No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Lendas escoteiras. Judas... Da galileia.


"Diga-me com quem andas e dir-te-ei [que língua, a nossa!] quem és. Pois é: Judas andava com Cristo. Cristo andava com Judas".

Lendas escoteiras.
Judas... Da galileia.

                  Existem acasos e ocasos. Ocasos porque foi seguindo um belo por do sol e acaso porque sem querer fui parar em Galileia. Don Janvier de Waldívian me procurou um dia. Osvaldo eu estou precisando achar bons curtumes para me fornecer boas “vaquetas” você sabe, aqueles couros curtidos e preparados à mão. São para calçados finos de uma fábrica em Perúgia na Itália. Disseram-me que são calçados especiais e estão à procura de bons couros. Como sócios podemos ganhar algum. Ideia na cabeça pé no caminho e lá fui eu por informações encontrar o Curtume do Salgado em Tainhomim. Na época tinha uma vespa que mais quebrava que andava. Disseram-me que não era longe, uns duzentos e trinta quilômetros de estrada de chão batido. Isto se fosse pela serra da Bodoqueira. Quatro horas depois a pobre da vespa começou a pipocar. Vi uma estradinha pequena e uma placa – Galileia, seis quilômetros – A vespa aguentou firme até lá. Anoitecia. Cidadezinha deserta. Um guardinha me mostrou a pensão da Dona Inês. Melhor pernoitar. Amanhã consigo algum eletricista para ver o que tem a vespinha.

               Não vi a Dona Inês. Um garoto de uns quinze anos me atendeu. Um quartinho simples e disse-me que o jantar seria até às oito da noite. Banho no chuveiro do corredor, e lá fui eu para o restaurante. Pequeno, oito ou dez mesas. Apenas eu de hospede na hora. Sentei e logo trouxeram uns paizinhos deliciosos. Depois uma sopa de cebola estupenda. Ainda trouxeram um arroz solto, feijão preto e costelinhas de porco frita com torresmo. Deus do céu! Eram quase oito da noite e aquele manjar dos deuses iriam me fazer mal e muito mal. Mas dizem que escoteiros são gulosos e não medem as consequências. Comia gulosamente bebericando uma cervejinha e uma senhora escura, gorda, cabelos presos por um lenço azul e de uma simpatia tremenda sentou-se ao meu lado. – Olá, sou a Inês. Seja bem vindo a minha humilde pensão! Simpática. Muito. – Já conhecias Galileia? – Não eu disse. – Aqui já foi uma bela cidade. Chegamos a ter mais de trinta mil habitantes. Hoje? – Nem oito mil e a cada dia mais e mais moradores se mudando.

                 - Fiquei ali ouvindo sua história sobre a cidade. – Olhe, ela disse – A mais de quarenta anos Galileia crescia a olhos vistos. Tínhamos quatro olarias, um enorme curtume e o Prefeito pretendia montar uma indústria têxtil e uma malharia. Foi nesta época que Judas da Galileia nasceu. A Parteira saiu correndo ao ver a marca de corda em seu pescoço. Seus pais arregalaram os olhos. Logo o povo todo da cidade sabia. O tabelião Juventino benzeu o menino, mas aceitou registrá-lo como Judas da Galileia. O porquê sua mãe escolheu este nome ninguém sabia. Judas cresceu se escondendo nas sombras da cidade. A meninada quando o via saia correndo atrás gritando Judas! Judas! Traidor de Jesus! – Quando ele fez dezesseis anos um dia na Rua do Caroço ele parou – Virou para a molecada, botou a língua para fora, dizem alguns que mais de meio metro e deu um urro tão grande que todos correram como corre o diabo da cruz. Deste dia em diante ele andava no meio da rua e ninguém aparecia nem para olhá-lo. As janelas fechavam a sua passagem.

                   Quando ele fez vinte anos queria ir embora da cidade. Não conseguia emprego. Uma tarde uma turma de escoteiros chegou à cidade de bicicleta. Eram uns doze aparentando quinze a dezessete anos. Armaram barracas no campinho do Zé das Coisas e atraíram atenção de boa parte da meninada. Judas da Galileia também foi lá. Um dos escoteiros o chamou para jantar com eles. Não perguntaram da marca de seu pescoço, não perguntaram nada. O trataram muito bem. Foi à primeira vez em sua vida que Judas da Galileia foi bem tratado. Até seus pais não conversavam com ele. Judas da Galileia chorou muito quando eles foram embora. Foram dois dias os mais lindos que teve em sua vida. Deixaram com ele dois livros que disseram ser do fundador. Escotismo para Rapazes e o Guia do Chefe Escoteiro. Judas da Galileia ficou uma semana lendo os livros. Leu uma, duas, três e até quatro vezes.

                  Judas da Galileia queria ser Escoteiro. Sonhava ser Escoteiro. Na sua cidade seria difícil. Não tinha grupo e ninguém interessado em organizar um. Só havia uma solução. Ele mesmo fundar um. Mas como? – Dona Inês me cativava com sua narrativa. Era uma emérita contadora de histórias. Sabia como falar, como mostrar e seus gestos eram perfeitos. – Sabe Seu Osvaldo, eu nunca me aproximei de Judas da Galileia. Eu tinha medo. Achava que ele podia ser o próprio Judas reencarnado. O traidor de Jesus. Mas ele me procurou um dia. Olhou-me com uns olhos tão chorosos que não pude dizer não. – Pediu se meu filho o Florindo podia participar. Chamei florindo e ele de cabeça baixa concordou. Outros pais ficaram sabendo. Ele conseguiu oito meninos. Andava com eles para todo lado. Marchando, fazendo acampamentos, fazendo nós, sinais, tinham umas bandeirolas que se divertiam na praça e assustar as moçoilas com os recados que iam e viam dos quatro cantos da cidade.

                 - Lembro bem que foi em um domingo a tarde que Anselmo Três Dedos chegou à cidade com mais de vinte bandidos. Cercaram tudo. Prenderam o delegado, o prefeito, o juiz e mais oito ordenanças na cadeia local. Vários bandidos deram ordens para ninguém sair de casa. Se uma janela se abrisse eles entravam e matavam todo mundo. Um medo geral. O gerente do Banco do Brasil foi obrigado a abrir a agencia e o cofre. Foi nesta hora que Judas da Galileia adentrou a cidade com seus oitos escoteiros vindo de um acampamento. Notou a movimentação dos bandidos. Mandou os escoteiros correrem para suas casas. Anselmo Três Dedos o viu parado em frente à fonte da praça. Gritou para ele correr. Ele não correu. Devagar com seu olhar mortífero se dirigiu até a onde estava Anselmo Três Dedos. Colocou a mão em sua testa. Anselmo gritou. Um grito horrível. Mesmo assim puxou o gatilho do seu quarenta e cinco. Seis tiros. Judas da Galileia continuou imóvel. Anselmo Três dedos caiu morto. Parecia que um raio o matou. Estava queimado feito carvão.

                        Coloquei os braços na mesa. Parei de comer. Olhava sem tirar os olhos de Dona Inês. – Ela continua séria, contando sua história infernal. – Os bandidos que assistiram aquilo saíram correndo da cidade. Não ficou ninguém. Judas da Galileia foi devagar até a praça e sentou ali, naquele banco amarelo. – Olhei pela janela e vi o banco – Todos os políticos vieram abraçar Judas da Galileia. Mas ele estava sentado, calado, de olhos abertos e morto. Não havia mancha de sangue nos buracos das balas. Só na marca da corda de seu pescoço escorria sangue. Ninguém mexeu no corpo. No dia seguinte o corpo desapareceu. Ninguém nunca mais soube de nada. – Parecia que uma praga caiu sobre a cidade. A cada mês, a cada ano famílias e famílias iam embora. Hoje a cidade morreu. Aqui não se vê alegria, ninguém brinca ninguém canta. Dizem e eu posso afirmar que a noite sempre está lá no banco da praça, o mesmo amarelo, Judas da Galileia. Fica lá hora sem se mexer. De vez em quando parece que se ouve um tal de Rataplã cantado com voz rouca.

                 Ela se calou. Olhei para a praça. No banco amarelo vi um vulto. De uniforme caqui e chapéu de três bicos. Assustei-me. Sai correndo em direção à praça. Precisava ver de perto. No banco não tinha ninguém. Voltei e ouvi baixinho alguém cantando o Rataplã! De novo não vi ninguém. Dormi pensando em tudo aquilo. No dia seguinte Joel Boca Torta arrumou minha vespa. Parti sem dar adeus a ninguém em Galileia. Nem a Dona Inês. Perguntei por ela ao menino porteiro. – Minha mãe morreu há muito tempo ele disse. Aqui só minha Vó e minha Tia. Falar mais o que? Ainda bem que fiz bons negócios em Tainhomim. Nunca mais voltei em Galileia. Outro dia procurei no mapa. Nada. Olhei no Google, nada. Mas acreditem, havia um Judas da Galileia. Lá constava que era Escoteiro no céu. Foi perdoado e agora faz parte da tropa do além. Deus me livre. Que ele seja feliz e não venha à noite cantar para mim o Rataplã!  
     
“Se no passado não crucificaram “Judas” porque hoje fazemos isso com nossos irmãos”?

domingo, 26 de janeiro de 2014

As aventuras de Marquito, o lobinho que queria voar.


Lendas Escoteiras
As aventuras de Marquito, o lobinho que queria voar.

                     Marquito não pensava em outra coisa. Tudo bem que era estudioso e obediente, mas tinha uma ideia fixa. Uma verdadeira obsessão. Ele sonhava em voar. Aquilo ficava em sua mente desde que acordava até quando ia dormir. Como fazer? Como deslizar pelo céu como se fosse uma águia dourada levada pelo vento? Ele pensava. Havia de ter um jeito. Sua mãe começou a ficar preocupada. Leu sobre meninos que vestindo uniforme de Batman, Super Homem pulavam de árvores ou de sacadas de apartamentos. Ela tinha medo e conversava sempre com ele. - Não se preocupe mamãe, nunca colocarei minha vida em perigo. Ela acreditava. Sabia que Marquito além de ser um bom filho era também um grande lobinho. Sempre recitava para ela as Leis do Lobinho e nunca deixava de dizer que o Lobinho ouve sempre os velhos lobos.

                    Na Alcatéia todos sabiam do seu sonho. Ninguém ria dele, pois o respeitavam muito. Nonô e Maryangela de sua matilha verde sempre eram seus ouvintes favoritos. Ele contava tudo que aprendia e lia sobre como voar pelos céus. Um dia sua mãe comprou um computador para ele. Ele sonhava em ter um. Fazer pesquisas, já pensou? Não deu outra. Voltando da escola, após fazer seus deveres escolares lá estava Marquito pesquisando – Um Ultra Leve pode com facilidade ser montado ou armado na área de decolagem. E também desmontados ou desarmados na área de pouso. Um Ultra Leve deve ter o peso máximo igual ou inferior a 70 kgf. Marquito anotava tudo. Agora os materiais para construir um em casa. Aço inox? Impossível. Tela de poliéster e fibra de vidro? Nem sabia o que era isto. Mas embaixo uma noticia o animou. Com madeira você pode construir um ultraleve por menos de dez mil reais, claro sem o motor. Ele não tinha, mas sabia onde conseguir. Na Madeireira do Seu Leopoldo. Ele lhe daria tinha certeza. Afinal era o pai de Maryangela e da diretoria do Grupo Escoteiro.

                     Não foi fácil convencê-lo. Ele e Maryangela ficaram horas falando e falando. – Tudo bem, vou lhe dar disse – Mas quero ver toda semana seu trabalho. Beleza! Mãos a obra. Pegaram o desenho na internet. A alcatéia em peso ia todos os dias no quintal da casa de Marquito para ver sua construção e ajudar. Não foi fácil. Terminaram três meses depois. Uma geringonça de madeira. Seu Leopoldo deu risadas. Isto nunca vai voar. A akelá foi lá para ver. – Valeu Marquito. Valeu o esforço. Quem sabe agora ele desistia desta ideia estapafúrdia de voar? – Nada disto. Com a colaboração da Matilha azul, amarela e a sua a verde, levaram o ultraleve para um morro próximo. – Sem motor? - Perguntou Nonô. – Não se preocupe. Ele vai voar disse Marquito. Parecia que ele adivinhava. Um pé de vento se aproximava. Marquito e Maryangela se amarraram na geringonça. O vento os pegou em cheio. Subiram aos céus. Alto. Muito. O vento se foi. O Ultraleve plainava. Incrível!

                     A cidade inteira na rua. Os carros pararam. O povo boquiaberto. Lá em cima Marquito e Maryangela cantavam a plenos pulmões – “A promessa de Mowgly era matar o Shery Cann, para a paz de seu povo de Akelá e o seu Clã!” – Uma festa. Foguetes apareceram não se sabia de onde. Pousaram no Aero Club local. Dois pilotos o seu Jonas e o seu Martinho foram olhar. Não entenderam nada. Como aquele monte de taboas pregadas de qualquer jeito plainou? O povo todo chegou ao Aero Club. Uma salva de palma. Marquito e Maryangela foram carregados. No sábado na reunião, abraços, parabéns e ambos foram chamados na diretoria. Sorrisos. Era a vez dos Diretores darem os parabéns pensaram.

                          Lá estavam os diretores do grupo, o Diretor Técnico, A Akelá o Balú o delegado, o tenente da aeronáutica e sua mãe! Nossa! Mas não foi nada do que eles pensaram. Falaram tanto. Das normas de segurança para aviação, de voar sem permissão, de ser menor de idade, enfim, eles ouviram tudo calados. O tenente pediu a Marquito que nunca mais fizesse isto. Ele prometeu. Voltaram para a reunião de Alcatéia. Cabisbaixos. Olhando seus amigos de esguelha. Todos vieram correndo para abraçá-los. Marquito sorriu, mas ele tinha palavra prometeu que nunca mais faria aquilo e o lobinho diz sempre a verdade.


                          Um dia sua mãe o viu pesquisando na internet. O que procura Marquito? Nada mamãe, eu estou vendo o que é ser abduzido. Dizem que os alienígenas abduzem os terráqueos para levá-los em seu disco voador. Já pensou se eu fosse voar em um? A mãe de Marquito se assustou. De novo? - Não se preocupe mamãe. Prometi não voar mais lembra? Bem, a história termina aqui. Mas os sonhos de Marquito? Não sei. Dizem que sonhos de criança não terminam nunca. Eu que os diga nos meus sonhos aventureiros que um dia fiz neste mundão de meu Deus!

sábado, 25 de janeiro de 2014

O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.


Lendas escoteiras
O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.

                    “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Ninguém esquece. O grito de patrulha de quem já foi um patrulheiro fica marcado para sempre. Eu era um deles, da Raposa. Um ano e meio na tropa. Era meu mundo naquela época. Não havia outro. O escotismo para mim estava no meu sangue, na minha alma e no meu coração. Naquela quinta do mês de julho, lá pelos idos de 1952 combinamos com o Seu Leôncio de pegar uma carona em seu Carro de Boi até o seu sítio, nas proximidades da Colina dos Sete Cavalos. O Chefe Jessé amigo dele aprovou um acampamento nosso em suas terras de seis dias. Prometeu passar por lá pelo menos duas vezes e Seu Leôncio disse que tomaria conta de nós.

                   Quem um dia teve a felicidade de viajar num carro de boi, Jamais esqueceu. Aquele zumbido infernal com o tempo é como se fosse uma suave melodia de uma recordação sem igual. Foram duas horas e meia de sorrisos, e a gente ficava cantando, gritando, dando vivas e olhando a Canga, o Canzil, os Arreios, o Cabeçalho, e tentando descobrir o cantar das rodas no Cocão, na Cheda, no Recavem e tantas coisas lindas que compõe o carro de boi. Seu Leôncio era bom carreiro. Usava com maestria a vara do ferrão com dois guizos sem machucar os bois. Chegamos à subida das Colinas dos Sete Cavalos lá pelas onze da manhã. Trabalho duro. Armar campo. Mesa, toldos, fogão suspenso, lenheiro, aguadeiro e o Jairinho era muito bom na construção de um pórtico.

                   Eu gostava daquela Patrulha. Éramos amigos de verdade. Depois do jantar ainda à tardinha, sentados no chão e tomando um cafezinho próximo à mesa (faltavam os bancos) nós levamos o maior susto. Susto tal que nem correr deu ânimo. Minhas pernas tremiam como se fossem vara verde. Bem no centro do pórtico um enorme Leão Branco! Isso mesmo! Um Leão Branco. Parado a nos olhar. Eu comecei a molhar as calças e acho que os demais também. Lembramos quando o Chefe Jessé nos instruir quando víssemos uma onça. – Não correr Jamais. Todos olham nos olhos dela. Um de nós passo a passo para trás tenta dar a volta. Sobe em uma árvore e lá grita, Faz barulho para chamar a atenção do animal. Quando conseguisse todos corriam e subiam na primeira árvore que encontrassem. Eu era o que estava mais atrás. Não fiz nada disto. Um medo terrível. Meu corpo parecia um tronco fincado no chão. Diabos! Não sei o que deu em Marino. Como se estivesse hipnotizado foi devagarinho até o leão. Ele afagou sua juba. O Leão Lambeu os pés de Marino. Ninguém acreditava no que via.

                     Assim começou a fantástica amizade de sete escoteiros e um Leão Branco. Marino o chamou de Eddy. O dia inteiro ele brincava conosco em nosso campo de Patrulha. Chegou até a nadar junto a nós no córrego da Canoa Quebrada. A noite ele sumia para bem de manhãzinha voltar. Muitas vezes ainda dormindo ele abria as portas das barracas e nos lambia fazendo cocegas. Amei aquele Leão. Ninguém pensou o que ele estaria fazendo ali. Ninguém lembrou como ele se alimentava. No sábado Seu Leôncio viu. Assustou. Pegamos na mão dele e o levamos até o Eddy. Ele não acreditava. Manso como um potrinho recém-nascido. Conversou com nosso Monitor. Natanael nos contou depois. Eddy estava matando para comer bezerros e pequenas ovelhas dos fazendeiros da redondeza. Queriam matá-lo. Eles sabiam que ele havia fugido do circo Garcia há cinco meses. Tentaram capturá-lo e até alguns homens armados percorreram os montes, vales, campinas e tantos outros lugares tentando encontrá-lo e matá-lo e não conseguiram.

                   Eu não podia acreditar. Matar o Eddy? Nunca. Preferia morrer com ele. No domingo pela manhã chegaram mais de vinte homens armados junto com Seu Leôncio. Eddy estava conosco brincando. Gritaram para sairmos de perto. Eu não sai. Agarrei o pescoço de Eddy. Ele me deu um puxão e foi correndo em cima dos homens armados. Um verdadeiro tiroteio. Nós gritávamos para não matá-lo. Eddy gemeu forte, virou para nós e como se fosse um último adeus abanou seu rabo e mexeu com sua enorme juba. Caiu morto no chão crivado de balas. Tinha sangue em todo seu corpo. Eu corri e fiquei abraçado com Eddy. Eu gritava e chorava. Chamava os homens de assassinos. – Mataram meu amigo! Malditos! Vão para o inferno! Não sabia o que pensar, coisas de meninos coisa de escoteiros que amam os animais.

               Durante vários meses nossa Patrulha não sabia o que falar. Nas reuniões ficávamos por muito tempo em nosso canto de patrulha, calados sem nada dizer a não ser ter os olhos vermelhos e cheio de lágrimas. De vez em quando um olhava para o outro e soluçava forte. Papai e Mamãe tentaram me consolar. Tentaram explicar que um leão tem um alto custo para alimentar. Come mais de oito quilos de carne por dia. Ele estava matando os animais dos fazendeiros. Nada. Isto para mim nada adiantava. Eu amei o Eddy enquanto vivo e o amava agora também.

           “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá rá rá, Raposa”! O tempo passou. Mas sempre me lembrava do Eddy. Um dia encontramos toda a Patrulha no Bar do Elias. Já adultos. Eu com mais de vinte e cinco anos. Tomamos varias cervejas e comemos linguicinhas picadinha com cebolas fritas, famosas na cidade.  E quem se lembra do Eddy? Perguntou Afonsinho. Pronto. Marmanjos chorando. Quem nos visse naquela mesa iria ver sete marmanjos chorando. Ficamos no bar por mais de cinco horas, sempre a lembrar dos belos dias que passamos com o Eddy. E triste ter belas histórias para contar como esta sem um final feliz. Um Leão Branco que vivia na Montanha dos Sete Cavalos. Nunca mais voltamos lá. Para que? Para chorar? Para lembrar-nos de um Leão que amamos e que nos tiraram assim? Hoje sei que foi a melhor decisão. Mas lá no fundo do meu coração eu não aceito isto. Como conviver com o Eddy para sempre eu não tinha explicação. Mas sua morte foi dura demais para enfrentar.


          “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Minha Patrulha. Patrulha que amei por muitos anos. Patrulha com belas histórias que nos marcaram para sempre. Marquito, Marino, Natanael, Jovelino, Afonsinho, Jairinho e eu. Onde andam vocês? Saudades de todos. Imensas Saudades também do Eddy. O Leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos que amei e ficou para sempre no meu coração.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Waldo, um Escoteiro e seu último por do sol.

 
Lendas Escoteiras.
Waldo, um Escoteiro e seu último por do sol. 

                   Eu era Chefe de uma tropa Escoteira lá no Bairro do Berilo. Não era longe e a pé chegava a menos de quinze minutos. Era uma boa tropa. Quase não tinha problemas e os Monitores me ajudavam muito. No grupo havia uma tropa feminina, mas que não caminhava bem. Só duas patrulhas com doze jovens. Genny a Chefe era muito esforçada. Nilo e Bartilho eram meus assistentes. Não eram muito frequentes. Não sei se acontece com todo mundo, mas tem escoteiros tão bem comportados que quase passam despercebidos. Assim era Waldo. Entrando nos quatorze anos tinha todas as qualidades que a gente pensa em quem tem um elevado “Espírito Escoteiro”. 

                    Na Patrulha Quati Waldo era uma espécie de conselheiro dos demais. Não era o Monitor, mas cativava a todos pela sua ponderação, pelo seu exemplo não só na tropa como na escola e em sua vida familiar. Quando eu tinha algum problema chamava o Waldo. Ele possuía um jeitinho próprio de conversar que conquistava qualquer um que estivesse ao seu lado. Não foi minha surpresa que um sábado de maio ao chegar à sede não vi o Waldo. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Perguntei ao Antonio seu Monitor se ele sabia de alguma coisa. Não sabia. Pensei comigo – Deve ter sido o motivo muito forte para ele ter faltado. Fiquei de ligar para ele ou seus pais para saber se uma gripe o impediu de ir à reunião. Quem atendeu foi sua mãe. – Chefe, o melhor é o Senhor vir aqui em casa. Não dá para falar por telefone.
 
                       Só na quinta deu para ir até lá. Eu estava preocupadíssimo. O que seria? A Mãe dona Aurora e o pai seu Rodolpho me receberam na porta. Estavam tristes e taciturnos. – Chefe, falou dona Aurora, Waldo me pediu para ele mesmo dizer. Acho que o Senhor deve ficar prevenido. A notícia vai chocá-lo e muito. – Vi que lagrimas caiam dos olhos de ambos. O Senhor Rodolpho estava com a voz embargada. Subi ao quarto de Waldo, ele me esperava sentado na cama. Senti nele um sorriso tênue e sua voz que já era baixa de natureza estava rouca. Seus cabelos estavam caindo e aquilo me assustou. – Olá Chefe, Sempre Alerta! Ele tinha ficado em pé. Dei-lhe um aperto de mão e um abraço. – Waldo, todos estão sentindo muito sua falta e as saudades são grandes. Ele sorriu de leve. – É Chefe, vai ser difícil minha volta. Vou direto ao assunto. Melhor ser honesto com o Senhor. Estou com Leucemia no cérebro. O medico disse para minha mãe que eu tenho menos de quatro meses de vida. 

                         Foi como se eu tivesse levado um soco, uma pancada. Fiquei chocado. Sentei em sua cama. – Calma Chefe, isto acontece com um e outro, eu fui o escolhido por Deus desta vez e sorriu. – Meu Deus! Pensei. Que calma deste garoto! Incrível! – Olhe Chefe, eu convenci minha mãe. Ela e meu pai não queriam, mas eu gostaria antes de ir me encontrar com meus ancestrais lá na vivenda de Capella, eu queria ir ao acampamento do próximo mês no Vale dos Sinos. – Mas como Waldo? Você mal fica em pé e nem pode andar direito! – Eu sei Chefe, mas eu preciso. Não posso partir sem ver meu último por do sol nas escarpas cintilantes. - Me lembrei do que ele falava. Lá das escarpas o por do sol era maravilhoso. O mais lindo que tinha visto. Eu nunca pensei que ele pudesse lembrar e nem eu mesmo me lembrava mais. Olhei para Waldo. Não podia negar aquele último favor. Se ele queria eu não iria dizer não.

                         Combinei com seus pais de passar lá no dia marcado pela manhã para pegá-lo. Não disse nada para a tropa e nem para os chefes. Insisti para que ninguém faltasse. Queria dar a ele uma despedida que ninguém jamais esqueceria. Seria o maior Fogo de Conselho que eu iria dirigir e ele participando. – Passei lá no dia determinado. No local do acampamento ele insistiu em ficar com sua Patrulha. Estava tremendo, fraquejava, mas dizia que iria dormir na barraca da Patrulha. Na chefia não era certo e não queria dormir sozinho completou. – Chefe, é câncer! E ria. Nada mais que o cancerzinho idiota. Não vai ter perigo para ninguém. Ele não é transmitido assim. Não é contagioso! – Menino! Que Escoteiro era aquele? Waldo de quatorze anos me dando lição?

                           Eu tinha levado uma cadeira de praia para ele ficar sentado. O dia que ele quisesse eu o levaria em minhas costas até as Escarpas Cintilantes. Ele recusou a cadeira. Vou fazer a minha Chefe. Devagar mas vou fazer. A Patrulha viu que ele estava doente. Disse para ela que ele estava se recuperando de uma forte pneumonia. Ele quase não participava das atividades, mas ajudava na cozinha sempre. Fez uma bela cadeira. Sentava e fechava os olhos. Seus lábios entreabertos pareciam sorrir. No penúltimo dia vi que ele respirava com dificuldade. – Waldo vou leva-lo para sua casa. – Chefe nem pensar. Me leve agora até as Escarpas Cintilantes. Meu tempo está se esvaindo. 

                            Fui sozinho com ele. Em principio foi andando depois vi que não aguentava. O coloquei no colo. Uma palha de tão magro. Em menos de meia hora chegamos. Sentei junto com ele na barranca que dava para todo o Vale dos Sinos. Um espetáculo a parte. Deviam ser umas cinco e meia. Chefe posso fazer um pedido? Claro meu amigo. Claro. Quando eu estiver sendo guardando na terra dos meus ancestrais não quero que cantem a canção da despedida. Cantem todos aquelas alegres para que eu tenha boas lembranças. O sol foi aos poucos tentando se esconder atrás das montanhas do Grilo Feliz. Waldo sorria. Não tirava os olhos. Eu engasgado. Danação! Eu não era como ele. Estava difícil aguentar. Queria chorar e não podia. Não podia chorar naquele instante. Não podia. Eu sabia que eram seus últimos momentos. Waldo me olhou. Piscou os olhos e me disse – Chefe foi a maior alegria que já tive. Vou levar para sempre esta lembrança comigo. Obrigado Chefe. Obrigado. Foi aos poucos deitando no meu colo. Esticou suas perninhas secas. Waldo morreu sorrindo no meu colo naquele anoitecer de junho. Ficou ali imóvel como se estivesse dormindo.  

                    Fiquei ali chorando por muito tempo. Alguém bateu no meu ombro. Olhei e não vi ninguém. Lá onde o sol se pôs vi uma nuvem branca brilhante que logo desapareceu. Desci as escarpas com ele no colo. Uma eternidade até chegar ao acampamento. Uma dor profunda. Toda a tropa chorava. Voltei para a cidade. Não chorava mais. Meu coração sumiu. Minha vontade não era minha. Naquele momento achei que eu também tinha morrido com o Waldo. No dia seguinte estávamos todos na sua exéquias. Cantamos ao som de um violão a Stoldola, Avante Escoteiro, Lá ao longe muito distante e outras. Todos cantavam com vigor escoteiro. Muitos choravam. Eu também. Não dava para segurar. Os anos passaram. Nunca me esqueci de Waldo. Nunca me apareceu em sonhos. Nunca falou comigo em espírito. Deve estar feliz, muito feliz em Capella, a terra dos seus ancestrais.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

A árvore das folhas rosa.




Lindas lendas escoteiras.
A árvore das folhas rosa.

                   Era uma visão incrível. Apareceu assim do nada. Fez-se presente para sempre em nossas vidas. Dizem por aí que só os escoteiros têm o privilegio de ver e ouvir coisas, pois eles têm o dom de enxergar de outra maneira a natureza hoje perseguida de maneira implacável pelos homens. Acredito piamente que isto é real. Eu estava em uma pequena trilha, mais quatro amigos escoteiros, todos em fila indiana, tentando cortar caminho para chegar ao Tanque dos Afogados. Desculpem, não morreu ninguém lá e nem é um tanque. Uma represa pequena, dócil, rasa, de águas cristalinas que por duas vezes ali estivemos acampando. Sempre passamos pelo caminho do Marquês mais de doze quilômetros. Não lembro quem deu a ideia de cortar caminho em um vale entre duas montanhas. Nem sempre as boas ideias prevalecem. Passava da uma da tarde. Um sol a pico e queimando. Quase quatro horas de caminhada. O suor escorrendo pelo rosto, os olhos vermelhos e o chapelão de três bicos faziam às vezes de um protetor carinhoso, mas que pouco ajudava.

                  Um local descampado, sem árvores, quem sabe para o gado que ao longe pastava calmamente. Pensei em parar, mas sempre um animando dizia: - Vamos chegar! Vamos chegar! É só encontrar o vale das Vertentes. E esse não chegava nunca. Uma fome brava. Nem um biscoitinho a solta. Já respirava com dificuldade quando avistei o paraíso. Uma árvore. Não uma árvore qualquer. Era enorme. Incrivelmente linda! Nunca tinha visto uma cerejeira igual. Florida, folhas e flores rosa destoando da natureza ao seu redor. Só ela, ali, imponente e ao seu lado um pequeno riacho de águas claras. Visão maravilhosa. Um oásis dos deuses do paraíso naquele campo seco. Incrivelmente maravilhosa. Molhei o rosto calmamente. A sombra da cerejeira nos dava uma sensação de calma silenciosa e gostosa. Uma brisa fresca soprava de este para oeste. Sentamos embaixo próximo ao tronco. Pés levantados. Dizem ser bom para a circulação. Dez minutos, quinze, vinte. Uma hora. Ninguém animava em partir. Estavam todos no mundo dos sonhos coloridos que só os escoteiros possuem.

                 A tarde chegou mansamente. O sol estava se despedindo e prometendo voltar amanhã. Vermelho atrás das montanhas verdejantes. Ainda de olhos fechados lembrei que tinha lido não sei onde – “A flor de cerejeira cai da árvore na primeira brisa mais forte, mas não dizemos que ela nunca viveu. Uma flor que só dura um dia, não é menos bonita por isso”. Não queria abrir os olhos. Não queria partir. Eu tinha encontrado o paraíso. Não disseram que o tempo é relativo? Que a flor da cerejeira, por exemplo, dura apenas uma semana e mesmo se durasse mil anos ainda seria efêmera? Flor tão bela como ela não merecia durar eternamente? E o que é eterno se não o que dura com tamanha intensidade? Dormi. Não queira acordar. Agora a cerejeira não dava mais sombra. Não precisava, a noite chegou escura, mas logo o clarão das estrelas no céu dava o seu espetáculo a parte.

                Reunião de Patrulha. Partir? Cinco a zero para ficar. Um foguinho. Uma sopa, um café na brasa. Cantando baixinho a Árvore da Montanha. O céu estrelado ainda dando seu espetáculo maravilhoso. Um cometa passou correndo deixando um rastro brilhante. Fiz um pedido. Que a cerejeira em flor durasse para sempre! Aos poucos alguns dormiam. A cerejeira das folhas rosa era nossa barraca. O tempo passou. Ao lado algum anjo velava o sono dos escoteiros. Abri os olhos mansamente, uma réstia de luz aportava lá por trás das montanhas distantes. Era a madrugada chegando. O novo dia chegava sem fazer alarde. O orvalho caia de mansinho. A brisa eterna amiga não nos deixou. Um acalanto para nos dar um novo vigor no dia que chegava sem fazer ruído. O riacho ao lado parecia cantar canções de ninar. Pequenos peixinhos nadavam como a nos dizer bom dia! Pássaros mil a cantar em revoada com a dizer – Chegou a hora de partir Escoteiros! Mochila as costas. Olhares e sorrisos entre nós. Escoteiros avante! Rataplã! Rataplã! Pé na estrada, pois o sol agora já estava firme no horizonte. Nosso destino? O Tanque dos Afogados. E lá fomos nós, em marcha de estrada sorrindo, chapéu de três bicos soltos nas costas, mas podem acreditar que nunca mais, em tempo algum, nós nos esquecemos da árvore das folhas rosa. Cerejeira em flor. Um amor, uma lembrança que ficou marcada para sempre!

Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso

Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar,
Suave mistério amoroso,
Cidade de meu andar
 (Deste já tão longo andar!) 

E talvez de meu repouso...


quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O pequeno Jor-el, o menino Escoteiro que veio das estrelas.



Lendas escoteiras.
O pequeno Jor-el, o menino Escoteiro que veio das estrelas.

          Sabe Chefe, eu o vi pela primeira vez em uma tarde chuvosa, estávamos em atividade no salão da sede, e ele praticamente apareceu do nada e se plantou em um canto. Ninguém notou acho que só eu. Estávamos em um jogo que chamavam de pescaria e por lerdeza ou por ver aquele menino ali plantado fui pescado. O senhor conhece o jogo. Dormiu, o cachimbo caiu. Mas tudo bem me aproveitei enquanto estava fora do jogo e me aproximei dele. Chefe! Senti uma vibração que nunca senti antes. Ele me deu um sorriso e me abraçou! Diabos! Abraçar um desconhecido? – Ele com uma voz de anjo, e nem sei se anjo tem voz me disse que sua missão era ser um Escoteiro por algum tempo. Bela maneira de pedir para entrar.

                    Ele parecia encantar a todos, pois em poucos minutos uma roda se fez em sua volta. Chefe Nantes chamou as patrulhas. Ninguém se mexeu. Parecíamos estar hipnotizados. Apitou de novo e com má vontade saímos dali. Quando formamos para a bandeira, pois era o final da reunião olhei para onde ele estava e não havia ninguém lá. Quer saber Chefe? Como o Chefe Bob o aceitou não sei. Ele era um Chefe durão, sem pais nada de vaga! Dizia sempre. No sábado seguinte ele estava lá. Ele foi apresentado à tropa. Chefe, Deus do céu, precisava vê-lo de uniforme. Incrível! Ele estava com um lenço azul celeste bordado com estrelas douradas e seu arganel era feito de brilhantes. Todos os monitores correram para oferecer suas patrulhas. Chefe Nantes não sabia o que fazer. – Olhem, não é comum isto, mas o Chefe Bob me pediu que ele ficasse três reuniões em cada patrulha. Não entendemos nada. Mas Chefe é Chefe e assim foi feito. Não soube se a Corte de Honra discutiu o assunto eu era um simples Escoteiro segunda classe.

                    Chefe meu amigo até hoje quando lembro fico paralisado. Sabe chefe eu nunca entendi aquele pequeno menino das estrelas que com um simples sorriso conquistava a todos. Ele começou com os Lobos e depois a Pantera. Eu era da Falcão e fiquei sabendo que seriamos os últimos a recebê-lo. Não antes da Tigre. Mas ele parecia não ter uma patrulha no coração, tinha todas. Sabia de tudo sobre elas. Um dia antes da reunião estávamos sentados embaixo da aroeira, uma rotina nos dias de calor ele começou a cantar uma canção linda. Chefe, meu Deus! Que voz ele tinha. E a canção? Falava de Escoteiros na montanha azul onde só o amor existe.  Os lobos largaram a Aquelá e vieram correndo. Os seniores e as guias deixaram a construção da quadra e vieram também. Ninguém falava, não havia barulho, só aquela voz maravilhosa que até hoje não sei explicar. Ele parou de falar e sem ninguém levantar começou a contar uma história. Que linda história. De um menino que conheceu centenas de planetas, que percorreu a via láctea, e todo o espaço sideral.

             Vi que ninguém piscava ninguém se mexia. Com um simples gesto ele colocou ali uma cópia do universo. Cópia? Não ria Chefe, eu sou péssimo em geografia e nada entendo de astronomia. Mas ele Chefe, falava de tal maneira que a gente parecia viver com ele à medida que explanava tudo do espaço sideral. Não vou dizer aqui os nomes de estrelas, de constelações e que em linguagem simples ele disse que se pode percorrer como se fosse nosso pensamento. Contou das belezas do universo e que um dia nós também iriamos ver com nossos próprios olhos. Sem ninguém perguntar Chefe ele contou de onde veio um planeta a bilhões de anos luz da terra. Não disse o nome, falou que não iriamos entender. Disse que sempre voltava ao seu lar após as reuniões. Só retornava quando precisava fazer algum estudo de comportamento humano.

          Levantou-se e pediu ao Chefe para continuar a reunião. Estava chovendo e ele olhou a chuva e ela parou. Um sol brilhou. Todos ficaram estupefatos. O menino Escoteiro das estrelas no primeiro acampamento vibrou. Chefe precisava o ver armando barraca com as próprias mãos. Contou depois que em seu lar no espaço ele usava a força do pensamento. Quando começou a montagem da Barraca suspensa Chefe, ele se jogava no ar e ria a valer quando fazia uma amarra, um nó, um arremate qualquer. As madeiras que ele cortou foram levantadas no ar com um simples olhar. Pode perguntar, não vou negar Chefe, ninguém ali duvidava de nada. Ninguém perguntou como ele fazia. Parecia que através do pensamento ele ia ensinando tudo sem falar diretamente. E como comia Chefe, parecia um esfomeado. Ria a valer quando mastigou pela primeira vez bife queimado do cozinheiro Jonny limbo.

         Foi no Fogo de Conselho que tudo aconteceu. Ele fez questão de preparar. Acendeu com um simples gesto. Levantou os braços e parecia que as estrelas dançavam no céu. Toda a área do fogo foi iluminada por uma luz brilhante. Parecia que do céu desciam anjos e estávamos todos parados, sem nada a dizer. Um silêncio rompido pelo canto da fogueira. Ele sabia, ele sabia! Cantava e nos animava a cantar. Pediu para Robespierre que tinha vindo dos lobos dançar a dança de Kaa. Mas ouve uma hora que ele disse – Meus irmãos Escoteiros é hora de partir, não vou dizer que é mais que um até logo, não será mais que um breve adeus, minha missão era alertar vocês que não estão sozinhos. Existem milhões de planetas com muitas pessoas fazendo o bem. Vocês ainda não chegaram lá. Lembrem-se é como uma escola, a terra ainda tem muitas etapas para cumprir. É como se ela estivesse fazendo o primeiro grau. Impossível levá-la a estudar com aqueles que estão fazendo pós-graduação. Não iria entender nada.

            Mas fiz questão de estar aqui com vocês. Por quê? Porque vocês tem uma lei. Uma lei que se pode dizer existe em todo universo. Palavra de honra, lealdade, cortesia, irmandade, disciplina, alegria e puro nos pensamentos nas palavras e ações. Não existe nada mais lindo que isto. Conheci o Chefe de vocês que criou na terra o escotismo. Ele veio para isto, era sua missão. Obra do altíssimo. Estivemos juntos em um planeta distante. Ele já está subindo degraus para chegar bem perto “Dele”. Nosso Deus supremo. Poderia ter feito esta jornada de outra maneira, mas fiz questão de estar aqui. De todos os excelentes Escoteiros do mundo senti nesta tropa uma força muito diferente do que encontrei em minhas viagens siderais. Aqui vocês tem o amor no coração. Não vi ódio, não vi rancores. Vi coisas que dificilmente se poderia esperar de alguém que mora em um planeta como a terra.


             Chefe, oh! Chefe! Ele falou tantas coisas bonitas e antes da chegada do vento sul que começou a soprar calmamente ele partiu. Seu pensamento vibrava com o nosso. Ali só se falava de amor ao próximo, de ajuda ao próximo. De ser um bom Escoteiro, um bom filho e um bom aluno. Piegas Chefe? Pode até parecer, mas quando aquele menino Escoteiro das Estrelas veio ao nosso grupo pela primeira vez, já sabíamos que ali estava um espírito de luz, tanta luz que como ele disse, teríamos que estudar muito e crescer além da imaginação para chegar lá. Mas um dia, um dia iremos chegar!

sábado, 4 de janeiro de 2014

A paz que o vento nos traz.


Um poema Escoteiro.
A paz que o vento nos traz.

Não sei se sabes, não basta dizer que ama a natureza.
Não basta dizer que concorda com o que dizem,
Não. Tens a obrigação como Escoteiro
Falar aos seus irmãos no mundo inteiro,
Mas fale claro, com amor e com certeza.

Diga a eles de sua vida aventureira,
Que sua escolha não tem nada de ilógico,
Você não vive mais seu habitat tecnológico,
Pegue sua mochila e sua bandeira
Vá correr mundo conhecer lugares
Esqueça esta vida baladeira.

Prenda bem seu lenço no arganéu.
Pendure seu bornal e lá dentro seu farnel.
Vá onde o sol te levar até o infinito,
Descubra lugares que pra muitos é um mito.
Muito além de o Arco íris encontrarás o céu.

Dizem alguns que é um céu Escoteiro,
Mesmo com chuva é um céu de brigadeiro.
Tente achar o outro lado da montanha,
Quem sabe um pote de ouro você vai encontrar.
Dirás então para si mesmo, que seu sonho nunca vai se acabar.

Conte a todos por que agora não desiste mais:
“ diga que não foi ouro, não foi prata, muito menos o dinheiro”.
 “Foi à fibra, foi à raça, que te fez um escoteiro." ♫ ♫
Já brinquei de calças curtas lá no fundo do oceano,
Meu lenço eu amarrei nas noites mornas de outono.

Sei que você não esqueceu o tempo não apaga,
A velha frase que a diz um bom mateiro
Você sabe, acredita nisto, de ninguém tem magoa,
Uma vez Escoteiro sempre será um Escoteiro.
Você sabe que é um herói verdadeiro,

Não tens a força de Hércules filho da guerra,
Mas tem a força que só tem um Escoteiro,
Coloque sua mochila, um sorriso e parta ligeiro,
Levante sua bandeira, cante uma canção.
Rataplã agora, Rataplã sempre, Rataplã no coração.

Avante Escoteiro avante, e diga ao mundo inteiro,
Que você é um valente um herói Escoteiro,
E cantando vá dizendo a todo mundo,
“Que não foi ouro, não foi prata, muito menos o dinheiro”.
 “Foi à fibra, foi à raça, quem te fez um escoteiro." ♫ ♫
Ch.Osvaldo


Frase final de um autor desconhecido.