias e poucos acreditam em mim. Risos. Para terminar, eu digo – Boi não é vaca, feijão não é arroz. E quem quiser que conte dois!   

terça-feira, 17 de junho de 2014

Era uma vez... Na Morada da felicidade...


Lendas escoteiras
Era uma vez... Na Morada da felicidade...
                    Era uma vez, em um país muito distante, havia um Grupo Escoteiro que se chamava a Morada da Felicidade. Era um grupo onde todos eram muito felizes. O sorriso ali era espontâneo. Uma prática que todos os membros do grupo faziam questão. Os abraços, os apertos de mão, os elogios, e a vontade de servir eram ponto de honra para todos. Não havia tristezas e parecia que eles tinham alcançado o Caminho para o Sucesso, ou melhor, da felicidade.

                   Barbas Brancas era o "Chefe" Escoteiro deles. Um verdadeiro pai. Amigo, sincero e sempre junto para ajudar no que fosse necessário. Haviam inúmeros chefes. Rosa Prateada a Akelá, Esquilo Sorridente o Chefe da tropa, Lobo Vermelho o Chefe Sênior e tantos outros que se amavam e se respeitavam. Nos dias de reuniões, parecia que o céu ficava mais azul e o sol brilhava só para eles. As estrelas cintilantes escondidas naquela hora do dia ficavam aguardando ansiosas quando eles estiverem cantando em um fogo de conselho lá na mata verdejante, ou no bosque da Prosperidade onde sempre montavam suas barracas verdes e amarelas.

                        Um dia, porém o inevitável aconteceu. O pároco da igreja onde eles tinham a sede chamou Barbas Brancas e deu a notícia fatídica – Vocês infelizmente tem dois meses para desocupar. Recebi instruções de Vossa Eminência o Bispo Matusalém, que todas as paróquias devem ter uma sala própria para utilização das Congregações que iram se formar em todas elas. Infelizmente – continuou – Só temos essa.

                        Não haveria acordo. Não haveria recuo. Dois meses e a sede desocupada. Trinta anos ali, trinta anos formando cidadãos honestos na comunidade. O coração de Barbas Brancas bateu forte. Seus olhos ficaram molhados das lágrimas que caiam. Um conselho de chefes tomou conhecimento de tudo. Planos, discussões foram postos em prática. Dois meses. Muito pouco tempo. Eles não sabiam como agir. Nunca tiveram ódio, rancores e nem sabiam como brigar pelos seus direitos. Em seus corações só habitavam o amor e o carinho.

                          Na reunião da semana, no cerimonial de bandeira todos foram comunicados. De felizes agora só se ouviam lamentações, lágrimas, queixas e todos acreditavam que a Morada da Felicidade nunca mais iria existir. Aguas cristalinas, uma guia chorou alto. Serra Alcantilada o Monitor Sênior começou a rezar. Até Ventos na Face um Pioneiro antigo não sabia o que dizer.

                          Olhos azuis um lobinho da matilha cinzenta e Sorriso Encantador uma lobinha sua amiga foram para um canto da sede e não choraram. Eles eram firmes nas suas palavras e ações. Diziam que deveria haver uma saída. Deixaram a reunião, subiram as escadas e procuraram o pároco. Este nem ligou. Se querem resolvem falem com o Bispo Matusalém. Foi ele quem ordenou.

                      Pegaram o ônibus. Palácio Episcopal. O Secretario dizia que o bispo não podia atender. Por quê? Se ele viveu tanto, mais de mil anos deve ser um sábio. Afinal todos dizem que ele é um homem bom. Filho de Enoch, e agora não pode nos receber? – O Bispo Matusalém passava ali na hora. Sorriu divertido. – Quem são vocês? Perguntou. – Eu sou Olhos Azuis, lobinho da matilha cinzenta. Sou segundo primo e tenho a segunda estrela, essa é minha amiga, Sorriso Encantador, também segunda estrela e da minha matilha. Sabemos a lei do lobinho de cor e sabemos que o senhor é o culpado da nossa infelicidade.

                      Logo a seguir beijaram o anel pastoral e fizeram uma genuflexão diante dele. O Bispo Matusalém assustou. Por quê? Disse – Porque Vossa Eminência tomou nossa sede, o pároco disse que temos de morar na rua! E agora? Pensou ele. Venham comigo disse. Foram até a sala de visitas. O Bispo Matusalém serviu chocolate e biscoitos amanteigados. Obrigado Eminência, mas não podemos. Na matilha ou todos comem ou não comem nenhum!

                      O Bispo mandou seu secretário preparar o carro. Foi até a sacristia e pegou duas latas de biscoitos e muitos chocolates. Olhos Azuis e Sorriso Encantador entraram no carro e foram com o bispo até a sede do Grupo Escoteiro Morada da Felicidade. Uma festa. Veio o pároco. Ordem do Bispo, a sede é de vocês por centenas de anos! O Bispo Matusalém distribuiu chocolate e biscoitos amanteigados a escoteirada. Ficou amigo de todos. Barbas Brancas sorria. Águas Cristalinas, Serra Alcantilada e Ventos na Face batiam palmas.

                       A paz voltou a reinar no Grupo Escoteiro Morada da Felicidade. O sorriso ali nunca deixaria de existir. Sempre teria alguém para encontrar o caminho do sucesso. Desta vez foi Olhos Azuis e Sorriso Encantador. Mas sabiam que nas dificuldades sempre temos alguém preparado para pular por cima. Já diziam os poetas que as dificuldades são como as montanhas, aplainam-se quando avançamos sobre elas e quanto maior a dificuldade, tanto maior é o mérito em superá-las.

E eles, os escoteiros sonhadores da Morada da felicidade viveram felizes para sempre!


Moral da história – Nos Grupos Escoteiros onde existem diálogos, entendimentos, compreensão, sorrisos e fraternidade é claro que todos irão viver felizes para sempre!  

domingo, 15 de junho de 2014

O diário secreto de Marly, a escoteirinha feliz. Uma deliciosa fábula Escoteira.


O diário secreto de Marly, a escoteirinha feliz.
Uma deliciosa fábula Escoteira.

                     Terça feira – 18/05 seis horas da manhã – Meu querido Diário. Hoje foi um dia normal. Acordei alegre. Minha festinha de aniversário foi linda. Todos meus amigos presentes. Do Grupo Escoteiro vieram mais de vinte. A Chefe Marlene passou e me cumprimentou. Apaguei as doze velas com facilidade. Ganhei muitos presentes. Sabe meu diário estou feliz muito mesmo.

                    Terça feira – 18/05 sete horas da manhã – Tomei café e fui ao meu quarto pegar minha mochila. A perua da escola ia passar em cinco minutos. Uma discussão enorme. Gritos, palavrões, meu pai e minha mãe pareciam que iam se matar em seu quarto. Estava acontecendo ultimamente. Não sabia o porquê. Comecei a chorar. Minha mãe gritou que queria o divorcio. Se eles vão se divorciar prefiro morrer. Peguei minha mochila, tirei os cadernos e coloquei uma manta, vesti meu uniforme de Escoteira, passei na cozinha peguei biscoitos, enchi meu cantil e sai de casa.

                          Terça feira – 18/05 oito horas da manhã – Cheguei à estação de trem. Peguei o primeiro. Sem rumo. Desci numa pequena estação. Não parava de chorar. No trem alguém me perguntou o que ouve. Não respondi a ninguém. Aprendi a não conversar com estranhos. Vi uma pequena estrada rumo onde o sol nascia. Andei bastante, uma casa aqui e outra ali. A estrada acabou. Agora era uma trilha, linda, flores silvestres, um perfume inebriante. Andei um pouco mais e vi um escoteirinho sentado em baixo de uma aroeira frondosa. Ele chorava copiosamente.

                          Terça feira – 18/05 onze horas da manhã – Porque choras escoteirinho? – Ele respondeu – Minha mãe e meu pai me deixaram. Procurei-os e não encontrei. E o escoteirinho chorava e chorava. Meu coração não aguentou. Abracei-o. Disse não chores. Eu também estou chorando com você. Olhe que eles vão aparecer. Não sei – disse. Estávamos em nosso automóvel indo para a praia em férias, um caminhão nos fechou. Caímos da ponte e nosso carro afundou no rio. Acordei aqui debaixo dessa aroeira frondosa. Sozinho. Não posso ficar sem eles! E chorava e chorava.

                            Terça feira – 18/05 meio dia em ponto – Estava a chorar com o escoteirinho embaixo da aroeira frondosa. Meus olhos desciam lágrimas de tristezas. O Escoteirinho gritou! – Lá vem minha mãe e meu pai! – Graças a Deus. Deus nunca me abandonou. E o escoteirinho correu ao encontro deles abraçando. Eles o pegaram e subiram em uma nuvem e se foram em direção ao céu. Fiquei ali sozinha. Uma brisa gostosa me trouxe o perfume das flores silvestres. Orvalhos caídos de uma nuvem branca molhavam meu rosto. Achei que era o sinal do escoteirinho. Olhei para o céu, vi pássaros lindos voando e fazendo acrobacias. As nuvens ficaram atônitas e os pássaros pararam em pleno voo e sorriram no ar.

                                Terça feira – 18/05 duas horas da tarde - Estava de volta. O trem chegou à estação. Estava sorrindo. Não chorava mais. Porque chorar? O problema do escoteirinho era maior que o meu e ele acreditou. Eu também não podia acreditar? Quando cheguei próximo à casa muita gente lá. Meus pais me viram. Abraçaram-me. Minha mãe chorava. Filha, não faça mais isso. Nuca mais farei mamãe. Juro pela minha Promessa Escoteira.

                         Terça feira – 18/05 – Sete horas da noite. Tinha tomado banho. Estava eu mamãe e papai na mesa de jantar. Todos calados olhando para mim. Mamãe me serviu uma deliciosa sopa de ervilha. Meu prato predileto. Ela sorriu, ele sorriu. Eu sorri também. Papai pegou na mão de mamãe e beijou. Um beijo lindo. Sorri mais ainda. Meus pais que eu amava. Sabia que nunca mais iriam se separar.

                      Terça feira – 18/05 – Dez horas da noite. Estou deitada em minha cama. Não choro mais. Eu sou uma escoteirinha feliz. Tenho os melhores pais do mundo, amigos lindos, uma Patrulha da Raposa que amo. Jurei a mim mesma e você meu diário querido vai ser a prova do que eu jurei. Nunca mais farei isso outra vez. Não existe problema que não tenha solução. Sabe meu querido diário, você lembra-se do poema que disse no Fogo do Conselho no verão passado?

“Minha mãe sempre diz: Não há dor que dure para sempre!
Tudo é vário. Temporário. Efêmero. Nunca somos sempre estamos!
E apesar de saber de tudo isso, porque algumas dores duram tanto?
Porque alguns sentimentos (diga-se de passagem, os mais ridículos) demoram tanto a passar?
Porque olhar pra ele reaviva esperanças perdidas e suscitas lágrimas quentes até então contidas?
Porque o cérebro ainda não inculcou no coração que esquecer faz bem a saúde?
Porque tudo não pode ser como um bonito filme francês?”

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Nas terras bravias do Lago Dourado.


Lendas escoteiras.
Nas terras bravias do Lago Dourado.

          Foi uma noite calma. As estrelas não cintilavam no céu como no dia anterior. Algumas nuvens brancas as cobriam como se fossem um manto protetor. A lua se fora há tempos. Achei que ia chover. Não choveu. Meus olhos estavam fechados. Dormitava pela madrugada fria. Um pequeno tronco me serviu como travesseiro. Coisas de um "Velho" mateiro acostumado. Um pequeno fogo ao lado agora só brasas com pequenas fagulhas que se inibiam ao subir aos céus me davam um pouquinho de calor. Pela aba do meu chapéu de três bicos eu podia ver a escuridão da noite. Gostava dela. À noite. Era minha amiga de muitas e muitas jornadas.

       Não ansiava pela madrugada. Que ela chegasse de mansinho como à brisa que aparece trazida pelo vento. Não era um arbusto e quem sabe seria um pequeno arvoredo que encontrei perdido naquele vale dos sonhos onde dormia. Serviu-me de manto para a noite gostosa daquele inverno que não fora tão rigoroso como os anteriores. Minha mochila ao lado era minha companheira de anos e anos de caminhada. Sempre fora. Dentro dela com carinho estavam minhas “bugigangas” de mais uma jornada. Meu bornal pendurado no galho guardava minha “matutagem” caso tivesse fome. Abri um olho de mansinho. Avistei uma cigarra azul que cantava baixinho seus cantos noturnos. Gosto das cigarras. Fazem-se de pródigas e só aparecem uma vez ao ano. E como são lindas. Amo-as! Muito!

         Senti uma brisa leve no rosto. Soprava gostosamente. Gostosa mesmo. Afagante. A brisa. Sempre perdida por aí. Nas montanhas, nos vales nos rios caudalosos ou no pequeno riacho de aguas turvas. Uma amiga. Não se esquece da gente. Os anos passam e lá está ela.  A madrugada não iria demorar. Grilos falantes pareciam fantasminhas na escuridão noturna. Melhor tentar dormir. Fora um dia e tanto. Uma grande jornada de um "Velho" Escoteiro sonhador. Um vagalume pousou no meu ombro. Sorri para ele. Enrosquei-me na Manta Negra que um dia a muitos e muitos anos meu Vô me deu com carinho. Não sentia frio. O corpo curtido pela idade já não era aquele de um passado que se foi.

         Um pequeno lusco fusco. Sinal que ela a madrugada ia chegar. Eu gostava das madrugadas. Eram lindas. Não importava se com sol ou com chuva. Adorava as madrugadas nos campos perdidos deste mundo de Deus. O cheiro da relva, das flores silvestres. O cheiro da terra. Ah! Maravilhoso! Tive madrugadas que marcaram. Com brumas a cobrir o campo verdejante, com brumas sobre os lagos azuis, cinzentos e vermelhos com o sol cobrindo-os. As brumas. Ah! Adoro-as. São lindas, querem cobrir meus olhos. Não querem que você veja ninguém só elas. Mas choram. Choram porque o sol irá chegar e elas terão que ir para longe, aonde ele o “Senhor Sol” ainda não chegou.

          Lá no horizonte um pequeno brilho. Pequeno mesmo. O sol. Ele estava chegando. Gostava de anunciar sua chegada. Era o rei. Não era um astro qualquer. Não aparecia assim do nada. Anunciava que se preparassem todos. Uma pequena claridade, um pequeno vermelho desbotado, raios brancos tingidos de amarelo ouro e eis que ele aparece. A montanha o reverencia. O dia nasceu. Eu estou acordado. Uma hora sagrada. Sempre gosto de ver o nascer do dia. É como se fosse uma criança chegando ao mundo. As brumas cinzentas me disseram adeus. O orvalho se escondeu. A última gota do orvalho caiu de uma folha adormecida. A brisa insistente continuava lá a me acariciar o rosto. Não se afastava. Uma amiga de épocas e épocas passadas.

          Hora de partir. Não disse adeus para todos eles que me acompanharam a noite e no lusco fusco da manhã. Não precisava. Eles sabiam que não era mais que um até logo, não era mais que um breve adeus. Eu voltaria. O "Velho" Escoteiro não para. Em sonhos ou pisantes nos meus pés hoje cansados. Ajeitei meu lenço, arrumei meu meião. Calcei meu velho coturno de guerra. Mochila as costas, pendurei meu bornal no ombro. Minha forquilha de anos e anos e agradeci o arbusto que me serviu de lar e parti. O chapéu de três bicos já estava no lugar. Meu rumo? O mesmo de sempre. A busca da aventura para onde o vento me levar. Sabia que em algum lugar iria encontrar o Lago Dourado. Diziam que não tinha peixes. Que uma bruma cinza o cobria por todo o tempo. Isto eu iria ver quando chegasse com meus próprios olhos.

            O sol a pino. Gosto disto. Os primeiros pingos do suor caem e somem na estrada da vida que leva a rumos impossíveis. Meu chapéu de abas largas me protege. A forquilha me ajuda a andar e achar o caminho. Uma montanha verde, cheia de lindas arvores e floridas já avisto ao longe. Deve estar perto a minha busca incessante. Quem sabe na virada da curva da Raposa que Chora eu encontro o Lago Dourado. Acordo. Era um sonho. Sempre sonho com este lago. Um dia irei encontrar. A cada dia em meus sonhos mais me aproximo. Ainda estou sentado na minha varanda encantada. Dou um sorriso. Uma tarde linda. Lá fora ainda o sol. Não há brumas. Até o lusco fusco da tarde já não é mais o mesmo. A brisa lá fora sopra mansa e calma para quem passa naquela rua da minha morada. Gosto dela nunca deixou de me acariciar o rosto. Mais um dia terminando. Ele vai passar como tantos que passaram. E no meu amanhã eu voltarei. Na minha varanda dos sonhos vou sonhar e quem sabe um dia nestes sonhos impossíveis eu vou encontrar o Lago Dourado. Não vou desistir dos meus sonhos. Eles fazem parte de mim. A cada dia eu digo, não desista "Velho" Escoteiro. Digo sempre – “Eu voltarei”. Quem sabe um dia eu poderei dizer que encontrei o meu querido Lago Dourado?


Boa noite a todos. Uma ótima quinta e que vença o melhor!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares.


Lendas escoteiras.
Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares.

                      Joyce sentiu quando o grilo pousou em seu ombro. Lobinha amiga dos animais plantas e insetos ela olhou de lado e sorriu. Já tinha visto muitos grilos. Gostava de ver os saltos que eles davam. Como inseto ela achava que eles eram um dos maiores existentes no Brasil. Ela sabia que nem todos possuíam asas, mas tinham os melhores órgãos auditivos para perceber os sons produzidos pelas suas próprias asas. – O que vocês vieram fazer aqui? Perguntou o Grito. Joyce riu. Um grilo falante? - Você fala? Disse ela. – O grilo olhou para ela indignado – Claro, ou você acha que eu estou latindo? – Não precisa ser mal educado seu grilo – Me chame de Pikitito. Este é meu nome que meus pais me deram quando nasci. – Mas me diga o que ele e o outro estão medindo com uma trena? – Vamos fazer aqui um grande acampamento de Escoteiros. Serão mais de mil, ela disse – Nem pensar! Não podem. Neste capinzal está nossa cidade, ou melhor, nossa capital. Grilolândia está aqui a mais de mil anos. Não podem destruir nossa cidade.

                       - Veja você continuou o grilo, ou melhor, Pikitito. – Aqui neste pastinho temos nosso alimento. Se vier a noite aqui vai nos encontrar almoçando e jantando. Aqui temos plantas, cereais, fungos, tecidos de lã e restos de outros insetos. – Se acamparem aqui irão destruir nossa cidade – Olhe seu Pikitito não estou duvidando, mas meu tio é um cara chato. Chato mesmo. Quando põe na cabeça um plano difícil desfazer dele. Sabe como ela se chama? Chefe João Cabeçudo. – Você diga a ele que se não desistir vamos chamar os grilos de todo o mundo. Serão milhões, pois cada grilo femea não sei se sabe coloca mais de 100 ovos por mês. – Quer conhecer nossa cidade? Quero sim disse Joyce. O grilo disse, põe o dedo nas minhas asas e repita comigo – Pic, pok, kilo, vou para a cidade dos grilos! Mas fale o mais alto que puder. Joyce não se vez de rogada. – Depois de gritar as palavras mágicas ela ficou pequenina do tamanho do grilo, ou melhor, Pikitito.

                          A cidade era linda. Praças, chafariz, prédios enormes, escolas, universidades tinha tudo da cidade dos homens. – Nem tudo disse Pikitito. Aqui temos a paz e vocês não tem. Não precisamos de policia, nem de exércitos. Somos todos irmãos. Não é assim que dizem vocês Escoteiros? – Joyce estava entusiasmada com tudo que via. Foi apresentada ao Mestre Catuaba, que fazia às vezes de prefeito e juiz. Ao Doutor Magnésio que curava todas as dores dos grilos. E a maior surpresa. Visitou o Grupo Escoteiro Grilo Feliz. Tudo que nós fazíamos eles faziam também. Só que melhor. Uma disciplina incrível. As patrulhas completas, os uniformes bem postados, fomos até próximo da Lagoa dos Mares onde estava acampando duas tropas uma masculina e uma feminina. Próximo em uma fazenda lobinhos grilos se divertiam felizes.

                            - Me leve de volta, pediu. Meu tio tem de entender. Ok! Repita de novo - Pic, pok, poney vou para a cidade dos homens! Joyce voltou ao tamanho normal. Falou com seu tio que deu risadas – Joyce, lugar de sonhar é na cama. Aqui não. Cidade dos grilos? Só você para contar esta piada. – Tio, se não desistir do Ajuri Escoteiro aqui eles irão chamar todos os grilos do Brasil e comerão tudo que encontrem pela frente. Irão destruir todo o acampamento – João Cabeçudo morria de rir. Sua sobrinha tinha uma mente fértil. – Joyce pegou na mão dele. Tio me faça um favor. Só um e não falo mais nada – Diga comigo junto – Pic, pok, Kilo!  - está bem ele disse. E gritou alto o que ela pedia. Sentiu uma pressão no corpo. Estava diminuindo. Vários grilos o carregaram até uma pedra enorme que havia no meio do lago. Milhares de grilos estava lá. Quando o levaram ele levou o maior susto. Viu embaixo uma grande cidade onde iriam acampar.

                                 Mestre Catuaba e Doutor Magnésio presidiam um júri e ao lado vinte grilos que seriam os jurados. Mestre Catuaba explicou a ele que seria julgado e se culpado e devorado pelos grilos. João Cabeçudo não acreditava no que via. Começou a gritar – A grilaiada ria de morrer. Lá grandão era valente aqui um chorão. – Leve-o Joyce, disse Doutor Magnésio. Ele aprendeu a lição. Pic, pok, poney e eles voltaram. João Cabeçudo quando viu que voltaram pulou de alegria. Chamou seu amigo Chefe e disse que deveriam escolher outro lugar – Mas não tem terreno limpo como aqui – João Cabeçudo riu e disse – Não se preocupe. Fiz novos amigos. Eles me prometeram me ajudar para limpar a área escolhida.


                                Todos os sábados Pikitito o Grilo Feliz visita Joyce na reunião da Alcateia. Os lobos aprenderam a gostar dele. Foi uma amizade que durou muitos anos. O chefe João Cabeçudo aprendeu uma lição. Respeitar os direitos dos outros mesmo que estes outros sejam insetos. E assim termina a história.

sábado, 7 de junho de 2014

Um tributo merecido ao Chefe Conrado.


Lendas escoteiras.
Um tributo merecido ao Chefe Conrado.

               Quanto tempo? Não me lembro, mas que tem tempo isto tem. Poderia começar a contar a história dizendo: - Era uma vez em um país muito distante... Mas aqui Xerazade não aparece, não são histórias das mil e uma noite e nem existe um tapete mágico para Aladim. Esta é uma pequena história. Pequena no tamanho e grande demais para entender todas as vicissitudes da vida. Falar do Chefe Conrado fazem meus sentimentos voltarem no tempo e pensar que o mundo nos reserva em todos os destinos não escolhidos, mas que fazem parte da vida e nada poderemos fazer para mudar. Lá estava eu em Capitão Martins uma cidade perdida no norte de Minas para uma palestra ao Grupo Escoteiro de lá. Excelente grupo, jovens sorridentes, olhares respeitosos e bons chefes. Durante a palestra no ginásio local com um bom número de pais e simpatizantes observei um Chefe Escoteiro encostado à parede sem usar nenhuma poltrona. Olhava-me com olhos ávidos, uma atenção canina o que me fez perder algumas vezes a continuidade da palestra.

              Aparentava uns cinquenta anos ou mais, não tinha um bom aspecto apesar de muito bem uniformizado. Bermuda e camisa bem passadas, mas velhos. Um chapéu antigo bem posto que na hora usava no peito, seus meiões e lenços impecáveis. Infelizmente um corte enorme no rosto que ia até a boca, uma mancha na outra face e um olho torto lhe davam um aspecto triste e até quem sabe ameaçador. Para piorar gostava de usar cabelos compridos em “rabo de cavalo” o que reforçava seu aspecto bizarro, selvagem e extravagante. Andava de braços abertos, ombros encurvados, mas quando sorria era demais. Uma simpatia irradiante. Após a palestra fui conhecer as sessões com Alcatéia Tropa Escoteira e sênior. Todas as sessões faziam escotismo misto. Lá estava o tal Chefe, encostado na parede esperando que alguém o chamasse. – Perguntei ao Diretor Técnico porque ele não participava. Sua explicação me pegou desprevenido – Chefe, ele apareceu aqui há uns quatro anos. Sempre afastado, pois sabe que sua fisionomia assusta. Todos nos já acostumamos com ele, muito servil, sempre pronto a ajudar e isto o faz feliz. Um nosso Chefe que mudou de cidade doou o uniforme para ele.

                 O conselho de Chefes foi contra convidá-lo para uma sessão. Por vias das duvidas fizemos sua promessa, mas nunca foi registrado. Os pais não viam com bons olhos e por ser analfabeto alimentamos seu sonho de estar conosco, mas colocá-lo em uma sessão é preocupante. Sempre é o primeiro a chegar e o último a sair. É de uma vassalagem gritante. Limpa a sede, prepara materiais de jogos e mais nada. Nem mesmo é convidado para um jogo ou uma canção. Tudo ele faz aqui encostado à parede e sorrindo. Se vier a sede a noite aqui vai encontrá-lo. Lá está sentado no meio fio como a fazer ponto na porta da sede. Já emprestei para ele alguns livros que ele só vê figura. Sei que entrou em uma escola de adultos e já lê alguma coisa. Acostumamo-nos com ele como se acostuma com um... Ele ia dizer cão amigo, mas preferiu se calar. Não queria desmerecê-lo. Olhe Chefe ele trabalha no moinho do português e mora em um quartinho na periferia da cidade.

             Passou-se alguns anos e de novo retornei aquela cidade. No Grupo Escoteiro não vi o Chefe Conrado. Seu lugar que ficava estava vazio. Questionei o Diretor Técnico e com lágrimas nos olhos e vi também tristeza nos demais me respondeu: Desapareceu um dia e nunca mais voltou. Nesta hora foi que vimos à falta que ele fazia. Era como se tivesse perdido parte de nós. Arrependo-me até hoje por não ter dado o valor que ele merecia. Agora sei que era um homem de valor e seu desejo de ser um Chefe o que nunca foi martela até hoje no coração de todos. Durante este tempo sempre esperamos encontrá-lo sentado ao meio fio nos esperando e os jovens também sempre perguntavam por ele. Duas semanas sem aparecer fomos ao moinho. Seu Manoel o proprietário nos contou que foi ao quarto dele onde morava com a polícia. Vazio anda com tudo bem arrumado da cama ao guarda roupa. Fomos até lá para ver. – Chefe foi como uma punhalada no coração, nunca vi um quarto assim. Ele fez do seu quarto uma sala de sede escoteira. Lindo quadro de nós e sinais de pista, bandeirolas de semáfora presa à parede, não sei como tinha um quadro de Baden-Powell, uma colcha branca bordada com uma flor de lis jazia em sua cama. Na estante uma Bíblia aberta onde se lia o Salmo. Ficamos chocados com tudo.

               Não havia cartas, papeis nada que pudesse saber de onde veio e se tinha familiares. O tempo passou e cinco meses depois soubemos que ele tinha sido atropelado em uma cidade próxima, imprensado em um poste morrendo na hora. Mesmo com sua identidade não souberam de onde era e de onde tinha vindo. Foi enterrado como indigente. Como estava com um cinto Escoteiro um dos investigadores resolveu fazer uma consulta à direção escoteira regional. Em vão, ele não tinha registro lá. O Doutor Jamil em passagem por aquela cidade conversa vai conversa vem se apresentou como Escoteiro a amigos da cidade. Um deles sabia da morte de um Escoteiro e comentou. Doutor Jamil ao ver a identidade sabia quem era. Quando soubemos foi um choque. Não sei se foi boa ideia, mas reunimos todo o grupo e em um domingo fomos à cidade onde havia sido sepultado. Em uma campa simples fizemos um circulo em volta e cantamos a canção da despedida, todos chorando e Chefe, foi difícil cantar toda ela. Dizer que não era mais que um até logo e um breve adeus era difícil de pronunciar.

            Após a canção e uma oração nos preparávamos para voltar e vimos um Beija Flor azulado, sozinho, batendo as asas em volta do túmulo sem pousar. Todos não tiravam os olhos dele. Se fosse um sinal do Chefe Conrado eu fico em duvida. Sou cético para estas coisas. Voltamos tristes e silenciosos. Não havia canções no ônibus e só as lembranças do Chefe Conrado estava presente no íntimo de todos nós. Depois que ele se foi é que entendemos que o coração é maior que a aparência. Só demos o valor tarde demais. Não houve medalhas, não houve abraços, não houve apertos de mãos e nem sequer um certificado de gratidão. Nem mesmo um simples agradecimento verbal. Só ficou a lembrança, saudosa, dolorida e que nunca vai ser esquecida pelo Grupo Escoteiro. 


            Fiquei pensando que o valor da escrita, da formação intelectual e docente devia ser mais bem avaliada caso a caso. Como disse o grande Arquiteto do Universo há muitas moradas na casa de meu pai. Ele se sentia feliz em ajudar. Não pediu nada em troca. Tais indivíduos temos em vários lugares. Não damos os valores que merecem e chamá-los de escotistas de chefes o que para eles seria uma honra nunca vai acontecer. No meu retorno meditava sobre isto. Ele era um homem cumpridor de seus deveres, nunca almejou nada. Fazia seu trabalho sem recompensas. Ele no Grupo Escoteiro era o lixeiro, o carregador, o apanhador de sonhos. Hã! Lei dos Escoteiros. Vale tanto para nós como valeu para ele. Nunca mais voltei lá. Não porque não quis, não houve oportunidade. Mas o chefe Conrado ficou marcado para sempre em minha memória.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Enzo, o Monitor da Tropa Caapora.


Conversa ao pé do fogo.
Enzo, o Monitor da Tropa Caapora.

                   Enzo estava pensativo. Já duravam duas semanas e na patrulha não se falava outra coisa. O Arthur ia passar para os sêniores no mês que vem. Até aí tudo bem, mas o Arthur era Monitor. Mesmo com o Murilo seu sub. há muito tempo todos sabiam que haveria eleição. Era uma tradição desde que a tropa fora fundada. O sonho de Enzo sempre foi ser um Monitor. Desde que passou dos lobos para a tropa. Sabia que tinha de esperar sua vez e para isto sempre foi participativo no trabalho e nas ideias da patrulha. Havia uma amizade enorme entre eles, mas havia Julia ela também sonhava. Um dia ela disse para ele. – Enzo, eu também sonho em ser uma monitora. Os demais não tinham essa preocupação. Para eles tanto fazia ser como não ser. Enzo não entendia porque, afinal seu pai um dia disse para ele que quem fica parado é poste. – Siga seu próprio nariz se quer ser alguma coisa na vida, dizia o Chefe Tomaz. Era seu direito em sonhar e a Julia era páreo duro. Primeiro que ela sorria de uma maneira tal que ninguém dizia não. Sabia conquistar e fazer amizades.

                 Arthur o Monitor achou por bem fazer um Conselho de Patrulha. Explicar a sua ida para os seniores e combinar a data da eleição do novo Monitor. Arthur não foi um excelente Monitor, todos o achavam muito mandão. Sim ele trabalhava e muito, mas exigia demais. Quando na inspeção a patrulha falhava todos sabiam que ia haver sermão. Arthur não era participativo. O que se falava na Corte de Honra ninguém sabia nada. Nas outras patrulhas havia comentários, mas a Tamanduá não se falava outra coisa. Robertinho da Patrulha Arara morava na sua rua e lá eles eram grandes amigos. Eles tinham liberdade de conversar tudo que achavam da Tropa Caapora. Enzo nunca escondeu de sua decepção com a patrulha no último acampamento. Não se classificaram tudo porque o Arthur dormiu mais do que devia e era sempre ele que acordava a patrulha. Resultado não deu tempo para preparar o campo e na hora da inspeção a tampa da fossa de líquidos estava quebrada, no fogão suspenso havia muita cinza, uma das barracas tinha a forquilha solta e só isto jogou a patrulha lá embaixo. Enzo quase chorou e ainda bem que o Robertinho era bom amigo e o consolava sempre.

                - Sabe Robertinho, dizia Enzo – Eu queria ser Monitor, queria mostrar a todos o que deveria ser um Monitor. Iria seguir a risca o que Baden-Powell disse - ‘Quero que vocês, monitores, entrem em ação e adestrem suas patrulhas inteiramente sozinhos e à sua moda, porque para vocês é perfeitamente possível pegar cada rapaz da Patrulha e fazer dele um bom camarada, um verdadeiro homem”. De nada vale ter um ou dois rapazes admiráveis e o resto não prestando nada. Vocês devem procurar fazê-lo todos positivamente bons. – Robertinho retrucou que não é fácil conduzir uma patrulha. Cada Monitor tem um estilo. Veja o Joel nosso Monitor. Todos o acham paradão, se não fosse o Cassio o Sub a patrulha já tinha ido para o brejo há muito tempo. Enzo lembrou quando entrou para a tropa e o Chefe Josias com sua barriga e suas pernas curtas nunca acompanhou como devia a tropa. Só sabia gritar e quando ia fazer algum comentário deixava todos de pé por vinte ou trinta minutos. – Sabe Robertinho, naquela época quase saí.

              - Ainda bem que ele foi embora e entrou o Chefe Marcelo. Ele é bom demais. Amigo, compreensivo, educado e só chama a atenção de alguém em particular. Na semana seguinte o Conselho de Patrulha votou que a eleição seria na próxima semana. Qualquer um poderia ser candidato. Arthur fez questão de perguntar a um por e um e só Enzo e Julia seriam candidatos. Claro que ele aproveitou para fazer uma preleção sobre como devia ser o Monitor, mas não disse que deviam ser diferente dele. Ninguém reconhece seus erros só os acertos. Tudo ia bem quando na quinta o mundo de Enzo explodiu. – Não era possivel! Ele pediu tanto a Deus e agora? Seu pai naquele dia entrou em casa sério, chamou Enzo, Norma sua irmã e sua mãe dizendo que tinha um importante comunicado da fazer – Entrou logo no assunto: - Fui transferido para Monte Azul. Meu salário terá um aumento considerável e lá serei o Diretor da Secretaria Fazendária. Enzo foi para seu quarto e chorou mesmo com sua irmã e mãe tentando ajudá-lo a compreender as responsabilidades na família.

          Nunca na vida Enzo chorou tanto. Queria tentar entender, mas sua mente só tinha uma preocupação o seu amor pelo escotismo e o sonho de ser Monitor. Sonho que estava tão perto! Naquele sábado as suas pernas não ajudavam. Enzo foi para a reunião com o peito queimando. Sabia que a mudança da família seria feita só em janeiro a espera do termino do semestre para eles não ficarem prejudicados na escola. Seu pai iria antes. Quando chegou a sede viu a alegria tão conhecida, as patrulhas reunidas, muitos de pé lhe dando o Sempre Alerta, os lobinhos em uma correria sem fim. – Será que vou aguentar? Ainda faltam oito meses para a mudança, mas eu conseguirei continuar aqui? Meu coração pesa, minha mente está em pedaços, meu Deus não sei o que fazer! A reunião começou, só ao termino dela a Patrulha faria seu Conselho. Conselho tão esperado por Enzo. Quando o Arthur chamou a patrulha para se reunirem na sede, na sala onde se fazia A Corte de Honra e outras reuniões importantes, Enzo fechou os olhos e rezou pedido a Jesus que lhe desse força.

          Aberta a reunião do Conselho Enzo pediu a palavra. Contou tudo. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. Não haveria volta ele ia partir. Durante segundos e minutos ninguém disse nada. Todos sabiam que Julia agora seria a nova monitora. Ela pediu a palavra – Patrulheiros, pela primeira vez eu senti que não seria digna de ser monitora, não neste momento. Se todos concordarem Enzo será nosso Monitor até janeiro quando vai embora. Acho que ele merece isto. Uma tremenda de uma salva de palmas. Até Arthur no alto de sua pose de Monitor, levantou da cadeira e deu um grande abraço em Enzo. Este não sabia o que dizer. Não sabia se chorava ou se ria. Monitor por um dia? Por meses? Porque não? Todos correram a abraçá-lo e jogá-lo para o ar. Se em todos os monitores do mundo existe uma força que o faria ser por tão pouco tempo um grande Monitor, Enzo não decepcionou.


           No dia da partida foi uma festa. Uma festa que ficou marcada na vida de Enzo para sempre. Partiu sorrindo e chorando. Deixar para trás a tantos que sempre amou não era fácil, mas eles foram dignos com ele. Mereciam que ficassem gravados em sua mente para sempre. Se lá em Monte Azul não houvesse um Grupo de Escoteiros, Enzo faria tudo para que exista um. Coração de Escoteiro é assim, não desiste nunca. Não importa onde, não importa o lugar, Escoteiro é Sempre Escoteiro. Enzo foi um dos maiores monitores da história do escotismo. Onde estivesse eu sei que Baden-Powell estaria orgulhoso dele!