No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Obrigado por me dar a honra de ser meu amigo e minha amiga!



O ANO FINDA, OUTRO COMEÇA, E COMO BOM MINEIRO DIREI AO ENTRAR EM 2014 - “A NÓS AQUI TRAVEIS”!

Obrigado por me dar a honra de ser meu amigo e minha amiga!

Hoje não vou escrever uma história. O dia foi para analisar o ano que passou. Um ano proveitoso para muitos e principalmente para mim que adquiri centenas de amigos. Os amigos chegaram e os recebi de braços abertos. Na minha página do Facebook, no Grupo Escotismo e suas Histórias, em meus sete blogs sem contar um Clube de leitura via e-mail onde os comentários do que escrevo são vários. Nem todos concordaram com tudo que escrevi, mas não dizem que toda unanimidade é burra? Bem vindos os que deram sugestões, os que fizeram críticas simpáticas, os que por falta de tempo nada disseram. Todos a sua maneira enriqueceram as minhas publicações.
Nunca em minha vida me senti tão feliz ou quem sabe, mais feliz do que se estivesse na ativa com os jovens. Publiquei milhares de fotos quase todas de jovens enaltecendo o escotismo, respondi centenas de e-mails de membros do escotismo todos com suas dúvidas. Em quase todas as minhas escritas fiz questão de falar em um escotismo autêntico, de uma Lei de uma Promessa, comentei sobre a honra, a palavra, a lealdade, a ética e tudo que nossos jovens precisavam conhecer e saber. Se não ajudei mais foi porque minha saúde não ajudou.
Não agradei a todos. Sabia que não. Usei da minha liberdade de pensamento para discordar com nossos dirigentes com os destinos do escotismo no Brasil. Não bati palmas como alguns queriam. Poucos formadores entraram em contato e por isto não dei um sorriso e um abraço, mas aos demais chefes eu fiz tudo para motivá-los. Sai duas vezes da minha caverna para visitar atividades escoteiras a convite. Senti-me honrado onde fui. Por falta de outros convites não houve mais visitas.
Não sei o que me reserva em 2014. Espero que repita 2013 um ano muito frutífero para mim. Entretanto o que vier aceitarei sem reclamar. Seguirei sempre nesta trilha de falar o que penso, de passar o que aprendi, de ajudar quando posso e estar sempre com um sorriso, claro quando não for chorar. Obrigado amigos e amigas por me aceitarem como sou. Estou orgulho de ser amigo de todos vocês.

Gostaria de estar presente e apertar a mão individualmente de todos. Não sendo possível o faço mentalmente com orgulho de ter você como meu amigo. Que 2014 seja o ano do escotismo. Não importa qual nação. Que a felicidade more no coração de todos vocês para sempre!

FELIZ ANO NOVO!

Chefe Osvaldo Ferraz.

Obrigado Senhor por tudo que me destes por todos estes anos.



Um poema sem nexo de um Velho Escoteiro.
Obrigado Senhor por tudo que me destes por todos estes anos.

“Senhor obrigado por ter feito de mim um Escoteiro”,
A ser também um mateiro, mil noites, em campos sem fim.
Por me deixar conhecer a natureza perfeita, a sua maior obra...
Obrigado senhor por me dar a visão, por ela eu vi o sol,
Vi a lua, as estrelas e o firmamento. Doces momentos, obrigado Senhor.
Tudo que me destes fez de mim o que eu sou. Me deste a água da fonte,
Fez de mim amigo dos animais, deixou-me andar pelas florestas do mundo,
Conhecer pássaros coloridos e Gaviões tão grandes que me fizeram sorrir.

Senhor eu agradeço de coração, pois me deu além do que merecia.
Meu deu o olfato para sentir o cheiro da terra, sentir o perfume das flores,
Deixou-me rolar em uma campina florida, sorrindo junto a borboletas douradas.
 Eu consegui Senhor só porque sou Escoteiro, senti o aroma da orquídea,
Nas florestas verdejantes e tão distantes que um dia explorei.
Eu sei senhor que fui um privilegiado, conheci a chuva tão doce a me refrescar.
E por ter me dado o tato eu a pude senti-la em meus ombros, O ribombar e o Estrondo, de uma tempestade juvenil.  Eu tive a benesse, de acariciar a
Pele de um esquilo, em um vale colorido quando o sol se escondeu.
Brinquei com os dedos no dorso, de um Lobo cinzento charmoso,
Que me aceitou venturoso como irmão de ideal.
Senhor quer alegria maior do que sentir o vento no rosto?  
Sentir o orvalho da madrugada? O sol nascer e o cantar dos pardais?
A audição que me destes, deixou-me ouvir os sons da natureza.

Meu Deus que alegria, ouvir o cantar da passarada, ouvir o trinar do bem-te-vi,
O som da cascata murmurante, o trovão da cachoeira distante,
O piar da Coruja no carvalho, ouvir o lenho arder nas noites de fogo amigo. As
Chamas tão vermelhantes, fazendo o lenho arder e fagulhas subindo aos céus.
O sorrir da meninada a cantar o Guinganguli, os olhos lacrimosos lembrando,
Da canção da despedida, cantada em versos sofridos, mas alegres no despertar.
Nada Senhor é mais lindo que sentir a respiração, ao subir em uma árvore.
A nadar num belo remanso e ver peixinhos a pular. E Senhor, ver todos,
Meus companheiros, cantantes alegres e faceiros, infantes lá nas estradas,
A marchar em terras desconhecidas, e na trilha do alvorecer!

Obrigado mesmo meu Senhor, por ter me dado o paladar. Estalar a língua no
Almoço e no jantar, feito pelo meu amigo cozinheiro. Ele um bom Escoteiro,
Não reclama mesmo se o sal faltar, se tiver picadinhos de folhas rosa,
 Se uma formiga no arroz pedir socorro, à gente a retira e nunca vai reclamar.
Tudo isto senhor será motivo de glória, pois sabemos que o que fizemos,
E o que somos, irá ficar na memória e para sempre em nossa história.
Obrigado Senhor, e nesta passagem de ano, eu nos meus setenta e três anos,
Ainda tenho no coração a alegria de um menino que nunca deixou de sorrir.
E sonhar. Sabe Senhor, a graça que me concedeu, de me dar grandes amigos.
Que os outros da minha idade, possam lembrar com saudade de tudo que aconteceu.
Aceite o agradecimento, de um Velho Lobo teimoso, que se acha venturoso,
Por ter estado presente em sua obra tão linda e eu só posso dizer:
Valeu meu Deus. Valeu! Escoteiro eu sou graças a ti!

   Vamos passando, passando, pois tudo passa. Muitas vezes me voltarei, as lembranças são trombetas de caça, cujo som morre no vento.

(Guillaume Apollinaire)

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Uma noite maravilhosa de Natal!


Lendas escoteiras.
Uma noite maravilhosa de Natal!

                 Eu sempre tive um carinho enorme pela noite de natal. Família reunida, muitos presentes, abraços uma bela ceia isto sempre me encantou. Triste eu ficava quando lembrava que muitos não tinham esta minha felicidade. Já passava da meia noite e junto com minha esposa admirávamos na varanda os foguetes e a luzes no céu. Uma enorme tristeza se abateu sobre mim.  Lembrei-me da última visita que fiz na casa do Chefe Maninho. Sempre foi um pai para nós escoteiros de Esperança Feliz. Dizem que ele entrou para o Grupo em 1943. Ficou mais de sessenta anos no escotismo. Sempre notei nele uma pessoa triste, um olhar perdido no horizonte, olhos fundos e sempre com uma lágrima furtiva que ficava tentando esconder.

                  Chefe Maninho morreu há dois meses. Nas suas exéquias poucos foram. Nunca entendi isto. Esperava uma multidão e não foi quase ninguém. Claro era difícil vê-lo sorrir. Acho que ninguém nunca recebeu dele um abraço. Era muito fechado em si mesmo. Nunca esqueci o que ele me contou um dia. O Fogo do Conselho havia terminado e ficamos lá eu ele, Rosa uma Chefe Escoteira, Nair sua Assistente e Paulo Alberto um Chefe de tropa. Ficamos conversando e a meia noite todos foram dormir. Ficamos só eu e ele. Não sei por que ele estava com os olhos marejados de lágrimas. – Calma Chefe eu disse. Está se sentindo mal? - Não meu amigo, respondeu. São as lembranças que não cessam. E então, começou a contar parte de sua vida que acredito era desconhecido por todos que ficaram ao seu lado por muitos e muitos anos.

                 - Chefe, eu perdi meu pai quando tinha dez anos. Eu o adorava. Ele era tudo para mim. Levava-me aos parques de diversões, me levava em alto mar para pescar, fomos acampar em lugares inóspitos e mesmo já sendo um Escoteiro eu vibrava em sua companhia. Ele era Militar das Forças Armadas. Segundo Sargento do Regimento de Infantaria e todos o admiravam pelo seu caráter, por ser tudo o que hoje não sou. Um pai alegre, prestativo, amigo e muito respeitado não só em seu regimento como em toda vizinhança. Ele mesmo me contou com orgulho que fora incorporado ao 3º Regimento do Exercito Brasileiro. Um regimento da Força Expedicionária Brasileira. Em poucos meses ele partiu para a guerra na Itália.   Eu e mamãe choramos muito quando ele partiu. Sabe amigo Chefe, ele partiu em uma noite estranha, cuja lembrança nunca mais me sai. Chamou-me e disse – Filho, seu pai vai lutar lá na Alemanha. Vou me cuidar. Ainda vamos fazer grandes coisas, eu e você. Eu voltarei.

                  - Nos primeiros meses ele escrevia sempre. Mamãe, minha querida mamãe! Ela lia suas cartas, baixinho devagar, dizia que logo estaria de volta, pois a guerra estava prestes a acabar. Todos os dias ele vinha em meus sonhos, e nele retornava como se estivesse me abraçando. Passou um ano e ele não voltou. No natal escrevi para o Papai Noel uma carta. Uma carta simples, só pedia ao meu bom amigo que trouxesse de volta o meu papai que foi lutar na guerra. – Olhe Papai Noel, você que pode mais que a gente, e tem uma força sem igual, me dê Papai Noel este presente, se possível nesta noite milagrosa de natal. Mas nada. Nem resposta. No ano seguinte escrevi de novo. – Papai Noel, meu santo e bom paizinho, eu tenho meu coração como uma brasa, nesta hora triste em rezar ao Senhor eu venho. Papai Noel, se todos têm o seu papai em sua casa, só eu Papai Noel é que não tenho?

                Os dias, os meses foram passando. Mamãe só vivia pelos cantos chorando. As cartas não vieram mais. O silêncio era completo. Lembro-me que um dia mamãe passou a se vestir de preto e nunca mais sorriu para ninguém. E para piorar tudo meu amigo, um tarde chuvosa do mês de julho, bateram em nossa porta e dois oficiais do Exército Brasileiro entregaram a minha mãe uma medalha. Disseram a ela que ele tinha sido um herói. Mamãe, mamãe, eu quero meu papai! Ela calada, taciturna não chorou mais. Seu rosto lindo que nunca esqueci agora parecia uma mascara de cera. Na missa dos domingos ela disse para o Padre Antonio que estava perdendo a fé. Perdeu seu marido na guerra, ainda tinha seu filho, mas o mundo para ela desmoronou.

                 Sabe meu amigo, aquele mil novecentos e quarenta e cinco foi o ano que mais chorei. Eu sempre a noite rezava. Não acreditava que ele tivesse morrido. Jesus, meu amado e bom mestre eu dizia, se os tais heróis não voltam para casa, será que vale a pena ser herói? Senhor Jesus, meu santo e bom paizinho, me dê neste natal um presente. Acabe com minha revolta e me traga de novo o meu papai que foi brigar na guerra. Eu sei que o Senhor pode tudo e sei que vai dar um jeitinho de mandar o meu papai de volta. – Olhei para ele e ele chorava. Um "Velho" de oitenta anos chorando. Continuou a me contar - Olhe meu amigo Chefe. Não dá para esquecer. Acho que mamãe sempre ouvia minhas preces, pois um dia, naquela noite de natal, eu dormi abraçado com o retrato do meu pai. E confesso que tive lindos sonhos com ele. E sabe meu amigo Chefe, ao acordar gritei surpreso, pois lá estava enrolada em meu sapato uma enorme bandeira do Brasil!

               Sem palavras. Chorava ali com aquele velho naquele fogo que aos poucos se apagava. A brisa vinha de leve a nos dar um pouco de calma, de frescor. As pequenas fagulhas ainda existiam naquela fogueira que eram agora somente cinzas. Havia ainda algumas fagulhas que se arriscavam ainda a subir aos céus. Lânguidas e serenas para logo serem levadas com o vento. Papai Noel. E quem ainda não acredita nele? O natal, linda noite para alguns, muitas tristezas para outros. Abracei com força o Chefe Maninho. Ficamos ali até o amanhecer.  Nunca mais o esqueci. Que Deus esteja com você meu amigo, nestes pastos verdejantes do céu, junto ao seu papai e sua mamãe!

(História baseada no poema de Orlando Cavalcante, “Oração de natal de um órfão de guerra”).

     

sábado, 28 de dezembro de 2013

A história de Natalie escoteira, uma Condensa do Castelo de La Possonnière.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
A história de Natalie escoteira, uma Condensa do Castelo de La Possonnière.

                    Conheci Natalie a muitos e muitos anos atrás. Trabalhava para uma empresa como técnico mecânico de máquinas pesadas e muitas vezes eu viajava em cidades por todo o país para dar assistência, treinar operadores ou mesmo até fechar alguma venda. Como Escoteiro que sou não deixava de procurar um Grupo Escoteiro nas cidades que ia. Em uma cidadezinha no interior de um estado brasileiro, me apresentei ao Chefe do Grupo que insistentemente achando que eu era um “expert” em escotismo me convidou para o período de um mês e meio que ficaria lá, a dar a ele assistência na reformulação do grupo e quem sabe na arregimentação de pais. Era uma área que dominava bem. Em todos os grupos que passei sempre fiz amizades com eles e a maioria se oferecia para colaborar como escotistas, diretoria ou mesmo instrutores de especialidades.

              No primeiro sábado que lá estive, fizemos um périplo pelas sessões e vi uma Escoteira de uns onze ou doze anos sentada em uma cadeira no canto do pátio. Enquanto todos se movimentavam ela permanecia lá, indiferente, sem se mexer e sorrindo. Era uma linda jovem, loira, olhos verdes, cabelos cor de palha, e magra. Muito magrinha. Tinha um sorriso encantador. Perguntei o porquê daquilo e ele me disse que em algumas reuniões ela sentava ali por algum tempo e parecia estar em outro lugar, vivendo outra vida e quando resolvia falar contava casos incríveis. Sempre disse que era a Condensa Natalie, nascida em 1770 na França, mais precisamente no Castelo de Lá Possonnière no Condado de Vendôme. Não entendíamos nada. Seus pais gente humilde nos pediu ajuda e ajudar como?

               Concordei com ele. Muitas vezes nós chefes nos colocamos como professores, padres, pastores, psicólogos, políticos como se fossemos super homens e somos somente um ser vivente como todos. Esquecemos que estamos ali para colaborar e não substituir alguém que pode realmente ajudar. A cidade era pequena, onze mil habitantes. Não tinha psicólogo e nem seus pais tinham condições de pagar. O Grupo aceitou, pois quando não estava “viajando” (maneira como ele dizia) era uma excelente Escoteira. Em seu colégio todos a adoravam, mas seus professores tinham medo de suas crises. Cheguei mais perto e perguntei inocentemente onde ela estava. Incrível a sua história:

             _ Sou do Condado de Vendôme, moro no castelo de La Possonniére, meu pai é o Conde Livorno. Minha mãe morreu quando eu nasci ao dar a luz. Estou com doze anos e meu pai foi preso. Ele me contou que houve uma revolução e ele podia ser preso. Disseram que ele era da realeza, pois estavam prendendo todo mundo que participavam da Corte. Isto aconteceu no inverno de 1793 e o nosso Rei Luis XVI foi levado ao cadafalso e decapitado. Uma onda de vingança estava ocorrendo na França. Meu pai foi preso. Morreu dois anos depois tuberculoso na prisão. Sempre achei que isto nunca aconteceria a nossa família. Éramos descendentes do Conde Pierre de Ronsar, um poeta famoso que foi dono do nosso castelo. Ela se calou. Seus olhos viraram como se fosse estrábica. Acordou de sua “viagem” como dizia seus pais e chefes e correu a brincar com sua Patrulha. Fiquei estupefato!

              Durante as duas primeiras semanas Natalie não disse nada e nem “viajou”. No hotel foi que fiquei sabendo que um menino surdo mudo de oito anos tinha desaparecido. A cidade em peso o procurava. Multidões percorriam as ruas e a noite com enormes tochas percorriam vielas, beira de riachos, rios e morros próximos. O padre rezava missa quase cinco por dia. Todas com a igreja cheia, pois pediam a Deus para que o menino fosse encontrado. O Delegado abanou a cabeça e pensou que ele já estava morto. Um filho da mãe de um estuprador de crianças. Dois dias depois no sábado fui à reunião do Grupo Escoteiro. Em dado momento Natalie correu para sua cadeira e balançando a cabeça viajou como sempre fazia. Agora dizia em voz alta e repetindo sempre - Poço do Roncador! Poço do Roncador! Poço do Roncador! Ninguém entendia nada. Ela nunca disse isto e quem sabe suas viagens estavam piorando? – Foi então que um lobinho veio dizer ao Chefe que havia um Poço do Roncador atrás da Serralheria do Bastião onde os meninos gostavam muito de brincar.

             O Chefe me chamou e fomos correndo até lá. O menino lá estava. Ainda vivo. Quase morto com água pela cintura. Eu mesmo desci pela corda e o amarrei para levantá-lo. A cidade inteira soube e correu para lá. Um grito de alegria saiu de cada um. Seus pais Riam e cantavam a mais não poder.


             Cinco anos depois voltei àquela cidade. Procurei o Grupo Escoteiro. Era outro Chefe de Grupo. Perguntei por Natalie. Foi embora disse. Seus pais não aguentavam mais a romaria que faziam em frente a sua casa. Achavam que ela poderia contar sobre parentes que já morreram outros querendo saber resultados de loteria. Um inferno. Fiquei pensando que o desconhecido para nós sempre é motivo de duvidas. A menina era “médium”. Um tipo especial. Uma grande amizade de seus anjos protetores. Uma vida no passado que não esqueceu. Mas histórias são histórias. Umas são alegres outras tristes. Mas todas elas podemos dizer – “São coisas da vida”! 

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Uma canção para o Canário Amarelo de Giacomo.



Contos de Natal.
Uma canção para o Canário Amarelo de Giacomo.

Imagine que não há paraíso. É fácil se você tentar
Nenhum inferno abaixo de nós, acima de nós apenas o céu.
Imagine todas as pessoas vivendo para o hoje .

         Era apenas um filhotinho de canário amarelo caído do alto de uma castanheira em flor. Ficava em pé com dificuldade e já sabia que não podia voar. Sentiu-se só e abandonado. Sua mãe saíra para buscar o almoço e não voltou. Estava ali há horas e a fome só aumentando. Tentou um lugar para esconder, pois sua mamãe canária lhe dissera para tomar cuidado com o Gavião Malvado. Ele podia morrer se fosse encontrado só. Mas o que ele poderia fazer agora? Não podia andar e nem voar. Era muito pequeno e ali perdido naquela grama alta seria descoberto logo. Poderia ser pelo Gavião Malvado, poderia ser por um animal da floresta e poderia ser também pelo filhote de homem. Eles gostavam de machucar os pássaros da natureza. Fechou os olhos e chorou. Dizem que canário não chora, mas ele chorava. Saudades de sua mamãe canária, saudades do sua Tia A coruja Buraqueira. Ela também o protegia, mas desapareceu como o vento na tempestade.

Imagine não existir países não é difícil de fazer,
Nada pelo que matar ou morrer e nenhuma religião também,
Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz.

              Ele ouviu passos. Pequenos passos de um menino pequeno. Ele o viu. O filhote de Canário Amarelo tremeu. Era sua hora de morrer. Meninos não gostam de pássaros assim disse sua mamãe canária. O menino vestia de azul com um lenço verde e amarelo no pescoço e um boné azul também na cabeça. Ele não sabia o que era isto. Mas viu que o menino sorria, não o maltratou. Tentou falar com ele, mas ele não o ouvia. O menino viu que ele não podia andar nem voar. Saiu correndo e algum tempo depois voltou. Colocou em sua frente semente de arroz cozida. Em uma latinha havia água de beber. Ele viu que o menino de azul tinha um bom coração. Se sentiu revigorado após comer e beber. O menino ficou ali, não foi embora. Um sorriso simples como a dizer – “Não tenha medo eu tomarei conta de você”. Ele dormiu em paz acreditando na paz do menino de azul. Não sonhou. Canários não sonham. Acordou sozinho, pois o menino de azul se foi. De novo sozinho. De novo o medo. Agora tinha água e comida e mesmo assim ele não podia fugir dos seus predadores.

Você pode dizer que sou um sonhador
Mas não sou o único, tenho a esperança de que um dia,
Você se juntará a nós e o mundo será como um só.

          A noite chegou. Ele não tinha medo da noite. Para ele o dia e a noite era igual. Gostava mais da noite, pois podia se esconder. Ganharia mais um dia na vida. Sabia que o menino de azul não ficaria ali por muito tempo. Viu ao longe um amarelo branco aparecendo. Era a alvorada. O dia estava chegando. Onde estaria o menino de azul que lhe deu água e comida? Onde ele foi? Não entendia porque ele sumiu. A comida não iria durar muitos dias. Ele era pequeno tinha de comer bastante. Sentiu seu corpo revigorar. Levantou as asas e ela bateu para cima e para baixo. Tomou distância em uma trilha correu e saltou para o espaço. Caiu feito uma abóbora madura. Ainda não estava na hora? Impossível, ele tinha de tentar e tentou muitas vezes. Qual foi sua surpresa que de tanto tentar levantou voo. Como era lindo voar. Rodopiou no ar varias vezes e quase foi engolido pelo Gavião Malvado que voava por trás. Ele não viu. Não sentiu o som de suas asas.

Imagine não existir posses me pergunto se você consegue
Sem necessidade de ganância ou fome uma irmandade do Homem
Imagine todas as pessoas compartilhando todo o mundo.

      Ele viu ao longe uma onça parda olhando por um precipício e sabia que devia ser sua caça. Ele estava à espreita, mas não atacou. Vou baixo para ver e qual foi seu espanto quando viu o menino de azul caído no buraco fundo. Ele estava com os olhos fechados e parecia estar com dor, pois chorava e cantava baixinho – Meu Jesus me proteja, não deixe que nada aconteça comigo neste dia de natal. Meus pais irão chorar quando não me virem na ceia da meia noite. Senhor Jesus amado, não quero que eles chorem. O filhote de Canário Amarelo sabia que precisava fazer alguma coisa. O menino de azul o salvou e ele tinha de fazer o mesmo. Pousou em um galho de uma arvore e ficou pensando. Sentiu um esvoaçar nos céus. Milhares de Canários Amarelos o procuravam por todos os lugares. Sua mãe o viu, voou até ele e com bico o beijou varias vezes. Ele contou para sua mamãe sobre o menino de azul. Ela lhe disse para não se preocupar. Mandou-o ficar ali na espreita enquanto ela iria montar um plano para salvar o menino de azul.

Você pode dizer que sou um sonhador
Mas não sou o único tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós e o mundo viverá como um só.

         Não demorou muito tempo. Milhares ou milhões de canários chegaram com uma enorme rede de cipó feita por Araras vermelhas, tico tico da floresta, pardais das campinas verdejantes e tantos pássaros que agora só havia um objetivo. Tirar o menino de azul do buraco. Quinhentas andorinhas voaram por cima da Onça Parda. Não deram sossego e quando ela se sentiu bicada pelas andorinhas saiu em desabalada carreira. Em pouco tempo os Canários Amarelos jogaram a rede em cima do menino de azul que assustado sentou no meio da rede e foi levado pelo ar até onde estava acantonada sua Alcateia. O deixaram ali e dezenas de lobinhos e lobinhas batiam palmas por tão belo espetáculo. O menino de azul foi salvo. Naquela noite de natal ele e sua família cantaram felizes por estarem juntos. Os pais não sabiam que ele salvou um Filhote de Canário Amarelo e eles o salvaram de morte certa. Ele nunca mais esqueceu este dia. Para ele o menino de azul foi o melhor natal de sua vida. Ele sabia que o que fizerdes de bem sempre terá em troca o dobro.

Noite feliz, Noite feliz,
O Senhor, Deus de amor,
pobrezinho nasceu em Belém.
Eis na lapa Jesus, nosso bem.
Dorme em paz, oh Jesus.
Dorme em paz, oh Jesus.


A canção Imagine tanto a letra como a musica é de autoria de John Lennon.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

E aí Pedrão Pioneiro, nada como um dia após o outro!



Contos de natal.
E aí Pedrão Pioneiro, nada como um dia após o outro!

“Em uma montanha bem perto do céu, se encontra uma lagoa azul
Que só a conhecem aqueles que têm a dita de estar em meu clã”!

           E quem disse que a vida do Pedrão Pioneiro era fácil? Ele sabia que não, mas como bom Escoteiro que sempre foi enfrentava tudo com um sorriso nos lábios. Enquanto sua mãe cozinhava para a Fábrica de Motores ele podia estudar. Agora não mais. Ela ficara doente e a mandaram embora. Reclamou na justiça e eles recorreram. O advogado disse que poderiam protelar por muitos anos. Ficaram a Deus dará. Ele seu irmão Juventino de seis anos e sua mãe que já estava chegando aos setenta. Pedrão Pioneiro tinha 21 anos e trabalhava em uma loja de calçados. Salário Mínimo e comissão. Tirava uns mil e trezentos por mês. Pagava sua faculdade novecentos. Não dava para a família comer. Teve que trancar a matrícula. O pior aconteceu. Devido dar muita atenção a sua mãe que mal podia andar faltava muito ao serviço e foi demitido. Chorou e implorou ao seu Nonato para ficar. Nada feito. Seu Nonato foi inflexível. O pior que isto aconteceu uma semana antes do natal. Belo presente de Papai Noel pensou. O Clã partira para o Rio de Janeiro. Foram convidados por pioneiros cariocas a passarem o réveillon com eles. Ele não foi. Ir como? Sem dinheiro? Deixar sua família em dificuldade? 

♫ “A sede de riscos que nunca se acaba, as rochas que há a escalar
O rio tranquilo que canta e que chora jamais poderei olvidar”.

           Pedrão Pioneiro soube que havia uma vaga na loja de calçados do shopping Sol Nascente. Levantou cedo e partiu. Seu dinheiro acabara e nem para o ônibus tinha mais. Seguiu a pé. Não era longe, menos de doze quilômetros. Quantas vezes ele fez mais que isto nos Escoteiros? Riu com as lembranças. Mas no fundo chorava sem ninguém ver. Ele sabia que só tinham alimentos para mais dois dias. Depois só Deus para ajudar. Quando atravessou a Avenida Rebouças uma multidão correndo. Ele se assustou e ficou em pé em frente a um bar que já havia descerrado suas portas. Vários policiais o agarraram e batendo com seus cassetetes gritavam – “Toma seus Black Bloc filhos da mãe”! Pedrão Pioneiro tinha ouvido pela TV da baderna que faziam. Cruz credo logo ele um Escoteiro, um amante da paz apanhando daquele jeito? Levaram-no preso para o oitavo distrito. Foi jogado em um camburão com mais seis. Um inferno! Não podia se mexer e feriu seus pulsos com a algema que lhe colocaram. Os que estavam com ele logo foram soltos. Na delegacia advogados estavam lá a espera. Ele? Um pobre coitado sem eira e nem beira e nem conversou com o delegado. O levaram para o cadeião de pinheiros. Jogaram-no em uma cela de três por quatro junto com mais vinte presos.

♫ “No alto da serra na gruta escondida, foi lá que eu fiz o meu lar”.
“Subindo e descendo com corda ligeira, eu vi o meu clã acampar”.

            “Meu Deus!” rezava Pedrão Pioneiro. Ajuda minha mãe e meu irmão ela está doente e ele só tem seis anos! Pedrão Pioneiro no noticiário das seis apareceu como Chefe dos Black Bloc. – Preso o mais perigoso arruaceiro de São Paulo! Diziam em alto e bom som. Logo ele? Um Escoteiro? Uma pessoa que nunca fez mal a ninguém? Passou mais três dias na cadeia. Todas as noites seus olhos se enchiam de lágrimas a pensar em sua mãe e seu irmão. Dia 24 de dezembro véspera de natal ele foi solto. Esperava-o na Secretaria da Cadeia o Delegado Paulo Santos. Olá Pedrão Pioneiro, o que eles fizeram com você? O delegado Paulo Santos quando ele passou para Escoteiro com onze anos estava nos seniores fazendo a Ponte Pioneira. Pedrão Pioneiro tinha se esquecido dele, mas ele não se esqueceu de Pedrão Pioneiro. Foi ele quem o soltou. Deu uma carona até sua casa e Pedrão Pioneiro não aguentou. Chorou de felicidade em saber que amigos no escotismo são amigos para sempre. A surpresa maior foi ver na porta de sua casa dezenas de Escoteiros e chefes do seu grupo e de outros da redondeza. Eles souberam do acontecido e em nenhum momento acreditaram na acusação. Uma campanha do quilo e o problema da comida de Pedrão e sua família estava resolvido por alguns meses.

♫ “O sol no caminho, a seguir direciona, o vento estimula a andar,
Paredes e vidros e grandes rochedos, repetem o eco a cantar”!

           Era noite de natal. A mãe de Pedrão Pioneiro fez uma linda ceia. Convidou o Delegado Paulo Santos que ficou por alguns instantes. Tinha de partir para ficar com a família dele. Dois pioneiros que não viajaram para o Rio de Janeiro ficaram com ele até a meia noite. Uma parte resolvida pensou Pedrão Pioneiro. Pelo menos comida eles teriam por alguns meses, mas e depois? Pedrão Pioneiro sorria ao ver o irmão Juventino brincando com amigos. Uma hora da manhã e uma perua parou em sua porta. Pedrão a viu, pois estava no portão vendo o belo céu cheio de estrelas. Viu que era a Perua da Loja de calçados que trabalhava. O próprio “Seu” Nonato desceu e chorando pediu desculpas a Pedrão Pioneiro. – Olhe eu fiz um cálculo errado na sua rescisão de contrato. Faltaram doze mil reais e fiz questão de trazê-lo pessoalmente. E quero que volte. Você foi nosso melhor funcionário que já tivemos. “Seu” Nonato, muito obrigado, mas não me tenha como vingativo. Eu agradeço, mas sabe? Com este dinheiro vou abrir na minha garagem uma lojinha de pequenas coisas. Minha mãe vai cuidar e tenho certeza que poderei estudar e voltar a tempo para administrar com ela! E a vida voltou a sorrir para Pedrão Pioneiro. Nada como um dia após o outro!
É melhor não contar, mas Pedrão Pioneiro se formou e hoje é dono de uma grande rede de lojas de calçados. Dizem que têm filiais até nas “Horopas e America”

Só dê ouvidos a quem te ama. Não te preocupes tanto com o que acham de ti. O que te salva não é o que os outros andam achando, mas é o que Deus sabe a teu respeito!

♫ “Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri”!
O que importa é vencer o mal, mantenha sua alegria,
“Não importa você se zangar, pois o mal vai acabar”! ♫


domingo, 22 de dezembro de 2013

Milagres existem, é só acreditar.


Contos de Natal.
Milagres existem, é só acreditar.

♫ “Rataplã do arrebol, Escoteiros vede a luz”!
Rataplã olhai o sol, do Brasil que nos conduz” ♫

               Liminha não pensou duas vezes, se tinha de pular não ia discutir com o Monitor. Tomou distância e correu, pulou e quase alcançou a margem do outro lado. Não conseguiu, caiu por uns bons cinco metros e sentiu a pancada nas costas. Foi a primeira vez que sentiu uma dor enorme. Foi também que descobriram que ele estava com leucemia. Não foi assim tão rápido. Começou quando após a queda sentia uma dor de cabeça que não passava. Uma fraqueza e cansaço tremendo. Viu manchas arroxeadas na pele e sentia dor nos ossos e articulações. Apareceram outros sintomas, mas os médicos diagnosticaram facilmente. Liminha nunca pensou que podia ter esta doença. Era um Escoteiro alegre, Corredor, valente nas atividades e sempre se sobressaindo em tudo. Quando seus pais souberam acharam que o escotismo era o culpado. A dor é muito forte e achar a culpa de alguém é mais fácil para enfrentar o desespero que passavam. Liminha nunca chorou na presença dos seus amigos de patrulha. Aceitou e muitos estranharam por vê-lo sempre sorrindo.

♫ “Alerta, ó Escoteiros do Brasil, alerta!
Erguei para o ideal os corações e flor!
A mocidade ao sol da Pátria já desperta
A Pátria consagrai o vosso eterno amor” ♫.

               Seus pais não mediram esforços para tentar uma cura. A leucemia era uma doença cruel. Primeiro os medicamentos e a poliquimioterapia. Era demais para ele. Mas com três meses começou a se sentir melhor. Exigiu voltar para sua patrulha. Não pediu e disse aos seus pais que sem o escotismo ele iria morrer logo. Na primeira reunião de patrulha disse para todos o que tinha, mas não queria compaixão – Vocês tem que me considerar como um igual. Se acharem que estou doente nunca mais eu conseguirei melhorar! O escotismo era um balsamo para Liminha. Não perdia um acampamento e com tristeza não pode participar de um bivaque. Seria muitos quilômetros e o próprio Chefe o aconselhou a não ir. Foi a primeira vez que Liminha o viu. Tinha quase sua idade e sem nenhum fio de cabelo, mas com um belo sorriso. Ficaram amigos e seus pais ficaram mais ainda preocupados. Liminha apresentou seu amigo, mas ninguém via ninguém. Um amigo que foi tirado da sua imaginação, todos pensaram. A contra gosto aceitaram. Se isto o fazia feliz porque não? Liminha o chamava de Tércio. Passavam horas conversando.  

♫ “Por entre os densos bosques e vergéis floridos,
Ecoem nossas vozes de alegria intensa!
E pelos campos fora em cânticos sentidos
Ressoe um hino avante à nossa Pátria imensa”! ♫.

           Quatro meses depois Liminha teve outra recaída e desta vez passou meses internado no hospital. – Só um transplante de medula óssea poderia resolver, aconselharam. Mas e como achar um doador perfeito? Vários membros da família se revezaram nos exames, mas nenhum serviu. Liminha se tornou um exemplo para os internos do hospital. Vivia sempre sorrindo e contava longas histórias para os meninos internados no mesmo quarto que ele. Todos aprenderam a reconhecer quando Tércio estava com ele. Tércio sabia tantas histórias e mesmo não o vendo eles se divertiam. Até mesmo os Escoteiros da sua patrulha e da tropa gostavam de ir ao hospital para não só visitá-lo, mas para mandar um abraço a Tércio. Um Tércio que só Liminha conseguia ver. Liminha não melhorava. Pediu aos seus pais que trouxessem o seu uniforme. Gostaria que quando houvesse visita ele estivesse com ele. Era contra as normas do hospital, mas os médicos autorizaram. Quinze dias antes do natal Liminha piorou. Quase não falava. Os médicos comunicaram aos seus pais que não havia retorno. A vida de Liminha era uma questão de dias.

♫ “Unindo o passo firme à trilha do dever,
Tendo um Brasil feliz por nosso escopo e norte
Façamos ao futuro, em flores antever
A nova geração jovial confiante e forte”! ♫.

            Liminha pediu e foi autorizado que fizessem uma reunião de tropa em uma área ajardinada do hospital. Era o dia 24 de dezembro. Ele foi em uma cadeira de rodas. O Chefe Escoteiro emocionado fazia tudo para que Liminha participasse sem notar que o programa tinha sido feito para sua participação. Liminha ria a valer nos jogos e gritava a mais não poder para Tércio seu amigo imaginário. No final da reunião na cerimonia de encerramento antes da bandeira Liminha pediu ao Chefe se seu Amigo Tércio poderia fazer a promessa. O Chefe Escoteiro não sabia o que dizer ou fazer. Os pais de Liminha em um canto choravam lágrimas doídas. – Deus oh Deus porque tudo isto? Dizia sua mãe em prantos. Liminha na cadeira de rodas foi até o centro da ferradura e apresentou seu amigo Tércio a tropa. Quando assustado o Chefe Escoteiro tomava a promessa uma forte luz azul se fez presente. Ninguém entendia nada, mas todos viram em uma névoa branca um menino de branco, com a meia saudação a dizer: - Eu prometo, pela minha honra, fazer o melhor possível para: Cumprir o meu dever para com Deus e a Pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro.

♫ “E se algum dia acaso a Pátria estremecida,
De súbito bradar: Alerta aos Escoteiros,
Alerta respondendo, à Pátria a nossa vida
E as almas entregar iremos prazenteiros!
Alerta! Alerta! Sempre Alerta”!
       A emoção foi demais. Lágrimas foram derramadas por todos. Liminha assustou todo mundo quando ficou de pé e corria rindo em volta do arvoredo do pátio do hospital. Ele gritava: Não vá embora Tércio. Não me deixes! Quero ir com você! Todos viram um redemoinho que se elevava aos céus. Alguns juram que ouviram Tércio dizer que voltaria. Seria por pouco tempo. Liminha chorava e andando normalmente pediu aos seus pais que o levassem para casa. Os médicos sem saber o que fazer concordaram. No outro dia ele voltaria ao hospital. Liminha voltou, mas para surpresa de todo mundo ele estava curado. Não sentia mais nada. Um milagre. Um milagre de Natal. Tércio no céu sorria. Liminha na terra sorria. O mundo Escoteiro voltou a pensar que no escotismo tudo pode acontecer. Foi o próprio Liminha quem disse ao seu pai e sua mãe:
♫ “Não é mais que um até logo,

Não é mais que um breve adeus” ♫. 

sábado, 21 de dezembro de 2013

Do mundo nada se leva.


Um conto de Natal.
Do mundo nada se leva.

Cabecinha boa de menino triste,
De menino triste que sofre sozinho,
Que sozinho sofre, e resiste...

      Valentine seguia pela rua deserta. Era dia ainda e ela não tinha medo, pois conhecia a todos no bairro onde morava. Tentou a casa de Marly e ela não estava. Era sua sub-monitora. Sentia um vazio tremendo. Não gostava de férias. O grupo Escoteiro interrompia suas atividades e ela ficava sem saber o que fazer. Os chefes precisavam mudar de rumo, passear com suas famílias e ter uma folga merecida. Valentine só pensava em escotismo. Sempre foi boa filha e boa estudante, mas quanto tempo tinha que entrou e amou? Acreditava ser mais de nove anos. Lobinha, escoteira e agora guia. Porque não dar liberdade às patrulhas para fazerem atividades sem os chefes? Valentine caminhava devagar. Era véspera de natal e sua mãe em viagem pela firma prometera chegar no dia vinte e quatro sem falta. Sua avó materna era quem tomava conta. Valentine se acostumara e sabia que sua Avó tomava conta dela como se fosse sua mãe. Valentine ouviu um choro de uma criança recém-nascida. De onde vinha? Viu do outro lado da rua uma pequena cesta e correu atravessando a rua sem olhar. O que viu quase perdeu a respiração. Um lindo bebê de olhos azuis a sorrir para ela.

Cabecinha boa de menino ausente,
Que de sofrer tanto se fez pensativo,
E não sabe mais o que sente...

         Pegou a cestinha e sorria de alegria. Mas o que fazer? Ir à delegacia? Ela estava tão sozinha em sua casa, e muitas das amigas viajando que pensou: Sempre sonhou em ter um bebê porque não este? Valentine tomou uma decisão não condizente com uma Guia Escoteira. Sem pensar levou a criança para sua casa. Tinha que escondê-la da sua Avó e de algumas visitas que costumavam aparecer. Entrou e foi direito para seu quarto. Uma parte da cama ela colocou o bebezinho. Correu a cozinha e fez uma mamadeira. Ela sabia como fazer. Tirou a especialidade de Babá. Ninguém notou nem mesmo quando de madrugada José chorou. Ela o chamava de José quem sabe para homenagear o esposo da virgem Maria. Assim como Jesus nasceu em uma manjedoura por um milagre, ela começou a acreditar que aquela criança seria seu milagre. Dois dias seguidos e ninguém desconfiou. Sua Avó era bem velhinha e meio surda. Isto ajudou muito nos planos de Valentine. Marly chegou de supetão ao seu quarto. Eram amigas e ela tinha plena liberdade de entrar e sair quando quisesse. Marly se assustou com a criança. Valentine explicou. – Impossível Valentine. Você sabe disto. Uma mentira não dura para sempre e você é uma escoteira tem honra e ética. Valentine chorava. Não queria perder o bebê. Mas qual a saída?

Cabecinha boa de menino mudo,
Que não teve nada, que não pediu nada,
Pelo medo de perder tudo.

     Pediu a sua amiga Marly que não contasse nada para ninguém. Que ela esperasse até o natal e ela iria levá-lo a delegacia. Seriam apenas mais três dias. Marly mais nova que ela tinha a cabeça no lugar. Sabia que era errado o que ela queria fazer e seria errado ela esconder também. Mas adorava sua amiga viu em seus olhos pequenos lágrimas que desciam e ela teve pena. Virou cumplice. Será que a Chefe Noêmia iria entender? Ela falava tanto da Lei Escoteira! Agora elas eram duas a cuidar do menino José. Sem perceber Marly começou a amar aquela criança. As noites ela dormia pensando como fazer para as duas ficarem com ela para sempre. Sabia que em sua casa era impossível. Nonô seu irmão mais novo “fuçava” em tudo. Ele logo iria descobrir. Onde então? Não vislumbrou nenhum local para criar a criança. Adotar? Mas elas eram tão novas! Valentine com desesseis e ela com quinze. Contar para o Padre Zózimo? Ele nunca iria entender. Também nenhum Chefe do grupo iria compreender. Constance, Joelma, Mary e Nair da patrulha não poderiam saber. Correriam para contar as suas mães e o segredo iria para o brejo.

Cabecinha boa de menino santo,
Que do alto se inclina sobre a água do mundo
Para mirar seu desencanto.

          Era o dia de Natal. Dia que elas se comprometeram ser o ultimo a viver com o menino José. Sabiam que no dia seguinte seria um martírio devolvê-lo a delegacia. Valentine sabia que ele seria levado ao Juizado e eles o encaminhariam para uma Vara da Infância e Juventude. Alguém um dia iria adotá-lo. Não poderia ser elas? Mas com esta idade? Sua mãe nunca iria concordar em entrar com um pedido de adoção. Valentine passou a pior véspera do natal de sua vida. Chorou o dia inteiro. Corria a dar tudo para o Bebê José. Teve hora que riu de si mesma pelos cuidados e ria mais ainda quando Marly chegava e queria disputar com ela os cuidados com o menino José. Valentine deixou o menino com Marly e foi comprar leite na padaria. Onde tinha encontrado a cestinha com o bebê ela viu uma mocinha sentada na calçada e chorando. Perguntou por que chorava e ela respondeu – Deixei meu filho recém-nascido aqui. O abandonei em uma hora de desespero. Agora me arrependi. Não sei quem o levou e onde ele foi parar. Valentine pegou sua mão, pare de chorar moça, seu filho está comigo. Venha, vamos a minha casa e você poderá ver que o tratamos como se fosse um filho nosso.

Para ver passar numa onda lenta e fria,
A estrela perdida da felicidade
Que soube que não possuiria.

          Não há mais para contar. Mirtes a mãe de José foi com ela a sua casa e passou um natal com todos eles como nunca passou em sua vida. Era de família rica e sabia que eles não iriam entender a gravidez. Mas ela resolveu enfrentar a tudo e a todos. A mãe de Valentine chegou e a festa foi mais linda ainda. No dia seguinte Mirtes levou José para sempre. Deixou o endereço para um dia se quiserem visitá-lo. Era em uma cidade não muito longe. Insistiu para que elas fossem madrinhas. Valentine e Marly não paravam de chorar. Madrinhas? Seria uma honra! Quando o ônibus partiu Valentine e Marly abraçaram-se chorando. Elas sabiam que foi encontrada a melhor solução. Fizeram questão de contar para todos o que fizeram. Não houve recriminação, mas sua mãe a orientou que não deviam ter feito o que fizeram. Do mundo nada se leva e devemos perceber que os verdadeiros valores da vida devem ser feitos dentro da lei e da ordem. Isto antes que seja tarde demais...


Os versos são de autoria de Cecília Meireles.