No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Do outro lado da montanha.



Do outro lado da montanha.

Ei você! Não pare na subida da montanha. Prossiga. Você está apenas no inicio. Não queres ver o outro lado? Será que lá não tem coisas lindas para ver? Voce é livre, livre para decidir sua vida. Corra atrás dos seus sonhos dos seus desejos. Deixe o vento levantar seus cabelos, deixe o aroma das flores perfumarem seu caminho. Do outro lado da montanha quem sabe seu espírito irá se libertar e não ficará preso nas adversidades da vida.

Olhe a frente, veja as estrelas no céu. Não podes contar quantas são. Podes imaginar. Olhe! Pense naquela estrela cadente! Para onde foi? Quem sabe depois da montanha você vai descobrir seu caminho para o sucesso? Vamos, levante, mochilas as costas, solte sua bandeira e deixe a chuva cair na sua face. Ela vai refrescar sua jornada. Voce é livre, caminhe com suas próprias pernas, veja o rumo, trace seu destino e vá... Lá depois da montanha quem sabe vais ver a beleza do universo, vai sentir a brisa a lhe afagar o rosto, irás beber a água límpida da fonte que jorra. Ouvirá o canto do sabiá, e um arco íris colorido irás dizer a você que ali mora a felicidade. Afinal meu amigo ou minha amiga, você é um bravo do escotismo. Tens o Rataplã na mente e BP no coração.

Avante! Do outro lado da montanha iremos ver um novo mundo, basta querer!

Chefe Osvaldo. 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Mochila ame-a ou deixe-a.


Jogando conversa fora.
Mochila ame-a ou deixe-a.

       Já tive várias na vida. Tentei guardar a primeira, mas uma enchente me deixou órfão. Quase chorei. Na sede escoteira tinha um báu delas. Presentes do Batalhão Militar da cidade.  Com o tempo fui comprando outras. A pior de todas foi a com armação de metal. Uma jornada de vinte quilômetros acabou comigo. Jurei nunca mais usar. Aprendi desde pequeno que mochila não é armário ou guarda roupa. Aprendi usando. O Akelá disse – Não vou dar lista. Levem o que acharem necessário. - Penei. A mochila não deu. Levei mais um bornal e uma sacola. Fui alvo de gozação. Lobinho pata tenra só aprende assim. Mas aprendi. E como aprendi. Afinal subir montanhas, quilômetros e quilômetros em vales e gargantas, atravessar rios ou andar em lombos de burros foi lição para nunca mais esquecer.

       Você pode dar uma relação de itens para eles levarem. Não vai adiantar. Mamãe, titia ou Vovó sempre tem mais um. Nunca ri de Escoteiros noviços ao chegarem à sede parecendo uma árvore de natal. Mas que dava vontade de rir dava. Ele chegava vermelho. Sonhando com o acampamento. Eu só dizia – Vai precisar mesmo de tudo isto? Ele orgulhoso respondia - Claro Chefe. Afinal não foi o senhor quem disse que quem vai para o mar avie-te em terra? Tá bom. Aprender a fazer fazendo. Um quilômetro e o pobre bufando. Dois quilômetros desmaia na sombra de uma árvore. – Aprendeu? Claro que sim. Sem ajuda. Nunca deixei ajudar. Levou tem de carregar. Faz parte do crescimento.  

        Eu aprendi assim. Cortava isto, cortava aquilo e não fazia falta. Não faz mesmo. Nunca levei saco de dormir, ou melhor, em inglês sleep. Um trambolho. É isto mesmo? Não importa. Carregar um nas costas? Nem pensar. Se quero conforto fico em casa. Sempre tive dois sacos de linhagens. Era só encher com folhas secas ou capim e meu colchão estava pronto. Uma cueca, um par de meias, uma camiseta, um short, minha manta e os dois sacos de linhagens. Clara higiene e um bom livro. Mais? Não precisava. Se sujava eu lavava. Tinha técnica até para passar com dois arcos de madeira. Tive uma mochila que adorava. Simples, verde, gostosa. Nas costas não machucava. Nas laterais colocava meu facão, uma chaleira e um caldeirão. Não precisava de mais. Viajei mundo. Subi serras e picos.

       Mas dei boas risadas com as mochilas dos outros. Eu sempre fui um gozador às escondidas. Nos acampamentos nacionais, regionais e internacionais era que eu dava gargalhadas mil. Meu Deus! Cada tipo de fazer inveja. Eles chegavam posudos. Como se fossem os melhores do mundo. Mochilas enormes. Cheias de barangandãs. – Por que esta rindo? Perguntavam. – Por nada, desculpe. Mas lá no fundo eu sabia que ele era um eterno pata tenra. Você conhece. Você sabe. Só de olhar o Chefe ou o Escoteiro você sabe ate onde ele é um bom mateiro. E a Patrulha então? Só o Monitor formar e lá está. Grande ou pequena Patrulha. Não tem erro. Adorava ver um Chefe tentando me explicar sua mochila machucando na subida da serra. - Aprendeu papudo? Claro que sim. Ele aprendeu. Achou que sabia tudo e não sabia nada. Mas não é assim que se aprende?

        Quando Sênior era bom andar com meus companheiros. Ninguém reclamava. Todos sabiam o que fazer. Mochilas bem postas, somente o necessário. Hora de falar, hora de cantar e hora de prosseguir o caminho das nuvens. Andei por alguns lugares com chefes mateiros. Aprendi muito com eles. Muitas vezes as barracas ficavam. Prá que? Em meia hora sabíamos fazer uma cabana para dois ou três. Chuva? Uma capa plástica simples e mais nada. E ela nunca durava para sempre. Mas voltemos às mochilas. Cada um sabe o que quer. Cada um compra a quem mais lhe chamou a atenção. Mas cuidado. Muito cuidado! Nem tudo que reluz é ouro. Olhe para ela. Se sinta confortável subindo uma montanha por dois dias, sol a pino, nenhuma sombra. Como ela está nas costas? Dói? Então não compre. Veja aquela mais simples, mais leve. Você não vai mudar. Vai acampar ou excursionar e voltar para casa.

        Ainda sinto saudades. Muitas. Em ver todos chegando à sede. Dia do grande acampamento. Pais e mães brigando para ver seus lindos filhinhos colocarem a mochila e dar adeusinho. Os mateiros rindo e pensando na bela atividade pela frente. Os pata tenra vermelhos maldizendo as vovós e as mamães que lhe entupiram de material. Mas não adianta. Só se aprende fazendo. Feliz Baden Powell que nos ensinou e muitas vezes esquecemos. Bom acampamento!



   

domingo, 23 de junho de 2013

A pimenta, o cachorro, o jacaré e o escambal.



Conversa ao pé do fogo.
A pimenta, o cachorro, o jacaré e o escambal.
(baseado em fatos reais)

          - Foi confirmado. Virão quatro tropas escoteiras do Distrito. Cada uma com quatro patrulhas. Virão também varias patrulhas seniores. Os lobinhos ficarão no campinho do Seu Altino. O galpão vazio foi cedido sem ônus. Nosso problema são as patrulhas. Acredito que com os seniores seremos mais de trinta patrulhas. Precisamos de um bom local para receber todos. Serão cinco dias. Pensei em vários. Defini quatro locais. Conto com vocês de visitá-los e ver se podem receber tanta gente. Conversem com o proprietário. Eles sempre ajudam. O Chefe Jessé não disse mais nada. Entendemos. Afinal seriamos anfitriões e tínhamos que caprichar. Tiramos a sorte e lá fomos nós para a Serra do Marimbondo. Um ótimo local. Acampei lá muitas vezes. Mata, bambus, nascente, riacho com quedas d’água, e um descampado arborizado. Perfeito.

             Após o almoço colocamos o pé na estrada. De bicicleta. Apenas oito quilômetros. O plano era ver e fazer um pequeno esboço de Gilwell do local. No domingo poderíamos retornar antes do meio dia e almoçar em casa. Na Fazenda do Seu Inácio ele como sempre um grande amigo dos escoteiros. Querem almoçar? – Agradecemos. Saímos almoçados. Ele ofereceu um franguinho para nós fazermos no almoço. Agradecemos. Cada um levou um pouco de macarrão, uma batata, sal, e duas linguiças. À noite a sopa seria um maná dos Deuses. A fama do Fumanchu nosso cozinheiro era conhecida por muitos. Interessante, no passado todas as patrulhas tinham seus cargos e sabíamos os que se sobressaiam nele. Era ponto de honra. Ser cozinheiro era uma honra. Conheci muitos que se orgulhavam. Chegamos barraca pronta, lusco fusco da noite e Fumanchu fazia a sopa deliciosa de macarrão. Fomos tomar um banho e no retorno levamos lenha para uma fogueira a noite.

              Fumanchu estava cabreiro. Olhava-nos de modo estranho. – Não sei se vão comer – disse. – Por quê? Romildo o Monitor inqueriu. – Fiz uma besteira. Vi um pé de pimenta malagueta coloquei uma, experimentei nada, coloquei outra e outra. Tá duro comer. Arde feito o “capeta”. – Capeta não arde Fumanchu, eu disse. Olhei a sopa. Uma fumacinha saia de dentro do caldeirão. Experimentei. Ardeu e como ardeu! – coloca água quem sabe vai dar – disse Rael. Colocou. Nada. Coloca uma colher de açúcar! Disse Zezito. Nada. Uma fome do inferno. Nunca tive tanta fome. Com a concha coloquei um pouco no meu prato. Tentei comer. Virou uma meleca. Agua, açúcar e nada adiantou. Sem nada para comer. Só um pacote de bolacha do Tiãozinho. Dormimos com a barriga reclamando. Cedo todos acordaram. Um café foi feito sem nada. Alguém deu a ideia de ir buscar o frango do Seu Inácio. Ofereci para pegar uns peixes. Era bom nisto. Rael sumiu na curva da estrada em busca do frango salvador. Eu cortei um bambu fino, pois o bambuzinho chinês para pesca não tinha ali.

               Não demorou Rael chegou com o frango. Fumanchu já tinha esquentado água para o frango amolecer e tirar as penas. Preparou umas brasas e transpassado por um pedaço de madeira verde, o frango rodava em cima para ficar no ponto. No remanso da curva do riacho sentei. Joguei a vara. Não demorou nada. Um puxão. Era um belo piau. Segurei com força. A linha era fina. Não podia perder. A vara quebrou no meio e o piau saiu com ela riacho acima. Mergulhe atrás. Um lindo jacaré correu em cima da vara. Engoliu o peixe quando pulou e levou meu anzol. Voltei triste para o campo. Mais tristes fiquei. Fumanchu cochilou, o vira latas do Seu Inácio sumiu com o franguinho. Putz! Meio dia sem comer nada. Desmontamos a barraca. Na fazenda do Seu Inácio ele viu que nós estávamos querendo alguma coisa. Contamos. Ele riu a vontade. Chamou Dona Cidinha sua esposa. Ela riu – Serve um feijão com farinha? Tenho ovos e carne de porco da lata. Tem também torresmo. Precisavam ver o sorriso de todos. Fumanchu mais ainda.


                 Chegamos em casa às seis da tarde. Sem planta, sem esboço de Gilwell. O Chefe escolheu o Vale das Flores. O acampamento distrital foi um sucesso. Seu Inácio ficou triste. – Gente! Se fosse lá nas minhas terras eu tinha separado um boizinho para vocês! – Época boa. Tudo se conseguia com facilidade. Dois dias sem comer. Valeu. Dizem que é com fome que se aprende. Quem disse isto é um idiota. Fome? Naquele domingo quase segurei o Jacaré pelo rabo. Um ensopado de jacaré? Só quem viu sabe como é o jacaré. E chega de lembranças.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares.



Lendas escoteiras.
Pikitito, um Grilo feliz da lagoa dos Mares.

                      Joyce sentiu quando o grilo pousou em seu ombro. Lobinha amiga dos animais plantas e insetos ela olhou de lado e sorriu. Já tinha visto muitos grilos. Gostava de ver os saltos que eles davam. Como inseto ela achava que eles eram um dos maiores existentes no Brasil. Ela sabia que nem todos possuíam asas, mas tinham os melhores órgãos auditivos para perceber os sons produzidos pelas suas próprias asas. – O que vocês vieram fazer aqui? Perguntou o Grito. Joyce riu. Um grilo falante? - Você fala? Disse ela. – O grilo olhou para ela indignado – Claro, ou você acha que eu estou latindo? – Não precisa ser mal educado seu grilo – Me chame de Pikitito. Este é meu nome que meus pais me deram quando nasci. – Mas me diga o que ele e o outro estão medindo com uma trena? – Vamos fazer aqui um grande acampamento de Escoteiros. Serão mais de mil, ela disse – Nem pensar! Não podem. Neste capinzal está nossa cidade, ou melhor, nossa capital. Grilolândia está aqui a mais de mil anos. Não podem destruir nossa cidade.

                       - Veja você continuou o grilo, ou melhor, Pikitito. – Aqui neste pastinho temos nosso alimento. Se vier a noite aqui vai nos encontrar almoçando e jantando. Aqui temos plantas, cereais, fungos, tecidos de lã e restos de outros insetos. – Se acamparem aqui irão destruir nossa cidade – Olhe seu Pikitito não estou duvidando, mas meu tio é um cara chato. Chato mesmo. Quando põe na cabeça um plano difícil desfazer dele. Sabe como ela se chama? João Cabeçudo. – Você diga a ele que se não desistir vamos chamar os grilos de todo o mundo. Serão milhões, pois cada grilo femea não sei se sabe coloca mais de 100 ovos por mês. – Quer conhecer nossa cidade? Quero sim disse Joyce. O grilo disse, põe o dedo nas minhas asas e repita comigo – Pic, pok, kilo, vou para a cidade dos grilos! Mas fale o mais alto que puder. Joyce não se vez de rogada. – Depois de gritar as palavras mágicas ela ficou pequenina do tamanho do grilo, ou melhor, Pikitito.

                          A cidade era linda. Praças, chafariz, prédios enormes, escolas, universidades tinha tudo da cidade dos homens. – Nem tudo disse Pikitito. Aqui temos a paz e vocês não tem. Não precisamos de policia, nem de exércitos. Somos todos irmãos. Não é assim que dizem vocês Escoteiros? – Joyce estava entusiasmada com tudo que via. Foi apresentada ao Mestre Catuaba, que fazia às vezes de prefeito e juiz. Ao Doutor Magnésio que curava todas as dores dos grilos. E a maior surpresa. Visitou o Grupo Escoteiro Grilo Feliz. Tudo que nós fazíamos eles faziam também. Só que melhor. Uma disciplina incrível. As patrulhas completas, os uniformes bem postados, fomos até próximo da Lagoa dos Mares onde estava acampando duas tropas uma masculina e uma feminina. Próximo em uma fazenda lobinhos grilos se divertiam felizes.

                            - Me leve de volta, pediu. Meu tio tem de entender. Ok! Repita de novo - Pic, pok, poney vou para a cidade dos homens! Joyce voltou ao tamanho normal. Falou com seu tio que deu risadas – Joyce, lugar de sonhar é na cama. Aqui não. Cidade dos grilos? Só você para contar esta piada. – Tio, se não desistir do Ajuri Escoteiro aqui eles irão chamar todos os grilos do Brasil e comerão tudo que encontrem pela frente. Irão destruir todo o acampamento – João Cabeçudo morria de rir. Sua sobrinha tinha uma mente fértil. – Joyce pegou na mão dele. Tio me faça um favor. Só um e não falo mais nada – Diga comigo junto – Pic, pok, Kilo!  - está bem ele disse. E gritou alto o que ela pedia. Sentiu uma pressão no corpo. Estava diminuindo. Vários grilos o carregaram até uma pedra enorme que havia no meio do lago. Milhares de grilos estava lá. Quando o levaram ele levou o maior susto. Viu embaixo uma grande cidade onde iriam acampar.

                                 Mestre Catuaba e Doutor Magnésio presidiam um júri e ao lado vinte grilos que seriam os jurados. Mestre Catuaba explicou a ele que seria julgado e se culpado e devorado pelos grilos. João Cabeçudo não acreditava no que via. Começou a gritar – A grilaiada ria de morrer. Lá grandão era valente aqui um chorão. – Leve-o Joyce, disse Doutor Magnésio. Ele aprendeu a lição. Pic, pok, poney e eles voltaram. João Cabeçudo quando viu que voltaram pulou de alegria. Chamou seu amigo Chefe e disse que deveriam escolher outro lugar – Mas não tem terreno limpo como aqui – João Cabeçudo riu e disse – Não se preocupe. Fiz novos amigos. Eles me prometeram me ajudar para limpar a área escolhida.

                                Todos os sábados Pikitito o Grilo Feliz visita Joyce na reunião da Alcateia. Os lobos aprenderam a gostar dele. Foi uma amizade que durou muitos anos. João Cabeçudo aprendeu uma lição. Respeitar os direitos dos outros mesmo que estes outros sejam insetos. E assim termina a história.

NO FINAL

Entrou por uma porta
Saiu pela outra
Quem quiser que conte outra
Entrou por uma porta
Saiu pela outra
Mande El rei, meu senhor
Que me conte outra.
Entrou pelo pé de um pinto
Saiu pelo pé de um pato
Mande El rei, meu senhor
Que conte quatro.
Minha história acabou
Um rato passou
Quem o pegar
Poderá sua pele aproveitar.
E assim terminou a história...

Silvia Bortolin Borges

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Parábola da Televisão, Internet, Celular e o Acampamento. A lição de Olhos Azuis Profundos!



Parábola da Televisão, Internet, Celular e o Acampamento.
A lição de Olhos Azuis Profundos!

                    Olhos Azuis Profundos chegou a sua casa aborrecida. Todos os dias a rotina era a mesma. Escola, amigas, casa, TV, internet e seu inseparável celular que lhe fazia companhia vinte e quatro horas por dia. Queria mudar. Fazer outra coisa. Mas fazer o que? Entrou e quando chegou à porta do seu quarto ouviu alguém conversando. Quem era? Ninguém podia entrar ali. Seus pais, seu irmão sabia que ela não aceitava intrusões em seu quarto. Queria privacidade.

                   Abriu a porta devagar. Viu a Internet falando. Junto a Televisão e uma Barraca imaginária. Depois soube que era o símbolo do acampamento. Dizia a Internet: - Ainda bem que Olhos azuis Profundos têm a mim. Dou diversão a ela o tempo todo. Comigo ela viaja pelo mundo, conversa com os amigos, faz trabalhos escolares e me lendo pode até sonhar! Todos riram da Internet. Deixa disso metida, disse a Televisão. - Olhem quem dá ela as novelas? Quem a deixa ver em uma tela grande seus filmes preferidos? Quem lhe dá opção de deitada ou descansando em uma poltrona ao simples toque de um controle escolher os melhores canais do mundo? E olhe, se ela dormir, ou cochilar eu não paro de funcionar. Fico colocando em sua mente tudo que passa em mim. – Uma revolta se apossou do celular que estava em sua mão.

                - Ele gritou e esbravejou. – Metida e metido! Podem cair fora! Eu sou o preferido dela. Afinal ando em sua bolsa, em sua mão, ela faz de mim o que quiser. Conversa com amigas, lê suas mensagens, passeia no Facebook e no Orkut comigo e quando quer acha em mim todos os canais que você Televisão soberbamente se jacta de ter! Eu sou o único. O seu preferido. Quando não me tem a mão ela chora. Reclama. Por isto tenho que estar sempre presente.

                O acampamento estava calado. Era humilde. Nunca se revoltou. Agora mais triste se sentia, pois só falavam em novos tempos. Sabia que Olhos Azuis Profundos não era Escoteira. Pensou em nada dizer. Mas ele sabia de sua importância. Pediu se podia falar. A Internet, a Televisão e o Celular riram bastante. O que uma barraquinha “mixuruca” tem a dizer? O acampamento era educado. Não gostava de jactar-se. Nunca fez isso. Sabia de sua importância para quem o conhecia.

                  - Eu meus amigos, poderia oferecer a ela o perfume das flores silvestres. Poderia mostrar a ela a mais bela e misteriosa flor da floresta, o desabrochar de Orquídea branca lá em cima da montanha no carvalho centenário. Ela iria ver os olhos brilhantes como os dela na Coruja buraqueira da noite escura.  Poderia mostrar a ela a beleza do Balé dos Beija Flores na primavera. Ensinar a ela a seguir as estrelas brilhantes no firmamento. Quem sabe um passeio de sonhos na Via Láctea? Iria ensinar a ela a reconhecer as estrelas, que sabe a Alfa-Centauro? Já pensou ela ver a chuva caindo na mata? Leve, calma como se fosse uma linda sinfonia imperdível aos ouvidos de um mateiro. E a noite iria cantar com ela em volta do fogo junto a tantas amigas que lá estarão.

                  - E continuou – Ela iria sorrir com o nascer do sol, e maravilhar-se com o por do sol, iria jogar, passear, fazer jornadas, ter uma fome tal que comeria um elefante o que não faz agora. Iria tenho certeza maravilhar-se na piracema, a ver os peixes saltitantes na cascata da nevoa branca, tentando alcançar o inatingível.  Ela meus amigos iria sentir orgulho de si mesma. Não seria mais dependente, pois ali iria aprender junto à natureza uma vida de aventuras. Ela iria colocar uma mochila e partir para um mundo de sonhos, onde nada estava previsto. A descoberta seria dela. Ela iria aprender a fazer fazendo e depois meus amigos quando retornasse, ela saberia que o escotismo e eu poderemos lhe oferecer muito mais.

                     - O Acampamento com tristeza disse para terminar – Nossa jovem meus amigos em breve terá as pernas e os braços atrofiados. Ela não anda mais. Agora viajam com vocês vendo outros fazerem e ela nada fazer. Sua mente irá desaparecer na loucura do tempo. Nunca irá ver Deus em plena natureza, na cascata do riacho, nas campinas verdejantes, na noite e no amanhecer de um novo dia. Eu fico triste por ela. Triste porque só ela pode dizer sim ou não e vocês e eu somos meros coadjuvantes! E sabem? Fico triste por vocês, pois se a luz faltar e a bateria acabar vocês desaparecem como o vento na tempestade. Eu? Nunca vou desparecer, com chuva ou não, tendo eletricidade ou não. Eu sou a mão de Deus aqui na terra!

                     Olhos Azuis Profundos suspirou fundo. Nunca imaginou que aquela barraca era tão sábia. Quem era ela? Escoteiros? Já tinha ouvido falar. Tomou uma decisão. Procurou na Internet endereços de um Grupo Escoteiro. A Internet riu com orgulho. Ligou a TV e viu um belo acampamento passando em um canal. A TV deu gargalhada. Chamou pelo Celular uma amiga que conhecia outra que era Escoteira. O Celular explodiu em felicidade.


                     Olhou para o Acampamento e disse meu amigo, você me convenceu. Vamos acampar? E lá foi ela com o acampamento, sua nova mochila e deixando para trás a Internet, A Televisão e o Celular. Eles tentaram reclamar, mas Olhos Azuis Profundos disse – Não vou levar vocês. A natureza não pode se misturar a modernidade. Verei Deus ao meu lado e poderei sonhar com uma viagem nas estrelas brilhantes e quem sabe, pegar uma carona em um cometa azul? Mas eu volto, sempre pensando no meu amado e adorado acampamento. Adeus, ou melhor, até logo meus amigos eletrônicos, que surgiram com a natureza, pois foi ela quem fez vocês!

domingo, 16 de junho de 2013

O lindo Balão Azul do Escoteiro Zezé dos Pinhais.


Lendas Escoteiras
O lindo Balão Azul do Escoteiro Zezé dos Pinhais.

Levei o dia todo, a minha tarde inteira,
Não joguei futebol e até nem quis brincar
De soldado e ladrão...
Ajoelhado na sala, a minha brincadeira,
Foi cortar os papeis de cores, e os juntar.
Fazendo o meu balão...
J.G. Araújo Jorge.

             Eu estava ali com todo aquele populacho. Espremia-me para ficar a frente. Meus olhos brilhavam e meus lábios sorriam levemente mostrando o êxtase que sentia, me arrebatava como se fosse ele levado pelo ar. Quantas vezes sonhei em voar pelos céus em um balão. Meu arroubo de criança só via o encanto. Meu entusiasmo cobria o perigo e a alegria de estar ali não me deixava triste em desobedecer meu pai e minha mãe. Eu tinha duas forças que me faziam sentir bem. Balões no céu e ser Escoteiro. Todas as vezes que Seu Nonô Baloeiro soltava seu enorme balão eu corria para lá. Meu pai descobriu algumas vezes. Meu pai! Nunca me encostou um dedo. Chegava a casa e ele pacientemente dizia –Zezé balão mata. Muitos morreram assim queimados. Uma dor horrível. Quando não morrem ficam marcados para sempre!

            Mas eu, nos meus treze anos sabia que o perigo era grande. Mas fazer o que? Eu amava os balões. Quando ele se elevava ao céu, quando os foguetes estouravam, quando se lia a placa que os baloeiros colocavam, eu pulava de contente. Minha alegria era contagiante. Se pudesse eu ficava ali por toda a noite a ver os balões subirem aos céus. Um espetáculo que a criança que era se arrebatava e nos meus sonhos eu estava lá, junto ao lindo balão colorido que subia sôfrego aos céus até que um vento sul ou vento norte o levasse para longe. Muitas vezes sugeri em Reunião de Patrulha que fizéssemos um dia uma competição de patrulhas para ver quem soltava o mais lindo balão. Nunca aprovaram. O Chefe Valdez muito educado dizia – Balão só trás a infelicidade. Alegrias de uns tristeza de outros.

           Nas reuniões de Tropa, nas excursões, nos acampamentos eu vibrava como se estivesse soltando balões. Para dizer a verdade eu não sabia daquela minha sina. Nos meus sonhos de adultos eu estaria lá com seu Nonô Baloeiro, a fazer e a soltar os balões. Invejava toda sua equipe. Trabalhadores, sem nada a receber. Tentava explicar isto ao Chefe Valdez mas ele sorria de leve e dizia – Zezé, eles sabem trabalhar em equipe mas muitos deles gastam o que não tem para que o balão suba aos céus. Eles deixam suas famílias, sacrificam o pequeno salário que recebem e nem pensam o que suas escolhas podem fazer aos outros. Fecham os olhos para as desgraças, as desventuras e a infelicidade dos queimados, a miséria por ter perdido seu ganha pão, sua casa.

           Zezé dos Pinhais sentia pena mas ele não sabia quem um dia disse para ele – O que os olhos não veem o coração não sente. Verdade ou não os balões e o escotismo eram os sonhos de Zezé. O acampamento anual se aproximava. Iam acampar no Rancho da Lagoa Dourada. Ele nunca tinha ido lá. Mas não importava. Fosse onde fosse Zezé vibrava. Amava sua Patrulha Morcego. Sentia uma enorme alegria em estar junto aos seus amigos da patrulha. Vibrava com os jogos, já estava ficando bom em pioneiras e quando do fogo de conselho Zezé olhava para o céu estrelado e pensava – Não poderia ter um enorme balão passando?

           Zezé não contou a ninguém. Em casa escondido construiu um lindo balão azul. Ele sonhava em fazer um. Sonhava em ver o balão coriscando nos céus em uma linda noite de inverno. Não haveria foguetes. Ele não podia comprar. Sabia que todos seus amigos na patrulha nunca iriam “vaquear” para comprar. Custou para comprar o papel, construiu devagar à cangalha e depois a tocha. Levaria para o acampamento escondido. Não mostraria para ninguém. Ele sabia que na segunda noite haveria um jogo noturno. Iria fingir ter dor de cabeça e zarparia para uma área descampada e então soltaria seu balão. Sabia como fazer. Seus olhos cintilavam quando pensava no seu plano.

            O grande dia chegou. A sede escoteira lotada de gente. Pais e mães preocupados pedindo aos chefes para tomarem conta. Dois ônibus e uma longa viagem. Chegaram à tarde. Um lanche já havia sido preparado. A patrulha sabia como fazer. Barracas armadas rapidamente. Cozinha, mesas, toldos e em pouco tempo o campo de patrulha já podia dar todo o conforto de uma casa na selva. Houve até momentos que Zezé se esqueceu do seu balão. Mas ele não saia de sua cabeça. Dito e feito. No segundo dia o grande jogo. Zezé falou ao Monitor que falou ao Chefe. - Está dispensado, disse o Monitor. Logo que o Jogo começou “Guerra” Zezé saiu de mansinho nos fundos de seu campo de patrulha. Nas mãos o bornal com seu lindo balão azul. Sonhava! Sorria! Cantava canções de louvores. Avistou um belo campo e um rio que corria com suas águas tranquilas em direção ao mar.

            Zezé tirou o balão. Desdobrou. Pegou a cangalha e a tocha. Quando ia acender a tocha para que o gás espalhasse pelo balão ele ouviu um choro de criança. Não viu ninguém. Onde seria? Largou seu balão e foi até a barranca do rio. Sentado em um tronco uma menina de cinco anos chorava em prantos. Ela estava toda queimada. Zezé sentiu o cheiro de carne viva queimando. Zezé não sabia o que fazer – Venha comigo, vou levar você até o acampamento. O Chefe vai lhe ajudar – Ela não respondia, mostrava sua casa toda queimada. Zezé viu saindo da casa um Velho e uma velhinha também queimados. Saíram gritando. Uma dor terrível. – Meu Deus! Pensou Zezé. O que foi? O que foi? – Corra menino ele o Velho dizia. Corra! É um balão nos céus. Matou minha família. Destruiu minha casa, queimou minha plantação de milho!

            Zezé acordou dentro da barraca. Ainda bem que foi um sonho. Sonho terrível. Eu poderia destruir uma família com meu balão? No ultimo dia Seu Pataxó, um índio que morava próximo ao rio contou a história do Velho Manequinho, Dona Valquíria e sua filha Martinha a quem chamavam de Por do Sol e que morreram no ano passado. Um balão caiu na plantação de milho, que atingiu sua casinha de sapé e não deu tempo para fugir. Morreram todos. Os olhos de Zezé se encheram de lágrimas. Poderia ter sido o meu balão pensou. Eu poderia ter matado todos eles! Juro meu Deus! Nunca mais mas nunca mais mesmo vou tocar em um balão. Direi a todos meus amigos o mal que ele faz!


           Assim como Zezé tem muitos jovens que sonham com balões. Que está historia sirva de lição. Não é uma lenda. Todos os anos centenas de casos como este acontecem. Morrem adultos e crianças, perdem-se plantações que foram plantadas com o suor de quem precisa viver.

"Balão no céu, perigo na terra". Todo mundo já deve ter ouvido essa frase em algum lugar, mas as pessoas não costumam dar muita atenção a ela. Os incêndios causados por balões, podem ser bastante graves e podem destruir as casas, indústrias, plantações e até mesmo causar mortes. Seja um bom Escoteiro. Nunca solte balões!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Saudades do meu Lampião Vermelho encantado.



Lendas escoteiras.
Saudades do meu Lampião Vermelho encantado.

                Minha Avó olhava para mim e dizia – O lampião cum corosene só serve pra infeitá os comudu da casa. Era assim que ela falava. Eu gostava de minha avó. Mesmo com seu palavreado de mulher simples da roça, ela era a grande mãe que não conheci. Criou-me desde que nasci em uma casinha de barro e que ela sempre mantinha limpa e asseada. Minha mãe morreu de parto e ela sozinha me criou. Plantava roça para sobrevivermos, não deixava que eu andasse de qualquer maneira e fazia questão que fosse à escola mesma que tivesse de andar seis quilômetros todos os dias.

               Um dia ela remexendo em um baú, tirou de lá um Lampião Vermelho a querosene praticamente novo. Lembro que ela disse que meu tio que morava na capital o trouxe para ela a muitos e muitos anos atrás. Sabe o que ele me disse? Ela dizia - Disse que este lampião é sentimental. Fala, chora e ri. Claro não acreditei. Olhei-o. Estava novinho. Era lindo! Não queria testar. Faria isso só junto aos meus amigos da patrulha Raposa em um belo acampamento de verão. Deixei-o guardado em meu quarto até o dia que ele seria entregue ao intendente da Patrulha Raposa. Esqueci-me de dizer, participava de um Grupo Escoteiro na cidade. Todo sábado eu ia com meu uniforme, marchando a pé pela estrada sempre cantando uma canção escoteira.

               Tinha um pequeno prego na parede em meu quarto. Pela alça o coloquei lá. Já ia saindo quando ouvi um barulho que parecia um toque na parede. Voltei-me e vi o Lampião Vermelho. Balançava e fazia sinais e dizia: - Gostei de você. Vamos viver juntos por longos anos. Você nunca vai se arrepender de me ter como amigo. Não era possível pensei. Lampião Vermelho não fala. Mas como soube de um chapéu de três bicos de um "Velho" "Chefe" Escoteiro e um bastão totem da Patrulha Pantera que falavam, porque não acreditar no lampião vermelho?

             No sábado seguinte o levei até a sede. Foi apresentado a Patrulha e ninguém ligou para ele. Não davam importância. Vi que ele olhou para mim com os olhos tristes. Achou que seria bem recebido. E o pior aconteceu. Quando o doei para a Patrulha ele chorou. Claro não vi chorar, mas fui embora tristonho. Soube que tinha chorado na reunião seguinte. Deu-me saudades e fui até ao almoxarifado. Ele estava caído no chão, a querosene não sei como jazia em uma poça ao lado dele. De novo em sinais me disse da sua tristeza. – Não me deixe aqui. Não tenho amigos, tentei falar com a barraca e as panelas, mas elas nem ligaram para mim. O único que me disse alguma coisa foi aquele feioso e metido lampião a gás. Ele se acha o tal.

          Dei uma desculpa ao Monitor e o levei de volta. Um belo sorriso eu vi no vidro que ele portava. Pendurei-o no velho prego do meu quarto. Vi que ele deu uma sonora gargalhada. De novo em casa, disse. Não sei por que comecei a gostar do Lampião Vermelho. Quando chegava da escola ou dos folguedos na rua, sempre ia ao meu quarto e dar um sorriso para ele. Ele sempre me dizia que quando fosse ao acampamento iria mostrar o quanto podia me ajudar. Nem prestei atenção a isto. Mas o dia do acampamento chegou. Minha mochila eu já tinha arrumado e ele esperando que eu o colocasse também na mochila. Esqueci-me dele.

          Vesti meu uniforme e fui até a cozinha pegar minha ração de campo. Cada um de nos levava uma pequena quantidade que no acampamento seria juntado às demais. Era assim que fazíamos, pois gastar com taxas era difícil. Minha Avó já sabia como preparar. Linda minha Avó. Quando coloquei a mochila e dei até logo a minha Avó ouvi um barulho no quarto. Lá estava ele a balançar na parede e a dizer – Não vai me levar? Não foi para isto que fui feito? Sorri sem jeito e o coloquei na alça da mochila junto com a meia lona da barraca. Coube direitinho. Ele deu uma boa risada e disse – Vamos meu amo, vamos para um lindo acampamento e eu estarei ao seu lado. Em frente marche!

         Os seis quilômetros foi feito com sempre cantando. Achei que ele cantava também, mas como? Lampião na fala e não canta. Mas o meu falava e cantava. Na sede ninguém o notou. Colocaram-no na carrocinha todo material de campo e por cima amarraram o lampião a gás que sorria todo dengoso. Foram três dias de acampamento. Como sempre eu adorava. Os raposas eram unidos e pareciam uma família quando acampavam. Eu era o cozinheiro da patrulha. Sabia que gostavam de meus “quitutes”. Fazia tudo com presteza e as noites o Lampião a Gás iluminava tudo em volta.

          No segundo dia aconteceu um acidente. Bem não sei se foi um acidente. Fizemos um tripé e colocamos lá o Lampião de gás e o meu Lampião Vermelho. Vi de longe que os dois se estranhavam. Por duas vezes o lampião de gás bateu com força no meu lampião vermelho. Ele quase caiu. Ficou quieto. Saímos para fazer um grande jogo a tarde e só voltamos lá pelas seis já escurecendo. O Monitor gritou com todos: - Algum animal jogou os dois lampiões no chão. O lampião gás jazia com o vidro quebrado e camisinha em pandarecos. O lampião vermelho estava em pé e nada quebrado e quando olhei para ele o danado sorriu.

            Não ficamos no escuro à noite. Acendi o Lampião Vermelho e apesar de não ser uma luz clara que fazia o campo ficar como o dia o danado resolveu bem o problema. À noite eu estava sentado à beira de um pequeno fogo em frente a minha barraca logo todos se aproximaram. Ficamos ali conversando, cantando e vi que o Lampião Vermelho sorria. Estava feliz. Piscou para mim e por sinais me disse: Está vendo? Afinal eu sou um lampião dos bons! Pensei comigo, metido mesmo este Lampião Vermelho.

           No outro dia enquanto fazia o café da manhã e assava uns pães do caçador, o Monitor e mais dois da Patrulha se aproximaram. Começamos a conversar. Logo a conversa evoluiu para o Lampião Vermelho. Todos diziam que ele dava um aspecto mais mateiro ao acampamento. A noite ficava mais linda e as estrelas no céu brilhavam mais efusivamente. Não tinha pensado por este lado, mas olhei para o Lampião Vermelho pendurado próximo a nós em um tripé mais reforçado e vi que ele balançou para um lado e outro. Sorria como sempre o danado.

           Ouve outros acampamentos. Outras excursões. Lá estava o Lampião Vermelho a nos guiar e com sua luz bruxuleante nos trazia mais próximo à natureza. Ele mesmo nos ensinou como preparar o seu pavio para dar maior claridade. Ensinou-nos também que a querosene devia ser colocada pela metade em seu bujão. Ensinou que o pavio não devia ficar alto se não a chama forçava com a fumaça e iria sujar o vidro. Notei que os outros também passaram a conversar com o Lampião Vermelho.

             Por diversas vezes os patrulheiros da Raposa iam me visitar só para conversar com o Lampião Vermelho. Ele quando era noite pedia para acendê-lo e lá fora em frente ao meu barraco de barro, levávamos um banco de madeira e dois banquinhos e ficávamos horas e horas conversando. Minha Avó ao longe cantava uma canção sua predileta e olhava para nos embevecida e orgulhosa. O Lampião Vermelho agora era mais um da raposa. Ele também contava histórias, pois nunca mais perdeu uma atividade da patrulha.

              Um dia consegui passar em um vestibular para uma faculdade. Claro, já quase adulto e tive que ir para uma cidade grande. Iria levar minha Avó comigo, pois sabia que ia trabalhar de dia e a noite estudar e precisava dela como ela precisava de mim. Conversei horas e horas com o Lampião Vermelho. Vi que a tristeza e a dor da despedida o fizeram chorar baixinho. Eu também chorei. Não sabia o que fazer. Levá-lo comigo ou deixá-lo com a Patrulha? Dei a ele inteira liberdade de escolher. Você decide meu querido Lampião Vermelho.

             Não foi uma decisão fácil. Mas ele preferiu ficar com o novo Escoteiro que estava na Patrulha vindo do lobinho. Vi que eles se entendiam perfeitamente. Ele mesmo me disse que na cidade seria somente uma relíquia ou uma recordação de um passado saudoso. Ele não queria ser uma recordação. Achava que tinha muito ainda para iluminar as noites escuras dos acampamentos junto aos jovens escoteiros sonhadores. Assim como foi meu amigo e iluminou meus dias de juventude ele achava que iria ajudar em muito a nova juventude que iria aparecer na patrulha.

             O dia em que o Noviço foi buscá-lo, ele me olhou e chorou. Eu também chorei. Disse para ele: - Lampião Vermelho você me fez chorar muitas vezes. Deu-me muitas alegrias também. Mostrou-me novos caminhos, novos horizontes. Iluminou minhas noites alegres e tristes. Fez de mim um homem com sua maneira honesta de ver as coisas.  Não queria perder você, mas o destino muitas vezes não nos dá condições de escolha.


            Adeus meu querido Lampião Vermelho. Adeus. Espero que faça a todos felizes como me fez feliz por todos estes anos que ficamos juntos. Fiquei ali na porta do meu barraco de barro, a ver o Lampião Vermelho balançar e ficar sorrindo para o Noviço. Notei que os dois conversavam animadamente. Minha Avó veio de mansinho e me deu um abraço. Chorei nos braços dela. Nunca mais voltei àquela cidade. Nunca mais soube onde anda o Lampião Vermelho que fez parte da minha vida. Acho que ainda existe e deve estar fazendo milhares de acampamentos, excursões e vivendo uma vida feliz junto aos escoteiros que sempre amou.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A fabulosa odisseia da Matilha cinzenta.



Lendas escoteiras
A fabulosa odisseia da Matilha cinzenta.

((Os personagens - Tiquinha (Lucilene Bastos), Patropi (Paulo Fernando), Mister Mosca (Joel Silveira), Neka (Antonia Farisson), Grilo (Jorge Assunção) e Professor (Pedro Sales))).

                       - Tiquinha, quando vai terminar as férias? – demora ainda Patropi demora muito, semana passada você já tinha perguntado. Mister Mosca era o único que estava plugado na Internet. Neka e Grilo jogavam paciência e o Professor era o único que estava a escrever em um caderno. – Todos as terças eles se reuniam em casa de um dos participantes da Matilha Cinzenta. A alcateia estava em férias. Sempre fora assim em julho. – Precisamos mudar isto, não dá sem reuniões só porque alguns chefes vão viajar, disse Neka – Eu concordo com você, sem uma reunião uma excursão ou um acantonamento e sem escola o tempo não passa! Disse o Grilo. – Olhem, não somos uma matilha? Afinal na jângal os lobos não se viravam sozinhos? Disse o Professor. Todos olharam para ele. Fale mais Professor. – Bem acho que podemos fazer uma atividade de um dia só para nós. Não estamos em férias?

                         Todos eles pertenciam a Matilha Cinzenta. Estavam juntos a mais de dois anos exceto a Tiquinha e o Grilo com um ano. Eram grandes amigos. Sempre as terças se reuniam em casa de um deles. Hoje estavam na casa do Professor. Dona Filó sua mãe sempre dava uma olhada no quarto para ver o que estavam fazendo. Agora estava na cozinha preparando um lanche para eles. Ela gostava de todos da Matilha. Eram seis e grandes amigos e muito educados. Jovens naquela idade não costumava ser assim. Mas Dona Filó nunca imaginou o que eles naquele instante estavam planejando. Se soubesse não estava sorrindo e sim chorando. Não só ela, mas como todas as mães e pais dos seis loucos e sonhadores lobos da Matilha Cinzenta.

                           Ficaram ate às sete da noite quando os demais pais foram buscá-los. O local foi escolhido pela internet. Um lugarejo antigo, onde existia um trem que aos sábados e domingos fazia o trecho explorado turisticamente. Na internet viram as fotos. Lindas, maravilhosas. E a nevoa que encobria com uma bruma cinzenta a cidadela? E aquela estradinha que levava a riachos de pequenas cascatas com águas cristalinas? Era demais. Poderiam achar a Pedra do Conselho. Quem sabe o Lobo Gris estaria lá? Todos estavam com a adrenalina à flor da pele. Discutiram a hora de saída, hora de chegada, o que deviam levar apetrechos com uma bússola (não entendiam nada dela) e lanterna. Um lanche extra no caso de demora de retorno. Como iriam ficar fora o dia inteiro teriam de mentir. Detestavam isto, mas não tinha saída. - Não dizem que somos todos viajantes do tempo, estagiando nesta odisseia de uma longa viagem cheia de aventuras, peripécias e eventos inesperados? Disse o Professor. Concordaram com ele.

                          Em um gravador com a voz dentro de um latão de cem litros imitaram a voz do Balu. Ele dizia que estavam chamando os lobos para uma reunião especial que ia durar o dia inteiro no sábado. Os pais deviam trazê-los pela manhã e busca-los à tardinha. Levar um lanche reforçado. Ao receberem o telefonema os pais não duvidaram. Quando ficaram sós na sede, pois os pais confiavam e os deixavam na porta indo embora em seguida eles partiram para o ponto de ônibus. – Acho que estou com medo – disse Neka. – Calma, vais ver que será tão divertido que o sorriso ficará sempre presente em você e todos nós – disse Patropi. O ônibus os deixaram na Estação Ferroviária. O trem não demorou. Os passageiros sorriam com aqueles seis jovens de mochila e uniformizados de azul. A maioria sabia que eram lobinhos e lobinhas. Ninguém se perguntou onde estavam os chefes.

                          Quase duas horas de viagem. Chegaram. A estação era bem antiga. Desceram e subiram uma grande escada de ferro. Logo em uma passarela enorme tiveram uma bela visão. A cidade aos seus pés e a bruma cinzenta em volta. O Professor sabia onde deviam ir. Pesquisou muito. Atravessaram a cidade e ninguém estranhou aqueles jovenzinhos de azul boné estiloso e mochila as costas sem um adulto. Ninguém se perguntou. Logo avistaram a estradinha. Linda. Em volta um arvoredo cheio de pássaros e beija flores coloridos. Estavam em êxtase. Maravilha tudo aquilo. A estrada diminuiu. Agora era uma trilha. Ninguém queria parar. Cada um se sentia em plena Jângal. A mente buscava a Akelá ou quem sabe o Balu atrás de alguma árvore. Nem pensavam em voltar. Todos sonhavam em chegar à Pedra do Conselho. Sabiam que lá estaria o lobo Gris e seus irmãos. Foi Patropi que disse estar com fome. Pararam para um lanche. Conversavam entre si cada um fazendo perguntas que o outro não sabia responder.

                         Eram duas e meia da tarde, hora de voltar. Mas e o riacho com cascatas de águas cristalinas? E a Pedra do Conselho? – Neka que tinha um relógio marcou o tempo. Seguiriam por meia hora. Se nada encontrassem meia volta. Viram o riacho. Lindo, nada mais que um banho, pois não foram ali para isto? – Um banho lindo e formidável. Brincavam, gritavam, riam cada um olhando para o outro e mostrando a alegria de estarem ali. Esqueceram-se das horas. O sol sumiu. Assustaram-se. Tiquinha pensava como voltar. – E agora? Perguntou. – Calma, disse o Professor. Todos nós devemos agir com calma. Vamos aproveitar antes de escurecer e voltar para vermos se achamos a estrada. O dia se foi. Não enxergavam nada. Tiraram as lanternas. Mesmo assim não viam nenhuma estrada. Outra trilha e a noite chegou sem lua. Nem as estrelas eles viam. – Que burrice fizemos? Disse o Mister Mosca – Não devíamos ter vindo – disse o grilo. Só Patropi e o Professor mantinham a calma. Eram uma da manhã de domingo. O Professor achou por bem parar. Seguiriam no dia seguinte. O que os pais iriam dizer ficaria para depois. Agora era dormir um pouco. A Tiquinha descobriu um isqueiro em sua mochila. Com lanternas juntaram uns gravetos. A fogueira esquentou a cada um. Os olhos fixos nas chamas que subiam aos céus.

                       Acordaram pela manhã com um Canário Belga cantando e um Bem Ti Vi procurando com seu cantar sua companheira. Olharam em volta, nenhuma trilha. Tiquinha começou a chorar. Neka também. Patropi soluçava. Mister Mosca e Professor de olhos fechados não sabiam o que fazer. Só o Grilo ainda sorria. De que ninguém sabia. – Na sede os pais desesperados. Policia, bombeiros, O Diretor Técnico, a Akelá, o Balu e vários Escoteiros falavam ao mesmo tempo. - Onde foram? Ninguém sabia. Fizeram varias equipes para perguntar na redondeza. Ninguém viu. – Capelão um bêbado do bairro disse que eles pegaram o ônibus da estação ferroviária. Ninguém acreditou nele. – Farofa era Monitor da Falcão. Chamou a patrulha. Só vieram cinco. Os demais estavam de férias viajando. – Vamos achá-los disse. Faremos duplas, uma delas pegue o ônibus da estação. Tendo alguma noticia ligue para os outros.

                   O domingo se foi. Nada da Matilha Cinzenta. À noite ninguém podia fazer nada. Na mata a Matilha não tinha saído do lugar. Sabiam que estavam sendo procurados. Dividiram os lanches para dois dias. Muitos saquinhos de biscoitos, batatas palhas e balas. O choro agora era de todos. Neka segurou na mão de Tiquinha, que pegou na mão de Patropi e assim todos deram as mãos. Resolveram rezar. – Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o teu nome... Se alguém pudesse ver aqueles seis lobinhos rezando em plena mata escura também iria chorar junto a eles. Mais um noite em que dormiram juntos e abraçados. Uma fogueira cujas fagulhas subiam aos céus, iluminando uma coruja astuta que olhava para eles sem saber o que estava acontecendo. Dormiram e sonharam com Deus, com Jesus sorrindo para eles e dando esperanças.  Acordaram na segunda feira. Ninguém apareceu.

                    Farofa não desistia. Ele mesmo foi até a estação. Ficou lá mais de quatro horas conversando com um e outro. Os patrulheiros insistiam em voltar. – Farofa, não adianta, ninguém viu e ninguém sabe, disse Lumpaza. Mas Farofa não desistia. Risoleta trabalhava na banca de jornal. Viu os Escoteiros perguntando. Lembrou-se dos lobinhos. – Foram no trem de sábado para Paranapiacaba. Não vi eles voltarem, pelo menos no horário que trabalho aqui. – Pronto. Uma pista. Farofa ligou para o Chefe Trovão. Sabia que ele daria noticia a todos. Sabia que em pouco tempo Paranapiacaba estaria cheia de bombeiros, policias, a turma de sobrevivência na selva e helicópteros. – Eu vou no próximo trem disse – Toda a patrulha disse que agora era questão de honra eles serem os primeiros a encontrarem os cinzentos. Em Paranapiacaba só um guarda civil lembrou deles. – Pegaram a estradinha da serra do mar. Farofa conhecia tudo ali com a palma da mão.


                    No final da estradinha duas trilhas. Japirú era bom em pistas. Logo viu as pegadas deles. Fácil de seguir. A Trilha acabou. Matos quebrados. Seguiram em frente. Mais meia hora e lá estavam eles abraçados e chorando. A fome apertava. Quando viram os Escoteiros foi um grito de esperança. Um mês depois eles contaram na Alcateia tudo que aconteceu com eles. Mas não com orgulho e sim como um “mea culpa”. Ninguém nunca deveria agir como eles. Não leva a nada. Mentiram para os pais, para os chefes. O lobinho não diz sempre a verdade? E eles não sabiam como agir. Se adultos se perdem e muitos morrem, eles nunca poderiam ter feito o que fizeram. Seus pais choraram tanto de alegria que nem brigaram. Mas ficaram de castigos em casa por três meses. Queira ou não os seis lobos cinzentos da grande odisseia nunca foram esquecidos. Todos os lobos falavam deles para todo mundo. Uma fama se criou e até hoje naquele Grupo Escoteiro as historias contadas não condizem com a realidade. Mas todos tem seus heróis aventureiros. Se fosse para o bem que seja. Não faria mal a ninguém. Seja sim ou não, que a Matilha cinzenta aprenda com seus erros. 

domingo, 9 de junho de 2013

O inesquecível Chefe Bolota, ele sim era o “cara”!


Conversa ao Pé do Fogo.
O inesquecível Chefe Bolota, ele sim era o “cara”!

                       Nunca esqueci o dia que ele chegou à sede. Todos se assustaram. Eu mais ainda. Quando o Chefe Jessé o apresentou e disse que o Chefe Bolota seria o novo Chefe da tropa todos arregalaram os olhos. Ali na sua frente um homem baixinho, não mais que um metro e cinquenta e cinco ou menos, gordinho, cabelos crespos amarelados e seu rosto era admirável. Duas bochechas vermelhas gordinhas escondidas por uns olhinhos azuis diminutos. Moreno. Bem moreno. – Deu um belo de um sorriso e disse – Vim para aprender com vocês. Nossa! Onde amarrei minha égua? Eu pensei. – Tropa! Disse o Chefe Jesse, infelizmente fui transferido para Aguas do Sul.  Não posso mais continuar com vocês. Sei que sabem como levar a frente às atividades. A cada quinze dia voltará aqui e vamos conversar. Mas a responsabilidade da tropa ficará com o Chefe Bolota!

                       Uma palma mexicana foi dada ao novo Chefe. Ficamos assim meios cismados, pois como o Chefe Jesse tínhamos grandes liberdades. Acampávamos quando decidíamos. E reuniões eram quase todos os dias. Será que ele iria mudar? Chefe Jessé se foi. Chefe Bolota ficou. Sorria, quase não falava. Achamos sua voz um pouco estranha. Porque não o conhecíamos na cidade? Dois meses depois aprendemos a gostar do Chefe Bolota. Mais parecia um de nós. Ia à casa do Pedrinho, na minha, na do Romildo enfim ia à casa de todo mundo. Os pais o adoravam. Passaram-se quase cinco meses quando ele apareceu com o Padre Werner Braum da Paróquia de Santana. Todos conheciam a fama dele.  O chamávamos de alemão de Hitler. Sem conhecer ele e o  Hitler tínhamos um medo danado dele. Foi o Chefe Bolota quem nos apresentou. - Amigos e irmãos escoteiros, vocês não sabiam, mas sou sacristão na Igreja de Santana. Pronto estava explicado.

                     Agora tínhamos de participar da missa do Padre Alemão. Ninguém faltava. Chefe Bolota sorria de alegria. Pegou alguns de nós e fez um coro. Queria que outros se tornassem coroinhas. Chefe Bolota estava mudando tudo. Não era aquilo que fazíamos. Mas o olhar do Padre Werner era mortal. Ninguém dizia não. Um dia tivemos uma enorme surpresa. Um caminhão do Sexto Batalhão da Policia Militar parou na porta da sede. Um sargento pediu ajuda. – São para vocês! Menino! Ficamos espantados! Mais de duzentas mochilas praticamente novas,  quarenta barracas de duas lonas, oito barracas de oficiais, cantis, machadinhas, picaretas nossa! O que era aquilo? – Um pedido do Padre Werner ao comandante para vocês. “Enricamos” estávamos ricos. Por mais de cinco meses não faltamos às atividades da igreja de Santana. Mas nem tudo dura para sempre. As saudades das excursões, dos acampamentos, das atividades volantes, bivaques, tudo agora estava paralisado.

                        Chamamos o Chefe Bolota. Fizemos um Conselho de Tropa. Explicamos. Ele entendeu. Mas não sabia como conciliar com a igreja. O que ele diria para o Padre Werner? – Na semana seguinte chegou ele e o padre Werner no dia de reunião. Ficamos calados. Esperávamos o pior. – Escoteiros, acho que me enganei com vocês! – Putz! A barra ia pesar pensei. – Enganei mesmo. Vocês são escoteiros e a vida que devem levar é no campo e não na igreja. Vamos fazer um trato. Pelo menos uma vez por semana irão à missa. Uma vez por mês irão se confessar. Portanto nos demais dias, façam o escotismo como ele é. Aventuras, nada mais que isto! – Grande padre Werner.

                       Chefe Bolota estava conosco. Precisavam o ver cantando junto à carrocinha quando íamos para o campo. Sede? Uma vez passamos dois meses sem reunião lá. Foi na época que atravessamos as corredeiras do Rio Doce em Derribadinha. Uma aventura e tanto. Chefe Bolota caiu da jangada. Gritou não saber nadar. Vários de nós a ajudá-lo até uma grande pedra no meio do rio. Ele contava para todo mundo sua façanha e seus heróis. Não sei se ele se tornou um grande mateiro, não sei. Um ano e meio conosco nos deu a noticia – Fui aceito em um seminário. Sempre desejei ser um homem de Deus. Partiu assim como chegou. Quatro anos depois apareceu na sede. Apresentou-se como um novo padre no mundo. Rezamos com ele ali na sede uma linda missa escoteira.


                       Partiu para uma paróquia no interior de Pernambuco. Nunca mais o vi. A tropa sempre ao redor do fogo lembrava-se dele. Dávamos risadas, contávamos casos que foram repetidos por muitos e muitos anos nos fogos de conselho da vida. Chefe Bolota era figura central nas enquetes, jograis e histórias que por muitos e muitos anos aconteceram em nossos Fogos de Conselho. Sempre é bom ter boas coisas para lembrar. Chefe Bolota foi Chefe escoteiro. Pouco tempo. Mas acreditem, marcou mais que o nosso antigo Chefe Jessé. Tempos que se foram. Tempos que se dizia – Se tens uma Corte de Honra funcionando, tens uma tropa em ação. Assim éramos nós. Amigos e irmãos uns dos outros. Acampando com a Patrulha ou com todas juntas sempre riamos e dizíamos – “E quem precisa de Chefe”?