Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
A
volta dos que não foram.
- Seu
nome? – Osvaldo Excelência.
-
Osvaldo de que? – Ferraz Excelência.
- Não me
chame de excelência. Não sabe quem sou eu?
- Me
disseram que era o Senhor São Pedro. Usei o termo excelência para dar uma
conotação de respeito.
-
Esqueça! – Excelência quem usa são seus políticos que antes de se pegarem no
tapa ou nos palavrões se chamam uns aos outros de excelência!
- Seu
nome não consta da minha lista. Ele disse com cara fechada.
- Senhor
São Pedro quem sabe podem ter escrito Vado Escoteiro, sou muito conhecido lá na
terra assim.
- Anjo
Gabriel! – Venha cá. Era um anjo enorme, mas simpático.
- Pois
não São Pedro!
- Vá até
o Armazém 185.487 e veja se acha o arquivo, ou melhor, o Dossiê deste tal Vado Escoteiro.
– Não demore, pois a fila está grande demais e amanhã vou viajar para o espaço
sideral. Fui chamado pelo Mestre!
- Olhei
para São Pedro assustado. Tinha oito dias que estava nesta fila e agora vem me
dizer que não estou na lista? – Notei a um quilômetro de distância um vermelhão
que parecia ser chamas altas pegando fogo. Seria lá o inferno?
-
Licença São Pedro! – Posso lhe dar uma palavrinha?
– Diabos,
era um tipo metido a besta daqueles que vestem a vestimenta e se acham os tais.
Claro que deveria pertencer a Liderança Nacional Escoteira que mete o bico em
todo lugar. Agora até no céu tem disto? - Fale Chefão! Disse São Pedro.
-
Chefão? Aqui também?
- Senhor
São Pedro, este reles chefinho lá na terra cria caso, fala mal dos Grandes
Chefes da UEB, é metido a escrever histórias e faz artigos dizendo cobras e
lagartos da nossa direção. Ainda bem que seu séquito seguidor é pequeno. Mas
não dê colher de chá para ele aqui. Se eu fosse o Senhor, chamava logo o
Chifrudo para levá-lo as prefundas dos infernos!
- Minha
nossa! Onde amarrei minha égua? Até aqui estes tipos da Comissão de Ética tem
voz e voto? Eu nunca tive essa regalia escoteira e agora me julgam como um
insurreto maldito?
- Achei
Senhor São Pedro. Era o Anjo Gabriel que chegou para me salvar...
- Me
deixa ver! – São Pedro começou a ler. A fila a reclamar. Até aqui a fila não
anda. Um senhor bem novo, mas com um cavanhaque branco fardado de azul e preto
pediu para usar da palavra.
- Fale
disse São Pedro e seja breve, tem uma fila de mais de 35.000 quilômetros e nem
todos irão para o céu. Não tenho comida para todo mundo e as asas dos anjos privilegiados
estão acabando. A Policia Escoteira Galáctica passou aqui e levou quase tudo!
- Pois
não Senhor São Pedro. Acho que a triagem que fazem quando chegamos é falha. Vi
dois anjos atendendo uma enorme fila que vinha da terra para o céu. Morreu?
Bateu as botas? Então que seu destino já esteja traçado. Perder tempo sem uma
boa internet dá nisso. Se este paspalho foi Escoteiro dê a ele uma
oportunidade. Afinal dizem que fazem boas ações apesar de que quando vivo eu
não vi nada do que eles fizeram de bom para a sociedade!
-
Procurei meu bastão com ponteira de aço. Esse cara de bode merecia uma
bastonada, mas não achei. Foi confiscado quando cheguei por aquela anja do
cabelo vermelho. Por sinal linda de morrer! Ops! Mas eu já não estava morto?
- São
Pedro apitou três vezes. Apito? Ele não tinha um chifre do Kudu? – Reunir quem?
A chefaiada que toma conta do céu? Pensei eu. - Não era, chegaram 14
demoniozinhos bem escoteiramente vestimentados.
- Levem
este sapo boi para o inferno. Veja com o Doutor Presidente Capeta um bom lugar
para ele. Dizem que é indisciplinado, não tem registro na UEB e fica tirando
onda de Chefão. Diga para que ele deixar que queime pelo menos cinco milhões de
anos!
- Nem
morto! Nem morto! Eu gritava. –
-
Paspalho dizia a capetada, você está morto! Não volta mais na terra. - Mas me
mandaram para a fila de São Pedro! Eu disse. Mereço uma chance! - Não deram
bola. Arrastaram-me até a beira de um precipício. Lá em baixo um fogaréu
enorme. Eu esperneava, gritava e pedia a ajuda de todos os santos.
- Um
homem simpático, muito bem uniformizado, com um chapéu Escoteiro de fazer
inveja fez um sinal para me largarem. - Falando em inglês disse: - Vou levá-lo
comigo para o Grande acampamento! - E agora José? Pelas barbas de Maomé! Vou
para o inferno ou para o Grande acampamento? Já pensou ficar bilhões de anos em
volta de uma fogueira ouvindo historias Escoteiras e comendo banana assada?
- Pulei
no espaço rumo às chamas vermelhas do inferno cantando o rataplã e depois a
canção da despedida. Afinal não era mais que um até logo não era mais que um
breve adeus!
-
Marido! Marido! Acorda! Não aguento mais esta sua gritaria nos seus pesadelos.
Afinal não tem nenhum sonho lindo para sonhar? – Eita mulher amada. Sempre me
salvando destes meus pesadelos infernais. Ufa! Levantei e fui tomar um
uisquezinho para melhorar minha mente. O Chivas Regal 18 anos com quatro
azeitonas pretas fizeram efeito. Na minha varanda e comecei a cantar sob o
aplauso dos vizinhos o rataplã. Afinal eu sabia que a maioria dos vizinhos eram
surdos!
E
durma-se com um barulho desses!