No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.



As coisas belas da vida.
O lindo alvorecer na morada da Terra do Sol.

               Tinha voltado da minha incrível caminhada de quinhentos metros, cansado, respiração ofegante e estava fazendo o meu breakfast quando bateram palmas na porta de casa. Domingo é sempre assim. Religiosos nos chamando para dizer se queremos ouvir a palavra do Senhor. Porque não? Gosto de vê-los lendo os mandamentos de Deus. Quando acontece descanso em uma cadeira, pois ficar em pé é difícil e ouço com amor, e olhem, nunca digo que sou espiritualista. Eles não gostam. Afinal ouvir é bom e não prejudica ninguém. Mas naquele dia não eram eles. Cheguei à porta da sala e vi no portão uma figura imponente que até me assustei. Cabelos brancos compridos até o ombro, barba branca bem penteada e uns olhos azuis que chamuscavam que olhava diretamente para ele. Vestia um paletó branco, comprido que ia até o joelho. Uma camisa azul brilhante com um pequeno lenço verde amarrado no pescoço. Usava uma calça de gabardine verde e calçava uma sandália de couro sem meias. Trazia nas mãos uma forquilha. Senhor! Que forquilha! Linda, marrom e cinza, e onde o V fazia uma curva acentuada parecia estar cravejadas de pedras preciosas em delicioso arranjo.

               Quem seria? Nesta cidade grande todo cuidado é pouco. Loucos, assaltantes, pedintes, vem às centenas bater em nossa porta. Mas o sorriso do "Velho" era cativante. Cheguei mais perto. Um perfume de flores do campo veio até a mim. O "Velho" sorriu e sem eu esperar me disse – Posso lhe dar um abraço? Fiquei estarrecido! Nunca ninguém bateu em minha porta oferecendo um abraço! Peguei as chaves, abri o portão e ele entrou como se estivesse entrando em um castelo de Reis. Encostou a forquilha encantada na parede e me deu um abraço! Gente! Que abraço. Eu com meus 71 anos me sentia como se fosse um menino sendo abraçado pelo pai. Fiquei sem jeito. – Aceita um café? – Obrigado. Mas não podemos perder tempo. Vou levar você para ver o alvorecer na Morada do Sol.

              Assustei-me. Tenho que tomar cuidado, pensei. Pode ser alguém com acesso de loucura – Ele como se estivesse lendo meus pensamentos sorriu e disse – Você precisa vir comigo. Sei que Dona Célia está fazendo a feira e volta logo. Mas estaremos de volta antes. – Pegou-me pela mão e sem fechar o portão saímos voando, ele me segurando, eu assustado! Ele soltou minha mão. Gente! Eu “volitava” sozinho no ar como se já tivesse feito isto há muito tempo. Em segundos estávamos em uma montanha, onde as árvores eram lindas, as folhas de um verde que nunca tinha visto e lá no alto um pico envolto em nuvens que para dizer a verdade, fez meu coração disparar. Lindo! Uma montanha das mais lindas que tinha visto – Como chama? Perguntei. – Você conhece você já esteve aqui. Serra do Sol Nascente. A morada do sol – Me lembrei. Mas não era assim! Eu disse. Ele me olhou e carinhosamente disse - Porque você só viu o que queria ver!

             De novo me pegou pela mão. Em segundos estávamos em uma cachoeira de uma beleza sem par. Linda mesmo. Uma névoa branca como se fosse orvalho caindo se formava em sua queda, o barulho da queda era como se fosse uma orquestra de cordas tocando maravilhosamente “The Lord of The Rings” e eu ali pensava – Devia ser um sonho. Pássaros dançavam balet fazendo acrobacias. – Onde estamos? Perguntei! – Na Cachoeira da Chuva, você já esteve aqui! – Como? Não vi nada disto que vejo agora. - Porque você só viu o que queria ver! De novo lá fomos nós a voar pelo espaço e em segundos chegamos a um vale, todo florido, flores silvestres de todas as cores que nunca tinha visto com um perfume inebriante, e a brisa leve tocando as pétalas e elas dançando ao sabor do vento. – Onde estamos? Perguntei! – No Vale Encantado da Felicidade. Você já esteve aqui. Muitas vezes acampando. – Não lembro, não lembro que fosse assim! – Porque você só viu o que queria ver!

              E lá fomos de novo voando nas nuvens brancas do céu. Descemos e ficamos a sombra de um lindo castanheiro. Era madrugada. O orvalho caia calmamente. Uma brisa fresca tocou-me o rosto. Foi então que assisti o cantar da passarada quando a manhã chega lépida e insistente. Havia beija flores, Tico-Tico, Sabiás, canários amarelos, pardais graciosos, uma multidão de pássaros pulando de galho em galho e com suas gralhas graciosas a cantar para todo o universo naquela bela manhã. Onde estamos? Perguntei – Não reconhece? O castanheiro do quintal da sua casa no passado? – Mas não era assim, eu disse. Ele gentilmente respondeu – Porque você só viu o que queria ver.

             E assim ele me levou a longínquos lugares perdidos neste mundo de Deus e sempre a me dizer – Você já esteve aqui. Por último, fomos até uma nuvem, enorme, milhares e milhares de escoteiros sentados, cantando canções sublimes. – Que lindas canções são estas? – As mesmas que você cantou sempre. Mas muitas vezes gritadas, sem nexo e você não procurou ver a beleza da melodia que elas possuíam, pois você só ouviu o que queria ouvir!

          Voltamos e como se eu fosse um pássaro alado no seu pouso encantador, avistei o meu portão e ele sorridente me disse – Procure ver as coisas como são, procure sentir a beleza das cores, do arco íris, dos lindos sonhos que acontecem com você. Procure ser sincero e diga a sí mesmo que a beleza da vida e a felicidade sempre estão ao nosso lado. As cores são belas quando sabemos olhar com amor. Os cantos são belos quando sabemos diferir a letra e a música tocada. Os pássaros são sempre os mesmos, mas saber ver neles a beleza e a singela simpatia que eles têm é uma arte fácil de ser observada. Seus cantares e seus gorjeios sabem que transmitem amor e felicidade. – Ele me olhou e disse – Posso lhe dar outro abraço? E me apertou em seu corpo e de novo senti que era meu pai me abraçando. Saiu calmamente pela rua, escorando na sua linda forquilha cravejada de brilhantes e ao chegar à esquina, virou-se e deu-me um último adeus. Uma pequena nuvem apareceu e o levou ao céu que agora era de um azul profundo, tão azul que pensei que nunca tinha visto aquela cor como agora.

           Sentei na cadeira de sempre na minha varanda emocionado. A Célia chegou. Sorriu para mim e disse – O que foi? Porque esta sorrindo assim? Sabe mulher, porque sempre vi o que queria ver e agora procuro ver as coisas como devem ser vista. Nunca tinha observado como você é bela, a mais linda mulher que conheci! Fiquei em pé me aproximei e disse – Posso lhe dar um abraço?           

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Lendas Escoteiras. O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.



Lendas Escoteiras.
O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.

                 Calma. Nada a ver com o filme de Anthony Mann, Um Certo Capitão Lockhart. Mas Dona Etelvina assistiu ao filme e batizou seu filho como Capitão Lockhart. A princípio o tabelião se recusou, mas Dona Etelvina foi dura e enfática. Tem de ser este ou não será nenhum. Capitão Lockhart ficou conhecido na cidade de Pedra Roxa. A principio só curiosidade depois ninguém ligava mais. Na escola era bom aluno e todos os colegas gostavam dele por ser prestativo e educado. Capitão Lockhart tinha duas paixões. Papagaios (pipas) e escotismo. Quando fez sete anos lá estava ele se matriculando como lobinho. Não sabia que precisa de sua mãe para isto. Ela foi. Seu pai foi pracinha e morreu na Batalha de Monte Castelo quando ele ainda estava hibernando na barriga de sua mãe.

               Capitão Lockhart fazia papagaios como ninguém. Nos campeonatos anuais na cidade de Pedra Roxa quando não ganhava ficava em segundo. Cada ano mais ele se aprimorava. Sabia escolher o melhor bambu para as varetas, ele mesmo fazia a cola em sua casa usando limão galego, comprou uma tesoura sem ponta e usava sua régua e caneta da escola. Na Casa Ultimato, onde vendiam papeis de seda ela ficava horas escolhendo. Sempre tinha cinco ou seis carreteis de linha dez de reserva. Capitão Lockhart chegava da escola, fazia suas tarefas e a tarde ia até a colina do Morto Enterrado. Lá soltava seus papagaios analisando o peso, a força do vento, as linhadas, tudo para que não perdesse nada na hora de um bom campeonato.

             Capitão Lockhart era da Patrulha Corvo. Seu Monitor Nininho era meio mandão, mas todos gostavam dele. As quintas feiras a Patrulha se reunia na sede, onde eram passadas as provas para cada um. A Patrulha tinha dois primeiras classes, três segundas (inclusive Capitão Lockhart) e dois noviços. Ziri era um deles. Quiseram apelida-lo de Polegar, mas alguém achou melhor Ziri. Esqueceram que seria Siri e não Ziri. Mas apelido posto só sai morto. Aos sábados o Chefe Martinho não dava folga. Cobrava dos Monitores, cobrava dos subs, cobrava de todo mundo. Capitão Lockhart amava tudo aquilo. A tropa vivia acampando, fazendo excursões, e varias vezes ao ano ele o Chefe deixava as Patrulhas acamparem sozinhas, principalmente em acampamentos volantes bem planejados.

              Em novembro a prefeitura estava programado a primeira Olimpíada do Papagaio de Pedra Roxa. Capitão Lockhart soube que o premio seria de dois mil reais. Precisava ganhar este prêmio. Prometera dar o uniforme e o equipamento de campo ao Ziri, pois ele estava com cinco meses e ainda não conseguiu ter o suficiente para fazer e comprar. Promessa é promessa e o Capitão Lockhart não podia fraquejar. O dia chegou. Capitão Lockhart sabia das regras das Olimpíadas. Usar dois carreteis de linha dez com cento e cinquenta metros cada um, o papagaio tinha de puxar toda a linha, (os fiscais iriam olhar na manivela), ficar duas horas no ar e ganhava em primeiro lugar aquela com mais pingos de chuva no papel de seda. Tudo bem. Não era segredo para o Capitão Lockhart.

               O dia chegou. A cidade em peso lá. Mais de duzentos competidores. Capitão Lockhart fizera uma pipa de bom tamanho, mais ou menos oitenta por quarenta, passara quinze dias preparando as varetas, cortou o papel de seda harmoniosamente sem pontas e para montar seu papagaio ficou dois dias ali debruçado na sua mesinha que sua mãe lhe dera de presente. Às nove da manhã se encontrou com a Patrulha. Estavam todos uniformizados. Varias outras patrulhas, lobinhos, seniores e os pioneiros também lá estavam. O Chefe Martinho tinha orgulho do Capitão Lockhart. Adorava o menino. Ele era viúvo e namorava dona Etelvina a mãe do Capitão Lockhart. Nada contra. Eram um belo casal e juntos também foram assistir a vitória ou derrota do Capitão Lockhart.
   
              Não vou entrar em detalhes, mas foi uma disputa renhida. No final ficaram oito competidores. Passado às duas horas foi dado à ordem de descer os papagaios. Um por um foram chegado. O povo todo se amontoando para ver qual estava marcado com pingos de chuva. A do Capitão Lockhart tinha oito pingos. A do Murilo da Birosca do Pedro Mocho (bar) tinha oito também. E agora? Mais trinta minutos no ar. Então após veriam o provável vencedor. Não podia haver empates. Foi emocionante! Muito mesmo. Um frenesi no ar e em terra. Uma torcida vibrante. Os escoteiros pulando e gritando. Terminou o tempo. As pipas desceram. Capitão Lockhart ganhou com mais dois pingos. A do Murilo só um. Foi carregado entre a multidão.

                      No sábado no cerimonial de bandeira, o Chefe Martinho fez uma entrega de um certificado de mérito ao Capitão Lockhart não só por ter representado o grupo nas olimpíadas, como também pelo seu belo gesto em dar ao Escoteiro Ziri um uniforme completo, um cantil, uma faca Escoteira, uma bússola e um cabo trançado de dez metros. A tropa saiu de forma. Os sêniores também. Os lobinhos se juntaram a algazarra. Abraçavam e beijavam o Capitão Lockhart. Uma apoteose que nunca tinham visto nada igual. Soube que meses depois o Chefe Martinho casou com dona Etelvina. Dizem que viveram felizes para sempre e isto não sei, mas soube por fontes fidedignas que o Capitão Lockhart foi reconhecido como o maior soltador de papagaios do Brasil e esteve em diversos campeonatos no “estrangeiro”. Que ele seja feliz com sua gostosa habilidade. E quem quiser que conte dois! Risos.   

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Lendas Escoteiras. Lepitop, o Gato Escoteiro.



Lendas Escoteiras.
Lepitop, o Gato Escoteiro.
        
                Ninguém sabia sua origem e de onde ele tinha vindo. Nem tampouco onde morava. Há anos todas as reuniões lá estava o Lepitop. Quem lhe deu este nome também não tinham a menor ideia. A única certeza era que impreterivelmente quando o primeiro Escoteiro ou o primeiro lobinho chegasse à sede lá estava Lepitop. Interessante era que se algum Chefe fosse fazer algum serviço na sede e não houvesse Escoteiro presente, Lepitop não aparecia. Porque não gostava de adultos não sei explicar. Lepitop tinha um amor todo especial por Narinha da Matilha Rosa e Jarilson da Patrulha Raposa. Talvez porque eles descobriram que ele adorava arroz misturado com carne moída. Mas foi Narinha quem primeiro observou que ele só comia em prato de louça. Luxo?

              O Gato Lepitop tinha pelos longos com manchas brancas e incríveis olhos azuis. Um só. O outro era coberto por uma mancha branca. Muitos visitantes que iam ao grupo eram surpreendidos pelo Gato Lepitop. Sua fama percorreu toda cidade de Luar Azul. Quando a reunião começava com a chamada geral para o cerimonial de bandeira Lepitot também se formava sempre ao lado do responsável pela cerimonia. Agora ninguém ria, mas quando a bandeira subia farfalhando com o vento, ele ficava olhando e não tirava os olhos enquanto ela não alcançasse o topo. Depois corria para junto da Patrulha Raposa e durante o grito ele ficava no meio de todos, e claro, sempre no final ouviam seu “miau”. Por favor, não riam. É pura verdade. Eu vi com meus olhos que a terra a de comer.

             Lepitop não perdia nada. Da Patrulha corria para a Alcatéia para ver se conseguia alcançar o grande uivo. Quando a Akelá abaixava os braços ele ao seu lado abaixava também. Quando os lobinhos pulando e gritando o melhor, lá ia Lepitop pulando também. Sempre com seu “miau” no final. Em toda a reunião Lepitop corria de sessão em sessão. Quando a reunião terminava, Narinha e Jarilson corriam até a sede e lá colocavam sua comida. O arroz com carne moída. Lepitop ronronava, passava de leve o rabinho na perna de ambos e comia com gosto. Uma vez resolveram descobrir onde ele morava. Claro que perguntaram por toda a vizinha, mas ninguém soube informar. Narinha e Jarilson sempre se preocuparam com suas refeições aos sábados e durante a semana? Não acreditavam que ele aguentasse tanto tempo sem comer.

           O Gato Lepitop começou a ficar famoso. O Comissário do Distrito soube e foi lá visitar. O Diretor Regional também. Da UEB não veio ninguém. Quem sabe muito longe para viajar até Luar Azul.  Até o Redator Chefe do Jornal Capacete de Ouro foi lá no grupo entrevistar Lepitop. Disseram a ele que o gato falava. Risos. Um dia o pior aconteceu. O Gato Lepitop não apareceu na reunião. Os lobinhos e escoteiros sempre de olho no portão. As reuniões foram péssimas. Sem o Gato Lepitop tudo parecia ir por água abaixo. Esperaram a semana seguinte e nada. Só viam-se olhos marejados de lágrimas. Desde os lobinhos até os escoteiros e seniores. Claros os chefes e os pioneiros ao seu modo sentiam-se angustiados.

           Todo o Grupo Escoteiro fez um mutirão de buscas. As famílias dos escoteiros ajudavam. Toda a cidade foi vasculhada e a todos foi perguntado se conheciam o Gato Lepitop. Três semanas e nada. Impossível dar reunião. Ninguém queria fazer nada. Só choro e choro. Narinha coitada não parava de chorar. Nem na escola estava indo mais. Jarilson sempre com os olhos marejados de lágrimas. O Conselho de Chefes e a Diretoria do Grupo Escoteiro se reunirão muitas vezes em busca de uma solução. – A melhor seria dar férias a todos. Pelo menos um mês. Quem sabe poderiam voltar com novo ânimo? Foi um dia triste. A boca pequena todos sabiam o que ia acontecer.

          O Diretor Técnico tocou sua trombeta com o sinal de reunir. Antigamente era uma algazarra. Todos vinham correndo, sorrindo e era uma beleza ver os gritos de Patrulha e as apresentações. Fazia dó agora. Um silêncio mortal. Só olhos encharcados de lágrimas. Soluços em profusão. Um gato, apenas um gato para fazer tudo aquilo? Mas não era só um gato, era o Gato Lepitop. Aquele que era amado por todos. Meu Deus! Impossível! O Chefe começou a falar das férias e eis que aparece na porta do pátio nada mais nada menos que o Gato Lepitop. Ele na frente todo garboso, atrás dele uma linda gata amarela de pelos longos e mais atrás três gatinhos cinza e outros amarelos. Em fila indiana. Como se estivessem marchando! Um espetáculo que quem viu jamais iria esquecer.

         Lepitop tinha casado. Estava em lua de mel. Sua esposa Natibook tinha dado a luz três lindos gatinhos. Asustek, Epad e Android todos foram muito bem cuidados por Lepitop. Gritos de urras, milhões de sorrisos, canções, pulos saltitantes eram como se a luz tivesse voltado ao Grupo Escoteiro de Luar Azul. A notícia correu e toda a cidade foi até lá para ver. Foguetes foram lançados no ar. Abraços se deram aos montes. E assim, a paz voltou a reinar no Grupo Escoteiro de Luar Azul. Tudo por causa de um gatinho, um não agora eram quatro! E assim termina a história. Dizem que boi não é vaca e feijão não é arroz e então meus amigos, quem quiser que conte dois!

domingo, 21 de outubro de 2012

O sequestro da Lobinha Aninha Pata Tenra. Lendas escoteiras



Lendas escoteiras.
O sequestro da Lobinha Aninha Pata Tenra.

                  Falar de Aninha era sempre motivo de diversão. Oito anos, um ano e meio na Alcatéia, com seu apelido de Pata Tenra era uma menina alegre espevitada, brincalhona e sempre animada. Em qualquer roda de lobinhos escoteiros ou chefes ela adorava conversar com todos, sempre com um sorriso nos lábios e como gostava de contar piadas. Seu repertório era formidável. Quase nunca repetia uma piada. Onde ela conseguia decorar tantas ninguém sabia. Diziam e sua mãe confirmava que ela mesma escrevia. Ficava em seu quarto até altas horas da noite escrevendo uma para o dia seguinte. Na escola uma rodinha formava em volta dela no recreio. Só para ouvir suas piadas e dar gargalhadas. No Grupo Escoteiro todos faziam o mesmo. Quando ela faltava às reuniões e todos sabiam que era por motivo de força maior o comentário era o mesmo – Aninha não veio? Uma falta grande ela fazia.

                  Sua matilha tinha verdadeira veneração por ela. Os amarelos sabiam que ela animava todas as atividades. Disse para todos que já tinha lido de cabo a rabo o Livro da Jângal. Contava histórias da Alcatéia de Sheone e sempre com uma pitada divertida. Sua mãe e seu pai sempre a alertaram para ser mais comedida principalmente com estranhos. E um dia o pior aconteceu. Aninha Pata Tenra saiu cedo de casa naquele domingo dizendo aos pais que ia ao catecismo. A igreja era perto. Sempre deixaram. Saiu as nove e as doze não tinha voltado. Sua mãe ficou preocupada. Quando deu uma hora foi atrás de Aninha. Na igreja disseram que ela tinha saído às dez e meia. Onde ela teria ido? Da igreja foi à casa de uma das melhores amiga dela. Nada. Nanda disse que não tinha visto ela no domingo. De casa em casa e ninguém sabia noticias de Aninha Pata Tenra. A cidade era pequena. Todos conheciam Aninha.

                  O delegado colocou todos os soldados a vasculharem a cidade atrás dela. Centenas de habitantes percorriam aqui e ali e até fora da cidade a sua procura. À tarde chegando e o desespero tomava conta da mãe e de muitas amigas dela na Alcatéia. A noite chegou. Um choro geral. Onde foi parar Aninha? Nunca souberam de algum “tarado” na cidade e Aninha magrinha, sem nenhuma beleza que pudesse chamar atenção poderia ter sido sequestrada? Dinheiro? Sua família não tinha. Eram humildes e lutavam pela comida do dia a dia. Alguém disse que um automóvel azul cruzou a cidade naquela manhã. – Para onde foi? Perguntou o delegado. Para a fazenda do Chico Espinhaço. Lá foi o delegado com mais de trinta automóveis atrás o seguindo.

                   Na fazenda viram o carro azul. O delegado entrou na sede e chamou o Chico. Ele saiu à porta com um estranho. O delegado o inquiriu sobre Aninha. – Nunca ouvi falar ele disse. A turba que estava próxima correu e o pegou de jeito. Se o delegado não desse uns tiros para cima eles o teriam linchado. Dois soldados o levaram para Passo Alto uma cidade próxima. Ele não poderia ficar em Rio da Prata. A cadeia não oferecia condições. Reviraram a fazenda do Chico Espinhaço. Ele ficou revoltado. Mais ainda porque gostava muito de Aninha. Afinal era diretor no Grupo Escoteiro e nunca tentaria fazer mal a ela.

                 Pela manhã ninguém tinha dormido. A procura não terminou e nem parou. A cidade em peso nas ruas. Uma revolta grande. Mandinho era Monitor dos Gaviões. Chamou a Patrulha para procurar. Um cachorro latia sem parar próximo ao Riacho do Lambari. Correram até lá e viram Aninha em cima de uma mangueira enorme. Ela chorava. Tiritava de frio. Ajudaram-na a descer. – O que ouve? Perguntou Mandinho. Ela chorando disse que foi pegar umas flores silvestres fora da cidade e deu de cara com uma onça pintada. Correu e subiu na árvore. A onça ficou quase a noite toda olhando para ela e deitada no tronco da árvore. Não dormiu. Quando o dia amanheceu viu que a onça tinha partido. Não sabia descer. Ficou com medo de cair e quando resolveu pular mesmo se machucando viu o cão latindo e voces apareceram.

                 A cidade inteira vibrou quando viu Aninha viva. O padre rezava missa por ela e quando soube agradeceu a Deus. Seus pais choravam de alegria. No sábado na reunião do Grupo Escoteiro todos queriam ouvir a sua história. Aninha como sempre animada e esperta contava aumentando tudo. Já não era uma onça, mas duas com seis filhotinhos! Dizem que “quem conta um conto aumento um ponto”. Serviu de lição para Aninha e para todos os lobinhos e escoteiros. Nunca sair sozinho. Sempre em duplas ou mais gente, e dizer sempre aonde vão. Aninha aprendeu. Nunca mais andava sozinha. O sequestro ficou na memória da cidade. Seus habitantes contavam tanto que os viajantes acreditavam. E o Senhor que foi preso esqueceram-se dele. Ficou no xilindró por quatro meses. Coitado. Dizem que chorava a mais não poder. Brasil, oh meu Brasil brasileiro. Mas quem sabe serviu também de lição para o delegado? Risos!

sábado, 20 de outubro de 2012

As coisas belas da vida. Quebra Coco. O último desafio!



As coisas belas da vida.
Quebra Coco. O último desafio!

                 Acho que o tempo apagou estas lembranças incríveis. Quase não vejo ninguém comentando. Claro, são os novos tempos. Novas músicas. Novas canções e que se anima a cantar as antigas? Elas devem ter ficado lá ao longe em um passado distante. Nem todos irão lembrar-se como foi e acho que poucos participaram do Quebra Coco na sua simplicidade de um bom desafio. E meu Deus! Como era gostoso cantar e ver os desafiantes, com suas cabeças pensantes, a meditar o que iam dizer. Eu mesmo posso dizer que tentei quando cresci manter a chama do Quebra Coco como o conheci. Acho que não fui feliz. Os jovens não se interessavam mais. Tudo foi mudando, novas ideias novos Fogos de Conselho. Quem diria que naquela época teríamos um animador de fogo? Nunca! Animador? Nem pensar.

               Para dizer a verdade acho que foi quando fiz um ano de lobo foi que ouvi pela primeira vez o Quebra Coco. Estávamos acampados na Vertente do Vale Feliz. Lobos acampando? Risos. Claro, era comum. E porque não? Era mais divertido. Lembro-me do Miúdo (era nosso Balu, nunca fiquei sabendo seu nome real) e do Munir Boca Grande (nossa Bagheera) a fazer os almoços e jantas e que manjar! Eles eram bons e todos nós em volta ajudando, buscando água, lenha, cantando e contando “pataquadas”. Bons tempos. Já tinha participado de dois Fogos de Conselho. Não sabia como era o Quebra Coco. Foi o Akelá Laudelino Pé de Chumbo quem explicou. Tratava-se de um desafio entre escoteiros. A tropa antes de encerrar o Fogo de Conselho faziam o desafio. No começo todos participavam, mas depois de algum tempo ficavam dois ou três. Os demais não eram bons repentistas.  

              Na tropa era minha diversão favorita nos Fogos de Conselho. Desenvolvi uma facilidade grande em criar versos. Nada dos conhecidos. Isto era para Patas Tenras. Poucos tinham a “audácia” de me desafiar. Já começava cantando assim – “Meus amigos, escutem bem, hoje estou um pouco rouco, mas é bom ficar sabendo, sou o campeão do Quebra Coco” e daí em diante não parava mais. Mas tudo mudou pois quebraram meu orgulho de cantador. Fomos acampar em Serra Vermelha com uma Tropa da cidade de Rio Grande e foi um desastre. Todos da tropa perguntavam se nós tínhamos bons “cantadores” do Quebra Coco. Apontavam-me e eu ficava todo orgulhoso. Não falaram nada do Mandinho. Um Escoteiro magrelo, desengonçado e achei até que ele era gago. Quando chegou a hora e ele em pé aceitou meu desafio, sorri de leve. “Este estava no papo”.

               Deus do céu! Onze horas, meia noite e o danado lá aceitando todos meus versos e devolvendo em dobro! O Chefe disse que quem quisesse podia ir para as barracas, mas ninguém arredou o pé. Minha cabeça fervilhava, a busca de versos era medonha. Mais de quatro horas e o danado do Mandinho ali com um sorriso simples, sem afetação me colocando no chinelo! – Entreguei os pontos. Fui lá do outro lado à fogueira cumprimentá-lo. Parabéns Mandinho. Perdi mas estou orgulhoso de você! Quase desisti para sempre do Quebra Coco. Mas uma coisa sempre tive em mente, ganhar é bom, mas saber perder é uma arte. Isto sempre nosso Chefe Jessé dizia.

               Os tempos foram mudando. Participei de muitos Fogos de Conselho. O Quebra Coco se tornou saudades de um tempo que já se foi. Outras canções trazidas pelos novos chefes, e ele, o meu amado Quebra Coco ficou na história de um livro que não foi escrito. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Piá, Escoteiro Quebra Coco e depois vai trabalhar! Até hoje eu canto com boas lembranças. Se que a origem é nordestina. Deve ter começado com os repentes esses maravilhosos cantadores que encantam até hoje os que apreciam a música nordestina.

             Parei de escrever. Fui para minha varandinha querida. Meu recanto. Onde penso e faço minhas histórias. Sentei na minha cadeira rústica e olhei pela fresta do portão e vi a meninada jogando bola. Uma rua íngreme. Poucos carros. Cada um se diverte como gosta. Cantava baixinho o Quebra Coco. Saudades vem e vão e eu "Velho" Escoteiro vou lembrando como posso dos meus tempos de criança. Quebra Coco, O meu Chapéu tem Três Bicos, A Árvore da Montanha e tantas outras. Onde está meu violão? Acho que as cordas arrebentaram. Preciso comprar novas e ficar na minha varandinha a cantar. Fazer a melodia brotar de novo pelo som do meu violão. Quebra Coco, Quebra Coco, na ladeira do Piá...

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Por que as pessoas sofrem?



Uma parábola interessante.
Por que as pessoas sofrem?

     — Vó, por que as pessoas sofrem?

     — Como é, minha neta?
     — Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
     — Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
     —Vó...
     —Oi...
     — Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
     — É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?
     —Não, Vovó.

     — Você lembra-se da estorinha do Patinho Feio?
     — Lembro.
     — Então... O Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.

     — O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
     — Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.

     — É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
     — É por isso! Viu como você é esperta?
     — Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
     — Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?
     —O que?

     — Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
     — Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
     — Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
     — É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
     — Não entendi minha filha?

     — Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...
     — Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
     — Todos nós somos querida. Em parte.
     — Ele vai descobrir quem ele é de verdade?

     — Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.
     — E aí viramos cisnes?
     — Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
     — Aonde você vai?
     — Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!

     A boa vovó apenas sorriu!

(encontrado na internet sem identificação)

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O Chefe Escoteiro de lua Verde.



Lendas escoteiras.
O Chefe Escoteiro de lua Verde.

                     Três patrulhas. A quarta só no ano seguinte. Tropa nova, com menos de seis meses de atividade. O Chefe Galício era novo, menos de vinte e três anos. Resolveu um dia ser Escoteiro. Nunca foi. Achou nos guardados do seu pai um livro chamado Escotismo Para Rapazes de Baden Powell o fundador. Leu em uma noite. Gostou. Seu pai quase não falava. Vivia em uma cadeira de rodas. A mãe morrera há anos. Ele ó arrimo da família. Sempre pensou em ir embora de Lua Verde. Só conseguiu terminar o segundo grau. Cidade pequena, menos de dez mil habitantes. Sem perspectivas de crescimento profissional. Não podia deixar seu pai. Para sobreviverem ele montou uma quitanda. Pequena. Na frente de sua casa para não pagar aluguel. Algumas verduras, frutas, doces, e quando pode comprar uma geladeira, refrigerantes e algumas guloseimas geladas. Dava para seguir adiante a cada mês. O “fiado” era a parte mais difícil. Como negar ao Seu Romerildo? A Dona Eufrásia e a tantos outros? Eram como ele. Nem sabiam o que iam comer amanhã.

                    Depois que leu o livro o releu diversas vezes, pensou com seus botões. - Porque não ter uma tropa Escoteira? E assim fez. Mãos a obra. Convidar meninos foi fácil, a sede também não foi difícil. Ficaram num pequeno porão da Igreja Matriz. Mas Galício não entendia nada. Começou assim na raça, nem sabia que existia autorização, alguém responsável acima dele. Ele e os Raposas, os Tigres e os Leões eram os escoteiros mais felizes do mundo. Amigos, irmãos, juntos sempre. Quando os viam pela cidade a correr pelos campos, parecia um bando de meninos loucos a fazerem suas aventuras fantásticas. Galício adorava. Um dia recebeu uma carta. Era do Grande Chefe Escoteiro da Capital. O convidava para um curso. Todas as despesas pagas. Porque não ir? A quitanda deixou na mão de Quinzinho e Marquinho. Dois Monitores que sempre o ajudavam nos sábados quando a quitanda estava cheia.

                   Partiu de trem para a capital. Quinze horas de viagem. Na chegada se informou onde era o Zoológico. Pegou o bonde. Desceu no final e dai seguiu a pé. Eram mais seis quilômetros. Nada que assustasse Galício. Quando chegou viu muitos chefes. Bastante. Gostou do curso. Não gostou de alguns. Prepotentes, vaidosos, cheios de importância. Porque perguntava? Aprendeu muito. Resolveu que devia ter uma Alcatéia. Mas quem convidar? No trem quando retornava pensava a respeito. Uma jovem morena sentou ao seu lado. Galício teve duas namoradas. Pouco tempo com elas. Nunca pensou em casar. Novo. Agora com seu pai entrevado não tinha esse direito. Ela o olhou de cabeça baixa. Galício viu que chorava. – Por quê? Perguntou. Ela não respondeu. Acordou com ela dormindo em seu ombro. Reparou que era muito bonita, mas tinha o olhar envelhecido por uma vida de lutas.

                    Toda a viagem ela chorava. Galício insistiu. Ela nada dizia. Só disse que deveria ter morrido e Deus quis assim. Que seja. - Vai para onde? Sem destino respondia – Sem destino? Não tem amigos, parentes, nada? Não tenho. Quando chegou à estação de Lua Verde tinha resolvido. Desça comigo. Ficará uns dias em minha casa. Ela assustou – Descer? E sua família? Não se preocupe. Uns dias em Lua Verde você irá colocar a cabeça no lugar e saberá aonde ir e o que fazer. Ela desceu. A cidade inteira na janela vendo Galício e a bela morena. Quem era? Ele casou? Ele não disse nada. Sua vida continuou. Seu pai nem perguntou. Os escoteiros nada disseram. Sua vida mudou. Lena era uma mulher perfeita. Cuidava da casa. Fazia tudo. Seu pai tinha os olhos brilhando quando estava ao seu lado. A cidade inteira comentando. E a Tropa? Alguns pais querendo tirar os filhos. Os comentários não eram bons. Uma mulher da vida, só podia ser.

                   Galício resolveu casar com Lena. Ela disse não. Por quê? Você não tem ninguém. – Ela chorando disse que ia contar a verdade. Era mulher de vida na capital. Gostava de um soldado. Ele prometeu casar com ela. Morreu em tiroteio com bandidos. Chorou muito e o pior. Tinha AIDS. Sim, isto mesmo! Ainda em fase inicial.  Galício manteve seu pedido. Não importa. Quero você como minha mulher. Casaram-se na Igreja de São Judas Tadeu. Cerimônia simples. Ele uma vizinha e as três patrulhas escoteiras. Casou de uniforme. Ela feliz. Sorria. Viveram muitos anos. Lena se tornou Akelá. Os lobinhos adoravam sua Chefe. Galício e Lena nunca fizeram sexo. O amor dos dois eram diferentes. Lena morreu com quarenta e oito anos. Seu velório foi assistido por toda a cidade. Dizem que virou santa. Não sei. Mas seus lobinhos hoje homens feitos nunca esqueceram a Chefe que tiveram. Galício chorou por muitos anos. Morreu com sessenta e quatro anos.

                  Conheci ambos. Sempre quando vou a Lua Verde não deixo de fazer uma visita ao tumulo dos dois. Lado a lado. Escreveram uma lápide simples. Nem sei quem escreveu. – “Aqui jaz, dois amantes que nunca foram. Amaram o escotismo e com ele viverão para sempre no céu!”.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

De Volta para o Futuro II. (Back to the Future Part II)



Crônicas de um Chefe Escoteiro
De Volta para o Futuro II.
(Back to the Future Part II)

                  Não teve jeito. Não queria conhecer o futuro, mas ao sentar na poltrona do DeLorean do Doutor Emmett Brown me deixei seduzir como se fosse Marty MacFly investigando sua vida futura. No meu caso não era a minha vida. Já tinha voltado ao passado em De Volta para o Futuro I em 1950. Mostrei para alguns como era o escotismo naquele tempo. Agora pensei em ver como era o nosso escotismo no futuro. Fui direto ao ano estelar de 2.180. 2.180? Isto mesmo. Meus caros, que susto! Fui parar logo em uma reunião de Corte de Honra! Sabem onde estava sendo realizada? Na casa do Chefe da tropa. Ele de roupão pressurizado e chinelo voador (quando andava plainava no ar), tomava um uísque contrabandeado do planeta Uebaibe e lia o noticioso esportivo de um jornal de outro planeta de nome Bidypower, através do seu super potente Smartphone e na sua frente uma enorme tela panorâmica que ele com um simples gesto poderia colocar do tamanho que quisesse e onde apareciam os Monitores e subs. Claro cada um em suas casas. Eles pediram para evitar a holografia, achavam que não se sentiam bem assim. Discutiram o porquê as patrulhas estavam diminuindo a cada ano (Ora, ora, ainda?).

                  Chefe a Zeta Leonis está com dois somente. Eu e mais um. Outro logo emendou – Chefe a Epsilon Tauri tinha quatro e agora três.  E assim foi a Kapa Leonis a Alpha Capricomi. Todos reclamando que quase nenhum jovem queria participar mais das patrulhas. – Olha Chefe, falou o Monitor da Epsilon Tauri, o Senhor sabe desde que as meninas se sublevaram para ter suas próprias patrulhas (meu Deus! Que bom!) os meninos estão desistindo. Quando elas participavam eles adoravam mais e podiam namorar vontade. O Senhor sabe fora do escotismo a Lei é severa com quem fosse encontrado beijando e nos acampamentos tudo isto era normal, pois nós praticamos o escotismo moderno. Agora estão com aquela conversa que acampamentos holográficos perderam a motivação. Sei que escolhemos bem, tentamos tudo na Galáxia de Andrômeda. E o da Grande Nuvem de Magalhães foi um fracasso. Eles querem acampamentos reais. Nada de holografias. O Monitor da Epsilon Tauri disse que eles adoraram a excursão na viagem feita pela nave Pioneer 2012 até a magnetosfera de Galileu Gallilei. Cansaram é claro, pois os jogos de vídeo game espaciais na nave intergaláctica não eram lá estas coisas.

                    Estava embasbacado. Este era o futuro do escotismo? E olhe que sem esperar o Diretor Técnico entrou na conversa. Avisou que a partir do mês que vem a sede Escoteira estava de mudança. Compraram em Xangai um novo Site feito pelos chineses e montaram no espaço sideral um pequeno planeta que seria só do Grupo Escoteiro. Claro deram o nome de Avatar dos Anéis Azuis de Saturno o nome do grupo. O primeiro Grupo Escoteiro a montar no espaço uma sede Escoteira. Todos agora podem ir lá pelo sistema de Teletransporte do Computador CAN/DEN-88782343. É só ficar sócio. Qualquer cartão de crédito espacial resolve. Eles aceitam. Só não dividem e nem aceitam boletos de escoteiros. Porque não sei. Assim vocês podem quando quiserem ir ao grupo, mas as atividades ainda serão feitas aqui na terra por meio de holografias. Voces escolhem onde. Mas devem programar. Tivemos casos de mais de duzentas patrulhas escolherem o Pico da Neblina no mesmo dia. A empresa Faxtorum quase explodiu. Não deixem de enviar pedidos de autorizações em modelo Super Espaço ao Distrital Capitão Pikard. Ou ao seu Assistente o Chefe Doutor Spock. Se for difícil encontrá-los procurem o Capitão James T. Kirk que assumiu como Comissário Espacial internacional Escoteiro. O cara viaja para todo lado.

                    No próximo sábado continuou o Diretor Técnico, estarei ausente. Vou assistir a uma Reunião da OCBGDEF (os catorze bons gerais do escotismo do futuro) que agora estão liderando o movimento da UBEB (União Brasileira dos Escoteiros Brasileiros). Não tem mais outras organizações. Montaram um exército próprio de androides que usam o novo uniforme só para “caçar” os tais escoteiros tradicionais. Voces sabem que eles estão na clandestinidade. Vários Robôs escoteiros estão à procura deles. Irão ser deportados para Hidra, uma Lua de Plutão situada no Cinturão de Kuiper. Jogaram lá uma bomba Genesis e a lua virou planeta. Só tem florestas. Os tradicionais adoram árvores e riachos de águas límpidas. Dizem que são bons em pioneirias. Que atraso de vida meu Deus! E deu boas risadas. Estava estarrecido. Sai dali correndo. Pedi ao Doutor Emmett Brown que me levasse em seu DeLorean de volta ao passado. Não me sentia bem. Isto não pode acontecer ou será que vai acontecer? Melhor parar por aqui. Estou pensando em Baden Powell. Onde está pode ver o futuro? Se pode deve estar chamando todos seus oficiais de Mafeking. Uma nova guerra do Transvaal deverá ser iniciada. Ou eles acabam com a UBEB ou a UBEB acabariam com eles! Mas eles tinham experiências. Os jovens do passado e agora os do futuro dariam um ótimo apoio como estafetas. Estafetas? No escotismo moderno?

                  Agradeci ao Doutor Brown pela carona. Pensei até em pedir a ele que me levasse ao passado como ele foi com o jovem Marty MacFly ao Velho Oeste. Mas fazer o que lá? 1870 ainda não tinha escotismo. Eu não queria nunca me encontrar a mercê do famigerado bandido Biff Tannen e sua quadrilha. Ainda bem que não eram escoteiros. Melhor ficar por aqui. Que façam bom proveito do escotismo do futuro. Não estarei lá mesmo para criticar. Risos. Que a UBEB seja muito feliz!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Lendas Escoteiras. Martinha escoteira e o Rei da cidade de Galiza.



Lendas Escoteiras.
 Martinha escoteira e o Rei da cidade de Galiza.

               - Porque não posso passar? Perguntou Martinha. – Porque não. Ordens do Rei da Galiza. – Não conheço e nunca ouvi falar – Não importa aqui vocês não passam. Martinha olhou de soslaio aquele enorme homem vestido com uma túnica vermelha, um capacete azul e uma grande espada na cintura. Martinha era Submonitora da Patrulha Touro. Estavam acampados próximo ao arraial do Martelo que pertencia à cidade de Taumi. Ela e Laurinha estavam à cata de lenha para o jantar e um fogo noturno onde uma gostosa Conversa ao Pé do Fogo sempre acontecia à noite antes de dormir.

               Não estavam longe do campo de patrulha. Avistaram um descampado e foram surpreendidas por este homem vestindo a moda romana. Seria alguma prova da Chefe Marta? Mas qual o objetivo? - Mas moço, insistiu Martinha ali do outro lado tem muita lenha e precisamos. Ainda não terminamos o jantar e a noite tem conversa ao pé do fogo. O que direi a monitora? – O homem da túnica vermelha pensou e pensou. – Será que poderia deixar? E o Rei da Galiza o que diria depois? – Vá, mas só até aquela árvore. Se passar eu terei que levar você na presença do Rei. Martinha pensou e Laurinha riu. – Acha que este homem é real? – Não sei falou Martinha. Mas sabe, gostaria de conhecer este Rei da Galiza. – Você vai comigo? – E agora pensou Laurinha. Não estavam obedecendo às ordens do Chefe e da Monitora. Mas conhecer um Rei? – Vamos, seja o que Deus quiser. E atravessaram a cerca e passaram dos limites permitidos.

              O homem da túnica vermelha não titubeou. Pegou as duas pelo braço, soprou no horizonte e uma ponte com um lindo arco íris apareceu. Elas atravessaram a ponte com ele no meio das nuvens brancas e avistaram o Castelo do Rei da Galiza. Passaram pelo portão e quando entraram no castelo viram um magnífico salão de refeições, as mesas faiscando de ouro e prata, carregadas de finos manjares, as vestes suntuosas que envergavam o Rei e seus cortezões e os nobres e veneráveis semblantes de todos os presentes, ficaram cheias de espanto e admiração pelo esplendor da corte do Rei da Galiza. Nunca poderiam imaginar nem em sonhos mais arrojados que conheceriam a metade do esplendor e da sabedoria que estavam conhecendo.

          O Rei mandou que se aproximassem. Mandou-as sentar ao seu lado e servirem a elas todos os manjares – Quem são vocês? Perguntou. Senhor Rei da Galiza, somos escoteiras da Patrulha Touro. Do Grupo Escoteiro Lua Azul. – O rei olhou para todos e espantado perguntou: Escoteiras? E que fazem? – Nós Senhor Rei, gostamos de acampar, excursionar, viver a natureza, amar a Deus sobre todas as coisas,  fazemos boas ações, somos alegres, respeitamos os direitos dos outros, temos palavra, somos leais, somos amigos de todos e até dos animais. E também Senhor Rei da Galiza, temos por obrigação ser pura em nossos pensamentos, nossas palavras e nossas ações!

          O Rei da Galiza ficou estupefato. Chamou o Grão Vizir e disse a ele para anotar tudo. A partir daquele dia, todo seu reino seria como as escoteiras. Que suas palavras fossem levadas nas escolas, nas ruas, nos campos de trigo, nas casas e em todos habitantes do castelo. Levantou e abraçou as escoteiras com carinho. Depois do jantar mandou o Homem da Túnica vermelha as levarem até onde estavam acampadas. Já estava escurecendo. Atravessaram o Arco Iris cheio de luzes e o homem desapareceu. Martinha e Laurinha pensaram muito se contariam a Patrulha. Acharam melhor contar em forma de esquete a noite no fogo de conselho. Assim foi feito. As escoteiras riram muito. – De onde tiraram a ideia do Rei da Galiza? Perguntou a monitora. Martinha olhou para Laurinha e deram muitas risadas. Mas estavam alegres, pois agora o reino iria aprender muito da Lei das Escoteiras. Estavam orgulhosas por ajudarem.

         E sempre, por anos a fio, quando Martinha e Laurinha acampavam ali, encontravam o homem da Túnica Vermelha e iam visitar o Rei da Galiza. Ficaram amigos para sempre. Guardaram o segredo, pois o Rei assim o quis. E até hoje, ambas nunca deixaram de fazer uma visita naquele reino onde à palavra à ética e a honra se tornaram um modo de vida de seus habitantes!           

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Lendas Escoteiras - Laninho escoteiro e a Festa no Céu.



Lendas Escoteiras
Laninho escoteiro e a Festa no Céu.

                Nada como ser um Escoteiro sonhador. Deixar a mente voar e ser levada ao sabor dos ventos, sentir a brisa da manhã no rosto e sorrir existe coisa melhor? Participar de lindas histórias onde pode ser herói, onde pode voar conversar com os bichos as aves os peixes e sentir seu coração bater de alegria em todos os momentos? Pois assim era Laninho. Puro nos seus pensamentos nas suas palavras e nas suas ações. Na Patrulha o chamavam de “Voador”, estava sempre sorrindo e olhando o céu, os pássaros que voavam perto, os insetos e jurou que um dia fez amizade com um Quati cinzento. Quem duvidaria?

                 A tropa estava acampada no Sitio do Beija Flor. Um lindo local, uma cascata gostosa, muitas arvores frondosas, e bambus. Como tinha bambu. As Patrulhas adoravam. Laninho era dos Tigres Brancos. Um ano lá com eles. Promessado e tinha a simpatia de todo mundo. Ao seu modo colaborava com a Patrulha, mas era franzino e todos achavam que ele só vivia “Voando” e não contavam muito com ele. Naquela tarde após o banho todos foram ajudar o cozinheiro com a sopa do jantar. Laninho como sempre sentou embaixo de uma aroeira frondosa e olhava em seus galhos se tinha algum pássaro para conversar. Percebeu ao seu lado um Sapo Amarelo. Não o conhecia. O Sapo Amarelo o olhou e disse – Você pode me ajudar? – Ajudar como disse Laninho – simples, vai ter uma festa no céu. Convidaram todas as aves e eu não posso ir. Só quem pode voar. Como me disseram que você é um Escoteiro Voador, quem sabe me leva lá?

                  Laninho sorriu. Tinha lido um conto da Festa no Céu. Nele foi um urubu quem levou o sapo uma tartaruga e um esquilo que se esconderam em sua viola, pois o Urubu era um violeiro. Depois no céu ele os descobriu lá escondido em sua viola e jogou a todos nuvem abaixo. Quem levou a pior foi à tartaruga. Espatifou-se no chão. Mas Laninho ficou pensando se não podia levar o Sapo. Afinal ele sempre sonhou com uma festa no céu. Porque não ir? – Feche os olhos Senhor Sapo. Vamos para a festa você e eu! Só abra quando eu mandar. Mas o sapo não obedeceu. Abriu os olhos quando estavam sobre uma nuvem e ambos despencaram no espaço. Tiveram sorte. Caíram em um riacho de aguas límpidas. O sapo mergulhou e voltou à tona xingando Laninho. – Mas eu tentei te ajudar – falou. Nada disto. Você me soltou no espaço. Laninho chorou muito e o sapo ficou triste também. Nesta hora o Urubu Rei viu aquela choradeira e ficou com dó do sapo. – Deixa que eu levo você em minha viola.

                  Bem como o sapo foi não preciso contar. Todos conhecem a história da Festa no Céu. Laninho despencou de um galho e caiu com tudo no chão. Não machucou, mas quando abriu os olhos viu toda sua Patrulha rindo. – Ele também riu. Contou para eles que estava chegando ao céu e o sapo o jogou no espaço. Eles iam a uma festa no céu. – Todos riram a valer. - Esse Laninho, falou o Monitor. O Sub Monitor rindo falou – Mas Laninho, só você e o sapo? E a tartaruga? E o Esquilo? Eles não foram também? – Laninho riu e disse – Melhor perguntar a eles, estão atrás de vocês! – A Patrulha olhou espantada e viu um Esquilo e uma Tartaruga rolando pelo chão e dando enormes gargalhadas!

                 Se Laninho e os bichos foram com ele a festa no céu eu não sei, mas que até hoje ele conta como o Urubu tocava sua viola e crocitava, fazendo coro com a Araponga e o Papagaio. Não faltando a Gralha o Cisne, a Pomba e o sabiá que gorjeava como nunca. E assim nunca mais a Patrulha de Laninho duvidou de suas histórias e todos os fogos de Conselho deixavam-no falar, cantar e contar seus contos fantásticos. E como digo sempre, toda a história tem um fundo de verdade, mas histórias são histórias. Quem quiser mudar que conte outra. Que Laninho viveu feliz para sempre eu sabia, pois o Escoteiro é Alegre e sempre sorri nas dificuldades!      
                         

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Histórias de escoteiros. Noêmia, a feia.



Histórias de escoteiros.
Noêmia, a feia.

             Noêmia era feia. Muito feia. Sua mãe reclamou com Deus porque lhe dera uma filha tão feia. Afinal ela apesar dos seus trinta anos ainda era bonita e quando mais jovem considerada a mais linda da cidade. Mas Noêmia não. Olhar para ela era desagradável. Seu nariz amassado, sua boca com um corte desproporcional e seus olhos estrábicos davam asco para alguns e pena para outros. Nascera assim. A principio Nair sua mãe se revoltou, mas depois sentiu um amor por ela tão grande que achava ela a menina mais linda que conhecera. Entretanto quando fizera dois anos uma surpresa. Sua inteligência. Leu seu primeiro livro com dois anos. Aos três frequentava a biblioteca da cidade onde lia dez livros por mês. Se ficasse mais tempo lá leria outros tantos. Fazia contas como se fosse uma matemática cientista.

              Na escola não pode continuar. Ensinava para as professoras com cinco anos. Ninguém a queria na classe. Nair mal assinava o nome. Era diarista e nos fins de semana passava roupa para a vizinhança. Era assim que sobreviviam. Não entendia nada de crianças superdotadas e muito menos a quem procurar para ajudar. Aos seis Noêmia não tinha mais nada para ler. Achou no fundo do baú da biblioteca dois livros, um de Rudyard Kipling outro de um general chamado Baden Powell. Encantou-se com os lobinhos e com os escoteiros. Procurou tudo que falava nos escoteiros. Tudo gravado na mente. Tornou-se uma expert em escotismo.

              Um Dia viu passando umas meninas de uniforme. Foi atrás delas e descobriu onde era sua sede. Noêmia quase não andava na rua. Usava um boné em cima dos olhos tapando o rosto para evitar que a vissem. Sabia da expressão das pessoas quando olhava para ela. Ficou de longe observando as meninas. Viu logo que era uma tropa feminina. Sabia como era, pois escotismo para ela não era segredo. Todo o sábado lá ia Noêmia assistir as reuniões. Um sorriso torto brotava em seu rosto. Que vontade de participar! Mas como? Sabia que todos iriam olhar para ela apalermados e com medo. Se fossem acampar ninguém iria querer ficar com ela na barraca.

             Foi Marisa quem lhe dirigiu a palavra pela primeira vez. Marisa era monitora da Patrulha Onça pintada. – Olá! Porque não vem participar conosco? Precisamos de seis, pois estamos com cinco e as bases que serão aplicadas não dá para fazer com cinco! – Noêmia assustou. Levantou seu boné para que Marisa pudesse ver como ela era. Marisa nem aí. Pegou em sua mão e a levou até a Patrulha. Apresentou a todas. Noêmia não cabia de felicidade. Nas bases sabia tudo. Mais de trinta nós. A rosa dos ventos fazia com olhos fechados. Orientação era fichinha para ela. Leitura de mapas então! Toda a Patrulha ria a mais não poder. Um verdadeiro banho nas outras patrulhas.

             A Chefe Valquíria assustou com aquela menina feia. Feia mesmo. Mas como sabia de escotismo. - Onde aprendeu? -  Chefe, eu li nos livros da biblioteca. – Leu? – Sim Chefe. Foi então que a Chefe Valquíria viu que estava diante de uma superdotada. Após a reunião a levou em casa. Conversou com sua mãe. Disse que era diretora do Colégio Estadual. Podia conseguir uma escola própria para Noêmia. O que é o destino. Tudo mudou na vida de Noêmia. Uma recepção que nunca tinha pensado receber com os escoteiros.

             Noêmia aonde ia conquistava amigos. Os escoteiros do distrito tinham por ela um grande respeito. Um dia um escoteirinho chamado Noel lhe disse – Noêmia, você tem o coração mais lindo que já vi. Ele tem uma chama amarela que solta nuvens de amor. Noêmia chorou aquele dia. Incrível como o escotismo deu a Noêmia um novo sentido da vida. Ajudava a diretoria, ajudava aos chefes com sugestões de reuniões, com jogos, e olhe ninguém nunca reclamou. Noêmia cresceu. Já não era a menina feia que todos achavam. A cidade aprendeu a amar aquela jovem e hoje eu sei que ela se formou em direito e diz que vai ser juíza. Muito bem. Viva a Noêmia a feia que mostrou que o amor, o conhecimento e a vontade de ajudar é maior que tudo!