No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

sábado, 29 de março de 2014

As aventuras do escoteiro Maneco Detetive. História de hoje: - Operação Caça-fantasma II.


Lendas escoteiras.
As aventuras do escoteiro Maneco Detetive.
História de hoje: - Operação Caça-fantasma II.

        Maneco Detetive era o último da fila. Pudera, pois tinha seis meses como sub Monitor da Patrulha Tuiuiú. Ali era seu lugar certo. Todos gostavam dele na patrulha, mas o achavam meio avoado. Bem tinha alguns nas outras patrulhas que o achavam maluco. Maneco Detetive se empertigava todo na formatura. Afinal ele era um sub e há tempos deixou de ser o sub do sub. Ela cumpria bem sua função. De vez em quando era chamado para a Corte de Honra e para ele era uma honra em participar. Conseguiu depois de muita luta a Segunda Classe. Empinava o ombro esquerdo só para mostrar seu distintivo e suas especialidades. Estava com seis. Queria vinte, mas muitas delas precisavam da Primeira Classe e ele dizia a se mesmo – Espere, eu chego lá!

        Fora do escotismo ele se considerava um detetive. Na Biblioteca de Lagoa da Prata cidade onde morava ele leu muitos contos e sonhava em deslindar crimes, roubos, sequestros e se tornar famoso para todos da cidade e do país. Já pensou? Bem sonhar é bom, não custa nada, mas realizar o sonho é que difícil.  Maneco Detetive tinha quatro amores na vida. Seus pais, sua professora, o Grupo Escoteiro e a investigação diária. Esta ele fazia após as aulas e mesmo sabendo que na Cadeia Pública da cidade só prendiam baderneiros e bêbados seria difícil investigar alguma coisa. – Um dia vai acontecer, tenho certeza – dizia. Na sede durante as reuniões olhava tudo. Se tinha alguém Sempre Alerta na cidade era Maneco Detetive. O Chefe Onorico gostava muito dele. Agora vivia atrás para que ele criasse a especialidade de detetive e de Caça-fantasma. – Ele ria quando pensava nos pedidos de Maneco Detetive, mas sempre com um pé atrás.

      - Maneco! Chamou o Chefe Onorico. Que negócio é este de caça-fantasma? – Chefe, ontem quando fui cortar o cabelo na barbearia do Petrônio Perna Fina e ouvi uma história que me deixou “cabreiro”. O senhor conhece o Pintor Ludovico, e foi quem me contou. Dizia que na curva do Cavalo Doido, o senhor sabe aquela estrada que a gente vai para acampar na Grota da Cotovia. Dizia ele que lá na curva tem um fantasma que aparece após a meia noite. Sempre depois da meia noite. O Pintor Ludovico jurou que era o Fantasma do Coronel Juvêncio. Dono da Fazenda Pinto D’água. – Maneco, disse o Chefe – Deixa disso, não existem fantasmas – Mas Chefe, se eu conseguir falar com ele e provar o senhor me dá a Especialidade de Caçador de Fantasma? – Dizer o que?  Sem pensar o Chefe Onorico disse que sim. Depois se arrependeu, mas ele sabia que Maneco Detetive nunca iria encontrar um fantasma.

       Maneco Detetive convidou amigos da patrulha para ir com ele uma noite na curva do Cavalo Doido. Ninguém topou. Podia ser verdade e eles tinham um enorme medo de fantasmas. – Se não vai ninguém vai eu! Disse para si próprio. Sexta onze da noite Maneco Detetive deu no pé. Não avisou seus pais seus amigos, não avisou ninguém. Pegou seu cavalo de aço e partiu. Levou com ele sua faca, sua machadinha, e uma cordinha para amarrar o fantasma do Coronel se aparecesse. Medo? Claro que sim. Ele tremia feito uma vara verde, mas era insistente. Chegou lá perto das onze e meia. Noite sem lua e se não fosse sua lanterna e as estrelas ele não conseguiria enxergar nada. Encostou sua bicicleta em um canto e sentou a esperar. Era uma estradinha carroçável. Ligava sua cidade a muitas fazendas da região. Diziam que ali mataram muita gente ruim e boa. A pior morte foi do Coronel Juvêncio. Amarraram-no por baixo do cavalo e com as costas no chão. O cavalo saiu em desabalada carreira e ele sangrando por todo o corpo morreu pisoteado.

        Maneco Detetive esperou dar meia noite, meia noite e meia e desistiu. Achou bom, pois ver o Velho coronel a sua frente ele sabia que molharia suas calças como aconteceu outras vezes. Levantou para ir embora e sentiu uma mão em seu ombro. Que susto! Quase caiu desmaiado ao chão. A agua colorida correu perna abaixo. Ficou com medo de olhar para trás, mas se ele foi ali para saber tinha de fazer isto. Lá estava o coronel Juvêncio. Achou que ia vê-lo cheio de feridas, sangue em todo corpo, braços e pernas quebrada, mas não, o Coronel estava vestido com uma bata branca, sorrindo e ao seu lado uma senhora mais velha que ele de branco e com as mãos em seu ombro. Nem pensou duas vezes. Pegou seu cavalo de aço e saiu em desabalada carreira. Na reunião contou para sua patrulha. Ninguém acreditou e deram boas risadas. Desafiou o Monitor e os patrulheiros a voltarem lá com ele. Só Nonô Catixilda e Marinho Nariz longo aceitaram.

        De novo meia noite e meia, três Escoteiros medrosos na Curva do Cavalo Doido esperavam. Desta vez acharam que ele não iria aparecer e que seria desmascarada as invenções de Maneco Detetive. Quando se levantaram sentiram um calafrio. Calças foram molhadas. Na curva do Cavalo doido chegavam um a um os que ali foram assassinados. Pareciam Zumbis saindo de suas moradas no inferno. Ninguém soube explicar até hoje como conseguiram fazer o trajeto da Curva do Cavalo Doido até a cidade em meia hora. Sempre era uma hora. Desta vez a patrulha acreditou. A contra gosto Josué Orelhudo o Monitor não teve saída. A patrulha desta vez estaria presente com todos seus patrulheiros. Marinho Osso Fino que tinha dois meses de tropa e veio da Alcateia não queria ir de jeito nenhum. Mas o Monitor disse que eles eram um time, ou participavam todos ou nenhum.

         Meia noite, meia noite e meia e nada. Eles riram de Maneco Detetive e ao subir nas bicicletas viram chegando nada mais nada menos que o Joviano Pinta Silgo. Um Chefe Escoteiro que morreu afogado há mais de cinco anos. Todos lembravam-se dele por ser um Chefe de tirar o chapéu. Ele estava de uniforme e falou – Escoteiros, voltem para casa, não brinquem com alma do outro mundo. Esta turma aqui tem gente boa e tem gente ruim. Eles nunca aparecem para adultos, só para crianças. Procurem viver suas aventuras, suas jornadas, suas reuniões com alegria e felicidade sem ter esta turma do lado. Eu vou proteger vocês aqui e lá do céu. Só voltem se for de passagem para uma atividade escoteira. Chefe Joviano deu um sempre alerta e sumiu na escuridão da noite.


            Eles fizeram um pacto de silêncio. Só Maneco Detetive é que não gostou do tal pacto. Ele queria sua especialidade de Caçador de Fantasmas. Mas tudo bem existiam outras. Maneco Detetive nunca desistiu de ser um Caçador de Fantasmas. Jurou para sim mesmo que quando crescesse seria como aqueles do cinema que caçavam fantasmas. O tempo passou e hoje quem desce do trem na Estação de Lagoa da Prata vê do outro lado um enorme edifício onde está escrito: Caçador de Fantasma e Detetive. Dr. Maneco Detetive a suas ordens. E olhem que sempre tem a porta apinhada de gente!

terça-feira, 25 de março de 2014

Era uma vez... Um lindo nascer do sol!


Lendas escoteiras.
Era uma vez... Um lindo nascer do sol!

Encontre em cada anoitecer um motivo pra recomeçar.
Pois ao nascer do sol, a vida te reservará mais uma surpresa ao longo do dia.

             Vamos Nani, está na hora! Acorde! Eu não queria acordar. Acordar para que? Ainda noite escura, um frio gelado lá fora da minha barraca e eu queria dormir. Jesse não perdoava, puxava minhas pernas, meus braços e até retirou minha manta que me aquecia e eu me enroscava mais e mais. Achei que Jesse não estava bem da cabeça. Bastava que ele nos fez subir no Monte Altaneiro, às duas da tarde, um sol de rachar só para vermos um por do sol. Bah! Quantos por do sol em vi em minha vida? Já tinha visto muitos, claro, não prestava atenção, pois logo escurecia. Mas ele sempre dizendo que os Escoteiros são amigos da natureza, das belezas da terra, e nós tínhamos muito a aprender. Chegamos cedo lá. Todos cansados da subida respirando ofegante. Nem uma árvore para nos proteger. Vimos o sol iluminando todo o Vale da Esperança. Até que estava bonita a vista. Muito verde, da Cachoeira da Onça saia uma fumaça e o sol ainda pelejando no céu. Sentei na Pedra Vermelha e a patrulha sentou também. Acho que ninguém estava nem ai para o tal por do sol.

            Lembro que tudo começou quando ele resolveu nos mostrar como a natureza era bela, e se nós prestássemos atenção iriamos ver tantas coisas lindas que poucos que não os Escoteiros poderiam ver. Eu não entendia nada do que ele dizia e até fiquei surpreso, pois ele era mais velho que eu um ano. Onde será que aprendeu estas coisas? Foi Netinho quem me disse que ele passou uma semana enfurnado na biblioteca da cidade. Deve ter sido ali que veio estas ideias de natureza. Para dizer a verdade para mim árvore era árvore e riacho era riacho. Se ela a cachoeira soltava fumaça tudo bem. O Chefe disse um dia que isto era provocado pelo calor e o contato da água fria a cair de uma altura de mais de 20 metros. Para mim era natural. E quando os peixes queriam pular pelas pedras até o alto? Jessé sorria e se punha a explicar da época da piracema. Não entendi nada e achei que os peixes eram idiotas, pois nunca iriam conseguir. Mas O Jesse não dava folga. Ele viu uma aranha entre duas arvores fazendo sua teia e chamou a patrulha para observar. – Olhem como ela faz, vejam a sua inteligência! Vocês sabiam que a aranha constrói a teia com a fiandeira, uma parte do seu corpo que fica no fim do abdome? Lá tem um monte de tubinhos do qual sai uma substância liquida e quando entra em contato com o ar, essa substância endurece e se transforma em fio de seda!  

             Palavra que não sabia de nada. Jessé parecia nosso Professor de história. Até que achei a história da aranha interessante, mas o por do sol? Bem não vou criticar o Jessé, pois ele praticamente nos obrigou a ficar ali olhando o sol que estava escondendo atrás do Pico do Gavião, e quer saber? Até que achei bonito. Nunca em minha vida tinha prestado atenção. Voltamos e ele sempre falando da natureza, como a trilha de retorno era cheia de samambaias, lá vinha ele com seu ar professoral a dizer que elas gostam muito de terrenos pantanosos e locais mais altos, pois precisam de chuvas e ar frio para sobreviverem. Jessé era demais. Ainda pela manhã nem tínhamos acabado de almoçar e ele nos obrigou a lavar as panelas correndo, ainda bem que ele também ajudava, e nos levou para um tal de jogo Ver sem ser Visto. Não entendi bem, pois era um jogo parado, e nossa missão era chegar perto dos Inhambus que ficavam proximo da Lagoa da Chuva. – Vão devagar olhando onde pisam. Primeiro olhem onde sopra o vento, o vento não pode levar o cheiro de vocês até o passado ou animal que irão observar se não ele voa e adeus.

          Quase ninguém conseguiu chegar a menos de dez metros. Mas o Jesse era um Monitor diferente. Ele quase tocou as asas de um Inhambu. Tinha de me levantar da barraca. Era um absurdo com aquele frio e ir ver o nascer do sol de novo no Monte Altaneiro. Poxa subir duas vezes no cume? Fazer o que. Peguei minha manta e me enrosquei todo nela. A patrulha estava calada. Ninguém dizia nada. A subida não demorou mais que meia hora. Estava escuro ainda quando sentamos na Pedra Vermelha. Ao longe tudo escuro. Pensei comigo que ser Escoteiro é bom, mas o Jessé estava passando dos limites. Minha cama na barraca estava gostosa demais. Jesse cantarolava a canção da alvorada. Ela assoviava bem. – então ele começou a falar – Vejam, vocês já observaram que a beleza da vida está no inicio das coisas? Vocês estão aprendendo agora para depois lembrarem para sempre. O nascer do sol é como o nascer da vida, o nascer do amor, o nascer da amizade!

       Quer saber a verdade? Eu vi o nascer do sol do alto do Monte Altaneiro. Nunca imaginei que fosse assim. Nunca prestei atenção a nada que o nosso Monitor nos ensinava. Mas foi a madrugada mais bonita em minha vida. Era lindo olhar no horizonte, além da Montanha da Lua e ver o amarelo aparecendo, depois o vermelho e ele em todo o seu esplendor dar o brilho em todo o vale. Meus olhos não piscaram um só instante. Jessé sem tirar os olhos daquele espetáculo, recitava uma frase de J. Reis que dizia – encontre em cada anoitecer um motivo para recomeçar. Pois ao nascer do sol, a vida te reservará mais uma surpresa ao longo do dia. Meus olhos de criança encheram-se de lágrimas. Ninguém dizia nada. Aquela era a hora da patrulha. Era a hora do seu despertar. E foi então que todos olharam para o Jessé e sem nada a dizer ele entendeu o que queríamos dizer – “Obrigado Monitor. Este espetáculo ficará para sempre guardado em nossos corações”.

Eu sou o nascer do Sol, enquanto a Terra estertora. E quando o engenho da vida vai embora eu sou o crescer da Lua no intimo de um céu que chora. Todavia, encontro a arte da vida vagando pelo ar. Vejo deliberadamente o abstrato a se formar. Faço-me de Sol e Lua enquanto a Terra aflige Faço-me eclipsar. Brenon Salvador.


Boa noite meus amigos e minhas amigas e olhem, não existem nada mais belo que ser um amante da natureza!

domingo, 23 de março de 2014

Sabe qual o meu Fogo do Conselho ideal?


Conversa ao pé do fogo.
Sabe qual o meu Fogo do Conselho ideal?

- É aquele fogo da tropa, que ela decidiu onde e quando. Que ela (a tropa) sabe o que vai fazer. Que pode ser um simples bate papo, mas o fogo, este sim está ali em volta, e todos sentem o mesmo calor e participam em conjunto espontaneamente. Onde alguns ingredientes são bem vindos e devemos até motivar os nossos jovens com instrumentos musicais, sem aqueles chefes que resolvem demonstrar seus dotes de cantores em vez dos jovens e acabam estragando tudo! É bom ver um Fogo de Conselho sob a batuta dos monitores. Não importa até quando eles estão ou não preparados. Eles não precisam de nenhuma técnica para isto. – Já vi isto nos seniores, nas patrulhas femininas e nos lobinhos também. Claro que estes os lobos devem ser mais olhados, mas desde cedo deixar que eles aprendam a se desenvolver e se motivarem. Quem sabe sem aquela preparação minuciosa com um ou outro chefe se destacando, sem dar possibilidades de criatividade entre eles e sem o “incrível” lampião fazendo às vezes de uma fogueira.

É delicioso fazer uma fogueira simples, alimentá-la à medida que se torna necessário, sentir o calor dos amigos, um bate papo legal, uma canção espontânea, uma imitação ou uma historia de improviso, um fato pitoresco, um bom café ou chá na brasa, quem sabe uma batata doce, uma banana verde, ou mesmo uma fruta para esquentar. Um fogo onde as boas risadas são frequentes, onde as dificuldades ou aventuras do dia são ali contadas como se fossem histórias de heróis. Os jovens, os chefes, todos eles são amigos e não superiores. Não há ordem de sequência e nem repetitividade. E se criarem místicas melhor ainda. Uma que conheci é a que se entregava a um Escoteiro a preparação do fogo, que ele acendesse com um palito ou dois, que ele recebesse seu nome de guerra (nome indígena) saltando três vezes pelo fogo conduzido pelo Monitor. Ou quem sabe aproveitar para uma cerimonia diferente, uma promessa talvez, um distintivo especial. A criatividade seria deles.

Meu fogo de conselho ideal não teria grandes pirotecnias, o importante era o sorriso, era o fogo espelhando os participantes pelo seu olhar, era uma canção cantada suavemente, alegre ou a lembrar de outros fogos de outrora. Era ver todos brincando e não apenas um ator, dono de tudo e das apresentações. Era toda a patrulha que criou um esquete feito ali, naquela noite escura, em volta de um lampião em seu canto de patrulha, sem ninguém saber e quando apresentassem iriam merecer um novo aplauso, inventado na hora. Uma canção da despedida no final, um aperto de mão a todos e quem sabe dependendo do horário, ficarmos todos em volta do fogo, olhando as estrelas, contanto “causos”, cantando baixinho canções saudosas, esperando o sono chegar!


Este sim seria o meu fogo ideal.

Saudades do meu Balu


Conversa ao pé do fogo.
Saudades do meu Balu

          Não sei por quê. Já se passaram tantos anos e ele me veio à lembrança. Todos nos o chamávamos de Balu, ele tinha um sorriso enorme, uns olhos negros brilhantes, não era gordo, não tinha bigode e nem barba. Quando chegava ao grupo se aproximava da gente com o andar do Urso da Selva, e sorria... Que sorriso lindo – Lobos! Melhor Possível! Melhor Balu, melhor e melhor! E agente corria para ele, pulava em suas costas e ele caia pelo chão rolava com a lobada para lá e para cá. Em toda minha vida de lobo, eu amava minha Alcateia, ali eu sonhava como se estivesse dentro dela da Grande Selva de Mowgly. As histórias que Akelá contava a maneira da Baguera pulando e contando, e a Kaa se enroscando no chão, nas árvores me transportavam junto ao Lobo Gris e seus irmãos para dentro da floresta. Mas o Balu era diferente, ele ensinava a gente a subir em árvores, a descer pela corda a correr, a nadar e mergulhar no lago sem incomodar as rãs.

         Balu oh! Balu! Onde anda você hoje? Sei que estou Velho, alquebrado já sou mais aquele menino de outrora, quando sentava na sua barrida e você boiava no lago das Meninas, quando me ensinou a tirar espinhos, quando me ensinou a comer os frutos bons. Balu! Que saudades! Nunca esqueci o canto do Louva Deus, o canto da Cotovia, a maneira dos pardais quando acordavam nas madrugadas e voavam em círculos em barulhos gostosos de ouvir. E como você imitava os macaquinhos pregos a chamar sua prole, e sabe Balu nunca esqueci quando você me contou que Mowgly foi raptado pelos Bandarlogues, os macacos sem lei e pouco asseados e o levaram pensando que ele conhecia o segredo do fogo. Era um segredo dos homens. E sabe Balu sei que você, a Baguera e a enorme serpente libertou Mowgly. Você Balu se disfarçou de macaco e dançou até encontrar o Rei Lu. Eu sei Balu que o Rei Lu tentou impedir que salvasse seu amigo Mowgly.

           Oh! Balu quantas coisas lindas você me ensinou e contou? E quando eu fiquei em recuperação em matemática? Foi você meu querido amigo quem me ajudou. Saia altas horas do seu emprego de vigia e ia a minha casa me ensinar. Sabe Balu você era um vigia Professor. Lembro-me de sua mãe dona Mercedes cozinheira da família Borges, que o amava mais que tudo. Chamavam você de tantos nomes só porque você era negro, mas Balu, igual a você nenhum branco podia se comparar. Eu tinha você no meu coração, não só eu como toda a Alcateia. Nunca esqueci quando você partiu. Disse-me que não seria para sempre, era somente um até logo, mais nunca mais vi você Balu. Nunca mais. Naquele acampamento que fizemos atrás da mata do Quati, eu senti uma saudade enorme de você Balu. Eu o Levi, o Nonato, o Pardal, o Zé Bulacha, e tantos outros ficamos chorando quando terminou o fogo do conselho. A Kaa Naldinha tentou nos alegrar nos fazendo dançar e a dança do fogo. Mas não adiantou.

            Sabe Balu, ninguém ficou sabendo por que você se foi. Uns disseram que sua mãe voltou para Nazária no Interior do Piauí. A mãe dela faleceu e deixou um sitiozinho para vocês. Olhe Balu não sei se você foi feliz lá na sua nova terra, mas enquanto você foi nosso Balu nunca em minha vida eu senti tanta felicidade. Eu fui feliz muito na minha vida escoteira, mas como lobinho eu fui muito mais. A gente fazia excursão, nadava no rio, atravessava pinguelas, brincava nas porteiras das fazendas, dormia sob as estrelas, entrava na selva que você dizia ser a Jângal, uma época que não sabíamos o que significava até que você disse que era uma grande floresta. Quantos acampamentos fizemos, em quantos galpões das fazendas dormimos nas noites de tempestades. Você lembra quando o Chiquinho passou a noite gemendo de dor de barriga? Comeu tantas goiabas verdes e só foi melhorar pela manhã. E você Balu, lá estava você ao lado dele, cantando, brincando até que ele dormiu pelas tantas da madrugada.

           Sabe Balu, só fui saber seu nome muitos anos depois. Gravei na minha memória para sempre. Juventino Honório Santos. Precisava escrever sobre você, precisava mesmo. Sei que você já deve ter partido para o mundo da felicidade. Eu tinha 10 anos quando você foi embora e me disseram que você tinha 25. Uma diferença de 15 anos. Hoje se estiver vivo vai estar com 88 anos. Será que ainda vive? Será que está sentando na beira do rio com seu cigarrinho de palha a pescar traíras e corvinas? Não sei. Não sei mesmo. Estou longe da sua terra, mas hoje não sei por que me lembrei de você. Saudades do meu Balu. Um Chefe que amei tanto que até hoje eu tiro para você o meu chapéu!

Anrê, Anrê, Anrê. 

sexta-feira, 14 de março de 2014

Lembranças de um menino Escoteiro. A Canção da Despedida.


As ultimas badaladas da meia noite estão chegando.
Lembranças de um menino Escoteiro.
A Canção da Despedida.

                        Meu primeiro acampamento, quanto tempo, início da década de cinquenta, novo na patrulha, onze anos, lobinho de coração. Estranho no ninho. Medo, receio. Uma nova etapa. Sem minha Akelá e o Balu para me proteger. Lágrimas brotaram quando fiz a passagem. Aos poucos fui acostumando. Ângelo o Monitor, grande companheiro. Até quando casei lá estava ele ao meu lado como meu padrinho. Algumas excursões, mas nada como este acampamento. Seis dias. Mata fechada. Selva para mim inóspita, Pânico no primeiro dia. Depois, barracas montadas, cozinha coberta, fogão suspenso, sala de refeições, fossas, Até WC fizemos!

                           Quando a noite chegava, estava em pandarecos. Mas orgulhoso. Era mais um deles. Ajudei, colaborei. Dormia o sono dos justos. Só acordava com alguém me chamando ou puxando meu pé. E de novo, vivendo com meus amigos, fazendo, construindo, aprendendo, brincando, aventuras maravilhosas. Escaladas (tremia) balsas, pistas de animais, grandes pioneiras, subir em árvores, comida gostosa, banhos deliciosos, predadores, escorpiões, cobras (que medo!), chupar cana, colher goiabas, mangas, abacate, nas mais altas árvores.

                            Quinto dia. Orgulho daquela patrulha, irmão das demais. Amigos, fraternos, uma chefia maravilhosa. Então a surpresa. Um Fogo de Conselho só da tropa. Senhor! Olhe, fico arrepiado ao lembrar. Ficou marcado para sempre. Ria, cantava, batias palmas, pulava, corria, e então... E então... Todos deram as mãos em volta do fogo e começaram a cantar. Eu a principio não conhecia a letra, aos poucos fui entendo. Meu Deus! Que musica maravilhosa! Tocou-me fundo no coração. Impossível aguentar a emoção. A primeira emoção. “Não é mais que um até logo”! Onze anos e chorando. Lágrimas descendo no meu rosto. Mãos entrelaçadas, apertando uma as outras. 

                             Parou a canção. Final, fogueira crepitando, estrelas no céu. Vento frio, brisa no rosto, cheiro da terra, do capim meloso, grilo saltitando, vagalumes aqui e ali querendo mostrar seu brilho. Silêncio na mata. Lagrimas caindo, uns olhando para os outros tentando disfarçar. Trombeta tocando. Reunir! Boa noite, Corte de Honra, oração. Fui para a barraca com um sorriso enorme! Deitei, coloquei as mãos debaixo da cabeça, olhava para o teto da barraca, ele desaparecia. Agora via estrelas brilhantes no céu. Chorei. De alegria de saber que tinha encontrado amigos, irmãos e que agora pertencia a uma grande Fraternidade Escoteira. Agora eu era um deles, um escoteiro, um privilégio de poucos!

                              Foi a primeira grande emoção. A Canção da despedida marca. Vocês que me leem sabem disto. Chorei depois muitas vezes. Era marcante. Não dava para esconder, que já participou sabe o que estou dizendo. Não sei explicar quando cantamos, se ela dói se machuca se uma saudade gritante fala para nós, não perdermos as esperanças de que um dia voltaremos a nos ver. É uma situação inusitada. Se nós contarmos para um amigo ou amiga, eles vão rir. Acha que somos bobos, tolos. Não compreendem. Não entendem. Não sabem o que é isto. Nunca vão saber... Só nós, os privilegiados deste incrível movimento escoteiro.

                             Centenas, muitas centenas de vezes participei com orgulho. Dizia a mim mesmo que não mais iria chorar. Engano. Bebê chorão! Sempre ali, lagrimas e lágrimas escorrendo no rosto, caindo e molhando a terra, nosso chão abençoado. É, escotismo, você marca. Como você não existe outro. Por isto te amo, te adoro, vivo para ajudar a todos, mas que orgulho em ser escoteiro. Aprendi ali, vivendo intensamente tudo aquilo que você tem. Sorrindo, cantando, Chorando! Sim mas sem nunca se esquecer das horas e horas maravilhosas que contigo passei.

                 A vida não para os anos passam e nos levam a lugares nunca dantes imaginado. Lá estava eu na cidade de Hermosillo, capital do estado de Sonora, México. 50 anos de fundação do Grupo Escoteiro. Vários outros grupos irmãos. Achei que dava para enrolar no idioma. Nada. Um paspalho era eu para entender o que diziam. Mas quem disse que em acampamentos escoteiros precisamos disto? Parece que falamos um só idioma. Claro, somos iguais em todas as nações. Nossa! Marcou mesmo. Incrível a amizade dos escoteiros mexicanos. Simples, leal, honesta, sem altivez, soberba. Que amigos! Tocaram meu coração. Mas quando chegou à hora da despedida! Ah! Não, não queria sair dali. Chorei copiosamente. Um marmanjo. Trinta e quatro anos! Abrindo a boca, lágrimas e lágrimas descendo pelo rosto. E o pior, quando terminou a Canção da Despedida, todos vieram me abraçar, chorando também, dizendo, - “No te vayas, te queremos, quédade nosotros”... Quem aguenta? Diga-me meu amigo e irmão escoteiro, quem?

                             E o pior, no dia seguinte, a tomar o trem para a cidade do México, lá estavam eles na estação, barulhentos, amigos abraçando, cantando canções típicas, e quando o trem foi se afastando, cantaram de novo a Canção da Despedida. Rapaz foi incrível suportar! Impossível! E repetiam, repetiam – “No te vayas, te queremos, quédade nosotros”! Marcou meu amigo. Marcou. Passageiros ao meu lado não entendiam. Um deles se aproximou. Be Prepared! Americano, boy Scouts. Incrível! Que movimento é este? Deus do céu!

Boa noite meus amigos, não posso ficar lembrando. Me emociono demais, tempos que se foram e não voltam mais. Lágrimas caem devagar. Hora de dormir. Durmam com Deus! 

terça-feira, 11 de março de 2014

As aventuras de Maria Alice, da Patrulha Morcego e o misterioso povo cigano do Rajastão.


Lendas Escoteiras.
As aventuras de Maria Alice, da Patrulha Morcego e o misterioso povo cigano do Rajastão.

                         Maria Alice era uma Escoteira sonhadora. Adorava ler e viver os personagens em sua mente infantil e criativa. Um dia ela leu um belo conto em um livro sobre como viviam os ciganos. Seus amores, suas viagens sem nenhum destino. E onde havia um céu eram suas moradas. Ela ficava imaginando como devia ser suas vidas, pois não tinham endereço fixo, documentos, contas em banco, carteira assinada e nem história. Ela sabia que poucas pessoas tinham respeito por eles. Muitos tinham preconceitos e ignorância, alguns medo e fascínio. Sabia que muitas injustiças tinham sido cometidas e que mesmo assim eles se sentiam felizes e alegres ao logo de suas intermináveis jornadas. Naquela quinta estavam em reunião de Patrulha na casa de Mirian a submonitora. Sempre faziam uma vez por semana.

                       Estavam a discutir o acampamento de verão. Seria de cinco dias. A Chefe Marilda pediu sugestões. Iriam todas as três patrulhas e próximo onde ficariam ia acampar também a tropa Escoteira. Eles também estavam em três patrulhas. Muitas atividades em conjunto estavam programadas, mas elas teriam liberdade para que fizessem as suas sem interferências. Onde estava Maria Alice? Nunca aconteceu isto. Ela não faltava nunca, pois era a escriba e não poderia faltar com seu livro de atas. Ligaram para sua casa e nada. Sua mãe não sabia onde estava. Tiveram que fazer a reunião sem sua presença. No sábado, dois dias depois a cidade em polvorosa. Onde estaria Maria Alice? Ninguém sabia. Procuraram em todo o lugar e nada. Todas as patrulhas, todos as matilhas, chefes e pais estavam a procurar e vasculhar em cada canto da cidade.

                       Alguém tinha dito para Maria Alice que viu no alto da Aldeia do Cão, um acampamento de ciganos. Não deu outra. Mesmo já escurecendo ela pegou sua bicicleta e sozinha foi até lá. Quando avistou se escondeu atrás de um tronco de uma seringueira. Ficou admirava com tudo. Duas grandes barracas coloridas, duas carroças grandes com toldo fechado e adultos e crianças andando para lá e para cá. Maria Alice se esqueceu da Reunião de Patrulha. Estava hipnotizada com o que via. Lembrava-se de tudo que leu sobre eles. Claro que muitos diziam que o que falavam deles eram suposições. Como não havia documentos nada se poderias provar. Os ciganos nunca deixaram nenhum registro que pudesse explicar suas origens. Quando morrem em suas jornadas pela terra, eliminam os pertences dos falecidos dificultando o trabalho de pesquisa ou lembrança. Maria Alice estava absorta e não viu alguém sorrateiramente chegando atrás dela. Sentiu o lenço e o cheiro forte. Desmaiou na hora.

                       A Patrulha Morcego não esmorecia nas buscas. Tavinha lembrou que tinha dito a Maria Alice do Acampamento dos Ciganos na Aldeia do Cão. Pegaram suas bicicletas e correram para lá. De longe avistaram o movimento. Era noite alta. Eles cantavam e dançavam em redor de uma fogueira. Incrível, Maria Alice estava com eles. Dançava também. Sorria, batia palmas. Meu Deus pensaram. O que fizeram com ela? Escondidas e se camuflando com barro e folhas (tinham este tipo de treinamento) foram pé ante pé e quando chegaram atrás de uma barraca fizeram sinal a Maria Alice. Ela tentou ir até elas, mas o Maryo filho do Chefe dos Ciganos viu e não deixou. Fora ele quem raptou Maria Alice. Ele tinha dezesseis anos e a achou muito bonita. Queria fazer dela sua esposa. Mas Maria Alice era esperta. Saiu correndo e junto com as amigas da patrulha alcançaram as bicicletas e conseguiram fugir.

                      Foram diretos chamar o delegado. Ele com mais dez soldados foram ao acampamento dos ciganos. Não tinha mais ninguém. Tinham fugido. O delegado Lourenço ficou pensativo. Eles não eram assim. Ele conhecia o lema do Povo Cigano. – “O céu é meu teto; A terra é minha pátria e a liberdade é minha religião”. Sempre os tratou com respeito. Mas devia ter sido um motivo forte. Conversou longamente com Maria Alice. Eles não fizeram nada com ela. Podia ter fugido, mas queria aprender. Ela queria saber como era o espírito viajante deles. Como as mulheres sabiam ler a sorte, e eles faziam lindos tachos de cobre. De onde tiravam isto?

                     A cidade voltou ao normal. Não ouviram falar mais nos ciganos. Maria Alice teve que contar a todos varias vezes como foi sua vida lá. Ela aprendeu uma lição. Nunca sair sozinha e sempre andar com mais pessoas. Dizem eu não sei só me contaram por aí que quando ela cresceu reconheceu o Maryo em uma festa numa cidade vizinha, se apaixonou e se casou com ele. Foi morar em um acampamento cigano e hoje correm estradas no sul da França. Espero que Maria Alice tenha sido muito feliz. Ela foi uma grande Escoteira e merece. Não sei se não organizou os ciganos em patrulha. Risos. Não sei. Se assim o fez, que ela seja feliz para sempre! 


segunda-feira, 10 de março de 2014

A lobinha Dorothy e a Cigarra Azul do Lago Dourado. Lá, muito além do arco-íris.


Lendas Escoteiras.
A lobinha Dorothy e a Cigarra Azul do Lago Dourado. Lá, muito além do arco-íris.

                       Era apenas uma cigarra azul. Nunca ninguém ligou para ela. No mês que todas cantavam para arrumar um namorado, ela simplesmente se calava. Gostava de ficar no tronco da frondosa figueira próximo de sua morada no Lago Dourado do Arco-íris. Era o mês das flores, das abelhas procurando mel, dos beija-flores coloridos a procura do néctar para sobreviver. Suas amigas estavam espalhadas pelo bosque, cantando, pois este era o destino de todas. Era como se fosse na Jângal, na época da Embriagues da Primavera, onde todos ficavam contentes, corriam pelos campos sorriam e cantavam. Isto não acontecia com a Cigarra Azul. Não ela. Nunca foi feliz. Não sabia por que todas as cigarras eram cinza esverdeadas e ela azul. Não podia entender. Na brisa fresca da manhã, ouviu uma vozinha doce e suave a lhe dizer – Canta minha linda cigarra. Porque você não canta? A cigarra Azul olhou espantada. Viu uma menina vestida de azul, com um lenço verde e amarelo e um bonezinho azul sorrindo para ela. – Quem é você? Perguntou a Cigarra Azul – Eu? Eu sou a Dorothy, da matilha azul como você. Sou uma lobinha minha amiga Cigarra Azul. Ela ficou a pensar como podia conversar com aquela menininha tão magrinha, com uns olhos fundos e tristes, que mal conseguia ficar de pé.

                    - Eu não posso cantar! Respondeu. Porque não pode? – Porque sou azul e todas são cinza esverdeadas. Sou diferente. Nunca terei uma família. Nunca serei ninguém! Dorothy pediu de novo, desta vez quase chorando: Cigarra Azul cante para mim. Prometo que cantarei com você. Irei aprender a letra e a melodia e ambas cantaremos juntas. A cigarra ficou pensando porque aquela menina insistia tanto para ela cantar. Dorothy então disse a ela – Sabe Cigarra Azul, eu também estou muito triste. Eu tenho uma doença que me acompanha desde que nasci. Meus pulmões sempre me dão falta de ar, tenho dificuldades para respirar e sinto um aperto no peito e tenho tosse. Sou lobinha, mas sou uma lobinha triste. Quero brincar e correr como todo mundo, mas a minha Aquelá não deixa. Diz que não posso ficar no sol, à noite não posso ver o céu, e nem ver o amanhecer do dia, pois não posso também pegar o orvalho que cai. Veja! Ando sempre com esta bombinha. Ela me dá certo alívio.

                     A Cigarra Azul ficou triste mais ainda. Viu que a menina dos olhos cinzentos era mais triste que ela. Resolveu cantar e sorriu para a Dorothy. - Você sabe cantar música Muito alem do arco-íris? Não sei, respondeu Dorothy. Mas cante que vou aprender. A Cigarra Azul tinha uma linda voz. Encantou logo a menina Dorothy. Assim ela começou:
 - Além do arco-íris, pode ser que alguém, veja em meus olhos, o que eu não posso ver. - Além do arco-iris, só eu sei que o amor poderá me dar tudo que eu sonhei...

                   Nesta hora Cigarra Azul parou de cantar. Sentiu que uma pedra atingira suas asinhas. Caiu no chão desmaiada. Dorothy não podia acreditar. Olhou e viu Pedrinho um lobinho com várias pedras na mão. Chorou e gritou com ele – Você matou a Cigarra Azul! Pedrinho ria. A Aquelá veio correndo e viu o que aconteceu. Durante todo o Acantonamento Dorothy chorou. Não se conformava. No dia seguinte após o cerimonial de bandeira, Dorothy deu mais ultima olhada para o tronco da figueira. Sabia que não ia ver nada, não custava olhar. Pedrinho a procurou chorando. Pedindo desculpas, pedindo perdão. Dorothy não sabia o que dizer. Afinal ele matou a Cigarra Azul! E então, surgindo no final do bosque eis que surge ela, a linda Cigarra azul, acompanhada de outra cigarra verde garrafa.

                  A lobinha Dorothy não cabia em si de contente. Ria, e até começou a cantar. A Cigarra Azul sorria. – Dorothy, a cigarra dizia – Este é meu namorado. Ele me socorreu. Levou-me até onde esta o Arco-íris. O homem que mora lá, um velhinho de asas azuis me colocou as asas de volta. Agora estou feliz. A Aquelá chamou todos para embarcar. Dorothy não queria ir. Vá – disse a Cigarra Azul. Volte no ano que vem. Estarei aqui para cantamos e sorrirmos muito. Quando chegou a sua casa, contou tudo para sua mãe e seu pai. Eles sorriram. Viram que ela tinha mudado. Já não usava a “bombinha”. Achavam que Deus lhe deu um presente. A saúde de Dorothy.

                   A noite de domingo seu pai disse que tinha alugado um filme para ela. Um lindo filme que ele tinha assistido quando criança. O Mágico de Óz. Era o filme mais lindo que ela tinha assistido. A menina também se chamava Dorothy e a musica era igualzinha a que a Cigarra Azul cantou para ela:

- Um dia a estrela vai brilhar, e o sonho vai virar realidade.
- E leve o tempo que levar, eu sei que eu encontrarei a felicidade,
- Além do arco-íris, um lugar que eu guardo em segredo e,
Que só eu sei chegar...  
 - Me fez ver que o amor dos meus sonhos tinha de ser você...

                   Todos os anos Dorothy ia sempre acantonar com sua Alcatéia no Lago Dourado. Lá ela encontrava a Cigarra Azul, seu namorado e agora eles tinham quatro filhos, duas lindas Cigarras verde garrafa e duas outras lindas cigarras azuis! Ei! Deixe-me contar. Pedrinho virou ao avesso. Transformou-se no mais disciplinado lobinho da Alcatéia. E assim termina a lenda e quem sabe a real história de Dorothy e a Cigarra Azul que morava lá, no Lago Dourado muito além do Arco-íris. 

quinta-feira, 6 de março de 2014

Uma ponte longe demais.


Lendas escoteiras
Uma ponte longe demais.

    Era uma vez... Uma ponte, simples de madeira com dois vãos, pequena, mas que acalentava os caminheiros que por ali passavam. Dizem que era longe demais, que não ligava a lugar nenhum. Pode até ser. Não era uma ponte qualquer, pois para mim ela tinha vida, ela tinha alma. Cansado de uma longa jornada eu sentei naquela ponte muitas vezes. Gostava de ficar ali, olhando um rio que passava sobre meus pés. Meus olhos acostumaram com aquelas ondas que brincavam de zig zag nas corredeiras que iam para o mar. Nem via o tempo passar, hipnotizado não queria voltar ao meu percurso. A ponte agora me dava vida, queria que eu e ela fossemos um só. Os incrédulos diziam que ela não ia dar a lugar nenhum. Eu sorria quando diziam isto. Uma doce mentira de caminheiros que não viram o brilho daquela ponte. Ela me levava ao Campo da Felicidade.

  Quando surgia a primavera eu corria para chamar meus amigos Escoteiros e eles sorriam como eu quando dizia que íamos acampar no Campo da Felicidade. Todos sabiam que íamos atravessar a ponte, que todos diziam ser longe demais... E diziam que ela não levava a lugar nenhum... Era longe sim, a ponte era longe demais e isto nos fazia voltar sempre... Ver a ponte de madeira rústica, olhar o rio com suas águas brilhantes a correrem para o mar... Na várzea das Borboletas azuis, em uma pequena trilha cheia de flores silvestres, avistávamos a ponte. A ponte que diziam ser longe demais... A ponte que não levava a lugar nenhum... Mas no levava ao Campo da Felicidade.

       Um dia, um dia que nunca esquecerei, um dia que ficou marcado em meu coração para sempre, a ponte não estava lá... A ponte que nos levava ao Campo da Felicidade tinha partido... A ponte longe demais agora não mais existia. A ponte que não levava a lugar nenhum agora era uma réstia de uma lembrança de um passado que se foi... Ficamos ali, cabisbaixos, deixando o sol nos queimar, nossas mochilas às costas pesando e nossa preocupação era uma só. A ponte longe demais partiu sem dizer adeus... Não era um empecilho para atravessar o rio, o rio que serpenteava suas águas e corria para o mar. A ponte que diziam não ligar a lugar nenhum agora era uma sombra, um arremedo de sonhos, uma alegoria de um carnaval que passou.

   Nunca mais voltamos ao Campo da Felicidade. Ele e ela, a ponte longe demais se completavam. Um não tinha serventia sem o outro. Algumas vezes volto meu pensamento no tempo que já se foi. Lembro daquela ponte, uma ponte longe demais... Uma ponte que não ligava a lugar nenhum, mas sem ela nunca poderíamos acampar no Campo da Felicidade. Não choro lágrimas doídas, não verto águas que os olhos deixam cair... Meu coração bate forte quando em minha mente eu vejo a ponte, a ponte longe demais... A ponte que diziam não levar a lugar nenhum. Vejo-me sentado, olhando o rio que serpentava naqueles campos que seguia seu rumo para o mar. Sei que não terei mais aquela visão que me marcou profundamente. Mas enquanto ela existiu me trouxe a beleza da vida, o sonho da natureza, me ligou de um ponto ao outro mesmo dizendo que ela era longe demais... Que não ligava a lugar nenhum!

A Ponte e a Cerca...

Na vida... Podemos escolher entre ser ponte... Que une uma margem à outra de um rio. Ou ser uma cerca... Que separa um território de outro. Se compararmos... Podemos perceber que se formos ponte... Iremos unir todas as coisas... Que por algum motivo nesta vida... Vivem separados.

Se formos cerca... Estaremos dividindo... Marcando espaço... Quando poderíamos formar elos... Entre mundos em duelos.

Como ponte... Podemos aumentar amizades... Fazer elos entre comunidades... Amar com mais intensidade... Juntar forças entre dois extremos em inimizades.

Como cerca... Aumentamos divisões... Isolamentos... Deixamos a vida mais solitária...
Esquecemos de ser humanitários... Quando poderíamos nos unir a quem necessita...
De alguém mais solidário.

Sejamos ponte na comunidade... Ponte em nossa família...
Ponte da fraternidade... Semeando amor em grande quantia.

Sejamos PONTE... Derrubemos CERCAS...
Seremos de companheirismo uma fonte...
Para que muita alma não se perca.
Marilene Mees Pretti.


Boa noite meus amigos e minhas amigas, que uma ponte possa me ligar ao coração de todos vocês! Uma ponte que não seja longe demais!