No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Tributo a Bandeira do Brasil.



Lendas escoteiras.
Tributo a Bandeira do Brasil.

                  Ele me pediu para ficar em of. Pedido feito pedido aceito. Entendi sua posição. Achou que poderia ser ridicularizado pelos amigos do grupo Escoteiro. Mas em sabia que o que ele me dizia era verdade. Minha experiência de pseudo-escritor sobre escotismo me mostram situações inusitadas e ouvir vozes impossíveis era comum para mim. Sua narrativa era fantástica. Começou a me contar de cabeça baixa terminou com ela erguida, como se tivesse prestado uma homenagem a um pedaço de pano que para alguns não tinham valor, mas para ele era sempre foi sagrado. Vamos lá ao seu relato.

                 - Chefe, eu não costumo jurar, tenho palavra e a palavra de Escoteiro para mim vale minha honra. Eu estava na sede Escoteira. Arrumando em um armário, um emaranhado de cordas que na chegada do acampamento foram deixadas lá de qualquer jeito. Qual não foi minha surpresa que vi duas pessoas conversando. Duas pessoas? Pode rir Chefe, mas eram duas Bandeiras do Brasil. Elas estavam em cima da mesa de reuniões. Pelo que eu soube uma seria aposentada, pois estava muito velha e desbotada. Havia mais de 46 anos que estava conosco. Desde os primórdios em que o grupo foi organizado. A outra era nova. Iria substituir à velha. A principio eu achei que estava vendo e ouvindo coisas, mas não. Vou tentar contar o que aconteceu. – As duas estavam falando! Isto mesmo, conversando chefe! Duas bandeiras? Poderá me dizer. Mas é verdade. A velha dizia para a nova:

- Bem vinda minha amiga, não sabe como me alegro em conhecer você. Sabe, estou aqui há 46 anos, quinze dias e cinco horas. – Riu baixinho. Mas acho que tenho de aposentar e a Diretoria então comprou você. Eu sei que existe uma cerimonia muito bonita, que quando se aposenta uma Bandeira do Brasil, ela tem honras militares, é colocada em uma pira que junto com outras é queimada. Dizem que lá estão vários batalhões de soldados prestando homenagem. Mas quis os nossos diretores e chefes que eu devia ficar em um belo quadro de vidro na sala de recepção, pois tinham por mim muito amor e muita consideração. A bandeira velha deu um suspiro e continuou – Eu também amo todos eles. Vou lhe contar minha nova amiga, algumas lindas passagens que tive com eles. Acho que sempre me senti amada. A primeira foi uma lobinha, Cecília, ela sempre me olhava com carinho. Quando eu era içada ela fazia a saudação com orgulho. Não tirava os olhos de mim. Um dia no acantonamento, quando após o jantar alguns ficaram sem fazer nada, ela me pegou na mesa da Akelá e me levou até uma árvore. Lá com uma cordinha me amarrou e depois me abraçou-me e disse: Bandeira do Brasil, eu te amo. Quero que saiba que tenho orgulho de você. E então seus olhos se encheram de lágrimas e ela me beijou. Minha amiga, que emoção. Demais para mim.

- Depois foi em um acampamento Sênior. Eles e as guias foram acampar no Pico do Itatiaia. Procuraram a parte mais alta. Quando chegaram viram que não tinha onde hastear a bandeira. Eram só pedras. A vista era linda, mas se eu não farfalhasse ao vento naquelas alturas eles não se sentiriam realizados. Dois seniores desceram quatro quilômetros correndo e acharam uma vara enorme de oito metros. Serra acima levaram o mastro.  Entre dois vãos de pedras e outras soltas, firmaram o mastro e me hastearam. Que felicidade amiga. Ver o vento me balançando nas alturas foi demais. E a vista? Maravilhosa! Confesso que chorei de novo de emoção. E então minha amiga, aconteceu um fato que nunca mais esqueci. Aquele sim foi demais para qualquer Bandeira do Brasil. Estava arvorada em um acampamento Escoteiro, e eles jogando um jogo gostoso em volta do campo. Um redemoinho de vento me pegou. Soltou-me da arvore, e fui levado a grandes altitudes. Eles viram e o Chefe gritou: - É nossa bandeira! Salvem-na, não deixem que o vento a leve! – E a escoteirada correu atrás de mim. O ribombar de trovões, raios enormes começaram a cair em redor. Outro vento enorme e a chuva me pegou de jeito. Mas lá embaixo estavam os valorosos escoteiros. Não desistiam. Sempre atrás de mim.

- Vi um escoteiro cair, sua perna sangrando e ele não desistiu. Vi outro molhado, tossindo a chuva caindo aos borbotões e ele não parava. Molhada, cai em cima de uma árvore altíssima. Ninguém desistiu. Um escoteirinho lépido subiu a árvore com dificuldade, pois chovendo e os galhos e os troncos molhados dificultavam. Ele me alcançou. Abraçou-me. Beijou-me. Colocou-me embaixo de sua camisa. Que honra minha amiga, como eles me amavam. Foi uma festa quando cheguei ao acampamento. Todos cantavam com alegria e o Chefe pediu que ficassem em posição de sentido e cantaram com orgulho o meu hino, o hino da Bandeira do Brasil! Nunca esqueci aquele dia. Houve centenas deles minha amiga. Centenas. Agora estou aposentando. Sua vez vai chegar, vais ver como os escoteiros amam sua pátria, sua bandeira. Vais ver quando for hasteada e o vento lhe acariciar e todos vendo você farfalhando no ar, irás sentir orgulho. De saber como é amada por eles!

                      O meu narrador parou. Estava chorando. De orgulho é claro pelo que viu e ouviu. E encerrou dizendo – Sabe Chefe, era eu que iria fechar a sede naquela noite. Fui até as duas bandeiras. Abracei as duas. Apertei em meu coração. Coloquei ambas na mesa desta vez aberta. Fiquei em posição de sentido. Cantei o hino da Bandeira, disse Sempre Alerta as duas com orgulho. Dobrei as duas com as honras que ela mereciam e fui embora. Hoje a velha bandeira mora em um belo quadro de vidro na sede. Todo dia que vou lá, fico em posição de sentido olho para ela, e com amor eu digo. Amo você Bandeira do Brasil. Faço minha saudação Escoteira e bem alto digo – Sempre Alerta!


                     Vi que ele não diria mais nada. Sua voz estava embargada de emoção. Dei nele um abraço e disse – Meu jovem amigo parabéns. Você é como eu, como todos nós escoteiros. Temos amor a nossa pátria. A nossa bandeira. Sei como se sente. Sei como sente todos escoteiros de todo o mundo que amam sua bandeira. Aceite meu abraço com amor e orgulho em te conhecer. Ele saiu e fiquei pensando. Pensei muito. Difícil explicar a emoção que sentimos no hastear e arriar a bandeira do Brasil. Ainda bem que temos isto. Amar a bandeira é amar nossa nação. É nestas horas que digo e repito, me orgulho de ser Escoteiro. Serei Escoteiro para sempre!             

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.


Lendas Escoteiras.
O Papagaio verde esmeralda do Capitão Lockhart.

                 Calma. Nada a ver com o filme de Anthony Mann, Um Certo Capitão Lockhart. Mas Dona Etelvina assistiu ao filme e batizou seu filho como Capitão Lockhart. A princípio o tabelião se recusou, mas Dona Etelvina foi dura e enfática. Tem de ser este ou não será nenhum. Capitão Lockhart ficou conhecido na cidade de Pedra Roxa. A principio só curiosidade depois ninguém ligava mais. Na escola era bom aluno e todos os colegas gostavam dele por ser prestativo e educado. Capitão Lockhart tinha duas paixões. Papagaios (pipas) e escotismo. Quando fez sete anos lá estava ele se matriculando como lobinho. Não sabia que precisa de sua mãe para isto. Ela foi. Seu pai foi pracinha e morreu na Batalha de Monte Castelo quando ele ainda estava hibernando na barriga de sua mãe.

               Capitão Lockhart fazia papagaios como ninguém. Nos campeonatos anuais na cidade de Pedra Roxa quando não ganhava ficava em segundo. Cada ano mais ele se aprimorava. Sabia escolher o melhor bambu para as varetas, ele mesmo fazia a cola em sua casa usando limão galego, comprou uma tesoura sem ponta e usava sua régua e caneta da escola. Na Casa Ultimato, onde vendiam papeis de seda ela ficava horas escolhendo. Sempre tinha cinco ou seis carreteis de linha dez de reserva. Capitão Lockhart chegava da escola, fazia suas tarefas e a tarde ia até a colina do Morto Enterrado. Lá soltava seus papagaios analisando o peso, a força do vento, as linhadas, tudo para que não perdesse nada na hora de um bom campeonato.

             Capitão Lockhart era da Patrulha Corvo. Seu Monitor Nininho era meio mandão, mas todos gostavam dele. As quintas feiras a Patrulha se reunia na sede, onde eram passadas as provas para cada um. A Patrulha tinha dois primeiras classes, três segundas (inclusive Capitão Lockhart) e dois noviços. Ziri era um deles. Quiseram apelidá-lo de Polegar, mas alguém achou melhor Ziri. Esqueceram que seria Siri e não Ziri. Mas apelido posto só sai morto. Aos sábados o Chefe Martinho não dava folga. Cobrava dos Monitores, cobrava dos subs, cobrava de todo mundo. Capitão Lockhart amava tudo aquilo. A tropa vivia acampando, fazendo excursões, e varias vezes ao ano ele o Chefe deixava as Patrulhas acamparem sozinhas, principalmente em acampamentos volantes bem planejados.

              Em novembro a prefeitura estava programando a primeira Olimpíada do Papagaio de Pedra Roxa. Capitão Lockhart soube que o premio seria de dois mil reais. Precisava ganhar este prêmio. Prometera dar o uniforme e o equipamento de campo ao Ziri, pois ele estava com cinco meses e ainda não conseguiu ter o suficiente para fazer e comprar. Promessa é promessa e o Capitão Lockhart não podia fraquejar. O dia chegou. Capitão Lockhart sabia das regras das Olimpíadas. Usar dois carreteis de linha dez com cento e cinquenta metros cada um, o papagaio tinha de puxar toda a linha, (os fiscais iriam olhar na manivela), ficar duas horas no ar e ganhava em primeiro lugar aquela com mais pingos de chuva no papel de seda. Tudo bem. Não era segredo para o Capitão Lockhart.

               O dia chegou. A cidade em peso lá. Mais de duzentos competidores. Capitão Lockhart fizera uma pipa de bom tamanho, mais ou menos oitenta por quarenta, passara quinze dias preparando as varetas, cortou o papel de seda harmoniosamente sem pontas e para montar seu papagaio ficou dois dias ali debruçado na sua mesinha que sua mãe lhe dera de presente. Às nove da manhã se encontrou com a Patrulha. Estavam todos uniformizados. Várias outras patrulhas, lobinhos, seniores e os pioneiros também lá estavam. O Chefe Martinho tinha orgulho do Capitão Lockhart. Adorava o menino. Ele era viúvo e namorava dona Etelvina a mãe do Capitão Lockhart. Nada contra. Eram um belo casal e juntos também foram assistir a vitória ou derrota do Capitão Lockhart.
   
              Não vou entrar em detalhes, mas foi uma disputa renhida. No final ficaram oito competidores. Passado às duas horas foi dado à ordem de descer os papagaios. Um por um foram chegando. O povo todo se amontoando para ver qual estava marcado com pingos de chuva. A do Capitão Lockhart tinha oito pingos. A do Murilo da Birosca do Pedro Mocho (bar) tinha oito também. E agora? Mais trinta minutos no ar. Então após veriam o provável vencedor. Não podia haver empates. Foi emocionante! Muito mesmo. Um frenesi no ar e em terra. Uma torcida vibrante. Os escoteiros pulando e gritando. Terminou o tempo. As pipas desceram. Capitão Lockhart ganhou com mais dois pingos. A do Murilo só um. Foi carregado entre a multidão.


                      No sábado no cerimonial de bandeira, o Chefe Martinho fez uma entrega de um certificado de mérito ao Capitão Lockhart não só por ter representado o grupo nas olimpíadas, como também pelo seu belo gesto em dar ao Escoteiro Ziri um uniforme completo, um cantil, uma faca Escoteira, uma bússola e um cabo trançado de dez metros. A tropa saiu de forma. Os sêniores também. Os lobinhos se juntaram a algazarra. Abraçavam e beijavam o Capitão Lockhart. Uma apoteose que nunca tinham visto nada igual. Soube que meses depois o Chefe Martinho casou com dona Etelvina. Dizem que viveram felizes para sempre. Agora me disseram por fontes fidedignas e não posso garantir que o Capitão Lockhart foi reconhecido como o maior soltador de papagaios do Brasil e esteve em diversos campeonatos no “estrangeiro”. Verdade ou não ele apareceu na TV e em duas revistas o Cruzeiro e a Manchete. Que ele seja feliz com sua gostosa habilidade. E quem quiser que conte dois! Risos.   

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Amigo, que surpresa, você é Escoteiro? - Não diga!



Publiquei aqui diversas vezes, mas quem sabe você não leu?
Amigo, que surpresa, você é Escoteiro? - Não diga!

Ah! Meu amigo e como sou. Nem imaginas o meu orgulho em ser um destes milhões que moram neste mundão de Deus. Sabe meu amigo, no escotismo estou aprendendo a ser alguém responsável para que todos que me amam possam um dia orgulhar. Ali junto aos meus amigos eu aprendo que o caráter é importante em cada um de nós. Que ser leal é ponto de honra, e minha palavra? Sim é sagrada. Estou aprendendo que a honra faz parte dos honestos. Que a ética é mais que tudo. Aprendo tantas coisas que cada dia que passa mais eu me orgulho de pertencer a este movimento maravilhoso.

Eu sei que você não sabe, mas são tantas coisas maravilhosas que acontecem comigo, que hoje sei que a felicidade pode ser alcançada e eu a já a alcancei. Sou um privilegiado por Deus em estar aqui. Saiba meu querido amigo que eu já vi um céu cheio de estrelas brilhantes, deitado na relva, em volta de uma fogueira com muitos amigos e amigas do escotismo. Ali vi as constelações, um cometa que passando e deixando um raio de luz no espaço sideral, uma lua enorme suspensa no céu. E é isto meu amigo que mais e mais me leva a certeza que o escoteiro é puro nos seus pensamentos, nas suas palavras e nas suas ações.

Eu gostaria que um dia você pudesse junto comigo dormir sob as estrelas! Fazer delas sua barraca. Ver o nascer do sol e ver ele se pôr ainda vermelho no horizonte deixando uma marca profunda em nossos corações. Quem sabe um dia vai poder comigo saborear o cheiro da terra molhada, do perfume das flores silvestres, do som maravilhoso da passarada, do piar da coruja em um carvalho qualquer. Quem sabe um dia você vais poder beber a água límpida de uma nascente que corre na terra e em sua viagem irá refrescar terras e animais até que um dia vai alcançar o mar. Quem sabe você vai poder ver o lenho crepitando em uma bela fogueira onde todos riem, cantam e com seus olhos esperançosos vão vendo as fagulhas subirem aos céus, languidas e serenas até que a aragem leva-as para longe daquela clareira cheia de vida.

Meu amigo pode acreditar, é lindo e fabuloso ser do movimento escoteiro. Acho que é um privilégio de poucos e sinceramente? Poderia ser o privilégio de muitos. Quando vejo a chuva caindo em uma floresta, ouço o som imperdível aos ouvidos de um velho mateiro. Sei que você não sabe que temos uma ternura imensa com a natureza. Para nós é fácil encontrar o Norte e o Sul, seguir a sota-vento, barlavento ou encontrar o caminho a sudoeste. Nem imaginas o que é sentir o vento no rosto, descobrir as flores desabrochando em campinas verdejante. Eu gostaria que você soubesse como é gostoso podemos tirar o calçado e molhar os pés nas águas geladas de um gostoso riacho. Poder sentar e tirar uma soneca embaixo de uma grande e frondosa árvore e olhar em volta com os olhos vibrantes às cores do céu, do mar, das montanhas onde o sol se põe. Poder ver e sentir o cheiro da relva ver o vento que sopra com amor, fazendo ondas no capim verde daquelas campinas verdejantes em vales floridos. Meu amigo, você nem imagina a maravilha que é chegar ao cume de uma montanha e ver o horizonte! Um espetáculo imperdível meu amigo!

Mas olhe, não sei se terá a oportunidade de ter o que temos. É preciso acreditar. É preciso ter fé e coragem. Aqui aprendemos que o medo é próprio dos fracos. Temos como Escoteiros a obrigação de ajudar a todos indistintamente e ter força de vontade e amor para conviver em uma vida saudável junto dos demais irmãos escoteiros. Mas saiba, se um dia quiser, quem sabe, você pode até entrar em um Grupo Escoteiro. No entanto não se esqueça, e preste muita atenção. Qualquer um pode entrar, mas é importante saber que ser escoteiro não é para qualquer um!

Se um dia tomar a decisão e resolver mesmo, seja bem vindo. Vou lhe esperar de braços abertos. E aí então você sem sombra de dúvida será mais um irmão de tantos milhões espalhados pelo mundo. E quando for, vai saber que o nosso fundador Lord Baden-Powell disse algumas palavras para os novos e que marcam em cada um de nós. – Ele assim o disse um dia - Saiba você meu jovem se quiser Escoteiro, saiba que somente os valentes entre os valentes se saúdam com a mão esquerda. E se aceitar o desafio você pode acreditar que será muito bem recebido, pois nós escoteiros somos amigos de todos e irmão dos demais escoteiros.

E quando for um de nós aceite o desafio, tão simples que vai marcar você por toda a vida. Assim coloque sua mochila e seu farnel, pegue seu cantil, leve seu canivete Escoteiro, vista com orgulho seu uniforme escoteiro, agora levante sua bandeira, cante uma canção, grite seu grito de guerra e parta conosco nesta bela aventura!

Chefe Osvaldo. 

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Quem vem lá? Sou eu amigo. Um Velho Escoteiro que saiu da gaiola e aprendeu a voar.



Quem vem lá?
Sou eu amigo. Um Velho Escoteiro que saiu da gaiola e aprendeu a voar.

Não acreditava, mas minhas asas ainda bateram incessante no céu azul e mais uma vez neste ano com a ajuda do vento lá fui eu novamente em plagas nunca antes conhecidas. Duas vezes? Isto mesmo, duas vezes. A primeira eu fui respirar um ar perfeito no campo escola. Na segunda comecei a ter medo. Medo? Um Velho Escoteiro como eu que voou em plagas distantes neste Brasil Gigante, enfrentou tempestades, vendavais e rajadas de ventos incríveis em altas montanhas e ter medo? Tinha de pensar. Não tinha mais aquela vivacidade de outrora, agora teria de ser precavido. Afinal apesar de Dédalo ter orientado seu filho que não voasse tão alto eu não iria seguir os mesmos passos. Segui o conselho dele a risca. Se voasse muito alto os raios solares poderiam facilmente derreter a cera que segurava as penas presas em minhas asas e eu poderia despencar no mar violento. Meu nobre piloto Geraldo me mostrou como sobrevoar a seara do Falcão Pelegrino. Fácil Chefe. Mesmo com este sol escaldante ele me levou no céu de brigadeiro até lá.

Valeu outra vez. Valeu a minha coragem de deixar minha gaiola onde tenho tudo as mãos e voltar de novo a cumprimentar mãos de autênticos Escoteiros, sorrir de novo junto a lobinhos e lobinhas. São coisas estranhas para quem hoje não vive mais no ninho. Só a gente que viveu sabe como é bom um sorriso sincero, uma alegria autêntica, uma recepção fantástica que me levou sem pensar ao meu passado de regional. Cada cidade das minhas Minas Gerais agora vinha na lembrança novamente. Desta vez autenticada por perfeitos cavalheiros Escoteiros. Fiquei ali pensando o quanto eu escrevi, quanto falei em meus contos impossíveis, em meus artigos ferinos e eis que do nada surge assim como a estalar dos dedos tudo que pensava não mais encontrar. Um sorriso franco um escotismo autêntico de valentes chefes, pais, colaboradores que lutam para manter mais de cento e quarenta jovens no mais alto padrão Escoteiro.

Um Velho Escoteiro como eu sabe como é. Num piscar é como se fosse um filme deste a fundação de um Grupo Escoteiro. Um olhar, um aperto de mão um sorriso um líder que sabe ser liderado não anda por aí facilmente. Eu sabia que estava em casa. Via com meus próprios olhos a simplicidade em pessoa na figura de um Chefe simples, amigo, cavalheiro que não dirigia com mão de ferro, mas com um sorriso simples um piscar de olhos ou até um elogio gostoso. Um irmão mais Velho e nunca um ditador de ordens. Uma sincronização perfeita. Todos colaborando. Do menor lobinho ou lobinha aos velhos Escoteiros que lá viveram nas asas do falcão do passado. Lembrei-me de um comentário de um dirigente que os jovens de hoje querem coisas novas. Não gostam do nosso uniforme. Um dos motivos por eles não se aproximarem do escotismo. E aí meu Chefe! Isto acontece aqui? – Resposta adorável - Nunca, temos uma lista enorme de interessados e o caqui ainda vai morar aqui muito tempo. Ninguém comenta e nem vamos discutir se devemos ou não mudar. Nesta hora senti que uma enorme palma escoteira surgiu estrondosamente em meu coração.

Coisa bonita de se ver. Falcões indo e vindo. Todos bem uniformizados. Afinal não era fácil manter duas alcateias. Uma tropa masculina e outra feminina. Uma sênior e uma de guias e mais não sei quantos pioneiros. São quarenta chefes! Quarenta? E a diretoria já pensa em aumentar as sessões e adultos na liderança. Não quis bater tanta palma assim. Afinal só estava lá há uma hora. Olhando tudo aquilo junto a uma simpática Chefe de outro Grupo Escoteiro e o meu piloto de Boeing que não se negou a me ensinar a voar com asas de cera. Um dos responsáveis de tudo aquilo. Fiquei meditando. Para que mudar tanto como nossos dirigentes fazem? Ali estava à prova viva que quando se quer se faz. Aquele escotismo autêntico. – Todos registrados chefe! Nunca deixamos de participar de um Jamboree desde que começamos, os interessados quatro anos antes já estão em campanha. E olhe que cada sessão pelo menos acampa ou acantona quatro ou cinco vezes por ano. Os Escoteiros e seniores muito mais. Fechei os olhos e abri olhando diretamente no céu azul e tentei avistar tudo isto do Oiapoque ao Chuí. Ainda bem que não me decepcionei. Lá estavam ainda dezenas de grupos assim, mas não era a maioria. Lembrei-me de um artigo que fiz dizendo sobre formadores: Quem sabe fazer a massa sabe fazer o pão. Ali estavam chefes competentes que sabiam como fazer e não eram formadores.

Não havia como duvidar. A festividade era perfeita. Uma sincronização perfeita. Ninguém gritando faça isto ou faça aquilo. Grandes sim em número e muito maior em percorrer com maestria o Caminho para o Sucesso. Escotismo perfeito, remadas bem dadas no mar azul do atlântico e uma formação que sabia por experiência própria e sem sombra de duvida daria como está dando frutos. Será que os dirigentes (conheço alguns que sim) sabem fazer a massa e o pão? Ou só ouviram falar? Lá vou eu esta simpatia de Velho Escoteiro a cozinhar meus velhos amigos da corte. Não aprendi outra coisa? Risos. - Geraldo! Hora de voar. Rosangela prazer em conhecê-la. George Hirata orgulhoso em ter conhecido você pessoalmente e seu maravilhoso Grupo Escoteiro Falcão Peregrino. Parti com um simples aceno. Não houve adeus, nem um até logo. Ouve sim um olhar de amigos que se diziam sem falar que seriam amigos para sempre. Uma amizade que iria existir no coração de cada um.


E lá fui eu com minhas asas de cera, magnificamente pilotado por Geraldo de volta a minha gaiola. Quando irei voar novamente? Não sei. Não posso facilitar. As coisas não são tão simples para este Velho Escoteiro. Se facilitar minha asas de cera podem derreter. Um último olhar na sede do Grupo, fincada no coração de um bairro nobre, mas cuja nobreza fica do lado de fora. Quando se adentra naquele maravilhoso mundo dos Escoteiros só existe fraternidade. Até breve! E meu Anrê a todos que ali conheci. Guardei minhas asas de cera. Esperar uma nova oportunidade. Dosando o bater de asas poderei ir longe. Ate quando? Não sei. Só Ele lá no alto pode saber.

sábado, 9 de novembro de 2013

Minha, nossa, tua admirável Vovó Guiomar.



Conversa ao pé do fogo.
Minha, nossa, tua admirável Vovó Guiomar.

Ela não foi e nem era minha avó consanguínea. De nenhum dos Escoteiros. Assim como eu todos nós a chamávamos de Vovó e tínhamos por ela um amor todo especial. Acho que foi a Vovó com mais netos no mundo. Idade? Ela dizia ter 82 anos quando cheguei ao Grupo. Nunca esqueci aqueles sábados deliciosos que ela estava conosco sorrindo, cantando, brincando e tentando ser séria no cerimonial de bandeira, mas com um sorriso brejeiro. Disseram-me um dia que no passado ela acampava ia aos acantonamentos, viajava com a tropa e me garantiram que quando pediram a sede no Grupo Escolar Pedro de Matos ela foi sozinha no palácio do Governador para pedir que cancelassem a ordem. Não quiseram deixá-la entrar e ela ficou ali na porta sentada no meio fio por um dia inteiro. Teve insolação e depois de medicada quiseram levá-la para casa. – Não sem antes falar com o Governador ela disse. – Um assessor se prontificou e ela agradeceu, mas o assunto era com o governador. – Mocinho, eu votei nele e ele não pode me receber? – Doutor Morato o Governador assustou quando soube e deu belas risadas. Foi lá na antessala e deu nela um forte abraço. Claro aproveitou para fotos, pois a eleição estava próxima. A ordem foi cancelada e ganharam mais uma sala. A diretora que agiu assim foi demitida. Vovó Guiomar não gostou e de novo voltou ao Governador. Agora entrava direito. A demissão foi revogada.

Interessante que ela se tornou um de nós e a gente nem prestava mais atenção nela. Mas quando faltava era aquela preocupação e lá íamos nós após as reuniões em grupos a casa dela preocupados. Sei que morava só. Sei também que sempre foi solteira e no passado distante namorou um Chefe de nome Castor. Um dia foi achado boiando no rio Santissimo. Ninguém soube por que morreu. Vovó Guiomar não chorou. Ficou dias pranteando seu amado no Cemitério das Flores. Meses depois voltava lá uma vez por mês fato que até hoje/ontem se repete. Se aquele que amei não foi meu eu não serei de mais ninguém. Ela ria e dizia – Eu casei com o Escotismo. Baden-Powell foi meu padrinho! Era uma pândega e a gente nunca a viu chorar. Se um Chefe faltasse lá estava ela para substituir. Nunca fez nenhum curso e todos sentavam em sua volta e ela fazia um campeonato de piadas. Gostosas piadas. Ela era mestre e sabia contar cada uma que coravam a gente, mas a risada vinha naturalmente sem malícia.

Faltou barraca? Faltou facão? Faltou talheres? Faltou material para os lobos? – Quero a lista ela dizia. No dia seguinte o comércio local tinha de aguentar seus pedidos.  Não perdoava nem mesmo os supermercados com a lista de mantimentos para os acampamentos. Nunca aceitava sair de mão abanando. Ela resolvia tudo. Um dia um Chefe novato resolveu fazer uma diretoria. Não a consultou. Os novos diretores assumiram e nem ligaram mais para ela. Ficava no pátio se sentindo rejeitada. O dinheiro do grupo escasseou. Não tinha mais para comprar materiais. Ela não mais sorria. Sempre com uma cadeira que pegava na sede e na sombra da aroeira sentava como se estivesse cochilando. No conselho de chefes falaram sobre ela. Ela não merecia o que estava acontecendo. – Se não fosse ela não seriamos o que somos hoje – Disse a Akelá Naninha. Reverteram tudo. Disseram a ela que seria a Presidenta. Mandava agora na diretoria. Muitos não quiseram e pediram demissão. O grupo voltou ao normal.

Uma tarde alguém veio avisar que ela tremia. De olhos abertos sorria e tremia. Ninguém sabia o que era. Não reconhecia ninguém. O Chefe Damásio levou-a ao pronto socorro. Ainda sem exames completos diagnosticaram como Mal de Alzheimer. Sua memória começou a falhar, ficava desorientada para voltar para casa, mesmo indo ao grupo se sentia desinteressada, e em alguns momentos ficava agressiva e desagradável. O Hospital marcou o dia para levá-la a uma casa de repouso especializada. Ela foi a contragosto. Todos os domingos a escoteirada corriam todos para lá. Ela aos sábados fugia e pedindo carona chegava ao Grupo Escoteiro sorrindo. Suas crises iam e vinham. Os enfermeiros já sabiam onde ela estava e ninguém deixava que a levassem enquanto não acabasse a reunião. Tentaram fazer um pedido de uma medalha de Gratidão Ouro e recusaram. 120 Escoteiros foram pessoalmente na Assembleia Regional e entraram no auditório pedindo a palavra. Aprovaram a medalha. Foi entregue em um sábado de sol, ela em uma cadeira de rodas com dois enfermeiros no cerimonial de bandeira. Havia neste dia mais de quinhentas pessoas presentes. Antigos Escoteiros do grupo acorreram de todas as partes. A palma escoteira dizem que em tempo algum será a mesma.

Morreu quatro anos depois. Estava irreconhecivel. Nas suas exéquias milhares de antigos Escoteiros presentes. Lorentino morava no Japão e quase não chegou a tempo. Zeca e Bambocha estavam no Suriname e alugaram um jatinho. Centenas de milhares de pessoas emocionadas e lágrimas caiam sobre a terra do campo santo. Zé Arrebol levou seu clarim e tocou o mais lindo toque do silêncio de todos os tempos. A canção da despedida com milhares cantando foi em determinados momentos silenciosa. Seres humanos engasgados choravam e cantavam baixinho. Contaram-me que todas as tardes milhares de borboletas invadiam o seu tumulo por muitos anos. O enterro foi às cinco da tarde, mas às onze da noite guardas de patrulhas escoteiras lá estavam prestando sua homenagem. Rio Pequeno nunca mais foi o mesmo. Mudaram o nome do grupo para Vovó Guiomar. Nos encontros, jamborees e Camporee e outras atividades riam quando se falava o nome do grupo. Mas eles não sabiam que no coração de cada um Vovó Guiomar fez sua morada. E sabiam quem ali era iria morar para sempre.

Nas minhas andanças por este país eu conheci em dezenas de grupos escoteiros muitas vovós Guiomar. Cada uma com seu estilo especial, mas sempre presente sem nunca deixar de fazer o bem sem olhar a quem. Não deixem que ela se vá para depois prestar uma linda homenagem. Afinal eu sei que todos sabem do seu valor.

“Minha Vovô escoteira, cada ruga tua representa uma história vivida. E são tantas... Quantas experiências, quantas histórias para contar, quantos conselhos para dar, quanta paciência para nos suportar... Te amamos, vovó”!

sábado, 2 de novembro de 2013

O Chefe Escoteiro de lua Verde.



Lendas escoteiras.
O Chefe Escoteiro de lua Verde.

                     Três patrulhas. A quarta só no ano seguinte. Tropa nova, com menos de seis meses de atividade. O Chefe Galício era novo, menos de vinte e três anos. Resolveu um dia ser Escoteiro. Nunca foi. Achou nos guardados do seu pai um livro chamado Escotismo Para Rapazes de Baden Powell o fundador. Leu em uma noite. Gostou. Seu pai quase não falava. Vivia em uma cadeira de rodas. A mãe morrera há anos. Ele arrimo da família. Sempre pensou em ir embora de Lua Verde. Só conseguiu terminar o segundo grau. Cidade pequena, menos de dez mil habitantes. Sem perspectivas de crescimento profissional. Não podia deixar seu pai. Para sobreviverem ele montou uma quitanda. Pequena. Na frente de sua casa para não pagar aluguel. Algumas verduras, frutas, doces, e quando pode comprar uma geladeira, refrigerantes e algumas guloseimas geladas. Dava para seguir adiante a cada mês. O “fiado” era a parte mais difícil. Como negar ao Seu Romerildo? A Dona Eufrásia e a tantos outros? Eram como ele. Nem sabiam o que iam comer amanhã.

                    Depois que leu o livro o releu diversas vezes, pensou com seus botões. - Porque não ter uma tropa Escoteira? E assim fez. Mãos a obra. Convidar meninos foi fácil, a sede também não foi difícil. Ficaram num pequeno porão da Igreja Matriz. Mas Galício não entendia nada. Começou assim na raça, nem sabia que existia autorização, alguém responsável acima dele. Ele e os Raposas, os Tigres e os Leões eram os escoteiros mais felizes do mundo. Amigos, irmãos, juntos sempre. Quando os viam pela cidade a correr pelos campos, parecia um bando de meninos loucos a fazerem suas aventuras fantásticas. Galício adorava. Um dia recebeu uma carta. Era do Grande Chefe Escoteiro da Capital. O convidava para um curso. Todas as despesas pagas. Porque não ir? A quitanda deixou na mão de Quinzinho e Marquinho. Dois Monitores que sempre o ajudavam nos sábados quando a quitanda estava cheia.

                   Partiu de trem para a capital. Quinze horas de viagem. Na chegada se informou onde era o Zoológico. Pegou o bonde. Desceu no final e dai seguiu a pé. Eram mais seis quilômetros. Nada que assustasse Galício. Quando chegou viu muitos chefes. Bastante. Gostou do curso. Não gostou de alguns. Prepotentes, vaidosos, cheios de importância. Não era seu estilo. Aprendeu muito. Resolveu que deviam ter uma Alcatéia. Mas quem convidar? No trem quando retornava pensava a respeito. Uma jovem morena sentou ao seu lado. Galício teve duas namoradas. Pouco tempo com elas. Nunca pensou em casar. Novo. Agora com seu pai entrevado não tinha esse direito. Ela o olhou de cabeça baixa. Galício viu que chorava. – Por quê? Perguntou. Ela não respondeu. Acordou com ela dormindo em seu ombro. Reparou que era muito bonita, mas tinha o olhar envelhecido por uma vida de lutas.

                    Toda a viagem ela chorava. Galício insistiu. Ela nada dizia. Só disse que deveria ter morrido e Deus quis assim. Que seja. - Vai para onde? Sem destino respondia – Sem destino? Não tem amigos, parentes, nada? Não tenho. Quando chegou à estação de Lua Verde tinha resolvido. Desça comigo. Ficará uns dias em minha casa. Ela assustou – Descer? E sua família? Não se preocupe. Uns dias em Lua Verde você irá colocar a cabeça no lugar e saberá aonde ir e o que fazer. Ela desceu. A cidade inteira na janela vendo Galício e a bela morena. Quem era? Ele casou? Ele não disse nada. Sua vida continuou. Seu pai nem perguntou. Os escoteiros nada disseram. Sua vida mudou. Lena era uma mulher perfeita. Cuidava da casa. Fazia tudo. Seu pai tinha os olhos brilhando quando estava ao seu lado. A cidade inteira comentando. E a Tropa? Alguns pais querendo tirar os filhos. Os comentários não eram bons. Uma mulher da vida, só podia ser.

                   Galício resolveu casar com Lena. Ela disse não. Por quê? Você não tem ninguém. – Ela chorando disse que ia contar a verdade. Era mulher de vida na capital. Gostava de um soldado. Ele prometeu casar com ela. Morreu em tiroteio com bandidos. Chorou muito e o pior. Tinha AIDS. Sim, isto mesmo! Ainda em fase inicial.  Galício manteve seu pedido. Não importa. Quero você como minha mulher. Casaram-se na Igreja de São Judas Tadeu. Cerimônia simples. Ele uma vizinha e as três patrulhas escoteiras. Casou de uniforme. Ela feliz. Sorria. Viveram muitos anos. Lena se tornou Akelá. Os lobinhos adoravam sua Chefe. Galício e Lena nunca fizeram sexo. O amor dos dois eram diferentes. Lena morreu com quarenta e oito anos. Seu velório foi assistido por toda a cidade. Dizem que virou santa. Não sei. Mas seus lobinhos hoje homens feitos nunca esqueceram a Chefe que tiveram. Galício chorou por muitos anos. Morreu com sessenta e quatro anos.


                  Conheci ambos. Sempre quando vou a Lua Verde não deixo de fazer uma visita ao tumulo dos dois. Lado a lado. Escreveram uma lápide simples. Nem sei quem escreveu. – “Aqui jaz, dois amantes que nunca foram. Amaram o escotismo e com ele viverão para sempre no céu!”.