Apenas um pensamento vago e sem rumo.
Cada um escolhe seu próprio destino.
Há dias que o frio e uma garoa fina caem em minha cidade. Hoje ela
diminuiu. Não sei por que tenho passado alguns dias nostálgico. O frio não me
faz bem. Nesta época aparecem as benesses que um dia escolhi antes embarcar
neste trem que escolhi como destino. Nos dias anteriores passei boa parte do
tempo enrolado em uma manta. O pulmão reclama. O corpo ressente. Tentava
escrever, mas as dificuldades eram muitas. Comecei a fazer uma autoanálise.
Para que? Para entender melhor as mudanças que o destino Escoteiro colocou a
nossa frente. Acredito que muitos de vocês meus amigos não vão entender nunca
minha posição. Para isto teriam que viver o que eu vivi. Dou à mão a
palmatória. Não existe mais volta. O mundo moderno é agora dos jovens e
benditos os adultos que fazem tudo por eles acreditando fazer o certo. Está aí
um novo escotismo. Saudado e aplaudido por muitos. Tenho que encarar a realidade.
Nunca vou esquecer minhas raízes. Até o fim da vida aceitarei as
mudanças, mas elas não farão parte da minha memória escoteira. Todos dizem que
ela faz parte da evolução dos tempos. Em termos aceito. Mas eu sou um escoteiro
sonhador. Um Escoteiro que tem espírito de aventura e a natureza no coração. Um
Escoteiro que a Lei e a Promessa estão vivas até hoje na sua maneira de viver.
Desculpem-me se estou sendo piegas. Não estou contradizendo aqueles que afirmam
também viver assim. Eu acredito em vocês. É como as pegadas do passado que nós
os velhos Escoteiros fizemos, e foram fincadas em uma trilha na curva do rio e
sendo apagadas para que outras novas fossem colocadas em seu lugar. Seria a nova
história substituindo a velha história.
Sempre fui um Escoteiro “torrão”. Nunca deixei de dar a minha opinião. Se
tiver de dizer o que penso direi. Mas sei que meu pensamento irá desaparecer
como o orvalho da madrugada. Como a gota d’água se diluindo na folha quando o
sol da manhã chegar. Não tenho a preocupação de saber quantos são contrários a
minha maneira de ser. São direitos de pensamento de palavra de ação. O Velho Escoteiro
sem perceber é levado por corredeiras que chegam através de uma tempestade imprevisível,
varrendo das margens tudo aquilo que for contrário da história que ficou presa no
passado. A simplicidade de alguns em me dizer que devemos pensar nos jovens e
trabalhar por eles é fantástico, mas não iram desancar as novas pegadas que
serão coladas em substituição as que foram retiradas.
Enquanto puder e tiver forças
continuarei escrevendo a moda antiga. Não vou parar nunca. Sei que o que penso daqui
a alguns anos serão levados pelas ondas dos tempos. Enquanto puder manterei os
meus escritos com sonhos românticos que um dia os Escoteiros de outrora possuíram.
Os sonhos de aventuras que tentávamos transformar em realidade. Os grandes
acampamentos de Tropa, as alcateias vibrantes com o espírito voltado para a
mística que tão bem o livro da Jângal soube contar. Nos seniores aventureiros que
respeitavam e diziam sim senhor, que sabiam ser cavalheiros. Que sempre tinham
no olhar o brilho próprio dos Cavaleiros que outrora habitaram os sonhos do Rei
Arthur na Távola Redonda.
Foi sim uma linhagem que nós os antigos fazíamos questão de possuir. Era
questão de honra. Uma saga para ser contada por toda a vida. Estirpe de grandes Seniores, Escoteiros e Lobos,
pois sei que nos seus sonhos nunca desistiram de achar o Santo Graal. Acampando
e acantonando seja onde for, nos grandes vales e cânions, nas escarpas
impossíveis a gente procurava os mais altos picos e não importava se era dia ou
noite. Com sol ou chuva sempre estávamos lá investidos em Sir Lancelot, Sir
Kay, Sir Galahad, Sir Gawain ou mesmo Sir Boors, o exilado e partíamos para
novas terras, novos sonhos. Sabíamos que um dia iriamos o que sempre sonhávamos.
Para nós para nossos sonhos, o que o rei Arthur encontrou e disseram
para ele desistir não valeu. Nunca valeu. Nunca desistimos. Como ele também
retiramos a espada da pedra. Era questão de honra. “Qualquer um que extrair
esta espada desta pedra, será o Rei da Inglaterra, por direito e por
merecimento”! Escotismo de BP? Não sei. Acho que nunca mais. Nada mais a dizer.
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