No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A dor sofrida de Tonico Tonelada.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
A dor sofrida de Tonico Tonelada.

                   Foi a pior reunião de Corte de Honra da sua vida. Lawrence pela primeira vez não sabia o que fazer. Tinha orgulho dos seus monitores e sempre achou que os treinou bem. Mostrou sempre o sentido da lealdade, da fraternidade e eles sempre levaram ao pé da letra seus ensinamentos. Era uma tropa exemplar. Nos acampamentos era difícil escolher a melhor patrulha, todas fora de série. Dona Lurdinha Diretora do Colégio Dom Pedro um dia disse a ele que se não fossem os Escoteiros ela nunca teria alcançado o padrão que o Colégio foi agraciado. Para melhorar a formação da tropa ele investiu muito em sí próprio. Cursos e mais cursos. Agora esperava a aprovação da Insígnia da Madeira mais uma etapa que lutou muito por ela, pois na Corte de Honra seus monitores cobraram.

                  - Chefe, disse o Monsanto, quer acabar com a tropa? O senhor sabe que admitir o Tonico Tonelada é acabar com tudo. Eu o conheço da escola, fico com pena, mas ele não tem amigos. Não pode correr, quase não consegue falar e andar. Quando tenta sorrir faz uma careta que dá medo. – Isto mesmo Chefe, disse o Logaritmo Monitor da Leão, se o senhor quiser tudo bem, ele pode ficar na minha patrulha, mas os demais patrulheiros não irão gostar. Garanto que muitos vão desistir. A patrulha não vai mais ganhar pontos em jogos, em acampamentos, em desafios e ninguém gosta de perder. Tonico Tonelada Chefe irá “enterrar” qualquer patrulha que entrar. – Chefe Lawrence não sabia o que dizer. Cada Monitor expos seu ponto der vista. Estava presente na Corte de Honra os sub. monitores. Disseram o mesmo. Ele tentou, não forçou, nunca fez isto. Para ele a Corte de Honra era sagrada. Sabia que quando começasse a ficar contra em tudo a democracia deixaria de existir na Tropa Escoteira.     

                   Dizem que os gordos não gostam. Odeiam ser gordos. Quantos e quantos meninos gordos estão aí querendo ser Escoteiros e tem vergonha de entrar? Sei que tem muitos que deram um passo e hoje participam ativamente. Ativamente? Bem esta é outra história. Seu nome era Laurindo Boaventura. Ninguém sabia seu nome, pois desde que conseguiu dar seus primeiros passos aos três anos puseram o apelido nele de Tonico Tonelada. Acho que foi o Chinfrim, seu tio. Um “bebum” para ninguém botar defeito. Bebia o dia inteiro. Que eu saiba nunca ficou sóbrio, mas coitado dele, morreu de cirrose com 28 anos. Tonico Tonelada nunca se preocupou com o apelido. Ele sabia que era gordo mesmo e até na escola seu pai fez uma cadeira especial para ele frequentar as aulas. Aos sete anos ele pesava mais de 130 quilos. Incrível como conseguia andar. Os pais de Tonico Tonelada tentaram tudo. Oito SPA, internações em clínicas especializadas, Conseguiu ficar um mês e meio no CCA (Comedores Compulsivos Anônimos), mas logo desistiu.

                      O Doutor Cazuza aconselhou – Olhem precisam procurar uma organização de jovens para motivá-lo. Sem isto ele não vive muito tempo. Tem de comer menos, se não perder pelo menos 40 quilos breve ele não anda mais. – Qual doutor? Perguntou dona Matilde sua mãe. – Não sei Jiu jitsu, Luta livre, boxe ou quem sabe o Sumô? – Assim o fizeram. Não ficou duas semanas em nenhum deles. Sem saber o que fazer uma vizinha disse – Porque não procura os Escoteiros? Sei que eles recebem bem todo mundo, quem sabe ele se anima e nas excursões e acampamentos ele emagrece. Meu sobrinho é um deles e diz que nos acampamento o Escoteiro cozinheiro é mestre de colocar açúcar na comida. Piada de mau gosto, mas mesmo assim eles levaram Tonico Tonelada ao Grupo.

                  Chefe Marcelio ouviu tudo o que os pais diziam. Eles contaram toda a vida de Tonico Tonelada, os médicos, os conselhos e agora sabiam que a vida dele estava por um fio. Tinha de emagrecer. – Senhor Natal, disse o Chefe Marcelio, sei que é uma situação difícil, mas veja nossa situação – Durante uma hora o Chefe Marcelio narrou como era às atividades escoteiras, as excursões, os acampamentos e no final perguntou – E então? Ele não vai aguentar? Quem sabe a emenda pode ficar pior que o soneto? Muitos irão sair porque sabem que ele vai ser sempre um perdedor. Chefe Marcelio não queria dizer isto e se arrependeu. Fez então uma promessa – Olhe, vou conversar com os chefes. Eles claro irão discutir com seus monitores e o que decidirem comunico ao senhor e a senhora.

                  Chefe Lawrence ouviu atentamente o Chefe Marcelio. Como era um bom homem não disse nem sim e nem não. Iria analisar e discutir com a tropa e os monitores. Assim foi feito. Agora que todos foram contra ele não sabia o que fazer. Na semana foi fazer uma entrega de sua loja na Rua do Ouvidor e ao descer da Van viu Tonico Tonelada atravessando a rua. Motoristas passando e xingando – Paspalho! Cuidado. Vai sujar meu carro de merda se eu passar em cima de você seu gordo dos invernos! Ficou com pena. Pensou consigo que ele devia ter seus direitos. Era um ser humano. Conversou com Toninha sua esposa. Ela aconselhou a ele estudar tudo sobre os gordos na internet e os que conseguiram vencer sua doença, pois ele sabia que era assim. Duas semanas, pelo menos uma hora por dia até que conseguiu o endereço de cinco deles. Foi até a casa de cada um.

                  Era o primeiro dia de reunião de Tonico Tonelada. A Tropa sabendo que ele queria entrar pediu para votarem. A votação foi de 15 a favor e 13 contra. Todos prometeram ajudar por seis meses e se ele não mostrasse resultados infelizmente seria dispensado. Para isto fizeram uma programação especial para ele não se sentir um pária. Dependia dele ser um Escoteiro ou não. Ele assinou um compromisso de honra. Fez a saudação escoteira e prometeu fazer tudo que os médicos aconselharam para perder peso. Quer ser Escoteiro? Se acha que quer tem de se esforçar. Disse Pintarroxa o Monitor da Falcão onde ele iria ficar.  Cada patrulha fazia questão de acompanhar. Na escola era olhado por seus amigos de classe e em casa recebia visitas uma vez por dia. Não foi fácil e ele sentia fome, sentia tremedeira e chorou muitas vezes. Mas no primeiro mês perdeu oito quilos. Em seis meses Tonico Tonelada passou dos seus 120 quilos para 85. Ainda era muito. Ele tinha de chegar nos 60 quilos. Difícil? Para Tonico Tonelada não. Quando ele conheceu os Escoteiros ele sabia que ali compromissos não eram para fugir. Escoteiros enfrentam desafios e não correm deles. Viu que tinham um código de honra e ele gostava disto. O Chefe Lawrence no primeiro dia disse a ele – Tonico é melhor ficar sabendo agora, qualquer um pode entrar como Escoteiro, mas ser Escoteiro não é para qualquer um!


                  A cidade aplaudiu, o colégio agradeceu e os Escoteiros do Brasil agora tinham em seu seio um verdadeiro jovem cujo Espírito Escoteiro era ponto de honra. Uma lei é para ser cumprida, uma promessa era para ser levada a sério. Tonico Tonelada conseguiu vencer. Ainda bem que os Escoteiros não fugiram na hora do apoio.  É meus jovens amigos, afinal não foi Baden-Powell quem disse que só os valentes entre os valentes se saúdam com a mão esquerda?  

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A Montanha do Pássaro Azul.



Lendas Escoteiras.
A Montanha do Pássaro Azul.

Uma vez, em viagem por uma cidade do interior, me contaram uma historia simples, divertida que aconteceu na vida dos seniores do Grupo Escoteiro local. Disseram-me que o ocorrido foi motivo de piadas e algumas “chacotas” por parte de amigos que ficaram sabendo do fato. Como era inusitado todos estranharam pela maneira como aconteceu. Afirmaram-me ser um fato real. Como eram escoteiros os que me contavam, acreditei. Nunca duvido, pois sei que o Escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua própria vida.

Aconteceu com a Tropa Sênior. Na época eram duas patrulhas, foram quatro há alguns anos atrás. A evasão foi provocada porque O Chefe Sênior ficou doente, afastado por alguns meses e o assistente não soube conduzir com maestria a tropa. Alguns desistiram. Outros continuaram. Eram aqueles que diziam que com chefe ou sem chefe a tropa anda. E andou mesmo.

O Chefe Sênior logo voltou às lides e tudo continuou como antes de sua saída. A patrulha Yawara tinha cinco seniores e a Anajé seis. Há muitos anos a Tropa Sênior Tiriyó tinha como tradição, manter limpa uma pequena capela na Serra da Piteira, mais conhecida por eles como a Montanha do Pássaro Azul. Porque este nome eles não sabiam.  Num determinado dia do mês de agosto, aniversário da santa que dava nome a capela, uma multidão de devotos e romeiros e diversos padres subiam até lá e rezavam varias missas.

Muitos dos devotos cumpriam promessa e estas muitas vezes levavam a pequenos acidentes. A presença dos seniores era considerada uma dádiva pelos padres. Mais tarde uma equipe do Corpo de Bombeiros colocou no local uma equipe para ajudar. Aguardavam com saudade esta data. Para eles foi e sempre seria uma grande atividade. Na quinta antes da partida, estavam todos na sede, preparando o material necessário. Sairiam à noite de sexta e voltariam no domingo. Sem barracas, pois dormiriam na própria capela. Pouca intendência e pouco material de sapa. Usariam a ração B, dois cafés, dois almoços e uma janta. Tudo acondicionado nas mochilas de cada um.

Gostavam da viagem. Encontravam-se na praça da estação, e pegavam o trem noturno das 19:30 horas. Uma delicia de passeio. Claro que de segunda classe. Poltronas de madeira, mas se divertiam muito. Passavam pela primeira cidade e após hora e meia ficavam na escada do trem para descer. O trem não parava. Uns 400 metros antes do túnel o trem diminuía a marcha, pois não podia passar por ele a mais de 20 ou 30 quilômetros por hora. Aproveitavam o embalo e desciam do trem em movimento. Eram peritos nisto. E como gostavam.

O maquinista velho conhecido sabia e colaborava. Não podia haver erro. Após o túnel era descida e a locomotiva chegava a alcançar 60 por hora. Ali, próximo ao túnel começava a subida. Primeiro atravessavam uma pequena mata de não mais que um quilometro e após esta uma subida muito íngreme que levava ao topo onde devagar iriam chegar à capela. Era mais uns cinco ou seis quilômetros.

Gostavam desde caminho por ser mais aventureiro e pela viagem de trem. Muito capim “gordura” e em lá no alto só samambaias. Os devotos e os padres iam de ônibus ou condução própria pela estrada e em determinado local ficavam estacionados. A subida a pé, não era mais que dois quilômetros. Após percorrem um bom trecho, o chefe deu ordens de parada e descansar por vinte minutos. Foi aí que aconteceu. Como não estava presente um dos participantes me contou. Era o meu narrador quem falava.

Ao sentar para descansar, um sênior colocou sua mochila em posição para servir de travesseiro, mas ela sumiu no meio do capim “gordura”, e isto o assustou. Não só ele como todos quando foi dado o alarme. Com facões começaram a capinar e descobriram um grande buraco que por ser noite não se tinha a ideia da distancia do fundo. Improvisou-se com um pequeno lampião a gás, amarrado a um sisal, e ele foi iluminando tudo. Era de estarrecer. Mais de 50 metros até o fundo. Claro, havia sempre uma pequena saliência a cada dez metros. Viram a mochila presa na segunda saliência.

Improvisaram com uma corda a descida de um sênior. Mas esta não dava para ir até a segunda saliência. O jeito foi descer mais dois seniores e amarraram na ponta da corda um sisal para puxar depois. Chegaram até a mochila e ficaram boquiabertos. Varias entradas de minas, pequenas cavernas, com trilhos e carroças de madeira, mas em estado de deterioração avançada. Avisaram o chefe. Todos quiseram descer. Ele preparou um sisal duplo, passado em volta de uma pequena arvore para puxar a corda quando retornarem. Todos desceram. Levaram um rolo de sisal para eventualidades.

Iniciaram a exploração da mina. O sisal serviria para mostrar o caminho de volta. Não iriam muito longe. Pequenas estalactites já estavam sendo formadas. Nada descobriram e o chefe explicou que por ser uma região aurífera no passado, devia ter sido explorada ainda na época dos escravos, abandonada por que não existia mais ouro. Eis que um sênior viu uma pequena pepita encravada na lateral do túnel. Escavaram com o facão e descobriram mais cinco. Alegria geral. Os seniores estavam ficando ricos. Mais oito pepitas e nada mais encontraram. Voltaram. O chefe guardou as pepitas. Iria avaliar com alguém que conhecesse ouro. Estava determinado que uma parte fosse usada para a reforma da sede e um material novo de intendência para as patrulhas. Seniores e Escoteiras.

Saíram do buraco e foram para o seu destino. Tudo transcorreu normalmente. Fizeram uma grande limpeza na capela. Deu trabalho. A água era retirada de uma pequena mina 500 metros abaixo. Melhoraram também a mina de água. Estava entupida de mato. No domingo começaram a chegar os romeiros. Cantando, alegres e os padres os avistaram. Comprimentos e agradecimentos. O dia seguiu tranquilo. À tardinha, quando não havia mais ninguém começaram a descida. Voltaram pelo caminho que levava a estrada. Mais curto. Lá pegaram um ônibus de carreira.

Na viagem do retorno sonhavam como era ser ricos, passeios, roupas novas e dar uma vida melhor aos pais. O sonho não demorou muito. A chegada à cidade foi rápida. No dia seguinte dois seniores e o chefe foram até um ourives. Ele riu e disse que as pepitas não tinha valor. Por que, perguntaram. São chamadas de “ouro de tolos”, colocadas em paredes de minas por exploradores profissionais, que nada descobrindo deixam suas pistas para os inexperientes.


É a reforma da sede ficou para outra ocasião. Mas valeu para aqueles seniores aquela e muitas outras atividades que marcaram a vida de todos.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A lenda dos milagres de Aimée uma escoteira da patrulha Leão.



Lendas escoteiras.
A lenda dos milagres de Aimée uma escoteira da patrulha Leão.

       Não conheci a escoteira Aimée. Se não tivesse participado do desfile do Sete de Setembro naquele ano a história dela nunca seria conhecida por grande parte do movimento escoteiro. Sei que muitos sabiam, mas tudo era contado à boca pequena sem chances de até mesmo o Arcebispo Joshua pensar que um dia ela poderia ser canonizada. Ele ficou impressionado com o relato do vigário Honório. - Verdade mesmo Honório? – Eminência, são mais de vinte meninos e meninas que assistiram tudo no acampamento que fizeram Na Lagoa do Adeus. Ela pegava peixes com a mão, curou doentes, acendeu um fogo sem fósforos ou isqueiro em segundos. E não foram só estes foram vários! – E adultos tinha algum? Perguntou o Arcebispo. – Não eminência, só uma vez Dona Filó e o Chefe Gafanhoto assistiram um milagre dela. Foi o mais simples. - Eles viram-na se elevar no ar e beijar um periquito no ninho de uma árvore há mais de oito metros de altura!

      Sei que o Vigário Honório ficou mais de cinco horas a narrar para sua Eminência o Arcebispo Joshua tudo o que viu e tudo que lhe contaram. Saiu do Palácio Episcopal mais de meia noite. Deixou o Arcebispo com a pulga atrás da orelha. Ele já tinha lido e conversado com muitos sobre o tema mediunidade. Quem sabe esta escoteira não era assim? Mas se elevar no ar? Isto não é mediunidade. Mais parecia que era sensitiva. Ver os mortos, visualizar o futuro e ter visões extraordinárias. Agora se elevar no ar? Isto não saia da mente do Arcebispo. No dia seguinte ligou para o vigário. Pediu a ele se podia trazer a escoteira até o palácio. Ele queria conhecê-la. Dona Fabíola mãe de Aimée não se opôs. Partiram em uma manhã de sábado. Daria prazo para ela participar da reunião escoteira da tarde, pois isto era condição sine qua non para ela ir. O Arcebispo ficou maravilhado e abobalhado. Ela na sua presença conversa como gente grande. Inteligentíssima. Conversou com ele em inglês, francês e italiano e ate abusou do latim. 

      Mas vamos voltar ao início se não vocês não vão conhecer Aimée e sua história. Monossílabo era sênior da Antares, uma patrulha sênior. Cansado de uma manhã do desfile sentei no banco da praça e ele sentou ao meu lado. – Sabe Chefe, se Aimée a escoteira tivesse vindo este desfile seria inesquecível. – Fiquei encucado. – Quem é a escoteira Aimée? – Chefe! O senhor ainda não ouviu falar dela? – Claro que não Monossílabo, se não eu não teria perguntado. – Bem Chefe, ela está conosco há dois anos. Quando chegou à sede ninguém deu nada por ela. Mas no primeiro dia de reunião Loquinho o Monitor da Águia ficou boquiaberto com ela. Em uma base de nós, com os olhos fechados ele fez mais de vinte nós escoteiros e de marinheiro. Ninguém acreditava no que via. Precisava ver no acampamento. Cortava um galho em segundos. Parecia que o facão era mágico.

     Monossílabo ficou me contando por horas. A princípio não acreditei nele. Havia muito floreio em tudo. Mas me lembrei de um fato ocorrido há alguns anos e só não lembrava se ela havia participado. Ela e sua mãe chegaram correndo a delegacia, mais de duas da manhã dizendo que um acidente grave aconteceu na estrada 45. Na curva da onça um ônibus despencou por sobre a ponte. Mais de vinte mortos. Pinduca o Sargento da guarda não acreditou. Foi preciso chamar o prefeito que relutante em acordar acompanhou todos até a ponte fatídica. Gemidos, gritos de socorro e o trabalho de ajuda começou. Um menino de três anos ensanguentado foi colocado por sobre uma manta e o enfermeiro disse que estava morto. Não estava, pois Aimée deu a mão a ele e ele se levantou. Dizem que lá ela deu vida a mais oito pessoas. As demais não, pois conforme disse era desígnio de Deus. Teria que ser assim.

      Aimée não era linda, nada disto. Tinha o rosto fino, nariz comprido, uma boca pequena e cabelos crespos que ela insistia em não pentear. Ficava diferente e ela gostava. Falava fanhoso no início e não se sabe como um dia falou com uma rainha. Na patrulha era bem quista e ninguém via nela alguém diferente. Nas atividades que o Chefe Gafanhoto e a Chefe Malena faziam na maioria das vezes a patrulha dela não se evidenciava. Só uns meses atrás que tudo mudou. Ela parava durante alguma corrida dizendo estar vendo pessoas mortas. Garantiu ao Chefe Gafanhoto durante uma cerimonia de bandeira que o Chefe Tonon estava presente. Chefe Tonon foi o fundador do grupo a mais de setenta anos. Morrera há quinze anos. Aimée começou a ser procurada por doentes, cadeirantes e a cidade começou a ter turistas de todos os lugares por causa dela. Quando ia para o Grupo Escoteiro a sede ficava superlotada de pessoas querendo falar com ela ou ser abençoadas.

      O vigário Honório correu a falar com o Arcebispo. Esqueceu-se de Don Antonio um Velho morador da cidade e Presidente do Centro Espirita Boa Vontade. Ele ria quieto em seu canto. Sabia que Aimée era um espírito superior e que os terrenos nunca podia imaginar quem ela fora no passado. Ele sabia que ela iria desencarnar aos quinze anos. Morte natural. Falar isto para o padre? Nem pensar. Comentou superficialmente com o Chefe Gafanhoto. Um bom Chefe. Era evangélico e ficou incrédulo com tudo aquilo, mas o que vira em Aimée até que poderia ser verdade. Cinco meses depois chegou à cidade monsenhor Giuseph a mando da cúria papal. Era para averiguar e comprovar os milagres de Aimée. Não ficou dois dias. Quando conheceu Aimée ela disse para ele – Senhor Monsenhor, daqui a dois anos o Papa Lozano III vai falecer e o senhor será eleito o novo papa!

      Ninguém soube do fato e eu mesmo não sabia como Monossílabo sabia. Bem o final da história é que a Cúria Romana até hoje discute se Aimée era possuidora de receber o título de santa. Mesmo após sua morte ocorrida na aventura Sênior distrital que a tropa participou na Serra dos Órgãos eles continuaram investigando. Ainda investigam. Quem sabe teremos a primeira santa escoteira? Vai ser o máximo. O escotismo terá dado um enorme salto para o sucesso de marketing. Procurei saber como foi à morte de Aimée. Sua Patrulha jura de pé junto que ela se despediu de um por um e disse para não se preocuparem. Sua mãe já sabia que era hora dela ir. Ninguém acreditou quando uma forte luz a levou. Seu corpo sumiu e até hoje não foi encontrado. A policia fez de tudo para ver se não havia outra história, mas teve que se contentar com a fantástica explicação dos seniores que estavam com ela. O delegado já saiba de seus poderes sobrenaturais e deu o caso como encerrado.


       Monossílabo me jurou que nas noites de acampamento, quando os seniores se reúnem em volta de um fogo para jogar conversa fora ela aparece e fica com eles por horas contando como são os escoteiros que moram no céu. Don Antonio o espírita tem boas relações com dona Fabiola mãe de Aimée. Conversam muito. A cidade não sabe o que conversam. Se Aimée é mesmo um espírito cheio de luz eu não sei. Se isto é coisa do diabo eu também não sei. Dizem que Deus sabe o que faz e como eu acredito nele a história de Aimée para mim é verdadeira. Afinal temos ou não uma só palavra?

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Era uma vez... Um menino que aprendeu a sorrir.



Lendas escoteiras.
Era uma vez... Um menino que aprendeu a sorrir.

Era uma vez... Um menino que sonhava. Sonhava com o sol com a lua, sonhava com o verde da mata, das águas dos córregos e que corriam serenas para o mar. Não era um menino rico, não era não. Era um menino simples, pobre mas que tinha a felicidade em seu coração. Ele sabia que não existia dinheiro no mundo que pudesse substituir a alegria que tomava conta de toda sua vida. Na escola um exemplo, de olho na professora, aprender era tudo para ele. Nunca foi inteligente, mas era um esforçado. Tinha um sonho, ter uma bela casa e dar a sua mãe tudo que ela quisesse. Dizia sempre a ela que era feliz e ela devia ser também. Mas não, sua mãe era triste, quase não falava, o dia inteiro lavando roupas nas pedras do Rio Mimoso.

Era uma vez... Isto mesmo. Sempre começo assim quando me lembro deste menino. Em sua casa humilde queria sorrir e não podia. Queria mostrar a sua mãe que ali morava a felicidade mas ela não sentia.  As noites quando ia dormir ouvia soluços no quarto da sua mãe. Enquanto seu coração enchia de felicidade a tristeza estava marcada na mente da sua mãe querida. Por quê? Perguntava. Ela não respondia. Um dia ao chegar da escola a encontrou caída na cozinha. Gritou para os vizinhos ajudarem. Não adiantou mais. Sua mãe estava morta. Disseram que ela tinha uma doença grave a muitos e muitos anos. Pela primeira vez a felicidade que tinha foi substituída por uma tristeza enorme. Nunca chorou e agora chorava. – Porque mamãezinha nunca me contou?

Era uma vez... Um menino que cheio de felicidade agora vivia com uma profunda tristeza. Pensou que havia perdido a alegria de viver para sempre. Agora uma magoa profunda tinha invadido seu humilde coração de menino infeliz. Sua mãe disseram foi viver com Jesus lá no céu. – E porque não me levou? Porque me deixou aqui nesta casa onde ninguém me ama? Pobre menino. Viver com outros meninos ele não reclamava. Havia muitos bons mas havia os maus. Batiam-lhe, faziam coisas para machucar e doer. Pensou em fugir e fugir para onde? Não conhecia ninguém. Dormiu chorando e sonhou com sua mãe no céu. Ela lhe dizia para não desistir. Seria por pouco tempo e eles se encontrariam novamente.

Era uma vez... Naquela tarde cinco meninos mais velhos que ele lhe bateram tanto que ele foi parar no hospital. Ficou lá muitos dias e uma senhora morena, simpática, com um lindo sorriso nos lábios cantou para ele uma canção. A Arvore da Montanha. Amou tudo que ela cantou. Ela vestia um uniforme lindo e disse que era escoteira. Ele não sabia o que era isto e perguntou. Ela lhe contou lindas histórias dos Escoteiros e ele de novo passou a sonhar que poderia ter a felicidade que havia perdido se pudesse ser um menino Escoteiro. Falou com ela e ela parou de sorrir. Não sabia o que dizer. Um mês depois, ao sair do hospital o Monitor da casa onde morava com os outros meninos veio lhe buscar. Carrancudo, olhos felinos fixos no menino triste o pegou pelo braço quase lhe arrastando até a perua da casa de correção.

Era uma vez... A tristeza de novo tomou conta do menino triste que um dia teve a felicidade no seu coração. Uma tarde, não uma tarde sombria mas ele sabia que era véspera de natal pois as flores tomavam conta das arvores e dos jardins. De olhos fixos na janela ele chorava mesmo assim. Perdeu tudo, perdeu sua alegria, perdeu seu sorriso e seu coração agora era lugar da tristeza e de infelicidade. Pela manhã um Monitor do educandário havia lhe machucado com uma vassourada nas costas. Sabia que não podia reclamar. Se fizesse isto apanhava muito mais. A porta da grande salão abriu e a mulher escoteira apareceu a sua frente. – Meu menino, você vai comigo, consegui adotar você.

Era uma vez... Uma patrulha que cantava o rataplã. Não sei se eram os touros, se eram os tigres ou os águias. Mas sei que o menino triste sorria. Ele agora era um patrulheiro. Pensou na sua mãe no céu e sentiu que ela sorria para ele. Ao atravessar a ponte do amor eterno onde iriam acampar, o menino sentia seu coração bater forte. Sabia que agora era feliz. Sabia que tudo que quis encontrou junto aos amigos de sua patrulha. Sentiu as pernas bambas. Sentiu uma dor enorme no coração. Caiu de leve na grama da trilha que os conduzia ao campo sagrado do acampamento. Viu uma luz azul imensa se aproximando dele. Era sua mãe que vinha buscá-lo.

Era uma vez... O menino que encontrou novamente a felicidade e mesmo assim estava triste. Alegre por estar caminhando ao lado de sua mãe entre as nuvens que o levaria para a cidade do amor junto a Jesus. Triste porque teve de deixar sua patrulha que não entendeu o porquê ele havia morrido assim sorrindo na trilha do campo sagrado do acampamento. Nascer, viver, morrer nascer de novo. Ninguém entendia. Os destinos de cada um de nós a Deus pertence. Os Escoteiros olharam para o céu e o viu dando seu Sempre Alerta sorrindo e sentado em uma nuvem branca cujo vento leve o levava para o alto.

Era uma vez... Um menino que tinha a felicidade no coração. Um menino que ficou triste. Um menino que sofreu nas mãos de outros meninos e adultos, um menino que encontrou uma escoteira mãe que foi um anjo para ele, um menino que passou a sorrir junto com seus amigos de patrulha, um menino que encontrou novamente a mãe que amava e agora tinha aprendido a sorrir. Ah! Escotismo. Fazer a felicidade dos outros você sabe como fazer. E assim termina a história do menino, que de tudo foi Escoteiro na mente e no coração!   

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Joe Colosso, um papai coruja. “Este é meu garoto”!



Lendas Escoteiras.
Joe Colosso, um papai coruja.
“Este é meu garoto”!

          Dona Naná quando o viu cochichou para Dona Sinhá – Ele veio! Se soubesse não tinha vindo. Sempre foi assim, em qualquer reunião de pais no Colégio dom Bosco Joe Colosso estava lá. Até que podia se entender, pois sua esposa faleceu há anos e ele como pai tinha que estar presente. O que ninguém gostava era da sua superproteção do Quinzinho seu filho. Ele achava que a escola devia tudo a ele e ele não devia nada para ela. Não adiantou as dezenas de vezes que Dona Dora a Diretora o chamara em particular – Seu Joe, o Quinzinho não obedece mais ninguém. Diz que se entendam com “seu Pai”. Ele veio aqui para aprender e com sete anos já quer dar ordens a todo mundo! – Mas e daí? Joe Colosso fingia que concordava e sempre no final dava razão ao seu filho. Afinal desde que Soninha sua mãe faleceu que ele sempre foi um pai protetor. Sabia que o menino não tinha mais ninguém.

           Um dia Quinzinho “ordenou” ao seu pai: - Pai me leve nos Escoteiros. Eu gostei da farda deles. Era sempre assim, quinzinho não pedia, ordenava. No sábado eis que Joe Colosso e Quinzinho adentram ao grupo. Ele de uniforme de lobinho com distintivos e seu pai colocou dez estrelas de atividade em sua camisa – Isto é para mostrar a eles que você é o melhor! – Chefe Mattos olhou e não criticou – Seu Joe, ele disse – O Senhor tem de fazer um pequeno curso e então seu filho poderá começar. Foi à conta – Quinzinho começou um berreiro que assustou todo mundo na sede. Seu pai custou para acalmá-lo. Em casa sentou seu filho no colo e disse a ele que aguardasse, aqueles Escoteiros iriam receber uma lição oportunamente. Mesmo assim Quinzinho ficou emburrado por uma semana. Descontou suas contrariedades em Dona Nice sua professora.

            Na data prevista correu para o Grupo Escoteiro. O Chefe já havia avisado para não ir de uniforme, mas ele iria mostrar ao Chefe quem mandava ali. Chegou todo posudo e voltou para a casa em seguida. Sem uniforme disse o Chefe. Pisou com força no chão, gritou, pegou manha, mas o Chefe foi irredutível. Voltou no sábado seguinte sem ele. Não tinha jeito. Explicaram que tinha provas a fazer para a promessa e vestir o uniforme. Reclamou com seu pai que reclamou com o Chefe que levou o caso de Quinzinho ao Conselho de Chefes do Grupo. Chegaram a uma conclusão que ele podia mudar. A Akelá ficou cismada. Na matilha Verde o Primo não aguentava mais. Ele gritava que ia ser o primo, pois tinha mais qualidades. Terrível o Quinzinho. No primeiro acantonamento Joe Colosso pediu para ir. - É o primeiro do meu filho disse. E se ele quiser um biscoito? Um chocolate? E se sentir frio? E se quiser rezar? – Mas ele reza? Perguntou a Akelá Candinha. Todos em volta riram. Joe Colosso não gostou.

          Foram de manhã e a tarde Joe Colosso chegou de carro. - Só passando, só passando! Já estou de volta! – Ficou lá mais de cinco horas. Sempre ao lado do filho perguntando se ele queria alguma coisa. Interessante que Quinzinho se enturmou e esqueceu o pai. Claro até a hora de dormir, pois não queria fazer sua cama. Sempre foi seu pai quem fez. Quinzinho voltou feliz do acampamento e disse ao seu pai que aprendeu a ser homem. Joe Colosso riu. Homem? – Você é um pirralho meu filho. Cresça e apareça. – Disse aquilo e se arrependeu. Foi ciúme dos chefes da Alcateia que fez com que eles o esquecessem. Mesmo assim ao dormir disse para si – “Este é o meu garoto”!

         Joe Colosso já estava enchendo a paciência de todos no grupo. Ninguém aguentava quando ele chegava. Era meu filho prá cá, meu filho prá lá e falando mil maravilhas. Chegou a dizer ao Chefe Mattos que estava na hora de darem uma medalha ao seu filho. O Chefe Mattos um homem calmo e ponderado teve uma ideia. Quem sabe se ele ficasse cinco dias acampados com os Escoteiros ele não pudesse ver que os meninos aprendem a fazer fazendo, aprendem a se virar, aprender a não ser dependentes e este e um dos objetivos do escotismo? Afinal um dia não saimos de nossa casa, não vamos viver sozinhos, não vamos ter de tomar decisões? – Falou com o Chefe Naldo. Naldo se assustou - Tás brincando Chefe! Não teve jeito. Foi difícil convencer Joe Colosso. Onde deixar seu filho? Alguém pensou que cinco dias na casa de correção de menores até que seria bom. Pagou uma fábula a Dona Inês sua tia para ficar com ele.

        Olhe, foi a maior lição que Joe Colosso teve na vida. Assustou com os meninos viverem em patrulha, a dormirem sós em barracas, a cozinharem eles mesmos. Aquelas construções maravilhosas, e o tal fogo do conselho? Só de meninos eles mesmos se dirigindo e o Chefe Naldo os deixando fazer fazendo. Que lição aprendeu. Quando um Monitor se apresentava ele pensava na vez de Quinzinho quando fosse eleito. Assimilou o Sistema de Patrulhas no seu todo. Acreditou mais ainda no escotismo e nos resultados que trariam para seu filho. Explicar a ele? Não. Ele deveria aprender por si só. Joe Colosso mudou. E para melhor. Quinzinho se revoltou com aquela mudança. – Pai vou sair dos Escoteiros – Vai não disse – Vais ficar lá até poder assumir sua própria vida! – Mas pai, lá eu sou mandado e não mando nada – Filho, ele disse, tens de aprender a ser mandado para depois mandar. Só é um verdadeiro líder aquele que liderada e sabe ser liderado. Mandar qualquer um manda, obedecer é mais difícil.

       Hoje eu sei que Quinzinho se transformou em um verdadeiro homem. Graças ao escotismo e a um programa bem feito. Ainda bem que Quinzinho teve sorte em entrar em um grupo bem estruturado. Um grupo que se orgulha por ser democrático. Onde todos são consultados. Onde no Conselho de Chefes todos tem voz e voto. Onde existe uma bela de uma Corte de Honra e onde seus monitores fazem de uma patrulha seu aprendizado pessoal junto ao Chefe da tropa. Quando visito o grupo sinto-me orgulhoso em ver quinzinho com seu Lis de Ouro. E melhor, ver que seu pai Joe Colosso agora é um Insígnia da Madeira sem pretensão de cargos maiores. Sua luta é na tropa pensando sempre nos meninos como um todo. Seu filho? Faz parte, mas no grupo é igual aos demais. Em casa ele aprendeu a exigir, a solicitar suas notas, a cobrar sua educação e respeito com as professoras. Sei que um dia no colégio Dona Naná quando o viu cochichou para Dona Sinhá – Ele veio! Maravilha amigo. Adoro a presença dele aqui.


É quem te viu e quem te vê!        

terça-feira, 10 de setembro de 2013

A difícil decisão do Escoteiro Andrezinho.



Leia vale a pena. Um conto de um grande Escoteiro e um dos maiores jogadores de futebol! Não acreditam? Risos.

Lendas escoteiras.
A difícil decisão do Escoteiro Andrezinho.

                  Não o conheci pessoalmente e olhe daria tudo para ter conhecido. Tornou-se uma lenda não só pelo seu passado Escoteiro como pela escolha que um dia teve de fazer. Contaram-me que ele morava na Rua Santo Antonio bem lá no fim da rua. Família simples, pai carroceiro trabalhava de sol a sol levando areia do Rio Mimoso para as construções na cidade. Sua mãe fazia faxina em casas de madame todos os dias. Ele chegava da escola e só à noite eles chegavam. Sei que eram uma família unida. Um amor enorme entre eles. Andrezinho nunca exigiu nada. Chorava calado quando precisava de alguma coisa e sabia que não poderiam comprar. Ainda bem que Andrezinho tinha um grande amor em sua vida. Ou melhor, dois. Os Escoteiros. Amava sua patrulha. Quando lobinho seu problema maior não apareceu. Idade pequena, poucos observadores e ele passou incólumes os três anos que ficou lá. Tudo complicou quando passou para os Escoteiros.

                  Andrezinho era considerado como uns dos fundadores do Grupo Escoteiro. Entrou como lobo quando a Alcateia Flor Vermelha estava iniciando. Com o tempo foi amando mais e mais aquela turma que ele considerava irmãos. Mas nem tudo é como a gente quer. Claro, Andrezinho era um grande Escoteiro, mas também era um grande jogador de futebol. Era considerado o canhotinha de ouro e onde colocava o olho ele colocava uma bola. Seu Trancoso técnico do Clube Jardim de Alá foi quem notou que ali estava surgindo um dos maiores mitos do futebol. Quem sabe superior a Pelé. Quando ele olhava Andrezinho jogando seus olhos saltavam e ele via não só um grande jogador, mas também o seu benfeitor. Iria ganhar rios de dinheiro com ele. A principio era muito novo e ele deixou o tempo passar. Belizário o técnico dos meninos se encantava com Andrezinho. Seu pupilo quando jogava ai do time contrário. Não perdiam, ou melhor, eram considerado o melhor time infantil da região.

                   Ele não gostava de perder as reuniões escoteiras. Disse para seu Belizário. Este não gostou. Tentou demovê-lo e não adiantou. Pensou em colocar ele na parede e dizer – Ou os Escoteiros ou o futebol, mas achou que não estava na hora. Procurou o pai e a mãe de Andrezinho. – Explicou tim tim por tim tim e a resposta deles foi à mesma quando esteve lá na última vez – Seu Belizário, a escolha é dele. – Mas veja – Belizário dizia – Ele tem tudo para ganhar um bom dinheiro. Vocês iriam para a capital e quem sabe um time do exterior iria contratá-lo? – Nem assim. – Quem decide é ele repetiu o pai de Andrezinho. Soube que quando Andrezinho ficava sabendo das investidas do seu Belizário ele ficava triste. Tinha noites que chorava em seu quarto porque sempre sonhou em ser alguém e dar aos pais o que eles mereciam.

                  Procurou o Chefe Lanfon. – Chefe o que eu devo fazer? – O Chefe olhava para ele e não sabia o que dizer. De um lado um futuro enorme e financeiramente o sonho de todo jovem do outro lado um escotismo puro, sincero, amigo, honrado e cheio de aventuras, mas que dariam a ele uma formação de vida de alguém que pudesse confiar. Claro ele poderia estudar, arrumar um bom emprego e ser alguém de outra forma. Mas dizer isto para Andrezinho? Afinal ele não amava a seu modo o futebol? Resolveu procurar o seu Belizário para trocarem ideias. Quem sabe não chegariam a um meio termo? Nem tanto mar nem tanto terra. Mas arrependeu-se. Seu Belizário não era um homem compreensivo. Só enxergava seus problemas seus sonhos e o dos outros que se dane. Chegou a declarar na cara do Chefe Lanfon que Andrezinho era seus ovos de ouro. Ele não iria repartir nunca com ninguém.

                 Para piorar as coisas seu Belizário começou a fazer treinos sábados a tarde. Eram realizados sempre as terças e quintas e domingos os jogos. Seu Belizário ficava possesso quando ele não ia a um jogo aos domingos. Não era sempre, mas Andrezinho não perdia um acampamento, uma excursão ou uma atividade aventureira. Isto não ele dizia. Seu Belizário ameaçou cortá-lo do time. Andrezinho abaixou a cabeça e falando baixinho quase chorando disse – Escotismo é minha vida. Nunca vou deixá-lo. Mas as flores que brotam na primavera não escondem o medo que elas tem do outono. Claro que a ameaça do seu Belizário nunca cumpriu, mas o time sem Andrezinho ficou em quarto lugar na tabela. O povo gritava o nome dele e ele não aparecia. Estaca acampando. Um a um, dois a um e cinco a um. Foi à gota. Perder de cinco para o Odeon da cidade de Pedra Branca era duro de engolir.

                 Uma comissão da diretoria do clube foi à casa do seu pai. Outra vez a mesma resposta. Ameaçaram de não comprar nada dele dali em diante se ele não obrigasse o filho a cumprir suas responsabilidades no time. E agora? Como explicar para Andrezinho? O Chefe Lanfon não sabia o que fazer e dizer. Ninguém sabia. Quem devia decidir era Andrezinho e pronto. Mas uma responsabilidade desta para um menino de treze anos? – No jogo da semana seguinte na cidade de Pedra Branca era uma festa só. O povo gritando – cinco a um, cinco a um! O time da cidade de Mimoso quando chegou foi vaiado. O povo quer sangue pensou o técnico e o Presidente do clube. - Andrezinho veio? Não! – Maldito moleque. Escoteiro sem honra. Sabia que precisava defender sua cidade. Inicio do jogo os dois times entram em campo. Andrezinho chega correndo espavorido. O Chefe Lanfon o levou no seu Velho Jipe willys até Pedra Branca. Estavam acampados a cem quilômetros dali. O jogo terminou em sete a três para Mimoso. Carregaram Andrezinho por todo o campo. Ele havia marcado seis gols do sete.

                   Quer saber? Nem sei o que aconteceu daí para frente. Lembrei-me de Andrezinho, pois soube que o Cruzeiro Esporte Clube, meu time do coração tinha contrato a maior revelação de todos os tempos. No primeiro jogo contra o Corinthians ele fez cinco gols. (risos). Mas sabe como é o time querendo fazer caixa o vendeu para o Roma da Itália. Precisavam ver a mansão que mora. Seus pais estão junto com eles e quando vi as fotos assustei – No patio gramado da mansão uma Tropa Escoteira formada para a bandeira. Grande Andrezinho. Seu amor ao escotismo não foi perdido. Li na página de esportes do jornal o Corriere dela Sera que os Escoteiros Italianos o idolatram. Estava escrito também que ele sempre que possível ia acampar com os Escoteiros de lá. E você já ouviu falar no maior jogador de todos os tempos, um Escoteiro que marcou para sempre a cidade de Mimoso e hoje mora em uma mansão em Roma? É Andrezinho soube escolher bem. Em suas andanças nas folgas não esquece nunca sua cidade. O Grupo Escoteiro Redenção tem tudo que um grupo precisa. E quando ele aparece é festa na certa!


Sempre Alerta Andrezinho. Que os sonhos que teve e se realizaram façam de você um dos maiores Escoteiros de todos os tempos!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.



Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Em meus sonhos volto sempre a Gilwell.

               Dizem que passado é passado. Ficou para a história. É página virada no livro da vida. Uma utopia que como o vento vem e vai. Pode ser em Xangri-la, pois só lá os sonhos se realizam. Quem sabe. Cada um tem uma maneira de pensar. Tem aqueles que analisam tudo friamente, outros intelectualmente e eu com o coração. Não sei escrever sem por um pouco de fantasias e ilusões e crendices em minhas palavras. Ouve uma época, não sei se foi antes ou depois de Cristo – Risos desculpem. Mas houve uma época em que se esperava tudo de um Escotista portador da Insígnia de Madeira. Qualidades técnicas, conhecimentos, experiência, e o melhor de tudo, o exemplo. Você não ia ver um Escotista com Insígnia se portando de maneira inadequada. Nunca. Ele sempre tinha um porte altivo sem ser antipático e que alguns que não o conheciam se sentiam constrangidos. Eu o via como destemido, ou melhor, um catedrático em escotismo. Afinal ele já era um docente no escotismo. Tinha que se portar como tal. Esquecer o abraço? O sorriso? O primeiro Sempre Alerta firme para mostrar que estava mais alerta que os demais? Sim, eram assim os Insígnias que eu conhecia no passado. Sei que havia outros, mas não é destes que gostaria de falar. Eles não foram exemplos de que nós escoteiros esperávamos. Insígnia ou não somos irmãos e amigos dos demais.

              Davam gosto ver seu porte, seu olhar, alguns se sentindo escotistas de Giwell, outros se sentindo mais próximo da perfeição que nunca terminava, pois sabiam que um dia uma volta a Giwell ia acontecer. “Volta a Giwell terra boa, um curso assim que eu possa eu vou tomar”. Ele ou ela sabiam que seus conhecimentos precisavam de mais. De mais e mais. Ele ou ela sabiam que suas sessões agora seriam exemplo, mais olhadas, mais vistas e mais cobradas. Sabiam que seus uniformes deviam ser impecáveis. Nada de invenções. Quando você via um ou uma, com seu porte altivo, seu lenço bem dobrado, seu anel bem colocado, colarinho abotoado, uniforme bem passado, seu cinto brilhando, o orgulho do sapato engraxado você sorria. Ali está mesmo um membro de Giwell.

              Quando você convidava um para lhe ajudar em um curso qualquer, ele olhava na agenda. Diferente de hoje. Olhe Chefe preciso ver. Posso dar uma resposta outro dia? Temos acampamento, ou temos excursão ou prometi aos jovens participar com eles para assistir um filme no shopping. Era assim. Não saiam correndo e aceitando e dizendo aos quatros ventos – Agora sou da equipe! Nada disto. E quando você visitava suas sessões? Dava gosto de ver. A gente sabia que seu esforço pessoal em aprender não foi uma ficção. A gente sabia que os livros de Baden Powell não foram encadernados e colocados no fundo do armário. Claro, eram outros tempos. Sei e me desculpem os amigos insígnias de hoje. Conheço centenas deles hoje que nada ficam a dever daqueles do passado. Eles quando se apresentam sabem que muitos sentem orgulho de suas sessões escoteiras. A eles, os de hoje meus parabéns.

              Entretanto tem alguns que não “pegaram” (termo de BP) o sentido da coisa. O que são. Suas responsabilidades. Ou quem sabe agora com o modernismo que dizem por aí, amarrar o lenço de Giwell no pescoço e sair por aí de chinelo, ou sandália. Será que eles também acreditam que é moda até para um Insígnia? Lembro quando se recebia o certificado e lenço a gente tinha um arrepio na espinha, a gente tremia, e pensava, agora será tudo diferente. Tenho que ser mais do que era. Em questão de minutos e segundos a gente se transformava.

             Hoje fico triste em saber que temos muitos irmãos Insígnias de Madeira que se foram. Não estão mais na ativa no escotismo. Cada um com seus motivos. Com a falta que temos de mão de obra Escoteira qualificada é triste ver este abandono. Eu sei que nossos dirigentes não pensam como eu. Para muitos dirigentes se foram nada mais que um adeus e pronto. Fico pensando se tivéssemos em cada direção regional ou nacional, uma pequena equipe de arregimentação? Ir atrás deles. Quanta experiência jogada fora. Porque Chefe? Volte conosco. Precisamos de você! Ajude-nos a mudar! Ajude-nos trazendo sua experiência. Mas para isto acontecer precisaríamos ser mais flexíveis, mais humildes, aprender de novo a ouvir. Saber como entender posições antagônicas. Isto seria possível?

                        Fico pensando e buscando no fundo de minhas memórias. Quantos de nós ainda vivos somos? Quantas Insígnias têm em nosso país? Quantas são entregues por ano? É sonho pensar que se pelo menos boa parte dos membros adultos atuantes em sessões poderiam ser mais um de nós como seria maravilhoso? Basta querer? E meus amigos já pensaram se todos um dia pudessem se reunir em uma maravilhosa reunião de Giwell, centenas ou milhares deles, de todas as partes do Brasil, não importando suas ideias, suas ideologias, e abraçados, com as mãos entrelaçadas, cantando com orgulho nossas canções de Giwell? Fico pensando, se estivéssemos em uma clareira qualquer, em volta de uma fogueira, sentindo o calor do fogo e da fraternidade presente, as brasas aos poucos adormecendo, as fagulhas lânguidas e serenas subindo aos céus, todos nós fecharemos os olhos e iremos lembrar que o escotismo foi e sempre será nossa vida, nosso amor. Ele sempre estará presente na nossa mente, na nossa alma e em nosso coração. Ah BP! De você trago o espírito, sempre na mente, junto de mim e no meu coração estará!

                     Lembranças. Eternas lembranças. Elas nunca se apagam. E nos meus sonhos, nos meus devaneios, lá naquela clareira enluarada um violão toca. Lindamente as notas são repicadas e todos começam a cantar, são milhares de Insígnias juntos de mãos entrelaçadas, cantando sobre o manto azul do céu, sobre o brilho das estrelas iluminando ali os corações de todos os presentes. É, é bom sonhar. Porque não?
“Em meus sonhos volto sempre a Gilwell
Onde alegre e feliz eu acampei
Vejo os fins de semana com meus velhos amigos
E o campo em que eu treinei “

 “É mais verde a grama lá em Gilwell
Onde o ar do Escotismo eu respirei
E sonhando assim vejo B-P
Que sempre viverá ali”

Canção de Gilwell

Letra e Música: Ralph Reader

terça-feira, 3 de setembro de 2013

A rebelião dos bichos.



Lendas escoteiras.
A rebelião dos bichos.

               Tudo aconteceu na primavera daquele ano. Foi uma surpresa, para mim e confesso que fiquei surpreso. Muito. Vi que a sede Escoteira sem ninguém saber ou ser informado, se tornou uma selva de tantos bichos, aves e peixes. Como eles respiravam não me pergunte. Vieram de todas as partes do Brasil. Claro um representante de cada espécie. Desculpe. Nada de Arca de Noé não. O motivo era outro. Em cada grupo da fauna brasileira foi escolhido o mais douto, o mais sábio e o mais educado. Afinal entre eles a ética e o respeito existe. Eles pretendiam mostrar sua civilidade aos escoteiros de todo pais. Era uma revolta surda, mas educada, ficaram calados por muito tempo, mas tinham de tomar uma providencia. Não me deixaram entrar. – Aqui humanos não entram. Tudo bem pensei. Fiquei na janela assistindo. Que organização eles tinham. Chegavam papagaios, corujas, cisnes de todas as cores, gavião-carijó, águias, sem contar as duas onças, uma pintada e a outra parda. Eram centenas deles. O salão nobre ficou lotado.

                A Coruja-buraqueira foi escolhida para presidir os trabalhos. Pedindo a palavra ela começou – Meus amigos, vocês sabem que aqui foram convidados somente às espécies da fauna brasileira. Ainda ontem o Quatipuru veio reclamar para mim que nunca o escolheram como nome de Patrulha. O mesmo aconteceu com o Tucunaré, O Sagui de tufo branco e outras centenas deles. Resolvi fazer uma pesquisa. Para mim é fácil. Sei que é difícil para os dirigentes escoteiros, mas deu para ver que os jovens hoje só querem nomes pomposos, se possíveis retirados da fauna americana ou europeia. Não vou citar aqui os nomes esquisitos em inglês que eles colocam. Até astronautas eu já vi. Um absurdo. E olhem meus amigos, tenho conhecidos nestes países e me disseram que lá ninguém liga para nossa fauna. Eles são autênticos. Uma palma estrondosa repicou no salão nobre.

               - Continuou a Coruja Buraqueira. Temos que tomar uma providencia. Afinal se os escoteiros e seniores não nos escolhem, é melhor que façamos uma revolução e quando eles forem acampar, iremos gritar infernizar a vida deles. As tais patrulhas de nomes esquisitos não terão mais nosso apoio. – Uma cobra venenosa, a Surucucu estava presente – Riu baixinho – Deixa comigo dona Coruja. Eu e a Cascavel do chocalho negro, damos umas mordidas e resolvemos logo este problema. Todos riram. – Não! Não é assim que vamos resolver. Precisamos estudar uma fórmula de mostrar o que somos, mas educadamente. Olhem, só para ter uma ideia, vou convidar para um desfile aqui no palco alguns animais, aves e peixes que nunca foram lembrados pelos escoteiros. Que façam uma fila e vão passando em minha frente dizendo seu nome:

                Começou o desfile. Ali estavam o Veado Catingueiro, o Quatipuru, a Cotia, O Touro Nelore, A raposa verde, a Jaguatirica, a Doninha amazônica, O Zorrilho, a Baleia Azul, O Golfinho, o Boto cor de Rosa, o Ouriço Preto, o Puma do Pantanal, o Macaco Prego, o Macuco, a Codorna Amarela, o Aracuã do Pantanal, o Mergulhão Caçador, o Maçarico, o peixe Tucunaré, a Traíra, O Piau, a Jacupemba, o Sagui de Tufo Branco, o Príncipe Negro, o Bugio, A Ema, a Iguana, a Garça Branca, o Boto Vermelho, o Tracajá, o Canário da Terra, o Tatu Peba, o Gaivotão, o Mutum de Penacho, o Cervo do Pantanal, o Jacaré Açu, o Mocó, o Tuiuiú, o Tucano, o Quati, O Beija Flor, o Tamanduá Bandeira, o Martim Pescador, O Lobo Guará, a Ariranha, a Arara Azul... Um desfile enorme. Todos tristes. Atrás deles tinham mais de cem animais e aves para desfilar. Uma tristeza enorme no salão.

                 Foi o Beija Flor dourado quem tomou da palavra – Amigos e Amigas pretendo nunca mais beber do caldo açucarado que eles põem para mim nos campos de patrulhas. A Coruja Buraqueira concordou e disse: Eles não me verão mais nos galhos próximos aos Fogos de Conselho. O Canário Belga falou lá no fundo do salão: - Eles nunca mais me verão cantar nas madrugadas. Era uma choradeira só. – Vamos tomar uma posição rosnou alto a Onça Pintada. Vamos dar uma surra neles quando forem acampar! – Nada disto, replicou a Coruja Buraqueira. Vamos fazer um abaixo assinado. Quando o próximo sábado chegar, entregaremos uma copia a cada Patrulha que for a reunião. Cada um de nós que tem asas fica responsável. E assim foi feito. Levaram para as patrulhas, o abaixo assinado por mais de 5.000 membros da fauna Brasileira. Lá escreveram suas insatisfações com a escolha de nomes estrangeiros para as patrulhas e porque não se lembraram deles.

                   Fui embora e eles nem notaram. Não sei no que deu. Mas acredito que daqui para frente, muitas Patrulhas novas irão pesquisar mais a Flora e a Fauna Brasileira. Elas saberão dar valor ao que é nosso, pois se não fizermos isto desde criança, ninguém lá fora vai fazer por nós. E olhe, não participaram desta reunião nossos heróis, nossos poetas, nossos homens que um dia fizeram desta nação um país hoje respeitado. Quem sabe um dia eles irão também se reunir e dizer o que pensam?