No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O que importa é a boa ação.


Histórias que valem a pena ler.
O que importa é a boa ação.

             A campainha tocou e Silvinho sorriu. Passou toda a aula da professora Doralice a sonhar com a bela mochila e o cantil que vira ontem nas lojas Abil. Não era e nunca foi um mau aluno. Suas notas eram as melhores da classe. Chefe Marcio sorria sempre quando ele apresentava seu boletim, pois sabia que isto dava pontos a sua Patrulha. Os Morcegos eram amigos de fato. E ele os considerava a todos seus irmãos. Saiu apressado da escola e logo via as Lojas Abil. Entrou sem correr. Não queria que pensassem que era um moleque qualquer. Não era. Era um Escoteiro, e dos bons. Foi logo onde expunham os materiais de camping. Viu alegre a mochila verde acolchoada pendurada. Seus olhos brilhavam. Lá estava o cantil. Lindo. Dois litros. Todo com capa impermeável. Ainda não tinham vendido. Já tinha visto o preço. A mochila duzentos e cinquenta e o cantil sessenta.

               Um dia iria comprar os dois, prometera a si mesmo. Seu pai nunca teria essa quantia, pois eram pobres muito pobres. Uma pequena Sapataria e pouco a fazer. Mas ele se orgulhava do pai. O achava o melhor pai do mundo. Que o Chefe Marcio desculpasse, mas seu pai era seu herói. Não demorou muito na loja. Sua mãe ficaria preocupada se chegasse tarde. Saiu assoviando. Gostava de assoviar.
“Vem depressa correndo Escoteiro, ajudar o cozinheiro a fazer o jantar!”
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Gostava dessa música. Desceu a Rua dos Caracóis e ao atravessar a ponte notou debaixo de uma lata vazia uma carteira. Foi lá e viu que estava recheada. Achou que tinha mais de oitocentos reais. Uma fortuna para ele e para o pai dele. Muitos documentos. Chegou a casa e pensou – Poderia ficar com esse dinheiro e comprar minha mochila e o cantil, o que sobrar dar para a mamãe fazer a feira. Mas ele no fundo sabia que não faria isso. Não tinha como explicar e sabia que o Escoteiro é leal, tem caráter e ética. Estava no sangue.

              Procurou seu pai. Explicou. Ambos olharam os documentos. Dr. Mario Marcelo, dentista. O endereço no Bairro Palmeiras, Rua do Lavrador 115. Seu pai só tinha quinze reais para o ônibus ida e volta. Era para a carne que pretendia comprar para a janta. Fica para outro dia. Silvinho, vamos lá entregar? Claro papai. E lá foram eles abraçados, alegres e o pai até cantava com ele uma canção que aprendeu há muito tempo com seus avós. “A montanha feliz”. Chegaram ao endereço indicado. Silvinho foi de uniforme. Era seu dia. Sua boa ação. Fazia questão de se apresentar assim. Bateram a porta. Uma moça atendeu. – Poderia falar com o Doutor Mario? – Ele está ocupado respondeu ela. Tem hora marcada? Se não podem falar comigo. Preferimos que seja ele. Ela nem respondeu e fechou a porta. Os dois ficaram ali esperando e sentaram no meio fio da rua.

                 Uma hora depois ele gritou na porta do seu consultório – O que querem comigo? Falou bruscamente. Estou muito ocupado! – Silvinho se aproximou – Doutor desculpe. Achei sua carteira e vim devolver. Por favor, meu pai insistia. Verifique se não está faltando nada! – O doutor olhou, e falou - Tudo bem não falta nada. Agora me deixem em paz, estou ocupado com dois clientes me esperando. E fechou a porta na cara dos dois. Silvinho olhou para seu pai e perguntou? Está certo assim pai? Claro filho. Fez o que devia fazer. Se ele não reconheceu não importa. Importa seu ato de caráter. De dignidade. Eu tenho o maior orgulho de você e olhe, prometo que um dia vou lhe dar aquela mochila e o cantil. Quem sabe ganho um dinheiro a mais?

E foram os dois cantando pela rua afora, sem ao menos guardar o menor rancor do doutor Mario. Silvinho sentia-se feliz. Ia contar a boa ação para seu Chefe. Sabia que ele iria gostar. Não iria vangloriar e nem contar que o doutor fora mal educado. Ele sabia que o importante foi o que fez. O que os outros fazem e se você não pode ajudar, deixa para Deus resolver. “Acende o fogo, põe a panela, dentro dela, o feijão cozinhar!”.

sábado, 26 de abril de 2014

A promessa.


Crônicas escoteiras.
A promessa.

“Prometo pela minha honra, fazer o melhor possivel para cumprir meus deveres para com Deus e minha pátria, ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião e obedecer à lei do Escoteiro”!

                A promessa é uma força, uma direção que você dá ao seu esforço. E o esforço lhe conduzirá de esforço em esforço, através da vida até a meta que você se propôs. Quando você a tiver apresentada, você não será melhor, mas mais forte. E se em algum dia lhe acontecer de não saber bem se uma coisa pode ou não ser feita, você se lembrará de que, em uma noite, perante um fogo tranquilo, na hora nas quais as luzes se atenuam e os barulhos diminuem, no meio de companheiros que tinham o seu mesmo ideal, você prometeu de servir a Deus, e então não mais hesitará. Saberá se aquela coisa poderá ou não ser feita.

              Nem sempre você estará tão bem disposto quanto hoje. Você nem sempre terá esta alegria transbordante e esta calma serenidade, porque na vida há tempestade, grande cansaço, desprazeres dos jovens e tristezas provenientes dos adultos, improvisadas incertezas. Então, talvez, uma triste manhã de um triste dia você se dirá: “Mas porque tudo isso?”.  E, você se lembrará de que, em uma noite, perante um fogo tranquilo, na hora nas quais as luzes se atenuam e os barulhos diminuem, no meio de companheiros que tinham o seu mesmo ideal, você prometeu de servir a Deus. Não mais dirá “Mas porque tudo isso?”, mas visto que você só tem uma palavra, porque a sua alma é simples e reta, porque você não pode servir a dois senhores, nem obedecer a duas leis que se opõem você se manterá fiel a sua Promessa, servirá a Deus, ajudará ao próximo e obedecerá a Lei.

               Outros a mencionaram antes de você. Mas é sempre a mesma coisa, a mesma disciplina a qual você se impõe voluntariamente, a mesma obediência, e o mesmo serviço que se escolhe livremente. Livremente você chegou até nós. Assim como livremente caminhou nas nossas fileiras. Conhece os escoteiros assim como lhes conhece a deles a Lei, o ideal: você então sabe que deve ser um jovem simples e forte, ativo e alegre. Você sabe que deverá ser um homem simples e forte, ativo e sereno. Você sabe tudo quanto acima e deseja que assim seja. Então, perante este fogo tranquilo venha pronunciar a sua Promessa.
(Retirado do livro de Lezard) - Cortesia Masciit.

Se você hoje vai fazer a promessa ou então vai tomá-la de alguém, lembre-se a promessa é para sempre. Ela ficará marcada na mente e no coração como um dos fatos mais importantes da vida do promessado. Faça deste dia um dia único, não o divida com ninguém, é seu dia e você merece respeito, pois irá tomar uma atitude que guardará para sempre em sua vida.

MEUS PARABÉNS! SEMPRE ALERTA!

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Um fantástico dia do Escoteiro. 23 de abril, um dia que nunca mais esqueci!


Um fantástico dia do Escoteiro.
23 de abril, um dia que nunca mais esqueci!

Foram tantos dias do Escoteiro que vivi... Tantos demais.  Hora de fazer a mente voltar no tempo... Quanto tempo! Quer saber? Tempo demais. Eu não sabia que era meu dia, nem deduzia que tínhamos o dia do Escoteiro. Podem acreditar era verdade, só fui saber naquele acampamento da Patrulha na Serra da Garça Branca. Acho que é por isto que nunca mais esqueci aquele dia. Ficou marcado para sempre em meu coração. Eu acreditava que sabia tudo com meus onze anos vividos. Não me chamem de menino, nem de noviço, já me considerava homem feito, pois caminhava para a segunda classe, assim já era um experiente Escoteiro. Bem não foi aquele o meu melhor acampamento, nada disto apenas um fim de semana gostoso. Mas o que aconteceu nele foi demais. Demais mesmo. Lembro-me de tudo, nunca esqueci, ora, ora, esquecer como? Não posso esquecer aquela tarde, um vento sul soprando, um friozinho chegando, uma deliciosa brisa do alvorecer...

Fomos até o mirante do Canta Galo, não mais que duzentos metros do campo. Era linda a vista e sempre quando acampávamos ali era normal e rotineiro ficarmos lá até o anoitecer. Um pôr do sol sem igual em todas as tardes sem muitas nuvens. A tarde chegava e o céu ficava cor de ouro, um amarelo vivo encantando as poucas nuvens no céu. Aos poucos um pedaço do sol ia desaparecendo atrás da montanha do Sabiá, nós de olhos firmes encantados com tão linda vista e de supetão Mauricio o Monitor diz – Hoje é o dia do Escoteiro, nosso dia! Tirei a vista daquele céu celestial e olhei para ele com o cenho franzido: – Temos um dia Monitor? – Temos sim é hoje, 23 de abril. Surpresa! Enorme surpresa! Fiquei encantado. – Então temos um dia? Incrível! Olhei para os outros patrulheiros. Nem ligaram. Não sei por quê. Para mim foi demais. Olhei de novo o céu. O amarelo ouro no meio de poucas nuvens se transformava em vermelho vivo e aos poucos ia escurecendo. O sol se foi. Um bando de andorinhas passou voando sobre nós. Confesso que não dormi direito. - Temos um dia repicava em meu pensamento. Lá pelas duas da manhã, já no dia 24 de abril levantei e sai da barraca. Um frio gelado me esperava.

Sentei em um toco em frente à barraca, as brasas do pequeno fogo não existiam mais. Olhei para o céu cheio de estrelas. Eu o conhecia de cor. Sempre acampávamos ali. – Meu pensamento era o mesmo. Não esquecia o que o Monitor contou. Temos um dia 23 de abril. Era demais. Ficou gravado em meu coração para sempre. Meia hora depois me deu sono, voltei à barraca e dormi. Se sonhei não lembro, mas nosso dia ficou marcado. Todos os anos eu me lembrava dele estivesse onde estivesse. Agora eu tinha um dia que o considerava meu e de todos os meus irmãos Escoteiros. Neste dia elevo meu pensando a Deus para que ele mantenha viva a chama escoteira no coração dos nossos irmãos que participam desta grande fraternidade. Cada um tem um dia especial para lembrar. O meu é como fosse gravado para sempre naquele final de tarde de um abril do passado, um céu cor de ouro, poucas nuvens e o sol se escondendo atrás da montanha do Sabiá. Será que é por isto que amo demais o por do sol?
23 de abril, me junto a todos meus irmãos Escoteiros do mundo para dizer – Sempre Alerta! Como é lindo e fantástico ser um Escoteiro!


UM LINDO DIA DO ESCOTEIRO PARA TODOS! 

terça-feira, 22 de abril de 2014

Zap, zep e zão... Um viva a revolução!


Conversa ao pé do fogo.
Zap, zep e zão... Um viva a revolução!

          Menos de dez horas, Nonô e Araceli desceram do ônibus na Praça Sete. Levaram o maior susto. Em todos os lugares soldados do exército armados até os dentes. Tanques de guerra cobriam cada rua e cada canto do centro da cidade. O que estava acontecendo? Nonô foi a uma banca de jornal e comprou o Estado de Minas. Lá explicava tudo. A revolução aconteceu. Nonô não era politico, não era comunista, não era revolucionário. Nonô era um Chefe Escoteiro. Um homem trabalhador que pensava em criar sua família como um bom brasileiro. Nonô foi a capital aproveitando uma folga de 80 horas da Usina onde trabalhava. Combinou com todos no grupo que passaria na Cantina escoteira e quem saber bater um papo com os lideres regionais claro, se tivesse alguém lá. Estava hospedado em casa de um primo. Ficaria só um dia, pois pretendia a noite pegar o trem noturno de volta para sua cidade.

           Nonô comentou com Araceli sua esposa que não deviam se preocupar. Eles não eram malfeitores e melhor eram cumpridor de seus deveres e bons cidadãos. Na Cantina Escoteira fizeram uma boa compra. Como sempre não havia ninguém da liderança regional. Ele entendia, pois sabia que todos trabalhavam. Pegaram o trem noturno e ele partiu da gare às onze e meia. Deviam chegar por volta de nove da manhã. Na estação de Pedreira eles desceram. Logo avistaram Lilico, um motorista de taxi e pai de um lobinho. – Chefe, cuidado, a “coisa tá feia” prenderam o Chefe Laerte e os demais chefes sumiram da cidade. Proibiram o Grupo Escoteiro de Funcionar. Disseram que ali estavam ensinando aos meninos as tática de guerrilhas e que o grupo era comunista. Isto porque o lenço era vermelho e branco. Soube que foram na sua casa e perguntaram por toda a vizinhança. Nonô notou que os trens passavam cheios de prisioneiros com destino a capital. O Chefe Laerte preso? Um rapaz seu amigo e irmão. Conheceram-se na usina e logo passaram a falar de escotismo. Coisas de escoteiros.

           Lilico os levou até sua casa. Alertou para não ficar ali. Era perigoso. Nonô disse para Araceli ficar de sobreaviso. Iria até a paróquia. O Padre Eli era gente boa. Ele devia saber o que estava acontecendo. No caminho alguém gritou de uma janela. Nonô viu que era Gegê, o Monitor da Raposa. – Chefe! Cuidado! Estão procurando o senhor por toda a cidade. Tem uma patrulha acampada atrás do Morro da Viúva. Estão com eles o Vavá e o Jair. Eles ficarão lá até passar esta onda de prisão. Nonô agradeceu e partiu para a paróquia. O Padre Eli sorriu quando o viu. – Chefe acusaram vocês de serem comunistas por causa do lenço vermelho e que estão treinando os meninos para guerrilheiros. Pode? Olhe expliquei para o Sargento Modesto que tudo não passava de um engano. Não sei se ele entendeu, mas o Marcondes estava com eles. Foi ele quem dedurou todo mundo aqui. Lembrei-me do Marcondes. Era Juiz de Menores na cidade e foi contra a fundação do Grupo Escoteiro.

        - Mas olhe continuou o padre Eli, não precisa se preocupar. Fui pessoalmente à 15ª Companhia da Policia Militar. O Capitão Natal foi legal. Disse que nunca acreditou no que disseram do Grupo Escoteiro. – Fiquem nas suas. Ninguém vai incomodar. Ele sabia que os Escoteiros tem uma formação patriótica. Ele iria ver se soltava o Chefe Laerte, mas ele tinha sido levado para o DOPS na capital. Passou uma semana e tudo estava voltando ao normal. Ninguém mais procurou o Chefe Nonô. A patrulha que estava acampada voltou. Vavá e Jair tinham dezessete anos. Eles se assustaram. Como sêniores e novos no Clã ficaram com medo de serem presos. Aos poucos o Grupo Escoteiro foi voltando ao normal com suas atividades. Só três semanas depois que soltaram o Laerte. Ele estava revoltado e dolorido. Aplicaram nele choques elétricos, enfiaram sua cabeça dentro de um vaso de água e com um pequeno alicate arrancaram uma unha de sua mão. Seus olhos estavam vermelhos. Devia ter chorado muito.

          Chefe Nonô! Não vou perdoar estes canalhas. Vou entrar para o sindicado e para a guerrilha. Lá terei respaldo e desculpe, vou deixar o grupo. Não quero que os militares achem que estou lá preparando uma revolução. Chefe Nonô não concordou, - nada disto Laerte. Não é nossa sina. Não somos revolucionários. Temos família para cuidar. Temos o Grupo Escoteiro e temos um nome a zelar. Chefe Laerte abaixou a cabeça e não disse nada. Sumiu de novo da cidade. Ninguém sabia onde fora. Um mês depois soubemos que tinha entrado para uma guerrilha na Mata do Pintassilgo. Durante meses lutaram de arma em punho. Cinco mil soldados chegaram e em menos de um mês acabou a guerrilha. Ninguém mais ouviu falar no Chefe Laerte. Chefe Nonô ficou inconsolável. Dizem que não houvera prisioneiros. A família do Chefe Laerte mudou para longe. Uma cidade grande e ali acharam que ficariam escondidos.


          Muitos anos se passaram. Hoje os filhos do Chefe Laerte são adultos. Boas lembranças do seu pai que só conhecem por fotografias, bem assim me disseram. A vida do Chefe Nonô virou do avesso. Despedido do emprego vagou por varias cidades. Um dia batendo sua bengala na Avenida Angelica passou por um ancião também com uma bengala. Pararam. Entreolharam-se. Impossível, não poderia ser o Chefe Laerte. Mas era ele mesmo. Abraçaram-se e os transeuntes que passavam por aquela rua não entendiam. Dois velhos se abraçando e chorando como duas crianças. Se eles tiveram “causos” para contar ninguém soube. O que sei é que resolveram colocar a conversa em dia. Dizem que ficam sempre conversando na varanda do Chefe Nonô até altas horas da noite. Ambos na casa dos setenta e cinco anos mal aguentavam em pé, mas a amizade que tinham um pelo outro os uniram até o fim da vida. Eu quando me lembro desta história eu fico pensando...  Zap, zep e zão... Um viva a revolução!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A fantástica lua de mel do Chefe Rosinha.


Crônicas escoteiras.
A fantástica lua de mel do Chefe Rosinha.

         Pelo amor de Deus! Lembrar-me dele de novo? Nunca em minha vida conheci alguém como o Chefe Rosinha. Nem sei como no grupo eles não diziam nada. Quem sabe pelas suas histórias, pelo seu jeito encantador que deixava as escoteiras e guias sorridentes, ou pela sua maneira prestativa, mas era chegar ao fim da reunião ele procurava algum Chefe – Chefe Nonato, tem dez paus para me emprestar? – Nonato coitado era um amor de Chefe e não sabia dizer não. Ele tirou da carteira dez reais e deu ao Chefe Rosinha. – E os mais de duzentos que você me deve Chefe Rosinha? – ele sorriu com aquela cara de besta e dizia – Você sabe, meu casamento é em novembro faltam três meses. Como lhe pagar com as despesas que tenho? Ele devia a cidade inteira. Pegava mal para o Grupo Escoteiro. Donato o Chefe do Grupo resolveu fazer um Conselho de Chefes para discutir o assunto. Ninguém concordou em mandar o Chefe Rosinha embora.

       Chefe Rosinha conheceu Anita na parada de Sete de Setembro. Ele logo apaixonou por ela. Ela estudava no Colégio Aparecida e no desfile se encontraram. Ela de uniforme escolar e ele de Escoteiro. Apaixonaram-se. Foi um amor de duas pessoas idênticas. Anina também não gastava. Cada tostão ela guardava. Mordia a língua para não comprar supérfluos. Todos benzeram o casal afinal eles iam se dar muito bem. Até aceitavam que ele continuasse no grupo, pois além de sua simpatia todos se divertiam com seu estilo. Um dia um chefe novato não sabia como era ele – Chefe Rosinha! O senhor poderia me emprestar quarenta reais? Fique tranquilo que pagarei sem falta na próxima reunião! – Ele sério respondeu – Prá que quarenta? Trinta é muito, vinte não! Penso em lhe dar dez, mas acho que cinco é o suficiente. Tome aqui um real e na semana lhe dou o saldo!

       Eles casaram em uma quinta, pois era mais barato na igreja e no civil. Ele era amigo do Juiz de Paz e tentou tudo para o casamento no civil fosse grátis. Mas Seu Zenóbio foi inflexível. – Nem pensar Rosinha. Eu te conheço bem. Ou paga ou não casa. Rosinha ficou fulo, chamou Turquinho um sênior muito amigo do filho do Seu Zenóbio e pediu a ele por misericórdia que tomasse duzentos reais emprestado do Seu Zenóbio. Ele não deveria contar para quem era. No dia do casório no civil Rosinha e Anita se casaram no civil. Depois de tudo assinado Rosinha bateu no ombro do seu Zenóbio – Obrigado amigo pelo empréstimo dos duzentos que o Turquinho lhe pediu emprestado para mim. “Fique tranquilo que um dia te pago”! Seu Zenóbio sabia que nunca mais iria ver a cor do  dinheiro!

          O grupo ofereceu uns comes e bebes, mas poucos. Não é que o casal saiu mais cedo da festa? Levaram uma bolsa cheia de guloseimas que os Escoteiros compraram para os convidados! Sei não, um Chefe Escoteiro uma vez me disse que o pródigo é arrogante e o avaro é mesquinho. É preferível a mesquinhez a arrogância. Seria verdade? Uma semana depois de casados, eles moravam na casa da Mãe de Anita souberam do acampamento. Chefe Rosinha pediu cinco dias de folga e Anita que era professora pediu também. Insistiram com o Chefe Nonato para eles participarem. Sabiam que seria na fazenda do Inácio Sapoti. Ele não podia ver os Escoteiros que oferecia tudo. Quando o ônibus chegou à fazenda os dois saltaram e procuraram o Inácio – Seu Inácio! Disse Chefe Rosinha, eu e a Anita casamos na semana passada e não seria de bom alvitre ficarmos lá no acampamento dos Escoteiros.

         Claro que Inácio iria convidá-los para dormir em sua fazenda. Foi uma verdadeira lua de mel de cinco dias. Comida farta, um quarto enorme só prá eles, e toda a manhã frutas frescas. O acampamento terminou e eles tiveram que voltar no ônibus. Inácio caiu na besteira em convida-los a voltar e claro eles voltaram nas ferias. Vinte e nove dia comendo e dormindo de graça! Em um Conselho de Chefes Chefe Rosinha pediu a palavra – Sabem meus amigos, a Anita queria participar dos lobinhos, vocês sabem ela é professora, mas ela não tem como fazer o uniforme, então eu pensei que vocês poderiam se cotizar e fazer um bem bonito para ela, mas tem de ser completo com meião e cinto! Todos olharam para ele e viram em seu bolso e ouviram uma voz fininha: - Estou contigo e não abro! Era a carteira de Rosinha o Escoteiro mais pão duro que existiu.

         Para dizer a verdade eu não sei como aguentaram Chefe Rosinha por tanto tempo. Nunca pagou nada. Fez seis cursos todos pagos ou pelo grupo ou pelo chefes amigos dele. Amigos? Acho que por causa da sua conversa, do seu sorriso e da sua alegria a maioria o aceitava. Mas no sábado à noite depois da reunião foram todos para uma choupada. Na maioria das vezes Chefe Rosinha não ia. Sempre tinha alguém para lhe falar umas verdades, pois ele nunca colaborava. Desta vez foi e levou Anita sua esposa. Contou piadas, riu a beça e até cantou musicas escoteira que muitos se surpreenderam. No final Bruno Cara Feia foi escolhido para recolher a parte de cada um. Ele era um Chefe novato e não sabia como era o Chefe Rosinha. Quando ele foi cobrar ele disse – Olhe Bruno, pareço egoísta, mas sempre deixo a satisfação de pagar a conta no bar para meus amigos. E começou a rir. Chefe Bruno não gostou. Foi preciso da intervenção dos demais para não saírem no braço.

       Chefe Rosinha saiu do grupo. Todos só foram saber o que aconteceu muitos meses depois. O danado ganhou um milhão e meio na Loto fácil. Sumiu de um dia para o outro. Sabia que iriam morar na frente de sua casa para receberem o que ele devia. Mais da metade da cidade. Dizem que ele foi morar em São Francisco do Sul. Até hoje o Grupo e a meninada sentem falta dele. Afinal era um boa praça, um pandego e claro um tremendo de um pão duro. Um dia apareceu na TV, levado pelo delegado por não pagar dividas. O pior é que estava de uniforme Escoteiro. Pode?

Os dez mandamentos do pão duro:

  1. Nunca dizer: "Pode ficar com o troco".
  2. Não colocar a mão no bolso em vão.
  3. Amar seu bolso como a si mesmo.
  4. Lembrar que tudo tem sem preço. Então, vamos às promoções!
    Pechinchar sob todas as formas.
  5. Desperdiçar.
  6. Ir a compras somente aos domingos, quando quase tudo está fechado.
    Valorizar cada centavo.
  7. Analisar o custo/benefício.
  8. Emprestar sempre com juros. Jurar é pecado. Cobrar juros, não!
  9. Valorizar cada centavo.
  10. Analisar o custo/beneficio.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

O Mistério do Corvo da pena dourada.



Lendas escoteiras.
O Mistério do Corvo da pena dourada.

                  Tanto tempo são passados, mas as lembranças permanecem eternas. Quem me contou foi Lávio, ou melhor, o Chefe Lávio quando em uma noite linda sem luar, reunida em volta de uma fogueira perdida na margem do Rio do Sal um sono enorme e eis que ele começa a contar uma história, parecendo tirar as palavras de dentro do chapéu de três bicos que foi trazida pelo vento noturno que soprava o sudoeste do acampamento. Era um acampamento de chefes. O terceiro que participava. A cada dois anos se fazia convite aos grupos, e cada um levava seus chefes em patrulhas de cinco, com seu material de sapa e intendência. A taxa era mínima e este ano não passou de dez reais para que cada um recebesse um distintivo e uma pasta pequena com lembranças do campo. Sempre fora sucesso na região. Neste terceiro passávamos de quatrocentos chefes. Uma apoteose. A cada ano um nome diferente de uma tribo indígena brasileira. Este era o III Kalapalo. Tribo da região do Alto Xingu no Mato Grosso.

                   Eu sabia que a história do Chefe Lávio seria diferente. Já o conhecia de outras plagas. O típico Chefe que não ri. Discreto um olhar profundo e muito ponderado. Mas sabia que sua Tropa o adorava. Deitei em minha manta, o céu lindo estrelado, sorria a passagem de uma estrela cadente. A aragem vinda da margem do rio era gostosa e saudável. – Foi a muito, há muito tempo. Ele começou. Eu ainda morava em Monte Azul. Uma pequena cidade esquecida de Mato Grosso do Sul. Vida simples, meninada solta nas ruas a soltar suas pipas, a brincarem com suas bolinhas de gude, abaixar a cabeça em sinal de respeito para dona Marly ou dona Noêmia nossas professoras quando passavam. Na missa de domingo a melhor roupa. Eu mamãe e papai nunca faltamos. Padre Lemos na porta a nos esperar. Cumprimentar um a um. No púlpito uma surpresa. Um calafrio correu na meninada presente – Amigos! Nossa cidade vai organizar um grupo de Escoteiros. Inscrições abertas no Clube Remanso todo sábado à tarde!

                    Acordei às três da manhã. Papai! Vamos! - Onde? Fazer minha inscrição. Nem almoçamos. Uma fila enorme. Chefe Noel risonho cumprimentava a todos. A inscrição está feita. Agora é aguardar. Iremos treinar alguns para serem os lideres e daqui a três meses vamos chamar todos. Não foram todos. Eram muitos os inscritos. Tempos depois, eu quase esquecendo um Escoteiro uniformizado bateu em nossa porta avisando. A vaga do Lávio está aberta. Deve comparecer sábado às duas da tarde. Poxa, o tempo não passava. As onze almocei e as doze lá fui eu levando meu pai pelas mãos. Meu primeiro dia. Sorteio. Tropa I. Patrulha Corvo. Que orgulho. Sete patrulheiros. Era mais um. Leones o Monitor nem sempre calmo com a gente. Primeiro acampamento em Águas Cantantes. Fiquei maravilhado. Nunca me senti herói como agora. Não falava outra coisa. O Monitor disse que eu devia passar um dia na biblioteca para conhecer nosso líder. O Corvo. Decorei tudo. Não faltou nada. Orgulhava-me de ser um corvo.

                     Seis meses depois já me considerava um veterano. A Patrulha se movimentava bem e apesar de não ser a melhor não devíamos nada as demais. Quando fizemos um ano de Patrulha fizemos um acampamento em Morro Sião. Ao pé do morro uma formidável cascata formando um lago ideal para dar uma boa pescada. Dizem que não é verdade, mas em um campeonato de pesca noturna com vara pesquei uma traíra de mais de três quilos. Ficamos acampados por quatro dias. No terceiro estava programada uma jornada de seis quilômetros, que o Chefe chamou de Procura da Mina do Fantasma. Deu a cada Patrulha um croqui, uma bussola, e uma carta prego. Nela as instruções eram claras. Duas horas de caminhada rumo NNE, encontrar uma grande seringueira de mais de quinze metros de altura. Virando-se para WSE encostados a árvore devíamos seguir por cento e cinquenta metros a contar no passo duplo. Sem erros. A Patrulha era boa nisto. Assim foi feito. Havia uma passagem em um barranco, largo, mas que dava para um enorme despenhadeiro. Ficamos longe dele.

                   Precisávamos tomar novo rumo. E a bússola? Quem ficou responsável? Era eu. Não achei em meus bolsos e nem no bornal que levei. Deu vontade de chorar. Leones me olhou com cara feia. Jair nem falou. Até Nonato o cozinheiro meu amigo não disse nada. – E agora? – Pense Lávio. Tente lembrar onde pode ter esquecido! – Fiz tudo e nada. Resolvi voltar pela trilha. No Barranco na trilha onde passamos parte dele cedeu. Toda a patrulha foi arrastada para o fundo do despenhadeiro. Mais de oitenta metros de queda. Ainda bem que não foi queda livre. No fundo da ravina caímos em vários arbustos cheios de espinhos. Uma dor horrível. Eu gritava de dor e meus companheiros também. Ficamos em pé. Difícil de mexer. Todos sentindo dores enormes. Tínhamos de sair dos espinheiros. Para onde ir? Até o Leones Monitor não sabia o que fazer. Ouvimos ao longe um grasnado de um Corvo. “Croc, Croc, Croc.” O avistei a uns cem metros em uma árvore. Ele voou em cima de nossas cabeças. Sempre indo a uma direção.

                   Não sei por que falei para o Leones que devíamos seguir o corvo. – Por quê? Ele disse. – Porque ele é o guia de nossa Patrulha. Ninguém riu. Com dificuldade conseguimos sair do espinheiro no rumo que o Corvo voava. Paramos a beira de uma pequena nascente para retirar os espinhos. Grande jogo de seis horas porque levar primeiros socorros? Começou a escurecer. O corvo sempre voando sobre nossas cabeças e depois indo a uma direção. Perdemos a noção de tudo. Mas sempre seguindo o Corvo. Escureceu. Não dava para andar mais. O Chefe e as demais patrulhas devem estar aterrorizados com nosso sumiço. Fazer o que? Um frio forte trazido por uma bruma da ravina nos pegou em cheio. – Alguém tem fósforos? Ninguém. – Lembrei que papai colocou um isqueiro na minha mochila. Porque cargas d’água o coloquei no bolso não sei.

                    Na ravina dava para avistar o céu. Ficamos em baixo de uma Guaritá frondosa. Dormir com aquele frio? Melhor acender um fogo. Com muito custo recolhemos vários gravetos e duas boas achas de madeira. Olhei para um galho na árvore e lá estava o corvo. Ele desceu voando e pousou no meu ombro. Todos dormiam ninguém viu. Interessante que uma pena sua era dourada e as demais pretas. Ele no meu ombro me fixava como se me conhecesse. Ficou ali por muito tempo. Acordei com a alvorada e o fogo apagado. Leones começou a cantar e dançar a musica dos cavalos trotando. Todos nos o acompanhamos. Deu para esquentar. O corvo de novo voando sobre nossas cabeças e seguindo em uma direção. Lá fomos nós. Duas horas depois avistamos o acampamento. Eu agradeci a Deus e quase chorando todos nós nos abraçamos. Não houve acesso de gritos do Chefe a não ser a gozação das demais patrulhas.

                   Até o dia seguinte na partida o corvo ficou lá, próximo ao nosso campo sempre voando e grasnando. Croc. Croc. Croc. Na partida ele nos acompanhou por muitos quilômetros. Da janela do ônibus eu o avistava e ele muitas vezes bicou os vidros querendo dizer alguma coisa. Um sono pesado e dormi feito um anjo. Confesso que nunca achei mais a bússola. Ofereci-me pagar e o Chefe não aceitou. – São coisas que acontecem claro, desde que lhe sirva de lição! Ele disse. No sábado seguinte a Tropa formada para o Cerimonial de Bandeira. Ao final do hasteamento fui convidado para dirigir a oração. Fiquei no meio da Ferradura. - Senhor ensinai-me a ser generoso, a servir-vos como mereces, a dar sem contar, a trabalhar sem descanso... Parei. O corvo estava ali voando em círculos sobre nós. Chamou a atenção de todos. Ficamos olhando seu bailado. Ele desceu até onde estava. Pousou no meu ombro. Tinha preso no bico uma pena dourada. Vou para cima do meu chapéu de três bicos. Colocou lá a pena e saiu voando e grasnando rumo sul. Sumiu no céu azul daquela linda tarde de primavera.

                  Um silencio sepulcral. Ninguém dizia nada. Até o Chefe estava extático e deslumbrado com o fato. Ele sabia da história do Corvo. Não acreditou em nós quando contamos. Tirei meu chapéu. Coloquei a pena dourada do meu querido corvo entre a correia e meu chapéu. Não ficou ali para sempre. Só colocava o troféu do meu amigo corvo nas atividades e solenidades que participávamos. A pena dourada fez história. Tornou-se um mito. Está lá em letras de forma toda a história no livro de Ata da Patrulha. Contam até hoje sua saga em todas as Patrulhas e no Grupo Escoteiro. – Olhei para o Chefe Lávio. Todos olhavam para ele com um ar de incredulidade. Ele se levantou e foi até sua barraca voltando em seguida. No topo do seu chapéu de três bicos lá estava a pena dourada. Linda, nunca tinha visto igual. Ah! Histórias são historias. Algumas marcam outras lembramos de tempos em tempos. E como diz um Velho Chefe Escoteiro: Histórias são feitas para sonhar...

Ave ou demônio que negrejas!
Profeta, ou o que quer que sejas!
Cessa ai, cessa! Clamei, levantando-me, cessa!
Regressa ao temporal, regressa
À tua noite, deixa-me comigo.
Vai-te, não fica no meu casto abrigo
Pluma que lembre essa mentira tua,
Tira-me ao peito essas fatais
Garras que abrindo vão a minha dor já crua. "
E o Corvo disse: "Nunca mais.”.

Edgar Allan Poe.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Pigmor, o castor manco do lago Grande Urso.


Lendas escoteiras.
Pigmor, o castor manco do lago Grande Urso.

                Era uma linda tarde de outono, mas Lisabel estava cansada. Afinal não era para menos. Quinze lobinhos ali soltos naquele sitio e só ela como responsável daria dor de cabeça em qualquer um. Lorraine e Javier na última hora disseram que só poderiam chegar no sábado à noite. Desmarcar o Acantonamento era impossível. Tudo tinha sido preparado. Chegaram e logo arrancharam no Sitio Mimoso. Quinze lobos? Meu Deus, agora pareciam cem! Lisabel gritava chamando e logo eles corriam para todo lado. Conseguiu uma árvore próxima a casa e lá arvorou a Bandeira Nacional. Tinha no programa um estoque de jogos, brincadeiras, canções tudo que uma boa atividade deste porte requer. Ainda bem que dona Mercês mãe do Gustavo foi para a cozinha. Ela dava mais trabalho que seu filho. Queria ficar junto dele para protegê-lo, enfim uma mãe super-protetora.

              Após o almoço Lisabel reuniu os lobos e foram até próximo a um pequeno lago, e ao pé de um lindo Cajueiro, sentaram. Os lobinhos inquietos. Alguma coisa fazia ondas sobre as águas do lago. Lisabel não acreditou. Era um castor que logo mergulhou. Só se o proprietário do sitio o tivesse levado. Não havia no Brasil. Ela começou a cantar com eles uma canção. “A promessa de Mowgly”. Fizeram um jogo de faz de conta. Viu que a tarde se aproximava. Ainda bem. Logo seus assistentes chegariam e ela poderia descansar. Uma forte dor de cabeça. Os lobos sentaram em sua volta. Ia começar a contar uma história. Não lembrava. Assustou-se ao olhar novamente para o lago, parecia emergir de dentro das águas um velho com um chapéu e uma indumentária típica dos grandes caçadores de peles do passado. Um verdadeiro Mountain Men, ou melhor, um homem da montanha! Sorria, deu um olá simpático, chamou a atenção dos lobos. Eram seis meninas e nove meninos.

               - Sabem! Disse ele. Faz tempo que não vejo um Cub Scout. Quantas saudades! – O que é um CubScout logo perguntou uma lobinha. – Meninos lobinhos como vocês. – Lisabel ficou impressionada e assustada com ele. Uma figura imponente. Um cajado lindo. – Posso? Ele perguntou a Lisabel se poderia sentar com eles ali. – Claro que sim ela respondeu. – Por acaso viram um castorzinho deslizando há poucos instantes sobre o lago? Não? Vocês já ouviram falar de Pigmor, o castor manco do lago Grande Urso? – Também não? - Não Senhor responderam todos. - Querem conhecer sua história? Palmas e gritos. A lobada gostava de uma boa historia. – Bem vou contar, mas é uma historia triste, muito triste. Faz tempo, muito tempo quando conheci o John, ou melhor, o John Colter. Um pioneiro e um dos primeiros caçadores de pele a ser chamado de “homem da montanha”. Ficamos amigos em St. Louis uma cidade americana, lá pelos idos de 1807. Com ele fizemos uma serie de expedições até o rio Missouri para caçar castores e tirar suas peles.

               Os lobinhos assustaram-se. – Calma, foi em um passado muito distante. Nós vivíamos disto. Chegamos até a montar uma empresa de nome Rocky Mountan Fur só para vender as peles que conseguíamos caçar. - Mas vamos ao que interessa. Eu e o velho John rodamos meio mundo. Das Montanhas Rochosas até os grandes lagos de Michigan, Huron, Erie e Ontário. Diziam que eu e o John só caçávamos peles dos castores, mas não era verdade. Amávamos explorar o Velho Oeste americano. Nunca esqueci quando conheci Pigmor, o castor manco. Para ser sincero eu e o meu amigo chegamos às margens do Lago Grande Urso numa tarde de novembro. O frio intenso, pois nevava a mais de seis dias. Montamos uma pequena cabana e quando ascendi o fogo vi um castorzinho se aproximando e mancando. Assustei, pois sabia que eram ariscos e não se aproximavam. Sabia que ele e seus companheiros formavam uma colônia deviam ter um dique no fundo do lago. Nunca andavam sozinhos. Nós sabíamos que enquanto não passasse a nevasca nunca poderíamos caçá-los.

              - Olhei para o John e disse rindo: Não parece o Pigmor aquele velho caçador de ouro que morreu em Blue River Valley? Coitado. Achou que a riqueza fácil seria dele ali na região das Montanhas Rochosas. Morreu abraçado a um grande urso que encontrou na caverna do Mandor. Belas lembranças da famosa corrida do ouro em Breckenridge. Mas voltemos a historia. Vi que vocês querem saber tudo! Pigmor chegou até próximo ao fogo. Achamos ele diferente. Logo batizamos com o nome do meu amigo já falecido. Eu e o John ficamos calados. Não valia a pena dar um tiro ou mesmo matá-lo com um facão. Era raquítico, pequeno e descarnado. Seus olhos pareciam vermelhos e sentia que chorava por dentro. Ficou ali horas aproveitando o calor do fogo. Foi quando levamos o maior susto. Pigmor de cabeça baixa, deitado bem próximo à fogueira soluçou várias vezes. Começou a contar uma historia estranha. Isto mesmo, Pigmor estava falando. Como não sei. Castor falante? Nunca ouvi falar.

              Lisabel não estava acreditando no que via. Um velho curtido, uma capa estranha, botas de pele de urso, um lenço azul amarrado ao pescoço e um boné de peles de castores, de cócoras no meio do circulo, contava aquela história de uma maneira tão linda que até ela mesmo estava emocionada pelas palavras daquele velho caçador de peles. Notou que em nenhum momento os lobinhos tiravam os olhos dele. Sua dor de cabeça e seu cansaço desapareceram. – O Velho caçador continuou – Isto mesmo. Pigmor contava uma história muito triste, que aconteceu uma semana antes. Ainda não estava nevando e ele e seus irmãos da Colônia tinham terminado o dique onde iriam passar o inverno e aconteceu uma matança. Dois homens chegaram atirando. Pigmor correu para uns arbustos, mas levou um tiro na perna direita. Seu pai e sua mãe morreram na hora. Viu que somente Nakim, Molevo, Pariá e Jasmiel tinham se salvado pulando nas águas geladas do lago. Os dois homens jogaram uma banana de dinamite e quase destruíram o dique. Os quatro castores escondidos ficaram presos.

                  - Pigmor levantou a cabeça e me olhou dentro dos meus olhos. Depois olhou para John e continuou – Mergulhei até lá, estavam presos em uma toca sem poder sair. Tentei tudo. Jasmiel a Castora que seria minha esposa estava quase morta. Não sabia o que fazer. Melhor morrer com eles. Subi a tona e vi vocês. Acreditei que iam atirar em mim. Podem atirar. Eles irão morrer e eu quero morrer com eles. Iremos nos encontrar nas Grandes Tocas do Navarra onde se encontram os nossos ancestrais. – Pigmor se calou. Só ouvia soluços. Olhem não sei o que deu em meu amigo John. Não sabia que ele um dia poderia gostar de bichos, animais, ou seja, lá o que for. Mas mesmo naquela nevasca, escuro feito breu, o frio de rachar ele tirou a roupa e mergulhou nas águas profundas do lago. Passaram-se segundos e minutos. Nada do John vir à tona. “Diabos” pensei, será que ele morreu? A água estava um gelo! – Eis que os primeiros castores apareceram e logo em seguida o John com um castor no colo que julguei ser Jasmiel, a namorada de Pigmor.

                       Todos eles correram para a beira do fogo. Olhe eu juro pelas barbas do Coyote mais arisco de Yellowstone, pelas corcundas de um Bufallo das pradarias próximas a Little Bighorn em Montana que é verdade. Ficaram dois dias conosco. Pigmor e os seus irmãos mergulhavam de vez em quando para consertar sua toca no dique do lago. Uma semana depois Pigmor deu adeus. Hora de partir. Mergulharam na água do lago Grande Urso e sumiram. Nunca mais voltei lá. Disse ao John que minha vida de caçador peles e de castores tinha se encerrado ali. Juntamos nossas tralhas e partimos. Sabíamos que no então Território do Dakota seria feita uma grande corrida do ouro. Em Montana, Arizona, Nevada e Colorado só se falava nisso. Milhares de garimpeiros acorreram. Mas esta é outra história. Um dia John se desentendeu com um fora da lei. Morreu em um duelo em Virginia City. Eu resolvi fazer uma cabana nas montanhas e passar lá o resto de minha vida. Tropecei em um lago ao sul de Sonora. Vi um castor manco. Seria Pigmor? O levei comigo. Estamos juntos até hoje.


                           Ninguém falava nada. Lisabel viu que o velho caçador se levantou, deu um leve sorriso e disse adeus. Foi em direção ao lago. Andando sobre as águas todos notaram cinco castores nadando ao seu lado. Em segundos despareceram no fundo daquele pequeno lago do Sitio Mimoso. Um barulho de carro. Deviam ser Lorraine e Javier chegando. Eles adoravam os lobos. Um grito: - Lobo, lobo, lobo? E os lobinhos como a acreditar que outra linda história estava programada para eles, correram em direção ao Balu e a Bagheera. Lisabel ficou ali. Olhando para as águas do lago, que agora já noitinha uma bruma cinza se espalhava por sobre as águas. – Eu sonhei? Pensou Lisabel. Se sonhei os lobos também sonharam. Mas não é bom sonhar? Com terras altas, montanhas geladas, picos altos e longínquos, grandes lagos, é bom sonhar sonhos como este. Gostaria de ter conhecido Pigmor o castor manco do lago Grande Urso. Mas...

sábado, 12 de abril de 2014

Margarida, um jagunço gente boa. “Sordado marvado, sai da carçada que lá vai porva!”


Margarida, um jagunço gente boa.
“Sordado marvado, sai da carçada que lá vai porva!”

                        Conheci Margarida em uma jornada que eu e mais quatro seniores fazíamos quando resolvemos ir até Malacacheta, a convite do Chefe Mauricio que disse ter um grupo novo lá. Eu, Israel, Laerte, Romildo e Chiquinho éramos inseparáveis. A distância de nossa cidade e a dele não era grande. Acredito que uns cento e cinquenta quilômetros. Como saímos em uma sexta quase as três da tarde, resolvemos pernoitar próximo ao Rio do Peixe. Uma lua linda não montamos barraca. Íamos dormir sob as estrelas. Nossa sopinha Estava quase no ponto. Escurecia quando ele chegou. A pé. Magro, barbudo, uma fileira de dente todos cariados. Usava perneiras, pois era uma região espinhosa. Chapéu de couro. No ombro seu fuzil inseparável que ele chamava de Loló. Amarrado na barriga um enorme colt 45. Depois fiquei sabendo que em cada perna tinha um punhal escondido.

                      Posso me adentrá? Falou baixinho. Olhamos espantados. Ele sério. – Me chamo Margarida, dá para comer com vocês? – Claro eu disse. Ficamos de olho e atento no que ele ia fazer. Coragem? Nada disto, mas dizem que ficar alerta faz bem em toda e qualquer ocasião. Sentou tirou um prato sujo do seu bornal e Israel encheu. Comeu feito um danado. Não pediu mais. Só água. Tínhamos café no bule esquentando no canto do fogão tropeiro. Bebeu com gosto. – Falou pouco. Meu nome é Margarida, meu pai me deu. Nunca mudei. Por causa dele matei muita gente. Se me chamam sem rir, tudo bem se derem um risinho esquento o bucho dele. – Olhei para Israel e ele piscou. Queria rir. Meu Deus! Não deixe rir!

                     - Não precisam ficar com medo. Me trataram bem. Vou embora lá pelas três da manhã. Podem dormir tranquilos. Enrosquei em minha capa preta em volta do fogo. – Você nasceu onde? Perguntei. – Em Barra Dourada. Próximo a nascente do Paraopeba. Lembrei-me do rio. Cascalho imundo. Pobre do rio. Estragaram ele tentando achar um ouro que não tinha. Até hoje as máquinas estão lá sujando o rio. Chiquinho queria saber mais. – Matou quantos Senhor Margarida? – Não me chame de Senhor. Senhor é o Senhor seu pai! – Putz grila! Mas se quer saber matei mais de dez. Muitos porque riram do meu nome. Maldita hora que meu pai me batizou assim. Queria uma menina e nasci macho. Agora não tenho onde ficar. A policia de captura sempre está atrás de mim.

                       Fiquei calado. Israel me olhava e piscava os olhos. Margarida desconfiou. - Porque esta piscação? Nada Seu Margarida. Israel tem um defeito na pálpebra. – E que merda é esta de pálpebra? Danou-se! Custei para explicar. Já estava tremendo. Margarida passou boa parte da noite sentado. Eu não consegui dormir. Fingia que dormia. Às três da manhã juntou suas coisas, um bornal que devia levar suas balas, seu fuzil e já ia partir quando dei ele um farnel de biscoito de polvilho. Agradeceu, ficou em posição de sentido, gritou Sempre Alerta e partiu sem sorrir. Consegui cochilar até as seis. Ouvi um tropel de cavalos. Cinco soldados e um Capitão. Deviam ser da tal policia de captura.

                       Ninguém apeou. O Capitão perguntou – Viram um jagunço magro, barbudo, armado até os dentes por estas bandas? E agora José? O Escoteiro tem uma só palavra falar o que? – Não Senhor. Chegamos aqui à meia noite. Só deu para fazer uma sopinha um café e já íamos partir. – Vão para onde? Malacacheta Senhor Capitão. Fazer o que lá? Um Chefe Escoteiro nos convidou. Nos olhou como quem não acredita. Deu até logo e partiu. Pegamos as bicicletas, arrumamos tudo e quando íamos partir um barulho no mato e surgiu Margarida. – Ainda bem que não disseram nada, falou. Estava com a Loló (fuzil) armada e se dissesse que me viram iam levar uns tiros no rabo!


                     Foi embora cantando. “Sordado marvado, sai da carçada que lá vai porva!”. Resolvemos voltar para nossa cidade. O Chefe Mauricio que nos desculpasse. Para dizer a verdade eu estava com as calças toda molhada e outros com elas borradas. Não dava mais para prosseguir. Nunca mais ouvimos falar de Margarida. Do capitão não. Era famoso. Quando a cadeia estava cheia, pegava uns ladrõezinhos de fancaria colocava em fila e saiam pela cidade e fazendo-os gritarem – Roubei galinha! Roubei o porquinho da dona Noêmia. Depois soltava. Pois é. Meu escotismo tem muitas histórias. Diferente de hoje, mas sei que tem muitos que ainda fazem belas aventuras. E viva o Margarida se já não morreu!    

quinta-feira, 10 de abril de 2014

A lenda dos peixinhos dourados. (uma história para lobinhos)


Lendas escoteiras.
A lenda dos peixinhos dourados.
(uma história para lobinhos)

      Conta uma lenda que existia uma cidade pequena, muito e muito longe lá onde as nuvens se escondiam ao anoitecer. Contam ainda que em Harmonia era comum todos se saudarem sorrindo, semblantes alegres, cantantes, andar cadenciado como a mostrar suas alegrias em viver. Disseram-me que lá não havia ódio, não havia tristeza e que seus habitantes viviam como irmãos. Foi lá que Ruth nasceu de parto natural. Conta à lenda que ela nasceu sorrindo e que Dona Sarah a parteira a “benzeu” dizendo – Ela vai ser nossa guia e a Santa de Harmonia. Ruth foi crescendo e todos admiravam sua beleza. Tinha cachos dourados e brilhantes, olhos verdes como as esmeraldas e distribuía onde passava seu sorriso que parecia trazer o aroma das flores, os pássaros esvoaçantes a seu redor e milhares de borboletas coloridas.

       Contaram-me que em Harmonia as noites sempre tiveram lua cheia. Era uma lua diferente, grande e apesar de um branco harmônico em volta parecia ter uma coroa de flores das mais variadas matizes. Todos sabiam que na cidade havia o mais lindo céu de estrelas. De todos os tipos, vermelhas, brancas, verdes e não havia em nenhum lugar um brilho maior do que lá e que elas pipocavam no céu divinamente. Ruth aos seis anos era uma lobinha da Alcatéia do Amor. Ali lobinhos e lobinhas viviam felizes juntos aos chefes da Alcateia. Dalila a Akelá era amiga de todos, Sarah a Baguera contava lindas histórias e Isaac o Balu brincava a mais não poder com todos os lobos da Alcateia do Amor. Naquela Alcateia feliz se sabia que todos seguiam sem nenhuma duvida a lei do lobinho. Ruth era filha de Talita e David. Seus pais eram pessoas humildes e trabalhavam na loja do Senhor Levi. Muitas vezes Ruth ficava só e ela amava estas horas.

        Nos fundos da casa de Ruth, corria um córrego de águas cristalinas, límpidas e diziam que quem bebia daquelas águas não ficavam mais doentes. Era lá quando estava só que Ruth passava boa parte do tempo enquanto seus pais trabalhavam. Ela era amiga de muitos peixinhos dourados e conversava muito com Estrelinha, Pingo d’água e Gota de Chuva. Podia ter sol ou chuva que Ruth não saia do laguinho que as águas formaram. Um dia Ruth viu chegando um Bagre cinzento. Ele era feio, muito feio. Os peixinhos dourados sempre corriam quando o Bagre chegava. Ruth ficou ali olhando para ele e ele olhando para ela. Não vai correr? Não vai fugir? Afinal sou um bagre cinzento e sou horrendo. Todos quando me veem fogem. Ruth sorriu para ele. - Seu bagre saiba que a beleza ideal está na simplicidade calma e serena. Sei que quando o conhecer melhor encontrarei em seu coração uma beleza que fará brilhar todas as luzes. Lembre-se que o valor das coisas não está na aparência ou no tempo que elas duram, mas na intensidade que você impõe a bondade em seu coração. Isto é tão verdade, pois a gente sabe que temos momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.

                 O Bagre Cinzento a olhou de tal forma que sem ele perceber se transformou em um Bagre dourado, de olhos azuis. Ele não estava acreditando e foi preciso que Ruth dissesse para ele – Saiba Seu Bagre Dourado a gente não julga ninguém pela aparência e sim por suas atitudes. São elas que irão comprovar o quão diferenciado você vai ser dos demais. Foi então que os peixinhos dourados se aproximaram e abraçaram com amor o Bagre Dourado. E assim graças a Ruth os peixinhos e os peixes maiores aprenderam que todos eram iguais, pois em cada coração existe uma beleza que ninguém pode ver, mas a gente pode sentir e mostrar como somos bons quando queremos ser. Ruth a lobinha que tinha cachos dourados e brilhantes, olhos verdes como as esmeraldas e distribuía onde passava seu sorriso que parecia trazer o aroma das flores conseguiu que os peixes que moravam no lago dourado de Harmonia vivessem alegres e felizes para sempre.


Ninguém deve julgar ninguém pela aparência, julga-se pela essência, pelo amor...

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O verdadeiro caminho da felicidade.


Conversa ao pé do fogo.
O verdadeiro caminho da felicidade.

O céu estremece.
A terra balança.
E num sorriso de criança;
Ainda existe a esperança
de sermos felizes!


                       Terminou a reunião. Alguém vai procurar você. – Sorrindo ele diz - Chefe, por favor, assine aqui. Assinou. Você sabia, aquele sorriso era os seus proventos do dia. Você está sendo regiamente pago. Um ótimo salário. Poucos te invejam, entretanto. Eles não sabem o valor do seu salário. Sua assinatura foi feita com as pupilas dos seus olhos. Não tem canetas, lápis, nada. Ali estavam espalhados pelo pátio, centenas de milhões de reais, melhor dizer, centenas de milhões de felicidade. Este é o nome dos seus proventos. Seu holerite tinha forma de estrela brilhante com poucas coisas escritas. Ali estava os olhinhos do Lobo Feliz, da Lobinha que pensava primeiro nos outros. Ah! Lá está também a face faceira do Escoteiro. Da Escoteira cortes. Sem falar no Sênior que aprendeu o que é honra. Da guia que se orgulha em ser leal. Chiii! Eram muitos os escritos nos seus proventos, no seu holerite.

                       Um dia convidaram você. Seja um voluntário escoteiro. Quanto pagam? Você perguntou. Muito! Vais ter o maior salário do mundo. Sem muito esforço pessoal. Apenas dedicar parte do seu tempo para complementar sua renda familiar. Coisa pouca. Coisa de milhões! Terás aborrecimento sim, terás tristezas também. Poderá até ficar doente pelas intempéries do tempo. Mas quando receber e ler o que ganhou no seu holerite Escoteiro irás ficar orgulhoso. Nenhum astro, nenhum cantor, nenhum alto membro da comunidade científica, nenhum político terão a oportunidade de receber o tanto do que irás receber. Eles nunca farão o que você faz. Eles nunca poderão julgar sua vitória para ter direito a este enorme salario. Eles não sabem o que é isto. Eles não sabem o que é felicidade!

                    Vais ter sim que ser um deles para justificar sua paga. Serás um Professor diferente. Vais ensinar muito. Quem sabe um astro também, pois terás de jogar com eles em todos os momentos. Claro vais ser um religioso. Terás de entender a espiritualidade de cada um e ajudar na vida pessoal de todos. Terás que mostrar o valor de Deus, da natureza, das florestas, dos rios e oceanos. Irás com eles inventar coisas maravilhosas que poderão deixar para trás os maiores cientistas da humanidade. Irás cantar como nunca cantou em sua vida. Vais ter que saber politica para resolver os problemas que irão aparecer. E serão muitos. E claro, irás ser um Chefe, um líder, um sargento ou até mesmo um general, mas diferente. Usarás como arma o seu coração.

                      Irás viajar com eles por longas terras, irás fazer longas jornadas e sabe, vai se maravilhar quando os ver sorrir pela primeira vez. Ai começa o seus proventos. Vais lembrar-se de Bruno Raphael que dizia: - Da bravura dos grandes nasce à glória. Do sorriso das crianças a felicidade. Do olhar dos inocentes a certeza da esperança. De suas mãos a construção do futuro e assim você pode continuar a sonhar... Com os pés no chão. Lembre-se da lei do retorno, pois não haverá consideração com seus erros. Mas lembre-se que saber perdoar é importante para que outros perdoem você também. Irás tirar do próprio bolso para ajudar, suas horas de lazer e alegria serão outras. Muito mais difíceis, mas muito superior a tudo que fizeste. Não é só diversão. Agora tem um propósito.

                     A sua volta muitos o olharão com desconfiança até que irá chegar o dia do seu salario. A cada ano irás receber seu décimo terceiro salário. Isto quando um deles estampar em suas fardas as conquistas que você ajudou-os a receber. Dizem que a cada década você terá um prêmio extra. Os ver entrando na sociedade dos homens, já adultos e alegres, com altivez não exagerada, mas que olharão para você e o verão como um dos responsáveis pela formação de suas vidas. A cada aperto de mão, a cada Melhor Possível ou Sempre Alerta seus bolsos ficaram mais avolumados com os aumentos dos proventos que virão. A cada volta de um acantonamento ou acampamento verás pilhas de sorrisos financeiros aos seus pés.

                     Não será fácil seu trabalho. Irás enfrentar relâmpagos e tempestades. Pais insatisfeitos, amigos de farda com críticas, trabalho extra e adicional noturno acrescido de alta periculosidade pelas intempéries da vida, e até quem sabe com pagamentos atrasados. Foram sorrisos tardios. Mas no fim, seus proventos serão enormes. Horas sem dormir. Horas de correria. Atender a todos sem olhar a quem. E quando chegar ao final da jornada, na hora de receber, vais dizer – Valeu a pena. Valeu sim. Olhar a volta e ver sorrisos em profusão. Sorrisos de crianças. Os mais lindos sorrisos que existem na face da terra. E eles, os sorrisos serão sim o maior valor dos seus proventos. Enormes, e a cada um mais você ficará mais rico. Uma grande soma no Banco da Felicidade. E pode sacar quando quiser. Com cheque cartão ou com o pensamento. Está lá armazenado. Um bilhão de felicidade só para você. Pois foi você quem fez por merecer o sorriso de uma criança. E não foi ele, o seu chefão quem disse que a verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros?       

Olhe para o sorriso singelo de uma criança, deite na grama e olhe para as estrelas e cante com os amigos. Depois disso, ainda há quem diga que o simples fato de viver e se fazer realmente existir, seja tão complicado?