No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

terça-feira, 26 de maio de 2015

Como dizer muito obrigado?


Hora de dormir, esperar o amanhecer e sentir que um novo dia vai começar...
Como dizer muito obrigado?

                            Hoje eu escrevi com os olhos voltados para um tempo que se foi. Tempos bons, alegres, gostosos, gritantes de palmas surdas que se escondiam no ar. Como foi mesmo que escrevi? - Podia ser uma noite qualquer, quem sabe no Inverno? Meu olhar perdido no universo, uma clareira na floresta encantada, amigos em volta, um violão cantante, um olhar distante a pensar: - Como é bom ter amigos, perto ou longe eles sempre estão com você, pois muitas vezes os amigos são a família que nos permitiram escolher. Um calorzinho gostoso, um café amargo, um chimarrão cheiroso corre de mão em mão; Crepita a fogueira, entre nuvens e estrelas, pululam vagalumes no céu. Saudades danada, vontade de dizer bem alto: - Tempo me traz um mate, senta aqui do meu ladinho, põe mais lenha na fogueira, esquenta “nois” um pedacinho, e enquanto a chaleira não chia, deixe-me eu provar mais um tempinho! E a gente vai vendo a noite passar olha a dança dos pirilampos em volta das chamas, vendo seus medos virar fumaça no ar. Bom demais ser Escoteiro!

                            Estou a me desdizer a falar de mim outra vez, pensar que pensei no passado, pensei em alma florida, em viver esta nova vida que um dia me fez sonhar. Será isto mesmo a dizer? Afinal não vou agradecer? Amigos me dão a honra de ler meus escritos falados, nem “mainemeno” dizer muito obrigado? E quando na esquina do conto, da história que um dia fiz, lá na curva do boi bravo, um comentário apaixonado diz... Muito bom meu Chefe querido. É demais. Me desmancho como beija flor que paira no ar que a gente pensa que vai desmanchar... São tantos amigos queridos que perdem seu tempo comigo só para dizer: - Obrigado Chefe e eu o que digo? Pareço mais um mendigo, perdido em vãos pensamentos, sem notar cada momento o que eles querem dizer. Ah! Se eu pudesse, me transformar em um vento amigo, correr por vales e cumes, montanhas e florestas brejeiras ir até onde ele ou ela está e dizer! Amigo, amigo sem palavras. São pessoas como você que me fazem continuar. Que me fazem rejuvenescer! E em posição de sentido, uma saudação Escoteira olhos nos olhos e dizer: Muito obrigado, Sempre Alerta e que sua vida seja cheia de verdades, que escolheu na eternidade para vir aqui fazer acontecer.

                           Além de tantas palavras, que podem sumir com o vento, queria estar no acampamento e lá no topo da montanha tão bela, gritar aos ventos que correm por todo canto, meu amigo meu amado, você nem imagina como estou agradecido ter você ao meu lado! Desculpem todos que disseram palavras que dão alegria a qualquer pseudo escritor como eu. Cada comentário ou curtida, me refaz minhas feridas e saio por aí a saltar, sorrir, cantar e de novo retornar a fabricar sonhos que podem alegrar os que me querem tão bem.


Chega de tanta mazela, deixo no canto a panela, que no riacho fui lavar. É hora de chacoalhar o esqueleto, pensar em todos vocês e dizer... Boa noite meus amigos, uma ótima noite, e se notar na madrugada, um cantar da passarada, pode ser um Bicudo ou trinca Ferro, ou quem sabe um Curió ou Azulão, uma Pintassilgo brejeira, melhor seria o Sabiá Laranjeira a cantar na sua janela, não se preocupe. Sou eu! Estou ali rezando e pedindo a Deus por você! 

domingo, 24 de maio de 2015

A lenda de Chico Mortalha – O malvado.


Lendas escoteiras.
A lenda de Chico Mortalha – O malvado.

        Todos os habitantes de Floradas na Serra conheciam a lenda. Claro, lenda é lenda e serve para contar, não para acreditar. Mas a criançada da cidade acreditava. Mamães, professoras, pais, vovós quando queriam chamar atenção por uma simples travessura lá estava Chico Mortalha presente para amedrontar. Se foi verdade ou não isto não posso dizer. Quem me contou foi o Padre Josenilton. Chico Mortalha era um pistoleiro famoso. Um matador. Matava tudo que encontrava pela frente. Velhos, moços, jovens, crianças, animais. Matava tudo que aparecesse em sua frente. Seu último crime foi à morte do Bispo Marcelino. Gente boa, boníssima. Mas o prefeito encrencou com ele. Pagou a Chico Mortalha para dar um sumiço no bispo. Dito e feito. O Bispo sumiu! Ninguém nunca mais o viu.

         Desconfiaram que fosse crime encomendado. Chamaram o Delegado Paredes da capital. Não provou, mas disse que foi Chico Mortalha. O povo se revoltou. Foi na casa dele. Colocaram fogo na casa e o levaram-no para a Lagoa das Piranhas. Tiraram a roupa dele e amarraram em todo seu corpo nacos de coração de boi. As piranhas adoram. Amarraram ele em um galho que dava em cima da lagoa. Iam descendo aos poucos seu corpo. As piranhas devoravam tudo que mergulhava na água. Primeiro suas pernas, depois seu corpo, só sobrou à cabeça de Chico Mortalha. Dizem que não deu um gemido. Por fim cortaram a corda e Chico sumiu nas aguas profundas da lagoa. Contava-se que uma vez por ano, na data de sua morte, ele aparecia na lagoa, em pé, sem afundar e dava gemidos imensos que nenhum peixe, nenhum animal ficava por perto.

          Há mais de trinta anos existia um belo Grupo Escoteiro em Floradas na Serra. Quase todos os homens da cidade haviam passado pelas suas fileiras. Uma grande Alcatéia, uma ótima tropa, três Patrulha seniores e um Clã que precisa definir quantos poderiam participar, pois em suas reuniões sempre apareciam mais de cinquenta pioneiros. Seria um tema para o próximo Conselho de Chefes do Grupo. Chiquinho Mortalha era Sênior. Desculpe. Risos. Seu nome era Lorenildo Simplício das Mercês. Não gostava do nome. Nunca gostou. Quando foi lobinho colocaram nele este apelido. Não se incomodou. Ficou para sempre. Talvez por ficar sempre de cara amarrada. Não sorria. Mas todos gostavam dele. Tinha uma força descomunal para sua idade. Não era alto, mas levantava toras, pesos enormes com facilidade. Nos acampamentos o pau para toda obra. Era bem quisto na Patrulha Falcão desde quando Escoteiro. Conseguiu a Primeira Classe. Pretendia ser Escoteiro da Pátria.

          Em sua Patrulha todos os temiam. Não pela sua força, mas pela sua astúcia. Dizia que quando desse na telha ia enfrentar este tal de Chico Mortalha lá na lagoa na data que costumava aparecer. Ninguém acreditava. Dito e feito. Em onze de agosto, data da morte do tal Chico Mortalha lá foi ele rumo à lagoa. Sozinho é claro. Levou sua faca, sua machadinha e uma corda de dez metros. Lá chegando subiu no pé de uma Copaíba enorme. Se amarrou nos galhos e esperou. Não tinha pressa. Que venha o Chico Mortalha. Estava na hora de enfrentá-lo. Sete horas da noite, nove, dez, onze, meia noite. Nada do Chico. Era fanfarronice. Ela assim pensava. Uma hora cochilou. Dormiu. Não caiu, pois estava amarrado. Mas alguém o desamarrou. Ele caiu do alto dentro da lagoa. Afundou. Abriu os olhos e viu com horror o Chico Mortalha. Só a caveira, pois as piranhas não deixaram nada. Chico sorria para Chiquinho. Não teve medo. Pegou sua faca e disse que ele era Escoteiro. “O Escoteiro não tem medo de nada” A caveira começou a rir.

         Gargalhadas enormes. Chiquinho isto é Lorenildo precisa de ar. Subiu até a borda da lagoa, respirou e mergulhou de novo. Danado de Sênior. Não tinha medo mesmo. A caveira o pegou pelo ombro, o levou até o pé da árvore fora da lagoa. O abraçou e disse a ele que era bom conhecer um Escoteiro. Poderia ter sido um, pois quem sabe não teria o destino que teve. Ficaram amigos. Conversaram toda a madrugada. Chico Mortalha contou muito da sua vida. De seu grande amor por Nininha, mas nunca disse a ela. Morrera de tuberculose e solteira. Hoje ela faz companhia a ele no fundo da lagoa.

         O dia amanheceu. Lorenildo voltou para sua casa. Seus pais preocupados. Todos os escoteiros a procurada dele. Resolveu não contar nada. Não devia. Agora era amigo de Chico Mortalha o Malvado. Tinha prometido a ele que voltaria no próximo aniversário e iria conhecer Nininha. O tempo passou. Lorenildo casou. Contou para seus filhos, mas eles riam e achavam que seu pai era um bom contador de histórias.

        Todos os anos, durante toda a sua vida Lorenildo voltava à lagoa. Fizera um amigo, ou melhor, amigos. Chico e Nininha. Sentava a beira da Copaíba e Chico Mortalha aparecia com Nininha e eles se abraçavam. Ficavam ali conversando por toda a madrugada. A cidade ficou sabendo, mas ninguém dizia a ele e nem o acompanhava até a lagoa. Um medo enorme. O Grupo Escoteiro não comentava. A Patrulha entendia. Amigos são amigos. Durante toda sua vida agora como Chefe Escoteiro não deixava de visitar Chico Mortalha e Nininha na Lagoa das Piranhas. Amigos para sempre. Diferente, pois Chiquinho era um Escoteiro do bem. 


           E como dizem por aí, boi não é vaca, feijão não é arroz e quem quiser que conte dois! E como dizia minha avó, “Pedro, nem tê-lo, nem vê-lo, nem querê-lo, nem a porta da casa consegui-lo... mas sempre é bom na casa havê-lo”. Risos. E a história? Fica por aqui e quem quiser que conte outra.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

O Vagalume que não sabia voar


Hora de dormir, o amanhecer já vai chegar...
O Vagalume que não sabia voar

                        O que você está fazendo Naldinho? Olhando esse vagalume chefe. Veja, não é interessante? Parece que é. Mas e sua patrulha? Onde foi? Disseram que iam cortar madeira para fazer uma mesa. Foram todos, achei que não precisava ir. Mas veja, aproveitei bem o tempo. O senhor sabia que o vagalume só voa nas primeiras horas da noite? Não sabia. – Pois é ele é reconhecido pelo brilho esverdeado, continuo, e vive mais entre vegetação das regiões tropicais e temperadas. Em alguns lugares o chamam de pirilampo. Olhe chefe, pode não acreditar, mas esse vagalume me disse que ele mora muito longe daqui. Pensou que eu poderia ajudar. Está tentando falar com seus irmãos e não consegue – Pensei com meus botões - Esses jovens e seus sonhos impossíveis. Vivem criando histórias e mais histórias muitas vezes para não fazer nada. – Naldinho abaixou a cabeça, fingiu que ouvia o vagalume e me disse – Ele está dizendo que eu não tenho sonhos. E ele disse também que não estou criando histórias chefe!

                   Arregalei os olhos! O que? Repita que não entendi. Ora chefe, ele diz que é verdadeiro, que eu sou verdadeiro e só não fui com a patrulha porque o Lídio monitor disse que não precisava. Estava ali olhando para Naldinho e pensando o que dizer e fazer com ele. Essas invencionices já estavam passando da conta. Naldinho riu. Sabe o que ele está dizendo chefe? Que o senhor acha que eu estou inventando. Ora Naldinho deixa disso. Não vai querer que eu acreditasse que você conversa com um vagalume!  Quer uma prova chefe? Olhe – Pimaisdois, dê um pulo – O vagalume deu. Você soprou nele, eu disse. Está bem chefe – Pimaisdois, agora cinco pulos. O vagalume deu cinco pulos. Porque Pimaisdois? É o nome dele chefe. O escoteiro estava me fazendo de bobo. Estou perdendo o meu tempo aqui. Olhe vou lhe mostrar o que faço com um vagalume falador – Peguei meu sapato e ia esmagá-lo quando Naldinho pediu. Não chefe, não. Não faça isso. Ele se comunica com os outros. Poderiam vir milhares aqui e nos carregar para a cratera negra.

                          Já estava cheio daquilo. Deu uma pancada com o sapato no tal Pimaisdois. Ele pulou. Corri atrás. Ele pulou. O danado só me escapava. Ouvi um grande zumbido. Olhei para trás, centenas de milhares de vagalumes voavam em minha direção. Corri, mas não tinha onde esconder. Corri mais e sem olhar para frente caí na cratera negra. Fui caindo e lá em baixo tudo vermelho. Ia morrer queimado. Comecei a gritar, a chorar e pedir perdão. Tremia como vara verde.

                             Chefe, chefe, calma, não grite. Era Naldinho. Abri os olhos. Estava dormindo debaixo de uma castanheira. – Chefe não é hora da atividade do jogo noturno? Caramba. Dormi mais de quatros horas. Já escurecia. Que sono. Ferrei no sono. Mas que pesadelo. Que susto. Vamos lá Naldinho. As patrulhas não podem esperar. Naldinho foi a minha frente, com minha lanterna olhava o chão para não tropeçar. Olhei as costas de Naldinho, um grande vagalume está lá em seu ombro. Olhando para mim e sorrindo com um olhar zombeteiro! Não acredito! Era o Pimaisdois!

                            Se você que ser feliz, mande embora seu "severo juiz", ouça seu coração. Valorize o que sente e seja uma pessoa verdadeira. Assuma seus sentimentos. Só diga sim depois de sentir o que realmente quer. Não tenha receio de dizer não. Deixe de contar seus problemas aos outros e perguntar o que deve fazer. Confie em seus critérios. Você pode! Experimente. Zíbia Gasparetto.


Valorize sorrisos, valorize olhares, valorize ouvir um “bom dia” ou um “durma bem”. Valorize quem está por perto. Valorize um ventinho em meio a um dia de calorão, ou uma brisa de um dia de frio. Valorize um abraço, um beijo, ou um simples aceno de oi. Valorize alguns segundos de boa companhia, valorize as conversas, valorize as mensagens de celular. Valorize tudo aquilo que te faz bem, ainda que apenas por alguns segundos. Qualquer momento de alegria vale. Boa noite, Deus velará por você. Até amanhã meus amigos e amigas.

sábado, 16 de maio de 2015

Hora de dormir, amanhã é outro dia... O médico e o Fiscal.


Hora de dormir, amanhã é outro dia...
O médico e o Fiscal.

– Se possível, acelere um pouco a marcha. Era o abnegado médico espírita, Dr. Militão Pacheco, que rogava ao amigo que o conduzia por gentileza. E acrescentava: – O caso é crucial. O companheiro ao volante aumentou a velocidade, mas, daí a momentos, um fiscal apitou. O carro atendeu com dificuldade e, talvez por isso, a motocicleta do guarda sofreu pequeno choque sem conseqüências.

O policial, porém, não estava num dia feliz e o Dr. Pacheco com o amigo receberam uma saraivada de palavrões. Notando que não reagiam, o funcionário fez-se mais duro e declarou que não se conformava simplesmente com a multa. Os infratores estavam detidos. O Dr. Pacheco deu-lhe razão e informou que realmente seguiam com pressa para socorrer um menino sem recursos, rogando, humilde, para que a entrevista com a autoridade superior fosse adiada.

– Se o senhor é médico – disse o interlocutor, com ironia -, deve proceder disciplinadamente, sem sair do regulamento. Para ser franco, se eu pudesse, meteria os dois, agora, no xadrez. Embora o amigo estivesse rubro de indignação, o Dr. Pacheco, benevolente, fez uma proposta. O guarda deixaria, por alguns instantes, o veículo, e seguiria com eles no carro, mantendo vigilância. Depois do socorro ao doentinho, segui-lo-iam para onde quisesse.

Havia tanta humildade na súplica, que o fiscal concordou, conquanto repetisse asperamente os insultos. – Aceito – exclamou -, e verificarei por mim mesmo. Ando saturado de vigaristas. E creiam que, se estão agindo com mentira, hoje dormirão no Distrito. A motocicleta foi confiada a um colega de serviço e o homem entrou, seguindo em silêncio. Rua aqui, esquina acolá, dentro em pouco o carro atingiu modesta residência na Lapa, em S. Paulo.

Os três entram por grande portão e caminham até encontrar esburacado casebre nos fundos. Mas, ao ver o menino torturado de aflição nos braços de infeliz mulher, o bravo fiscal, com grande assombro dos circunstantes, ficou pálido e com os olhos rasos de água. O petiz agonizante e a jovem senhora sem recursos eram o seu próprio filhinho e a sua própria esposa que ele havia abandonado dois anos antes…
Waldo Vieira (médium).


   Guardar raiva é como segurar um carvão em brasa com a intenção de atirá-lo em alguém; é você que se queima. Boa noite, um sono tranquilo e um lindo amanhecer de domingo.

domingo, 10 de maio de 2015

Hora de dormir, um novo dia vai surgir...


Hora de dormir, um novo dia vai surgir...

"O Senhor é o meu pastor e nada me faltará. Deita-me em verdes pastos e guia-me mansamente em águas tranqüilas. Refrigera a minha alma, guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo, a Tua vara e o Teu cajado me consolam. Prepara-me uma mesa perante os meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida e habitarei na casa do SENHOR por longos dias."


Não existe triunfo sem perda, não há vitória sem sofrimento, não há liberdade sem sacrifício. Boa noite meus amigos e amigas que a semana que se inicia seja cheia de alegrias e felicidades. Que o Senhor esteja com vocês!

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Meu reino por um taco!


Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Meu reino por um taco!

                       Nick Drops Takoman não tinha muita simpatia por minha pessoa. Juro que ria dele não pela sua figura, mas pela sua mania e ambição de poder e subir “na vida Escoteira” como ele mesmo dizia. Bem eu sou assim mesmo. Vivido e calejado no escotismo. Dizem que minha língua não tem tamanho. Pode ser mesmo.  Eu sempre brincava com ele comentando aquela célebre frase dita no conto de Willian Shakespeare na sua peça Ricardo III, Ao perder seu cavalo em plena luta e desesperado, Ricardo III exclama a frase que ficou na história – “Meu reino por um cavalo”. Para ele eu falava baixinho: “Meu reino por um taco”! Nick Drops fechava a cara e sai bufando. Confesso que me sentia culpado, mas estava cansado de tais tipos que sonham em ser grandes chefes, ter poder, quem sabe ser mais um dos famosos da UEB. Jeremias Toca Fogo Chefe do Grupo “Moro no Mato” um dia me contou que ele mandou fazer vinte tacos na marcenaria do Avelar Ponto Morto. Garantiu-me que ele quase todas as noites vestia o seu uniforme, e colocava o colar onde todas as contas se espremiam para caber em um colar que ele mesmo trançou. lá. Já pensou Vinte delas? Para mim era demais e até não acreditei em Jeremias Toca Fogo.

                       Mas no seu Grupo Escoteiro ninguém gostava dele. Era mandão, se achava o tal e nas últimas eleições chegou a ir de casa em casa dos pais dos Escoteiros pedindo voto. Ele queria ser eleito o Diretor Técnico do Grupo. Muitos dos chefes juraram que se isto acontecesse eles sairiam na hora. O pior de tudo é que Nick Drops era um desleixado na sua apresentação. Quando a UEB apresentou a vestimenta ele correu a comprar várias. Tinha a calça curta, a comprida, tinha a camisa de manga comprida, manga curta, e adorava sair de chinelinho com a camisa para fora da calça pensando que estava abafando. Um dia viu um figurão Escoteiro com um chapéu texano e comprou logo quatro. Nick Drops adorava um figurão Escoteiro. Fazia todos os cursos que apareciam, gastava horrores para estar presente em todas as assembleias nacionais e regionais. Não perdia um Jamboree e em todos estes lugares lá estava ele com aquele sorriso próprio que só os puxa sacos tem,  junto aos figurões presentes. O que ele não entendia é porque não havia ainda recebido sua comenda da Insígnia de Madeira. Afinal tinha feito todos os cursos e ninguém sabia explicar o porquê. Diziam que seu intelecto não era lá estas coisas.

                    Nick Drops tinha esposa e filho. Em sua casa era um tirano. Sua esposa submissa e seu filho tinham enorme medo dele. Trabalhava como vendedor nas Lojas Catamarreco, uma das maiores da cidade de Vento Parado. Os chefes que tentavam se aproximar sempre diziam a ele: - Nick Drops seu estilo em dirigir sua família é errado. Você como Escoteiro os trata como se eles fossem seus empregados. Você só sabe mandar. – Nick Drops olhava de lado não dizia nada, mas no fundo mandava o Chefe ir para as conchichinas. Vendo que em seu estado natal não conseguia sua Insígnia e que mesmo chefes de outros estados não tinham interesse em ajudá-lo, tomou uma resolução. Tomou emprestado no Banco Me Paga que eu Gosto a juros estratosféricos uma enorme quantia. Se o Brasil não resolve, a Inglaterra resolve pensou! Na terra de BP quem tem um olho é rei! Só falou no grupo que iria faltar alguns dias, mas logo estaria de volta. Nick Drops ria de orelha a orelha. Londres! Aqui vou eu, dizia e partiu em uma manhã em um Avião da Aerolinas Me Segura que eu Caio. Ninguém sabia seu destino. Muitos diziam que ele foi a serviço da à empresa, mas foi para onde?

                       Ele achava que em Londres, mais precisamente em Gilwell Park ele iria fazer um curso rápido e receberia sua tão sonhada Insígnia. Na viagem da classe econômica ele andava prá lá e prá cá se exibindo. Estava com sua vestimenta número quatro, conforme ele mesmo havia numerado. Os passageiros não sabiam que uniforme era aquele e outros riam dele, afinal estes tipos foram feitos para a gente rir. No aeroporto de  Heathrow começou seu suplicio. Não entendia nada de inglês. Achou um carregador de malas que se dizia boy scout e o levou até um taxi. Ainda bem que não foi assaltado. Os ingleses gostam de rir dos caipiras, mas são honestos. Nisto eu tiro o chapéu para eles. O taxi parou em frente ao campo de Giwell. Ele sorrindo com a mochila nas costas cantava: - ¶ Eu era um bom touro um bom touro de lei, não estou mais toureando o que fazer não sei! Risos. O diabo é que ele nunca foi um touro!

                        Viu a entrada. Adorou o pórtico que já vira em fotos no Google. Viu o edifício atrás. Logo estava no hall de entrada. Um jovem sério, com um sorriso de cavalheiro inglês deu as boas vindas em inglês. Nick Drops não entendia nada. Tentava explicar na sua maneira de mandão que tinha vindo fazer um curso da Insígnia de Madeira. Preciso da Insígnia de Madeira! – Ele gritou! - Pago qualquer preço! E jogou várias notas de libras esterlinas na mesa. O Mané gritava a mais não poder. Daqui não saio daqui ninguém me tira! - Enquanto não me deram o lenço de Gilwell fico aqui. Sou vou embora com ela no pescoço! O que fazer? O jovem Escoteiro cavalheiro inglês que não entendia bulhufas de português tentou de tudo. Chamou seu Chefe Mister Jonny Pulla Pulga. Nada. Com muito custo conseguiram através de um guia de viagem de Belo Horizonte que passava por lá traduzir o que o Chefe Idiota e puxa saco queria. – Explicou, mas as inscrições não são assim. Tem que ter o chamegão da UEB. Sem ela – necas! O Chefe de BH ria a valer. Ele também era um Escoteiro e conhecia bem tais tipos. Pediu humildemente que ele passasse uma noite lá, só para observar e contar para seus amigos no Brasil. Nick Drops dormiu no mato sem barraca, sem coberta em um frio de rachar!

                      Voltou ao Brasil no outro dia. Procurou o Formador Chefe na sua cidade. – Contou mentiras e mentiras. O formador não disse nada, conhecia o puxa-saquismo do Chefe. – Vou ver, vou ver o que posso fazer disse ele. Em casa sua esposa orgulhosa, seus filhos imaginando o pai cheio de tacos. Era um sonho que passou para toda a família. Ele naquela noite sonhou que estava recebendo sua Insígnia. Veio BP e colocou nele o colar de contas zulu, tinha dez tacos! E olhe que BP tinha cinco porque era o Escoteiro Chefe do Mundo. Veio a Rainha da Inglaterra e colocou outro colar com mais trinta tacos. Veio O Barack Obama e mais oitenta tacos. Ele não conseguia ficar de pé. Era taco que não acaba mais! Por fim a Dilma com seu sorriso de quem adora um panelaço mandou trazer um avião dela cheio de taco. Ele tremeu com o peso. Caiu e foi enterrado por tacos e tacos junto a Baden-Powell na sua morada no Quênia. Acordou suando e chorando. Pediu perdão a Tikititas sua esposa, pediu perdão ao seu filho Talpaitalfilho e prometeu mudar.


                      Olhe, eu mesmo não acreditei quando soube. Mas Nick Drops mudou. Virou um grande Chefe e amado por muitos que o odiavam. Esqueceu os tacos, esqueceu a IM e agora se dedicava somente aos seus jovens e refazer os amigos que perdeu. Um dia um distrital foi lá na sede e entregou a ele a Insígnia de Madeira. Ele sorriu agradecido, mas agora diferente. Um sorriso de quem sabe que tem de dar mais aos jovens, pois se ele era um Bom Lobo e um Bom Lobo de lei tinha que mostrar que o escotismo tem tudo para nos fazer feliz e nos ensinar qual o melhor caminho a seguir! 

domingo, 3 de maio de 2015

Rosas brancas e perfumadas para Dona Noêmia.


Lendas escoteiras.
Rosas brancas e perfumadas para Dona Noêmia.

                      Ela morava bem no final da minha rua. Sua casa tinha fundos para o Rio Mimoso. Lembro que no final da cerca havia um belo pesqueiro. Mas ninguém tinha coragem para pescar ali. No quintal havia pés de manga, goiaba e chumaços de pés de cana Caiana. Na frente de sua casa centenas de rosas brancas. Só rosas brancas. Porque não outras cores ninguém sabia. Enfrentar o olhar de Dona Noêmia? Nunca. Um medo danado. Não era só eu e sim a cidade inteira. Morava sozinha, acho que tinha mais de setenta anos, não sei. Diziam que era viúva, mas ninguém conheceu seu marido. No Grupo Escolar Mascarenhas de Moraes ela era a diretora. Ali ninguém dava um pio. Respeito é bom e eu gosto ela dizia. Todos entravam em silêncio e saiam calados. Onde ela passava se fazia silencio. Alguns adultos diziam – Boa tarde Dona Noêmia. Ela olhava e seus olhos pareciam sair chamas de fogo.

                    A escoteirada passava longe. Os lobos endiabrados ouviam sempre da Akelá Maísa – Querem que chame Dona Noêmia? Era uma maneira de assustar a lobada indisciplinada. Quem fala muito paga pecado, assim dizia minha mãe. Chefe Onofre naquele sábado disse que infelizmente ia mudar de cidade. Estava tentando achar alguém para ficar no seu lugar. A tropa ficou chorosa. Todos gostavam dele. A semana inteira o comentário correu em todas as patrulhas. Fazia-se reunião na Touro, nos Morcegos, na Águia e durante o dia na loja do Martinho. Seu filho da Raposa trabalhava com ele. – Quem seria o novo Chefe? Será o Nonato pipoqueiro? O Sacristão Isaias? Ou o Professor Clementino? Ninguém sequer imaginava. O jeito era esperar o sábado.

                   Interessante, uma hora antes todos estavam na sede. Nem nos cantos de Patrulha foram. Estavam a espreita na porta da sede, no portão e vi dois apinhados em um abacateiro enorme olhando a rua da sede. Chefe Onofre chegou sozinho dez minutos antes do horário. Chamou para a bandeira.  Ninguém com ele. Um frenesi corria de um para o outro. Depois do cerimonial fizemos um jogo estupendo. E assim a rotina da reunião continuou. Até esquecemo-nos do Chefe novo. Quem sabe ele desistiu e vai ficar conosco? A surpresa veio no arreamento. – Chefe Onofre assumiu uma pose de “pobre coitado” e apresentou o novo chefe. Ou melhor, a nova Chefe. Dona Noêmia! Incrível! Ninguém estava acreditando. Ela chegou séria com seu cabelo branco amarrado em um coque, um chalé em cima de uma blusa de manga comprida marrom, uma saia azul simples abaixo do joelho e um sapato aberto em cima de uma meia fina que parecia tirada do fundo do baú. Nunca em minha vida olhei para Dona Noêmia. Aquele foi à primeira vez. Um medo danado. Era magra. Magra mesmo. Um palito em pé. Alta pelo seu porte. Nariz afilado pontiagudo, uma boca pequena e entre o nariz e a boca um bigode ralo.

                   A cidade em peso não acreditou. Ninguém acreditava. Ela só disse oi e que nos veríamos na próxima reunião. Bragg! Que medo. Achei que ninguém ia aparecer na reunião. Até “sapo de fora” estava lá para ver. Ela chegou. Deus do céu! De uniforme caqui calça curta acima das canelas secas, sem o lenço e um chapéu que parecia ser maior que sua cabeça. Dirigiu o cerimonial com perfeição. Depois foi até ao meio da ferradura, fez a saudação, disse a Promessa colocou o lenço e virou para tropa dizendo – Confiem em mim como eu irei confiar em vocês. Foi o início. Chamou os Monitores. Falou com eles por cinco minutos. Vou dizer uma verdade foi a melhor reunião de tropa Escoteira que já participei. Onde ela aprendeu? Era Escoteira? Onde? As mulheres não só eram autorizadas na Alcatéia? Um mistério.

                   Dois anos com a Chefe Dona Noêmia. Ninguém tirava o dona. Um medo danado. Mas aos poucos fomos aprendendo a admirá-la, a gostar dela. Uma noite em um Fogo de Conselho ela nos contou uma bela história. De uma menina perdida cuja mãe morrera e ela não tinha ninguém. Sua luta, sua vontade em acertar, criou em redor de sí uma aureola de rigidez, para que ninguém pudesse aproveitar dela. Uma história linda e triste. Só mais tarde é que a história se explicou para mim, era a história dela. A tropa passou a amar a Chefe Dona Noêmia. Todos tinham a maior admiração. Antes poucos sorrisos agora em profusão. A cidade não entendeu nada. Ainda no Grupo Escolar e entre seus alunos hoje crescidos o medo existia. Na tropa adorada pelos escoteiros.

                Dois anos e quatros meses de felicidade na tropa Escoteira. Cheguei a tirar minha Primeira Classe. Pensava triste quando fosse passar para os seniores. Não queria. Mas sabia que não podia continuar com quinze anos. Um sábado a Chefe Dona Noêmia não apareceu. Preocupação geral. Nunca faltou. Toda a tropa resolveu ir ver o que ouve. Fomos juntos a sua casa. Vinte e oito meninos Escoteiros singrando a Rua Dom Pepino. Medo de bater na porta. Mas eu fui. A porta estava encostada. Tremendo abri. Chefe Dona Noêmia caída no chão. Ainda respirava. Pedimos ajuda. Levada ao hospital foi constatado ataque cardíaco. Ficou entre a vida e a morte dois meses. Na tropa não sabíamos o que fazer. A Corte de Honra se declarou em sessão todos os sábados. Numa quinta Chefe Dona Noêmia se foi.

               O escotismo para mim nunca mais foi o mesmo. Mesmo nos seniores uma saudade “danada” de Chefe Dona Noêmia. Ainda lembro até hoje o mutirão que fizemos a procura de rosas brancas em toda a cidade para suas exéquias. Nunca vi tantas em seu tumulo. Todos os escoteiros acharam que eram suas preferidas. Ate hoje uma vez por mês ainda vou lá. Em frente ao seu tumulo coloco um buquê de rosas brancas. Em minha mente vem a frase do poeta: - “O que sinto por você é tão delicado como pétala de rosa branca desabrochando ao luar”. Dou um sorriso. Na minha mente faço uma oração. A única que aprendi e que me disseram ser Escoteira.


"Senhor, ensina-me a ser generoso, a servir-te como mereces, a combater sem temor das feridas, a dar sem contar, a trabalhar sem descanso. A sacrificar-me sem esperar. Outra recompensa, que há de saber que faço a tua santa vontade”.

sábado, 2 de maio de 2015

Nunca desista de sua jornada nesta vida.


Hora de recolher. Amanhã é outro dia...
Nunca desista de sua jornada nesta vida.

                          Subida forte, muito forte. O sol não perdoava aqueles escoteiros que se arriscavam a subir a Montanha dos Papagaios Azuis naquela hora do dia. Os pés trôpegos. Um olhar para o chão e sempre tentando dar mais um passo. Olhar para frente era de desanimar. A trilha contornava a montanha e parecia que o caminho não ia terminar nunca. Meu Deus! A mochila parecia ter triplicado seu peso. Vontade de parar e esconder nos arbustos daquele sol inclemente ou desistir e voltar. Meus companheiros insistiam em ir em frente. Os cantis vazios. A boca ressecada. Tinhamos que chegar a Fonte da Juventude para matarmos a sede. Ela estava longe, mas cada passo trôpego, cada passo mal dado era mais uma distância vencida. Dizem que na caminhada da vida sempre existem muitos desafios, surpresas, tristezas e alegrias sem fim. Sabemos que em cada passo nos deparamos com situações que afligem, nos fazem sentir desespero e até mesmo chorar. Desistir? Nunca. Uma palavra que não existe entre nós Escoteiros.

                         Não importa que a cada lágrima caída, cada sorriso dado, nós sabemos que tudo estará anotado no diário de Deus. Ele anotou tudo sem nada esquecer. Nesta jornada ele viu nossas lutas, nossos choros, mas ele foi firme com sua escrita e não se esqueceu de anotar a vitória da chegada. Todos nós nem imaginávamos o que encontraríamos depois da curva do destino. Seria a Fonte que nos mataria a sede? Um poeta disse uma vez que caminhar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa e ter por fim da caminhada um objetivo agradável não seria uma maneira de viver feliz? Todos nós sabíamos que mesmo ao terminar a caminhada sempre haveria mais um caminho a percorrer. As jornadas da vida nunca irão terminar.

- Uma poetiza assim escreveu: - Um dia chegarei ao fim da jornada. Terei os pés cobertos pela poeira da estrada, a pele queimada pelo sol do caminho. O corpo cansado repousará a sombra das velhas laranjeiras que meu avô plantou. O pé de camélias ressuscitará florido, beberei água do poço e rezarei agradecida.


Boa noite meus amigos e amigas que a felicidade esteja presente sempre no coração de cada um. Durmam bem e um lindo amanhecer.