Lendas
Escoteiras
Jaquirana
a Cigarra dourada dos Montes Serrat.
(Uma
história para lobinhos).
Pela
estrada da vida, eu ouço o cantar,
Da
cigarra sabida, que soa no ar.
No pomar
florido, o som a enfeitar.
A luz do
colorido daquele gostoso lugar.
No verão,
ao entardecer sopra a brisa refrescante.
Anuncia o
anoitecer, com um canto delirante.
O canto
daquela cigarra traz saudade, recordação.
Tal qual
a fanfarra, em tempo de comemoração.
Aquele
inseto risonho, que vive a provocar,
Às vezes
com o canto tristonho que nos leva a meditar.
Ela, à
árvore, se agarra, para o seu som soltar.
Canta,
canta a cigarra até pelas costas estourar.
Tunin.
Dorothy estava encantada. O canto
lhe chamava para segui-la e ela não sabia onde ele estava. Parecia no galho do
Limoeiro alto, mas nada viu. Chamou Merlin para ajudar a procurar. Logo toda a
matilha verde vasculhava galho por galho e nada. O cantar continuava. Era lindo
como se fosse a História do Flautista de Hamelin que a Akelá Lavinia contou.
Toda a matilha procurava e desistiram com o grito de “Lobo, Lobo, Lobo” da
Bagheera. Dorothy pensou em não ir. Ela não queria sair dali, o canto era
extraordinário. Quem cantava assim? Ela nunca tinha ouvido e ninguém nunca lhe
falara sobre ele. Jovi o Balu veio ao seu encontro. - Está na hora Dorothy. Não
ouviu o chamado da Akelá? Ela relutante o seguiu. O canto parecia segurá-la,
mas ela obedeceu ao Balu. Afinal ensinaram para ela muitas coisas, mas ela
sabia que uma boa lobinha ouvia sempre os Velhos Lobos.
Não prestou atenção a história de
Bagheera. O acantonamento que faziam no Monte Serrat sempre fora para ela uma
aventura a parte. Adorava mas agora o canto não saia de sua mente. Naquela
noite parecia que o canto das cigarras não parava. Quando todos foram dormir
ela ficou acordada por muito tempo. Ela pensou que uma cigarra a chamava.
Levantou de mansinho e na janela viu uma linda cigarra dourada. Psiu! Ela
chamou. Dorothy na sua ingenuidade sorriu e saiu de mansinho pela porta. Na
varanda a cigarra a esperava. Ambas sorriam. – Você gosta da gente? Perguntou a
cigarra. – Adoro vocês e amo o canto que vocês cantam! Disse Dorothy. Olhe eu
me chamo Jaquirana, será que eu posso lhe contar uma história? Adoro histórias
pode sim. Então vamos lá, vou contar para você uma história que minha família
conta a gerações e dizem que começou com meu tataravô, uma cigarra muito sábia
e inteligente. Preste atenção:
- Era uma
vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque sem se preocupar
com o futuro. Esbarrando em uma formiguinha que carregava uma folha pesada ela
perguntou - Ei, formiguinha, para que
todo esse trabalho? O Verão é para a gente se divertir! – Não, não e não! Nós
formigas não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar
comida para o inverno! O tempo foi passando e durante o verão a cigarra
continuou se divertindo e passeando por todo o bosque. Quando tinha fome, era
só pegar uma folha e comer.
- Um belo
dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha. A Cigarra
então aconselhou: - Deixa esse trabalho para as outras sua boba! Vamos nos
divertir. Vamos formiguinha cantar e dançar! A formiguinha gostou da sugestão.
Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver
também como sua amiga. Mas no dia seguinte, apareceu à rainha do formigueiro e,
ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho.
Tinha terminado a vidinha boa. A rainha das formigas falou então para a
cigarra: - Se não mudar de vida minha amiga, no inverno você há de se
arrepender. Vai passar fome e frio.
- A Cigarra nem ligou, fez uma reverência para
a rainha e comentou: - Hum! O inverno está longe querida! – Para a cigarra o
que importava era aproveitar a vida e aproveitar o hoje sem pensar no amanhã.
Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo!
Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu
corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da
formiga. Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente à cigarra quase morta de
frio. Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa quente e deliciosa.
Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse a cigarra: - No mundo
das formigas, todas trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu
dever. Agora toque e cante para nós.
- Para a
cigarra e para as formigas, aquele foi o inverno mais feliz de suas vidas! Dorothy de olhos arregalados
não sabia o que dizer. Achou a história linda. Ela que gostava de passear e
nunca ajudava sua mãe agora seria diferente. Sempre reclamou da escola, dos
seus deveres religiosos. Foi dormir contente e no dia seguinte contou a
história para toda a Alcateia, que bateu palmas e queriam conhecer Jaquirana a
cigarra. Dorothy olhou e mostrou no galho do abacateiro ela, uma linda cigarra
que sorrindo se pôs a cantar:
¶Cigarra cor de mel. Extraordinária! Cigarra! Quem me dera
Que eu fosse um velho cedro adusto e bronco, E tu, nessa alegria tumultuária,
Viesses pousar sobre o meu tronco Ainda tonta do sol da primavera¶.
(esta
história no final é baseada no conto A Cigarra e a Formiga adaptada da obra de
La Fontaine).
Hora de
dormir. A noite chegou e já desponta a madrugada. Belos tempos acordar com a
brisa molhada e o sol nascendo. Vou sonhar que amanhã assim será minha alvorada
e de todos vocês! Boa noite!