No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A Lobinha Laninha e o mistério dos sinos da Igreja Matriz.


Lendas Escoteiras.
A Lobinha Laninha e o mistério dos sinos da Igreja Matriz.

                       Não sei se vão acreditar. Dizem que eu invento muito. Mas ei juro pela alma dos dirigentes da UEB que é verdade. Risos. Eu estive lá. Acreditem se quiserem. Há muitos anos eu conheci uma cidade no interior do sertão de Pernambuco. Nem sei como fui ali parar. Não foi pela minha empresa, acho que foi um golpe do destino, pois deveria ter ido a Sertânia e fui parar em Terra Santa. Pequena, menos de dez mil almas. Nem hotel tinha. Fiquei na Pensão das Esmeraldas de Dona Eufrásia. Para dizer a verdade a melhor cozinha que tinha conhecido. Almoço ou jantar era um manjar dos deuses. Acho que foi por causa dela e de Laninha que fiquei por cinco dias em uma cidade onde não tinha nada. Não tinha cinema, TV e as luzes da cidade eram desligadas a onze da noite, comentam que foi lá que Judas perdeu as botas. Na primeira noite alguns hóspedes conversavam sobre a lenda dos Sinos. Inteirei-me de tudo. Todas as noites de lua cheia os sinos da Matriz tocavam um melodia desconhecida. Muitos estavam ali como turistas. A fama dos sinos ganhou mundo. No dia seguinte seria lua cheia e eles e outros milhares iriam chegar para ouvir e ver os sinos tocarem.

                  Não sou cético e nem tampouco um fanático por lendas. Dona Eufrásia me contou que desde a morte da Lobinha Laninha no ano passado o sino tocava a meia noite nas noites de lua cheia. – Lobinha? Perguntei. – Sim ela respondeu. Aqui tínhamos um Grupo Escoteiro. Melchior um rapaz dos seus vinte e oito anos um dia chegou à cidade e comprou a Farmácia do Beraldo. Junto estava a filha de quatro anos. Sozinho sem a esposa. Dizia ser viúvo. Durante mais de três anos se tornou uma figura conhecida e bem quista por todos. Sempre contava “causos” de quando foi Escoteiro. Melanino o Prefeito o incentivou a organizar um Grupo na cidade. A Prefeitura daria uma verba. Melchior animou-se. Pediu o padre que convidasse pais interessados a colaborarem. No dia marcado mais de oitenta pais. A maioria mães. O primeiro passo foi dado. Quatro meses depois os primeiros escoteiros e os primeiros lobinhos.

                  Era um sucesso o Grupo Escoteiro da Cidade. Por votação ele se chamava Grupo Escoteiro Coronel Tibúrcio Belarmino em homenagem ao fundador da cidade. Melchior era o Chefe do Grupo. A diretoria ativa. Mariazinha uma professora assumiu como akelá e com mais duas assistentes tinha uma alcatéia linda e os lobinhos amavam sua Chefe. Claro que Laninha foi uma das primeiras inscritas. Durante dois anos o Grupo Escoteiro fez história. Chegou a ter em suas fileiras quinhentos participantes. Um dia alguém veio correndo dizer que Laninha caíra da torre da igreja. Contava antes de morrer que queria ver o sino tocar. Ele estava estragado e há mais de dois anos não tocava. Segurou na corda perdeu o equilíbrio e caiu de uma altura de trinta e seis metros. No seu funeral a cidade em peso presente. Um Sênior tocou no seu clarim o toque de silêncio. Todos choravam. Mais ainda a Akelá Mariazinha. Ela estava inconformada.  Laninha era uma menina muito amada por todos.

                  O Grupo Escoteiro Coronel Torres Belarmino sofreu um choque com o acontecido. Muitos saindo. Chefes desistindo. Um ano depois o grupo fechou. Em uma noite de lua cheia para espanto da população o sino começou a bater e a tocar. Era uma musica suave, mas ninguém sabia o que era. Resolvi ficar ver e ouvir o tal sino. Pedi autorização ao Padre para subir até a torre e ver como um sino tocaria sozinho. Onze horas da noite eu fui subindo devagar as escadas até o topo. Cheguei e sentei em um banquinho. Acendi meu legítimo cachimbo Irlandês e deglutindo aquele “blend” infernal esperei. Onze e cinquenta e cinco e vi um vulto. Primeiro uma nuvem branca e nela uma menina vestida com seu uniforme de lobinha. Linda. Sorria. Nem olhou para mim. Não me deu uma palavra. Levantou os dois bracinhos e como se fosse uma grande Maestra o sino começou a tocar. Prestei atenção na música. Reconheci logo. Era a sonata de Schubert, (Franz Peter Schubert) “Sinfonia Incompleta”. Maravilhoso! Estava embasbacado.

                A menina sorria. Que sorriso maravilhoso! Tentei falar com ela. Nada. Ela estava como se vivesse o seu momento para aquela musica e eu francamente não entedia o seu amor por ela. Alí, no sertão de Pernambuco quem poderia gostar de Schubert? Cinco minutos depois a musica terminou. Agora era outra. Também conhecida. Agora tocava bem baixinho nada mais nada menos que a “Canção da Promessa”. Fechei os olhos e vi a força daquela orquestra sinfônica. Ela regia como se tivesse feito aquilo a vida inteira. Meu Deus! Qual o mistério? Nunca soube. Tentei conversar com o Padre. Ele nada. Tentei falar com o Chefe Melchior. Ele não acreditou em mim. Na cidade ninguém acreditou no que eu dizia.

             Dona Eufrásia sorriu. – Olhe, vou lhe contar. Ninguém sabe e alguns não querem saber. Não querem acabar com este encantamento. A cidade todos os meses depende dos turistas que chegam. Chefe Melchior era violinista da Orquestra Sinfônica de Pernambuco. Quando sua esposa morreu vitima de Poliomielite ele desesperado veio parar aqui. De farmácia não entende patavina. Nunca mais pegou em um violino. Sua filha o admirava quando ele tocava. Quem sabe ela agora procura nos céu uma maneira de ouvir o pai? Coisas misteriosas e uma charada impossível de ser desvendadas. Enigmas que ninguém quer saber. Preferem o impossível.  Não sou bom nisto. Alí em Terra Santa eu tinha certeza que ninguém entenderia. Dona Eufrásia me olhou com um olhar “treteiro”. Meu amigo há mais mistérios entre o céu e a terra, do que toda a nossa vã filosofia. Puxa! Dona Eufrásia uma velhinha dos seus setenta e tantos anos, cabelos brancos é também versada em William Shakespeare?  

Boa noite durmam sorrindo com os anjos do Senhor!

domingo, 28 de dezembro de 2014

Uma ponte longe demais.


Lendas escoteiras
Uma ponte longe demais.

    Era uma vez... Uma ponte, simples de madeira com dois vãos, pequena, mas que acalentava os caminheiros que por ali passavam. Dizem que era longe demais, que não ligava a lugar nenhum. Pode até ser. Não era uma ponte qualquer, pois para mim ela tinha vida, ela tinha alma. Cansado de uma longa jornada eu sentei naquela ponte muitas vezes. Gostava de ficar ali, olhando um rio que passava sobre meus pés. Meus olhos acostumaram com aquelas ondas que brincavam de zig zag nas corredeiras que iam para o mar. Nem via o tempo passar, hipnotizado não queria voltar ao meu percurso. A ponte agora me dava vida, queria que eu e ela fossemos um só. Os incrédulos diziam que ela não ia dar a lugar nenhum. Eu sorria quando diziam isto. Uma doce mentira de caminheiros que não viram o brilho daquela ponte. Ela me levava ao Campo da Felicidade.

  Quando surgia a primavera eu corria para chamar meus amigos Escoteiros e eles sorriam como eu quando dizia que íamos acampar no Campo da Felicidade. Todos sabiam que íamos atravessar a ponte, que todos diziam ser longe demais... E diziam que ela não levava a lugar nenhum... Era longe sim, a ponte era longe demais e isto nos fazia voltar sempre... Ver a ponte de madeira rústica, olhar o rio com suas águas brilhantes a correrem para o mar... Na várzea das Borboletas azuis, em uma pequena trilha cheia de flores silvestres, avistávamos a ponte. A ponte que diziam ser longe demais... A ponte que não levava a lugar nenhum... Mas no levava ao Campo da Felicidade.

       Um dia, um dia que nunca esquecerei, um dia que ficou marcado em meu coração para sempre, a ponte não estava lá... A ponte que nos levava ao Campo da Felicidade tinha partido... A ponte longe demais agora não mais existia. A ponte que não levava a lugar nenhum agora era uma réstia de uma lembrança de um passado que se foi... Ficamos ali, cabisbaixos, deixando o sol nos queimar, nossas mochilas às costas pesando e nossa preocupação era uma só. A ponte longe demais partiu sem dizer adeus... Não era um empecilho para atravessar o rio, o rio que serpenteava suas águas e corria para o mar. A ponte que diziam não ligar a lugar nenhum agora era uma sombra, um arremedo de sonhos, uma alegoria de um carnaval que passou.

   Nunca mais voltamos ao Campo da Felicidade. Ele e ela, a ponte longe demais se completavam. Um não tinha serventia sem o outro. Algumas vezes volto meu pensamento no tempo que já se foi. Lembro daquela ponte, uma ponte longe demais... Uma ponte que não ligava a lugar nenhum, mas sem ela nunca poderíamos acampar no Campo da Felicidade. Não choro lágrimas doídas, não verto águas que os olhos deixam cair... Meu coração bate forte quando em minha mente eu vejo a ponte, a ponte longe demais... A ponte que diziam não levar a lugar nenhum. Vejo-me sentado, olhando o rio que serpentava naqueles campos que seguia seu rumo para o mar. Sei que não terei mais aquela visão que me marcou profundamente. Mas enquanto ela existiu me trouxe a beleza da vida, o sonho da natureza, me ligou de um ponto ao outro mesmo dizendo que ela era longe demais... Que não ligava a lugar nenhum!

A Ponte e a Cerca...

Na vida... Podemos escolher entre ser ponte... Que une uma margem à outra de um rio. Ou ser uma cerca... Que separa um território de outro. Se compararmos... Podemos perceber que se formos ponte... Iremos unir todas as coisas... Que por algum motivo nesta vida... Vivem separados.

Se formos cerca... Estaremos dividindo... Marcando espaço... Quando poderíamos formar elos... Entre mundos em duelos.

Como ponte... Podemos aumentar amizades... Fazer elos entre comunidades... Amar com mais intensidade... Juntar forças entre dois extremos em inimizades.

Como cerca... Aumentamos divisões... Isolamentos... Deixamos a vida mais solitária...
Esquecemos de ser humanitários... Quando poderíamos nos unir a quem necessita...
De alguém mais solidário.

Sejamos ponte na comunidade... Ponte em nossa família...
Ponte da fraternidade... Semeando amor em grande quantia.

Sejamos PONTE... Derrubemos CERCAS...
Seremos de companheirismo uma fonte...
Para que muita alma não se perca.
Marilene Mees Pretti.


Boa noite meus amigos e minhas amigas, que uma ponte possa me ligar ao coração de todos vocês! Uma ponte que não seja longe demais! 

sábado, 27 de dezembro de 2014

Apenas uma árvore em uma noite de Natal.


Lembranças de natal.
Apenas uma árvore em uma noite de Natal.

                   Era uma visão incrível. Apareceu assim do nada. Fez-se presente para sempre em minha vida. Dizem por aí que só os escoteiros têm o privilegio de ver e ouvir coisas, de entender o som do vento, o som das árvores, do regato que corre para o mar. Dizem que a natureza se faz presente aonde sempre vão e eu seguia o vento conforme meu Velho Chefe me ensinou um dia. “Escoteiro, siga o vento, ele sabe onde você deve chegar”. Meu Velho Chefe era um sábio. Mas na curva da trilha da felicidade eu a vi, imponente, linda, como se fosse uma deusa a olhar seus domínios naquela tarde gostosa de um setembro qualquer. Não sei por que eu modifiquei meu caminho para chegar ao Lago Dourado onde iria acampar. A mão de Deus dizem, sempre está presente a nos guiar. Deixei a trilha do Marquês e me apeguei a esta nova trilha. Já tinha bons seis quilômetros de jornada. Agora estava em um vale florido entre duas montanhas verdejantes. Sentia o suor no rosto e precisava de um descanso.

              O sol me incentivava a parar. Os olhos vermelhos e o meu chapelão de três bicos mesmo ajudando a vedar o sol que estava em minha frente eu a avistei. Grande demais para o lugar onde nasceu. Quem sabe era a rainha de tudo? Quem sabe era ela quem mandava ali em seus domínios? – Porque não parar uns minutos para descansar na sombra desta imensa árvore que reinava sozinha naquele vale feliz? Que doce é o paraíso quando sem esperar o encontramos. Que visão maravilhosa, e ao lado eu avistei um pequeno riacho de águas cristalinas que descia a serra naquele vale feliz. Parei, tirei minha botina, meu meião, coloquei meus pés naquelas águas mágicas que pareciam possuir um delicioso néctar para refrescar. Só então me virei para ela, a Deusa do Vale e tremi de êxtase ao ver que era uma cerejeira em flor. Maravilhosa, linda, folhas rosa destoando do verde ao seu redor. Sentei em sua sombra, encostei-me de leve ao tronco devagar pensando que não podia machucá-la.

                 Fechei os olhos docemente. Não queria, mas a sombra da cerejeira em flor me pedia para serrar os olhos, era como se sua voz suave me ordenasse um descanso. Minha mente percorreu toda a história da minha vida, naqueles segundos e minutos que ali permaneci. Vi-me menino de azul correndo pelas campinas com a chamada de Lobo, Lobo, Lobo. Olhei novamente e lá estava eu vendo o Balu colocar minha segunda estrela no meu Boné. Lembranças maravilhosas. Salto um espaço de tempo e lá estava eu de novo a ver meu corpo firme e ereto a receber minha primeira classe. Tempos que se foram e não voltam mais. Lembranças gostosas da vida que marcam para sempre nossa memória. Senti algumas flores caindo sobre mim e ao meu redor. A Cerejeira me presenteava com sua formosura as lembranças tão lindas de uma vida que parecia uma eternidade. Tudo estava calmo, delicioso, pássaros chilreavam trazendo aos meus ouvidos o belo som da natureza. O vento soprava como brisa para refrescar ali naquela sombra perfeita, pés levantados, respiração voltando ao normal. Era hora de partir.

                    Como partir? Minha mente entorpecida naquele instante renegou a ideia. Eu estava vivendo sonhos coloridos em baixo da Cerejeira em flor e me imaginava seguir novamente na trilha quente daquela tarde gostosa de um setembro qualquer. Perder aquele oásis dos deuses? Daquele paraíso cheio de flores a cair sobre a relva e sobre mim? A sensação de ficar era insistente, calma, silenciosa e gostosa. – “A flor de cerejeira cai da árvore na primeira brisa mais forte e não podemos dizer que ela nunca viveu. Uma flor de cerejeira dura um dia, um dia”... Mas ela não é menos bonita por isto. Quem disse isto? Não lembrava. Eu não queria partir, eu tinha encontrado o meu paraíso. Continuei a rebuscar meus pensamentos. – Será que o tempo é relativo? Que se a flor da cerejeira, por exemplo, dura apenas semanas e mesmo que durasse mil anos ainda seria efêmera? Oh Deus! Eu não queria partir. Porque não pensar que esta flor tão bela como era não merecia durar eternamente? Se o eterno dura com tanta intensidade porque ela não teria este direito? Eu dormia. Não queria acordar. A cerejeira me protegia da noite escura e sem luar. Ainda bem que o clarão das estrelas no céu me faziam voar nas asas da minha imaginação.               

                      Acordei cedo. Um sono lindo e reparador, mas eu precisava partir. Um foguinho, o café na brasa, um papinho com Jesus e lá fui eu sozinho naquela trilha que nunca vi e nem sei se um dia iria voltar. Parei na subida da montanha, olhei para trás, meus olhos se encheram de lagrimas ao avistar a Cerejeira que foi minha barraca naquela noite linda de Natal. Olhei para o céu e fiz um pedido: - Deus, amigo dos Escoteiros, faça com que esta Cerejeira dure para sempre! O sol agora tinha um frescor de primavera. Uma luz azul me indicava o caminho naquelas montanhas distantes. O novo dia já havia chegado sem fazer alarde. Por quê? Porque Jesus nasceu em Belém. O orvalho ainda resplandecia nas folhas dos arvoredos que me acompanhavam. Já não havia mais brisa, mas um perfume delicioso do verde das matas, do chão que eu pisava. Minha trilha era um acalanto por saber que nosso mestre tinha nascido e vindo trazer a luz para a humanidade.

                    Agora aa trilha me levava a caminhos distantes. Ao meu lado meu riacho querido me acompanhava e cantava canções de ninar. A cerejeira me deu seu último adeus quando virei à montanha que se aproximava do céu. Em marcha de estrada eu sorria. Meu cantil com águas doces e cristalinas me fazia pensar como era bela a natureza em flor. A Cerejeira ficou em minha mente por toda a vida. Ela me deu o sentido de viver e me fez ver a milhares de quilômetros de distância, o lugar onde Jesus nasceu. Agora o mundo ia mudar. Agora só as palavras de amor iriam prevalecer. A Cerejeira em flor iluminou o meu caminho e iria iluminar o caminho do mundo. E Jesus fez acontecer. Aqueles que acreditaram nas palavras do senhor tinham em seu coração uma Cerejeira em flor!


- Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim nunca morrerá. “Jesus Cristo”. 

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Balada do vento amigo. Deixa o vento soprar pois ele é o senhor do mundo!

Balada do vento amigo.
Deixa o vento soprar pois ele é o senhor do mundo!

Os ventos que às vezes tiram algo que amamos, são os
mesmos que trazem algo que aprendemos a amar...
Por isso não devemos chorar pelo que nos foi tirado e sim,
aprender a amar o que nos foi dado. Pois tudo aquilo que é
realmente nosso, nunca se vai para sempre...

Eu já ouvi o vento soprar, forte e viçoso nas montanhas verdejantes do Baependi. Ele rasgava o dia e noites através das folhagens como se estivesse reclamando da invasão dos seus domínios. Eu já ouvi o vento soprar, nas imensas planícies do Vale Feliz. Ele procurava espantar as borboletas coloridas que ali estavam à procura do nectar escondido nas flores que caiam no outono. Quando eu olho para o oeste, seguindo o sol que busca se esconder nos vales verdejantes, eu ouço o vento soprar. Ela canta suavemente para me entreter na busca do infinito. Eu já senti o vento dentro de uma barraca que parece sair voando, o vento sul não perdoa, açoita sem pedir permissão. As vozes das tempestades são enfurecidas por ele. Ele o vento não pede passagem, ele vai onde quer e ninguém ousa interromper.

Eu gosto do vento. Não importa de onde vem e para onde vai. Já estive com os ventos da primavera, que traziam o doce perfume das flores, das matas, das florestas distante. Eu já estive com os ventos do verão, com as bravias chuvas espicaçadas por ele. Ele mandava trovões, raios inimagináveis e depois da chuva ele trazia a bonança com ventos calmos, pacíficos e o cheiro da terra, o perfume das folhas molhadas, nos mais altos galhos aonde a passarada cantava toadas maravilhosas ao sabor do vento cuja chuva o vento levou era maravilhoso. Eu já vi passar os ventos do norte nos picos gelados das Agulhas Negras, ele parecia sorrir com a vasta imensidão a perder de vista. Eu já ouvi e vi os ventos. Vendavais, tornados e grandes ventanias que jogavam tudo ao chão. Eu já vi os ventos das borrascas cinzentas no mar gelado do nosso querido oceano Atlântico. Era bom olhar o infinito e ver as gaivotas na sua eterna luta com os ventos. Elas sabiam que iam perder por isto aprenderam a voar com os ventos.

Quando em marcha de estrada e o sol a pino, eu me entregava aos ventos para me dizerem o melhor caminho a seguir. Beber a água da fonte, em uma sombra e os ventos soprando é indescritível. Eu já ouvi os ventos. Muitos. Os que se transformavam em arco íris, os que transformaram em brisas frescas e gostosas, sopradas de uma cascata borbulhante ou na madrugada a nos apanhar sem barracas tendo o céu de estrelas como teto. Eles e elas nos molhavam nossos rostos ao luar. Ventos do norte e do sul, ventos do oeste e este, que eles soprem sempre trazendo a todos nós a alegria que nos faz viver. Um dia alguém me falou do vento – Sabes Escoteiro, se tens vento e depois água, deixe andar que não faz magoa, mas olhe se tens água e depois vento, põe-te em guarda e toma tento! É eu já ouvi o vento passar...

Deixa passar o vento sem lhe perguntar nada.
Seu sentido é apenas ser o vento que passa…
Consegui que desta hora o sacrifical fumo
Subisse até ao Olimpo. E escrevi estes versos
Pra que os deuses voltassem. R.Reis.


Boa noite meus amigos. Muitas coisas ainda irão acontecer para nós nesta vida. Precisamos acreditar em Deus todo poderoso. Fazer o bem sem olhar a quem. Até amanhã!

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

E Deus me deu mais um natal para viver. Obrigado Senhor!


E Deus me deu mais um natal para viver.
Obrigado Senhor!

                         Ainda não é natal. Faltam alguns dias. Ficamos centenas de dias esperando. Sempre a dizer: - Quando o Natal chegar eu... Todo ano é assim. A data é santa, é a virada de um ano. Alguns preferem o Ano Novo. É como se fosse um dia mágico – A partir de hoje tudo vai mudar em minha vida! Será? Pode até ser que não, mas pelo menos há esperanças e as esperanças são as últimas que morrem. Nestas datas fazemos sempre uma retrospectiva do ano que passou. Para alguns bons para outros nem sempre. Ficaram marcas no meio do caminho. Sempre ao virar o ano eu me lembro de uma linda canção que um dia cantei a mais não poder: - Marcas do que se foi! Ela sempre dizia tudo que eu pensava do ano que terminava e minhas promessas para o ano que se inicia. Ela pedia paz no meu coração e de todos, dar as mãos sem escolher a quem, amigos e inimigos, o tempo passa e sempre devemos caminhar todos juntos, sabendo que nossos passos pelo chão irão ficar.

                      E a linda canção tinha mais, tinha sonhos que vamos ter, sonhos que todo dia nasce em cada amanhecer. Sabemos que o tempo passa e com ele caminhamos juntos neste mundo, sem parar, vendo que nossos passos pelo chão vão ficar. É bom ter esperanças, saber que podemos mudar, pois nosso amigo Chico sempre dizia: Tudo nesta vida passa, o que aconteceu de ruim também passará. Estamos se abrindo, para um novo mundo, uma nova era, devemos escolher ser bons e ir para o caminho certo de Deus e dar amor e caridade ao seu  próximo. Nunca é tarde para corrigir nossos erros e recomeçar, quem sabe esquecer o passado e começar tudo do zero? Não existe impedimento nenhum neste mundo para recomeçar. Como ele dizia, sabemos que não podemos voltar atrás e fazer um novo começo... Mas sabemos que podemos começar e fazer um novo fim. Natal, Ano Novo. Quem sabe todos os dias nós podemos dizer isto a nós mesmos?

             Natal... Ano Novo... Um dia qualquer perdido e lembrado em determinada data do ano. Ainda bem que a maioria dos humanos tiram estas datas para sorrir para festejar, para ouvir as musicas maravilhosas de natal. Elas aparecem do nada e cantam em minha mente. - ¶Então é Natal, e que a gente fez? – O ano termina, e começa outra vez¶ - Gosto do natal, não sei quantos ainda terei em minha vida. Em cada um sempre surge um fio de esperança, uma vontade imensa de recomeçar, de pedir a Deus forças para prosseguir. Dizem que melhor que todos os presentes é ver uma família reunida e feliz neste dia. Eu acho que sou feliz. Ainda tenho o amor de todos eles. Gostaria que você também fosse feliz. Que os sonhos não realizados se realizem e eu sei que haverá um pedacinho do céu lá em cima para você. Não existem limites para ser feliz, para sonhar, para desejar um Natal lindo, não só para nós mas para todos os povos do mundo!


Boa noite amigos, ainda não é natal mas a data que se aproxima é aquela que iremos dar novo rumo a nossa vida. Durmam com Deus e um belo domingo a todos!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A última Estação de trem.


Conversa ao pé do fogo.
A última Estação de trem.

                   Tempos são passados. Só as lembranças ficaram. Tempos bons que não voltam mais. Ainda fazia minhas jornadas e meus acampamentos a “escoteira”, para quem não sabe significa aquele que anda só. Era um apaixonado por ficar só, sem dividir o vento no rosto, a sombra de uma pitangueira, ou o remanso frio de um riacho. Egoísta? Não. Junto aos meus amigos fizemos belos acampamentos, belas excursões que também tem seu lugarzinho em um cantinho da minha memória. Meus problemas eu resolvia assim. Uma mochila, um bornal, uma forquilha, ração B, uma rota e pé na estrada. Adorava. Muitas vezes sem barracas. Montar uma cabana, um banquinho, um fogo estrela, um local privilegiado onde a vista pudesse deslumbrar o inatingível. Quantas vezes? Muitas. Paradas longínquas, picos saudosos, vales queridos, uma jangada a descer um rio desconhecido.

                  Muitas histórias. Várias que um dia quem sabe irei contando uma a uma. Desta não esqueço. Aconteceu no início da década de sessenta. Bandeiras ao vento e lá ia eu. Diziam ser uma floresta virgem onde poucos entraram. Meu habitat. Um trem, saltar sorrindo na “boca do túnel”, uma trilha, e a floresta linda a convidar para conhecê-la. Dois dias. Animais enormes, pássaros floridos e cantantes aos milhares, corujas buraqueiras espantadas com meu cantar noturno a beira de um pequeno fogo naquela clareira amiga. Os ruídos da noite a estalar na audição de um Velho mateiro. Vida sublime. Sonhos refeitos, alegre pela mente fértil hora da meia volta. Um retorno sem faltar um banho em um riacho que jorrava cascatas com suas águas nas pedras brancas criando espumas gostosas para afundar e levantar sentindo o sabor daquelas águas que nunca foram tocadas.

                  Tudo que é bom eu sei não dura para sempre. Já me disseram que nada é para sempre. O retorno sempre é tristonho. Uma pequena estação. Não era uma cidade, quem sabe um arraial. Meia dúzia de casas. Só o trem expresso não para. Os outros ficam ali a soltar fumaça na chaminé de uma Baldwin que nunca se cansava. Cheguei cedo. Gostava de ver o andar do Chefe da Estação. Educado. - Boa tarde! E tirava o quepe como a me saudar sem me conhecer. Ao lado uma mesa com a parafernália eletromagnética que Morse um dia inventou, as mensagens enviadas pelo telegrafista percorriam como correio eletrônico os milhares de quilômetros daquela ferrovia sem fim. Contaram-me que elas davam a volta ao mundo. Outros que foram até o fim do mundo! Eu podia ouvir os sinais curtos e longos, pois um dia quando criança eu enfrentei a batalha de ser um Sinaleiro. Sentado em um banco na plataforma da estação eu esperava. Não tinha pressa. Nunca tive. Muitas vezes um olhar corre mais rápido que um raio no céu.  A vista fora o rio caudaloso era comum após as diversas linhas de ida e volta.

                A plataforma vazia. O trem que subia o rio chegou mansamente. Não era o meu. Eu iria descer o rio. O Chefe da Estação com seu arco a dar suas instruções ao maquinista que treinado não teve duvidas para enlaçar. O barulho quieto da fornalha soltando fumaça e ar quente. Eu adorava aquilo. Estava ali sentado como hipnotizado com a beleza do trem de ferro que sumiu para sempre nas esquinas da vida. Foi então que avistei um casal. Jovens. Parados em frente à entrada do vagão de primeira classe. Um olhando para o outro. Não diziam nada. Ela só tinha olhos para ele. Encharcados de lágrimas de amor. Ele tristonho também não tirava os olhos dela. – Eu volto para te buscar ele disse. Ela chorava baixinho. – Nunca vou esquecer-me de você meu amor. O último apito, um beijo simples, um roçar de lábios sedentos que não queriam se separar.

              O trem deslizando sobre os trilhos se despedia da estação sorrindo ao pensar que outra lá ao longe estava à espera dele.  Um último adeus. Ele correu e subiu nos degraus de seu vagão. Ficou ali de mãos estendidas como a dizer um adeus choroso para sempre. Ela sabia disto. Sabia que ele não iria voltar. Em pé olhava o trem apitando até sumir de vista na curva do rio. Um silêncio tomou conta da plataforma. Eu só ouvia o tic tac do telegrafo e os soluços da bela moça que havia perdido seu amor. Eu nada dizia. Não tinha nada para dizer. Ela estática não saia do lugar. Perdidos em uma estação de trem o mundo dela desmoronava. O meu chorava com ela. Ela se virou e me viu. Seus olhos estavam marejados de lágrimas. Eu de calças curtas com meu chapelão fiquei em pé. Queria me solidarizar. Não sabia como fazer. Ela deu um pequeno sorriso levantando o braço dizendo baixinho “Sempre Alerta”. Respondi do mesmo modo em posição de sentido. Lentamente ela se foi para seu destino.

               De novo a estação vazia. O sol do outro lado do rio teimava em se esconder na montanha. Não havia vento, nem uma leve brisa para trazer alguma notícia do meu trem. Sentei novamente e deixei minha mente viajar por este mundo de Deus. O Chefe do Trem se aproximou. – Um atraso de quatro horas. O Trem que subia desencarrilhou. Muitos feridos. O Trem que iria descer não tinha como passar. Não disse nada. Não tinha pressa. Minha mente corria sobre os trilhos a procurar o trem que se foi. - Será que ele sobreviveu? Sem resposta. E ela? Como avisar que seu amor poderia ter ido para o outro lado da vida? – Não tem como dizer. Ela se foi para sua morada sonhando com seu amor e sabendo que ele nunca mais iria voltar. Quem sabe é melhor assim. Dormitei no banco da estação. A noite chegou. A plataforma escura deu para ver alguns trovões no céu.

             A chuva chegou de mansinho. Não havia mais trovões e nem raios no céu. Eu gosto do som da chuva. Ela me trás uma paz e tranquilidade que revigora. Ao longe um apito do trem. Era o meu que chegava. Como um pássaro gigante sobre trilhos adentrou na estação perdida de um trecho qualquer. Um retorno sem consequências. Na minha morada meu amor dormia. Entrei de mansinho. Fui olhar meus filhos que adormecidos sonhavam com anjos do céu. Abracei minha amada de muitas vidas que estava ali ao meu lado. Ela sorriu. Pensei no amor da outra que tinha ido para sempre. Sina marcada. Destino escrito no livro da vida. Nada do que tem de ser muda. Sonhos que não foram vividos. Estrelas piscantes que se mantém no universo através dos tempos. Esperanças que nunca se acabam. Ainda deitado com as mãos entrelaçadas no peito eu lembrei-me de um poema – “Gota d’água brilhante, ainda suspenso num fio... Quando o sol quente a encontrou, partida que não teve o adeus de um lenço, história antiga que não tem mais senso, livro que o vento sem querer fechou”!


Nota – J.G de Araújo Jorge escreveu centenas de poemas. A estrofe escrita no final do conto é de seu poema Carta Inútil. Por sinal um dos mais bonitos que escreveu.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Respeitável público! Com vocês... O Palhacinho Juju!


Lendas Escoteiras.
Respeitável público! Com vocês... O Palhacinho Juju!

                       Ouvi esta história de um Chefe amigo que ouviu de outro amigo. Verdade ou não eu acreditei nela. – Chefe ele disse, o senhor já ouviu em algum lugar que os palhaços fazem a alegria de todos, mas que também são seres humanos e choram. Esta é uma história de um deles. Tudo aconteceu no Circo Mundo Magico. Foi lá que nasceu Justino. Pai e mãe húngaros malabaristas. Casaram-se no circo. Eram muito aplaudidos na sua apresentação. Possuíam um pequeno Moto-Rome roupas, uma TV preta e branca era toda sua fortuna. Fortuna? Pois é. Ainda tinham refrigerador a gás, um fogareiro de duas bocas, lembranças do passado e nada mais. Não tinham sonhos grandiosos, nem conta em banco, nem cartão de crédito. Nunca pensaram em sair do circo. Quando Justino nasceu fizeram uma extravagancia. Deram uma grande festa, distribuíram charutos e dançaram por toda a madrugada. O circo nunca teve lotação esgotada. Sempre as mesmas pessoas que aos poucos se tornavam amigas.
 
           À medida que Justino crescia viram que ele gostava de sorrir e pouco chorava. Quando completou dois anos notaram que Justino não conseguia andar. O levaram a um especialista, ao padre para benzer e tentaram um médium que dizia curar todo mundo. O especialista disse que ele não tinha as pernas atrofiadas. Mesmo assim Justino não conseguia andar. Ele sentia dor nas pernas, sentia vibração, mas nada. Justino fez sete anos e vivia em uma cadeira de rodas. Ele gostava de cantar, rodopiar em sua cadeira. Sempre gritava para todos ouvir que um dia seria um palhaço famoso. Um dia se pintou como um palhacinho e o deixaram brincar um pouco no picadeiro. Os poucos que estavam ali se encantaram. Agora a meninada aos sábados e domingos enchiam as arquibancadas. Batiam palmas, pulavam e gritavam – Viva o palhacinho Juju! Para ele foi o máximo. Agora era admirado e todos pediam que ele viesse logo nas apresentações. Claro que quando não estava no picadeiro Justinho sentia uma tristeza enorme. Aos poucos foi aprendendo a conviver com seus medos suas sombras e seus sentimentos.

              Quando se aventurava a sair das cercanias do circo, nenhum menino, nenhuma turminha o aceitava. O olhavam com piedade, demonstravam compaixão ou mesmo gritavam piadinhas sem nexo. Coisa que Justino detestava. Justino voltava para o circo e atrás do trailer chorava. Rezava pedindo a Deus uma vida diferente. Tudo se transformava quando estava no picadeiro. Lá o Palhacinho Jujú adorava fazer a platéia sorrir, cantar, brincar como nunca. Aprendeu a ler e escrever com o Senhor Josué proprietário do circo. Um dia ao entrar no picadeiro ele viu um grande número de jovens, meninos e meninas, alguns de azul, outros de caqui, com chapelões esquisitos que o aplaudiram com uma palma diferente, incrivelmente bonita, que tocou no fundo do coração de Justino. Um deles foi até ele e disse que era o maior palhaço que já tinham visto. Deu-lhe a mão esquerda e disse que o Escoteiro era amigo de todos e ele agora seria amigo dos Escoteiros. Ao terminar seu número ficou ali na coxia atrás das cortinas e olhando para eles. Eram alegres, batiam palmas diferentes, cantavam canções esquisitas e aplaudiam com uma sinceridade que tocou fundo o coração de Justino.

                  Naquela noite ele dormiu e sonhou. Um sonho lindo. Um campo com cheio de arvores, bandeiras ao vento, cantando o Rataplã, e ele sorria por estar no acampamento dos seus sonhos. Brincou, correu com os meninos Escoteiros jogou com eles, e viu passar em sua mente toda a felicidade que um escoteiro com pernas sadias pode ter. Acordou suado, era apenas um sonho Ele sabia que nunca poderia acampar nadar nunca. Lágrimas correram em seu rosto. Uma amargura profunda bateu forte no coração de Justino. Mal conseguiu tomar um café e engolir um pedaço de pão. Ouviu uma algazarra no circo. Não entendeu bem. Chegaram vários adultos uniformizados de caqui, com chapelão na cabeça, a procura do Palhacinho Jujú. Falavam que o Grupo Escoteiro votou a favor de levar o Palhacinho Jujú até o Grupo e homenageá-lo. Justino continuava não entendendo. Quando o viram o abraçaram. Diziam que Justino era um grande Escoteiro sem o saber. O queriam na abertura da reunião e ali entregarem para ele um certificado de gratidão.

                  Seus pais concordaram. Ficava a critério de Justino decidir se ia ou não. Ele estava perplexo. Como ele experimentara uma alegria que nunca teve quando no palco foi aplaudido por eles, Justino achou que devia ir. Era sábado e lá dezenas de meninos e meninas gritavam seu nome. Quando a Bandeira Nacional foi hasteada, Justino chorou. Agora diferente. De Alegria. Após a cerimônia chamaram Justino ao meio da ferradura e entregaram a ele um certificado de gratidão do Grupo Escoteiro. Uma honra que não era entregue a qualquer um. Justino se emocionou. Um convite de um monitor o fez ficar indeciso, mas Justino não tinha medo. Aceitou. Naquele dia se tornou um Coruja. Divertiu-se como nunca. Jogou com eles como se tivesse duas pernas. Cantou com eles. Aprendeu a dar nós, a fazer sinais, o que era uma patrulha, como era o Grupo Escoteiro. Justino vibrava com todo o seu ser. Final da reunião. Justino sabia como era. Sempre foi assim. Mais um sonho que se foi. Quando poderia de novo voltar?

                       Durante a semana sua vida de Palhacinho Jujú continuou a mesma. Sempre se lembrava do sábado mais lindo de sua vida. Nos seus sonhos ele voltava lá sempre. Não era um derrotado e iria lutar pelo que viu, participou e amou. A noite foi para seu cantinho onde chorava suas amarguras. Ficou lá longo tempo vendo as estrelas, alguns cometas que passavam com pressa, olhando a beleza do infinito. Ele acreditava que Deus na sua infinita bondade não se esqueceria dele. E não é que no sábado seguinte eles foram buscá-lo novamente? Justino, disse o Chefe, você agora faz parte da nossa fraternidade. Todo sábado teremos um para vir aqui e levá-lo. O coração do Palhacinho Jujú bateu forte. Agora seria um Coruja para sempre. Cresceu na patrulha. Foi segunda classe e nos acampamentos demonstrava uma agilidade sem tamanho. Parecia que o  Palhacinho Jujú não andava em uma cadeira de rodas. Um belo dia, em um acampamento em Lagoa Dourada, acordou não viu ninguém e sua cadeira de rodas tinha sumido. Olhou para todos os lados e parecia que alguém o empurrava para frente.


                  Ele não entendia o que estava havendo. Andou com dificuldade, mas andou. Todos aplaudiram. Muitos correram para abraçá-lo. Um verdadeiro milagre. Dizem que o escotismo faz coisas maravilhosas, que só os que crêem sabem que podem mudar o mundo. Justino voltou a andar normalmente. Estudou, entrou em uma faculdade, se formou, se tornou um homem com grandes qualidades morais. Comprou um trailer novo para seus pais. Não trabalhava mais no circo, mas era ainda muito querido por todos. Conheci seu circo e seus pais disse o Chefe. Hoje, o circo não existe mais. Todos se foram. Ninguém nunca se esqueceu das piadas, da maneira de interpretar do Palhacinho Jujú. Mas em cada coração daquela juventude do Grupo Escoteiro que conviveu com Justino, bate forte ao lembrar-se do Palhacinho Jujú. A emoção de vê-lo andar nunca será esquecida.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A solidão de Maria Thereza.


Lendas Escoteiras.
A solidão de Maria Thereza.

                    - A solidão de uma criança é diferente das nossas Chefe. Nany uma chefe Escoteira é quem me dizia. Fiquei pensando se era verdade. Mas solidão na mente de cada um de nós não difere de outra a não ser o motivo dela acontecer. Os poetas e os entendidos dizem que a solidão é um sentimento no qual uma pessoa sente uma profunda sensação de vazio e isolamento. A solidão é mais do que o sentimento de querer uma companhia ou querer realizar alguma atividade com outra pessoa não por que simplesmente se isola, mas por que os seus sentimentos precisam de algo novo. Até que concordo com esta explicação. Mas voltando a Nany Escoteira ela me contava a pequena epopéia de Maria Thereza. Epopéia? Nem sei se podia chamar de saga, aventura ou desventura. Como sofreu aquela menina. Ainda bem que um dia ela entrou para as Escoteiras. Não vou dizer que sua vida mudou, mas ajudou a suportar o que a vida lhe reservava.

                    - Posso lhe garantir Chefe que Maria Thereza amava a sua mãe. Seus olhos brilhavam quando estava junto a ela. Infelizmente e não sei por que Dona Carlota nunca ligou para sua filha. Não a proibia de nada e quando disse que ia ser Escoteira virou de lado lendo um livro e nem tocou mais no assunto. Eu não esqueço o dia que ela chegou ao Grupo Escoteiro. Triste, taciturna, nenhum sorriso e mesmo sendo apresentada a patrulha não disse nada. Se interessou ou não ninguém pode dizer até hoje. Eu mesmo Chefe fui algumas vezes a sua casa e conversei com Dona Carlota. Quer saber? – Ela nem nos meus olhos olhava. Para a patrulha Maria Thereza não era um estorvo, mas a continuar com aquela seriedade, com a falta de ambição em fazer as provas e mesmo nem perguntar quando poderia vestir o uniforme fazia dela a única que nunca se entrosou com nada.  

                   - Pois é Chefe, teve um dia que a mãe dela apareceu por lá. A reunião estava calma, ninguém conversando alto e ela chamou de longe sua filha. Maria Thereza sorriu. Que sorriso. A patrulha e a tropa nunca a viu sorrir assim. Sua mãe ali? Deve ter pensado. Mas ela ficou pouco tempo. Só avisou que ia viajar e iria ficar uma semana fora da cidade. Saiu sem mesmo abraçar sua filha. Eu pensei Chefe que depois daquele dia ela não ia mais voltar no grupo. Só disse para ela que se quisesse ficar lá em casa enquanto sua mãe estivesse fora, seria um prazer para mim. Maria Thereza não disse nada. Vi que seus olhos estavam vermelhos. – Sabe Chefe, eu pensava que não poderia haver uma mãe assim. Quando a reunião terminou e fui para casa notei que Maria Thereza  estava atrás de mim. Parei e dei a mão para ela. A princípio ela assustou, mas depois apertou minha mão com força. Minha mãe a abraçou quando chegamos. Meu irmão que já era um sênior deu a ela as boas vindas.

                    - Chefe ela se modificou por completo naquela semana que ficou em minha casa. Acredito Chefe que ela queria ter atenção, amor, abraços e sorrisos o que não tinha em sua casa. Minha mãe, Marcus e eu fazíamos tudo para ela ser feliz. Sua mãe ficou três semanas fora. Maria Thereza neste período nem se lembrava dela e se preparou para as provas como nunca. Logo me disse pronta para fazer a promessa. Pediu-me para ir a casa dela e na volta me deu duzentos reais. – Para o uniforme Chefe! De sua mãe ou seu? Eu perguntei. Minha Chefe, minha mãe me deu para gastar quando quisesse. Era muito para o uniforme e devolvi depois o que sobrou. No dia de sua promessa sua mãe chegou. Foi a sede para buscá-la. Expliquei o que ia acontecer e a alegria de sua filha que tinha mudado. – Bem ela disse, avise a ela que cheguei e estou em casa. Achei aquilo um absurdo. Ela ia saindo e a segurei pelo ombro. Falei tudo que tinha de falar. Dona Carlota se assustou. Parou e me olhou com os olhos húmidos.

                     - Sabe Chefe Nany, desde que Maria Thereza nasceu que fiz tudo para não ser uma mãe amorosa, para que ela não se apegasse a mim, pois eu tenho um câncer, isto já faz doze anos. Posso morrer a qualquer momento. O que seria de  Maria Thereza quando eu morresse? – Pensei bastante e olhe Chefe, eu não sou psicóloga e nem sei nada sobre isto. Só disse para ela: - Dona Carlota, hoje é um dia que Maria Thereza se preparou como nunca. Se a senhora morrer pelo menos dê a ela uma alegria de estar presente. Eu não entendo nada disto, mas se a senhora amanhã se for, que ela tenha uma lembrança de uma mãe que a ame e não que a despreza! -  Dona Carlota começou a chorar. Nesta hora Maria Thereza viu sua mãe e veio correndo. Abraçou-a, a beijou a acariciou. Falou coisas lindas com sua mãe.

                     - Chefe meu amigo, parece que uma luz do céu desceu ali no pátio e os anjos fizeram coro em uma canção de amor. Não sou espiritualista, mas vi um clarão azulado protegendo mãe e filha. Eu mesmo nunca vi um abraço como o de Maria Thereza e Dona Carlota. Se o mundo mudou para mãe e filha eu posso garantir que sim. Nunca mais vi Maria Thereza sozinha, taciturna e triste. Transformou-se por completo. Hoje ela é monitora na Tropa Sênior. Dizem que é a guia que mais distribui sorrisos. Eu Chefe fico pensando. O que um amor filial pode fazer? Ela não sabia que amava a filha e a filha nunca duvidou de seu amor por ela. O futuro agora seria feliz para sempre no coração das duas. E quer saber o melhor Chefe? Fiquei em Espera Feliz por muitos anos e enquanto morei lá. Dona Carlota estava viva, agora trabalhando muito, pois era uma ótima costureira e sempre tinha ao seu lado Maria Thereza a filha que sempre a amou e dizem que até hoje depois de sua partida, sorri quando vai a sua morada e reza.

“Um filho faz o amor mais forte, os dias mais curtos, as noites mais longas, a conta bancária menor, a casa mais feliz, as roupas mais largas (ou mais apertadas), o passado esquecido e o futuro digno de ser vivido.” Amor de mãe vence preconceitos, supera os limites, enfrenta todos os desafios e te ajuda a vencer. Amor de mãe, só Deus para entender. Simplesmente amor!   


Boa noite! Um sábado feliz em meio à lobada e escoteirada. Que as reuniões sejam com muitos sorrisos!                                     

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Um amor de criança.


Conversa ao pé do fogo.
Um amor de criança.

                     Foi um amor incrível. Meu primeiro. Quando a vi, meu corpo tremeu. Naquele dia ela nem me olhou. Estava com seus pais. Fui para casa só pensando nela. Jantei com dificuldade. Dormi sonhando com ela. Não sabia seu nome. Uma louca paixão desabrochava em mim. Treze anos e apaixonado. Acordei pensando como me aproximar. No Ginásio não prestei atenção na aula. Não dava. Lembro que o Padre Pedro me chamou a atenção. Não prestava atenção aos seus ensinamentos. Professor de geografia. Minha mente tinha passado por uma lavagem cerebral. Eu esperava ansioso a aula acabar. No portão do colégio nem liguei para os amigos. Na minha bicicleta querida fui correndo até sua casa na Rua Peçanha. Meio dia e eu encostado ao muro em frente à casa dela.

                    A janela fechada. Precisava vê-la. Eu tinha que vê-la. O sol do meio dia fustigava. Mas eu não iria sair dali enquanto não a visse. Sabia que minha mãe e minhas irmãs me esperavam para o almoço. Ninguém podia faltar a mesa, somente meu pai que estava trabalhando. Eu era o responsável em levar sua marmita. Ela não aparecia. Meu coração batia forte. Não dava mais para ficar. Corri até minha casa. Almocei rápido dei minhas quarentas bombadas na bomba da cisterna que fazia parte da rotina, e levei a marmita do meu pai. Voltei correndo para a Rua Peçanha. Naquele dia seria impossível dormir sem vê-la de novo. Tive sorte. A janela estava aberta. Ela chegou e me olhou. Um sorriso leve. Jogou seus cabelos louros de um lado para outro. Nossa! Ela me amava! Puxa vida então era recíproco? Agora eu sabia que seriamos felizes para sempre! Falei baixinho qual seu nome – Cilene respondeu sorrindo. Pensei em nossa casinha pintada de branco no Bairro onde morava. Janelas azuis, cerca de madeira pintada de branco. Canteiros de flores. Begônias, rosas, violetas centenas delas. Quem sabe girassóis em volta da cerca.


                        Ela ficou menos de cinco minutos na janela. Cinco minutos que me fizeram o homem mais feliz do mundo. Ninguém disse nada, mas tínhamos certeza que seriamos namorados eternos. Chiquinho chegou correndo com sua bicicleta Phillips inglesa pneu faixa branca. A minha era uma Hisqvarna sueca pneu balão. - A Patrulha estava em reunião na sede, disse. Estão discutindo e planejando o acampamento da semana santa em Rio Pomba. Seriam quatro dias. Já tínhamos planejado fazer um acampamento suspenso. Tudo lá no alto inclusive a cozinha. Iríamos estudar levar até água na cozinha suspensa. Eles me mandaram chamar você. Estão aguardando. Fui correndo com ele. Cilene minha amada? Esqueci. Era sempre assim. Agora era o escotismo e mais nada. Saudades dos meus treze anos, da minha Patrulha Raposa. Para dizer a verdade só fui lembrar-me de Cilene quando retornamos. Mas o amor? Não era tão louco assim. O escotismo sim, ele foi e é até hoje um grande amor na minha vida!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

As aventuras dos Escoteiros Manezinho e Alfeu. O Coronel Tibúrcio, o Capitão Barba Rubra e os jagunços da morte!


Lendas Escoteiras.
As aventuras dos Escoteiros Manezinho e Alfeu.
O Coronel Tibúrcio, o Capitão Barba Rubra e os jagunços da morte!

                         Manezinho, Monitor da Patrulha Leão procurou Alfeu da Tigre. Corria o mês de janeiro e eles não tinham nada para fazer. A cidade sem atrativos, o Grupo Escoteiro em férias e a maioria dos amigos escoteiros viajando. - Olhe Alfeu, estou entediado. Sem nada para fazer e sem atividades na tropa e todos viajando porque não fazemos aquela viagem a Pirapora e lá pegar uma gaiola a vapor e descer o São Francisco até São Romão? - Alfeu riu alto. Você está doido Manezinho. Como? Sem dinheiro? E precisamos de pelo menos quinze dias. – Alfeu, calma, eu bolei um plano. E ele contou tudo que planejou. Manezinho a principio ficou em duvida, mas a viagem seria espetacular. De tanto pedir na estrada de ferro, conseguiram uma passagem de segunda Classe até Pirapora. Não deu outra. Embarcarem em uma sexta à noite. A viagem tranquila. Chegaram pelas oito da manhã. O rio São Francisco na ponte de Buritizeiro era lindo, corredeiras fantásticas. Procuram logo o porto da cidade.        

         Caolho e Pé de Chumbo estavam escondidos na gruta do Diabo a mais de dez dias. Água não faltava e peixe também não. A lagoa do Dourado estava perto. Caolho conseguiu matar uma capivara e ela foi à salvação. Mas já estavam fartos daquela carne. Sem sal só assado não dava mais. Sabiam que tinham de ficar ali por pelo menos cinco dias. Pé de Chumbo levou um balaço na coxa esquerda por um maldito volante e foi um Deus nos acuda para tirar a bala. Maldito Coronel Tibúrcio. Maldito mesmo. Não dava folga e nem sossego. Três anos fugindo dele. Percorreram boa parte do sertão. E o danado não desistia. Graças a Deus que ainda estavam com seus dois fuzis e seus Colt 45. Uma centena de balas que dava para o gasto. O plano deles era ir até São Romão, pintar o cabelo, fazer a barba e com roupas novas embarcariam na Gaiola  até a Bahia. Dali seria fácil ir para São Paulo. Caolho era bom sujeito. Várias vezes tentou rezar, mas a reza não ajuda. Era um excelente atirador e diziam que onde colocava os olhos colocava uma bala.

            O Coronel Tibúrcio estava no bar do Caveira. Como sempre estava sempre alerta olhando tudo que via e de costas para a parede. Um costume de quem pegava bandidos a unha. Falou com o prefeito e o Major da Capitania dos Portos. Queria liberdade nos barcos da capitania. Só assim poderia prender Caolho e Pé de Chumbo. Tinha enormes bigodes e duas mãos enormes. Diziam que matado centenas de pescoços de jagunços com suas próprias mãos. O Sargento Minerva e o Cabo Horivaldo pelavam de medo dele. Quando falava sua voz parecia um trovão. Prefeito e o Major Saldanha só diziam que se fosse à barca do Capitão Barba Ruiva não ia dar. Olhe Coronel ele chega hoje à tarde. Fale com ele. – Vou sim ele vai ver quem manda. Sou um Coronel e matador de pistoleiros e jagunços. Ele é um simples capitão. Deve-me respeito!

             O Capitão Barba Rubra estava na proa, e o Imediato Cata Preta era quem tomava conta do timão. Mais dois quilômetros e chegariam a Pirapora. Se pudesse voltaria no mesmo dia. Já morria de saudades de Lucinha. Como gostava daquela moça. Casou com ela há dois anos e parecia que foi ontem. Queria que ela morasse com ele no barco. Mas ela não quis. Barba Rubra amava o barco. Quando aportou viu aquele coronel de fancaria com mais de trinta volantes. Ali no cais achava que era o rei do mundo. Deu suas ordens para descarregar a gaiola. Passava das cinco quando tudo acalmou. O Coronel Tibúrcio subiu a bordo. Olhou de soslaio o capitão do barco. Uma figura imponente. Alto, muito, acharam que tinha mais de dois metros, forte, moreno e seus cabelos e barba rubra chamavam a atenção. Tinha um vozeirão que fazia medo. Começaram a discutir. Alfeu e Manezinho que chegavam acharam que ia haver briga. Muitos volantes (soldados) tomaram posição com seus fuzis. Mas o Coronel Tibúrcio aceitou as condições do capitão Barba Rubra. Manezinho o que se achava mais líder se aproximou do capitão – Capitão, sempre alerta! – O capitão olhou e pensou – Que diabos são estes meninos de uniforme? Manezinho explicou tudo. O Capitão Barba Rubra estava fulo com o coronel Tibúrcio. Mandou-os subir ao convés. Conversaria com eles depois. Mais tarde os procurou, se arranchem em um canto qualquer e se precisarem de uma rede falem comigo.  

              À tardinha o barco partiu. O Coronel estava fulo de raiva. Queria o barco só para eles. Estavam atrás de uns jagunços e precisam chegar logo a São Romão. O capitão sabia que hora menos hora teria que enfrentar o Coronel. Não gostava dele. Nunca tinham topado, mas já ouvira falar que não era boa bisca. Gostou dos tais meninos escoteiros. Dois valentes para ele. Lembrou-se de sua infância. Sofreu muito, mas valeu. Tinham pedido para os levarem a São Romão. Claro que sim. São meus convidados disse. Não gostou quando disseram que iam voltar pela Trilha da Morte. Sabia que era um lugar perigoso. Grutas, cavernas, cascavéis aos montes e muitos jagunços escondiam ali. Explicou mas eles disseram que não iriam parar nas grutas.

               O Coronel Tibúrcio estava numa cabine tão pequena que mal cabia lá. Preferiu ir para o convés e lá tomar algumas cervejas, mas suas costas ficariam desprotegidas pela margem do rio. O Sargento Minerva e o cabo Horivaldo ficaram protegendo suas costas. Seu plano era descer em São Romão, e olhar de gruta em gruta para ver se achava aqueles filhos da mãe. Ia matar cada um deles como um porco do mato. Era o que mereciam pelos roubos e pelas mortes que cometeram. Não iria levar nenhum deles, não valeria a pena. Melhor é encher eles de balas e quem sabe cortar a cabeça como exemplo? Riu de seus pensamentos. Ficou ali pensando como gostaria de dar uns tapas naquele capitão de merreca. Um capitão! Querendo ser mais que um Coronel. No dia seguinte chegaram a São Romão.              Manezinho e Alfeu despediram do Capitão Barba Rubra. Com suas mochilas as costas e seus chapelão Escoteiro, disseram adeus e partiram. Sabiam que iam sentir saudades. O capitão foi muito legal com eles. Seguiram conforme o planejado pela Trilha da Morte. Era nove horas da manhã. Quarto dia de viagem. A trilha era gostosa. Quase não tinha subida. Pararam perto de uma lagoa para pernoitar e jantar. Um arrozinho com linguiça seria uma boa.

                  Alfeu foi até a lagoa ver se dava para pegar uns peixes. Não viu um homem que pegava água em dois cantis. Só viu quando ele apontou uma arma. – Mandou chamar Manezinho. Venham comigo se não quiserem morrer. – Fazer o que? Foram com ele morro acima. Levaram suas mochilas e escondidos atrás de muitos galhos entraram em uma gruta. Tinha outro lá. Deitado com muito sangue na roupa. Manezinho e Alfeu tremiam de medo. Tomaram deles a mochila e reviraram tudo. Riram quando acharam um pouco de arroz, linguiça, e macarrão. O Capitão Barba Rubra ficou cismado. O corre. corre do Coronel Tibúrcio para seguir a Estrada da Morte onde foram os Escoteiros o preocupava. Sabia que podia acontecer o pior. Se os escoteiros fossem encontrados por bandidos o Coronel Tibúrcio não iria perdoar. Mataria a todos. Tomou uma resolução. Disse para Cata Preta o imediato tomar conta do barco e não partir enquanto ele não voltasse. Pegou seu Taurus de seis tiros, levou também seu Colt 38 cano curto. Conseguiu um cavalo na estação da barca. Partiu a galope. Ouviu o tiroteio de longe. Maldito Coronel!

                 Virou a trilha na entrada da lagoa e avistou os soldados entrincheirados e fazendo um verdadeiro fogo de tiros em cima de uma caverna.  Chegou gritando – Pare Coronel pare! Lá em cima tem dois escoteiros! São dois meninos! – O Coronel Tibúrcio assustou. Que diabos este capitão merreca estava fazendo aqui? Sabia dos jagunços na gruta, mas dos escoteiros não. - Suma daqui capitão, falou. Suma! Esta briga não é sua e que se danem os escoteiros. Não fui eu que os levou lá. Mas não deu outra, o Capitão Barba Rubra apeou do cavalo e se atracou com ele. Uma briga dos infernos. Não deu tempo de usarem suas armas. Manezinho e Alfeu choramingavam de medo. Ouviram quando alguém gritou - Entreguem-se! Vou contar até dez! Depois podem rezar e entregar a alma para o diabo! Entregar? Nunca. Eles sabiam que o Coronel não perdoava e não faziam prisioneiros. Um tiroteio começou. Manezinho e Alfeu correram para o fundo da gruta. Caolho e Pé de Chumbo aproveitaram para correr pela encosta e sumiram na estradinha para Buritizeiro.

              O Coronel Tibúrcio estava deitado com muitos dentes quebrados. A luta fora sangrenta. Ambos eram homens destemidos. O Capitão Barba Rubra estava sangrando. Viu que um dos volantes atirara nele. Tinha levado um tiro no ombro. O danado do Coronel não era homem de apanhar sem vingar. Seu volante atirou a queima roupa. Sangrava muito. O Coronel mandou os soldados prendê-lo. Ninguém se aproximou. Deu tempo para o Capitão tirar o seu Taurus e o Colt de seis tiros cada um e botar para correr os volantes do Coronel. O Coronel olhou para ele e disse: – Vai ter volta seu capitão de fancaria. Não vou perdoar esta intromissão na minha missão. Pegou seu cavalo e sumiu na virada da trilha atrás de seus volantes. Manezinho e Alfeu correram até onde estava o Capitão. Estancaram o sangue do ombro do Capitão.  – Pode ficar tranquilo Capitão. A bala saiu do outro lado. Tinham uma pequena caixa de primeiros socorros com mercúrio cromo e junto a um pedado do lenço que levavam colocaram na ferida. Fizeram uma tipoia com seus lenços e acharam o cavalo do capitão.


            Demoraram mais de duas horas para retornar a São Romão. De lá partiram de ônibus para Pirapora. O adeus ao Capitão Barba Ruiva foi choroso. Até aquele Capitão que não tinha medo e enfrentou uma tropa de muitos soldados e o mais famoso Coronel da redondeza viu que lágrimas caiam quando da partida dos escoteiros no ônibus. Muitos meses depois eles levaram um susto. O Capitão Barba Rubra apareceu na reunião com sua esposa. Foi uma festa. Todos queriam conhecer o famoso Capitão Barba Rubra. Dizem que Caolho e Pé de Chumbo conseguiram escapar e hoje moram em São Paulo. O Coronel Tibúrcio se aposentou e comentam também que ficou amigo do Capitão Barba Rubra. Histórias são histórias, servem para divertir. Dizem que o Capitão Barba Rubra ainda está vivo. Sei não. Um dia vou a Pirapora para confirmar, afinal sou Escoteiro e acredito em tudo que me contam!