Lendas
escoteiras.
As aventuras
do escoteiro Maneco Detetive.
História de
hoje: - Operação Caça-fantasma II.
Maneco Detetive era o último da fila.
Pudera, pois tinha seis meses como sub Monitor da Patrulha Tuiuiú. Ali era seu
lugar certo. Todos gostavam dele na patrulha, mas o achavam meio avoado. Bem
tinha alguns nas outras patrulhas que o achavam maluco. Maneco Detetive se
empertigava todo na formatura. Afinal ele era um sub e há tempos deixou de ser
o sub do sub. Ela cumpria bem sua função. De vez em quando era chamado para a
Corte de Honra e para ele era uma honra em participar. Conseguiu depois de
muita luta a Segunda Classe. Empinava o ombro esquerdo só para mostrar seu
distintivo e suas especialidades. Estava com seis. Queria vinte, mas muitas delas
precisavam da Primeira Classe e ele dizia a se mesmo – Espere, eu chego lá!
Fora do escotismo ele se considerava um
detetive. Na Biblioteca de Lagoa da Prata cidade onde morava ele leu muitos
contos e sonhava em deslindar crimes, roubos, sequestros e se tornar famoso
para todos da cidade e do país. Já pensou? Bem sonhar é bom, não custa nada,
mas realizar o sonho é que difícil.
Maneco Detetive tinha quatro amores na vida. Seus pais, sua professora,
o Grupo Escoteiro e a investigação diária. Esta ele fazia após as aulas e mesmo
sabendo que na Cadeia Pública da cidade só prendiam baderneiros e bêbados seria
difícil investigar alguma coisa. – Um dia vai acontecer, tenho certeza – dizia.
Na sede durante as reuniões olhava tudo. Se tinha alguém Sempre Alerta na
cidade era Maneco Detetive. O Chefe Onorico gostava muito dele. Agora vivia
atrás para que ele criasse a especialidade de detetive e de Caça-fantasma. –
Ele ria quando pensava nos pedidos de Maneco Detetive, mas sempre com um pé
atrás.
- Maneco! Chamou o Chefe Onorico. Que
negócio é este de caça-fantasma? – Chefe, ontem quando fui cortar o cabelo na
barbearia do Petrônio Perna Fina e ouvi uma história que me deixou “cabreiro”. O
senhor conhece o Pintor Ludovico, e foi quem me contou. Dizia que na curva do Cavalo
Doido, o senhor sabe aquela estrada que a gente vai para acampar na Grota da
Cotovia. Dizia ele que lá na curva tem um fantasma que aparece após a meia
noite. Sempre depois da meia noite. O Pintor Ludovico jurou que era o Fantasma
do Coronel Juvêncio. Dono da Fazenda Pinto D’água. – Maneco, disse o Chefe –
Deixa disso, não existem fantasmas – Mas Chefe, se eu conseguir falar com ele e
provar o senhor me dá a Especialidade de Caçador de Fantasma? – Dizer o que? Sem pensar o Chefe Onorico disse que sim. Depois
se arrependeu, mas ele sabia que Maneco Detetive nunca iria encontrar um
fantasma.
Maneco Detetive convidou amigos da
patrulha para ir com ele uma noite na curva do Cavalo Doido. Ninguém topou.
Podia ser verdade e eles tinham um enorme medo de fantasmas. – Se não vai
ninguém vai eu! Disse para si próprio. Sexta onze da noite Maneco Detetive deu
no pé. Não avisou seus pais seus amigos, não avisou ninguém. Pegou seu cavalo
de aço e partiu. Levou com ele sua faca, sua machadinha, e uma cordinha para
amarrar o fantasma do Coronel se aparecesse. Medo? Claro que sim. Ele tremia
feito uma vara verde, mas era insistente. Chegou lá perto das onze e meia.
Noite sem lua e se não fosse sua lanterna e as estrelas ele não conseguiria
enxergar nada. Encostou sua bicicleta em um canto e sentou a esperar. Era uma
estradinha carroçável. Ligava sua cidade a muitas fazendas da região. Diziam
que ali mataram muita gente ruim e boa. A pior morte foi do Coronel Juvêncio.
Amarraram-no por baixo do cavalo e com as costas no chão. O cavalo saiu em
desabalada carreira e ele sangrando por todo o corpo morreu pisoteado.
Maneco Detetive esperou dar meia noite,
meia noite e meia e desistiu. Achou bom, pois ver o Velho coronel a sua frente
ele sabia que molharia suas calças como aconteceu outras vezes. Levantou para
ir embora e sentiu uma mão em seu ombro. Que susto! Quase caiu desmaiado ao
chão. A agua colorida correu perna abaixo. Ficou com medo de olhar para trás,
mas se ele foi ali para saber tinha de fazer isto. Lá estava o coronel
Juvêncio. Achou que ia vê-lo cheio de feridas, sangue em todo corpo, braços e
pernas quebrada, mas não, o Coronel estava vestido com uma bata branca,
sorrindo e ao seu lado uma senhora mais velha que ele de branco e com as mãos
em seu ombro. Nem pensou duas vezes. Pegou seu cavalo de aço e saiu em
desabalada carreira. Na reunião contou para sua patrulha. Ninguém acreditou e
deram boas risadas. Desafiou o Monitor e os patrulheiros a voltarem lá com ele.
Só Nonô Catixilda e Marinho Nariz longo aceitaram.
De novo meia noite e meia, três
Escoteiros medrosos na Curva do Cavalo Doido esperavam. Desta vez acharam que
ele não iria aparecer e que seria desmascarada as invenções de Maneco Detetive.
Quando se levantaram sentiram um calafrio. Calças foram molhadas. Na curva do
Cavalo doido chegavam um a um os que ali foram assassinados. Pareciam Zumbis
saindo de suas moradas no inferno. Ninguém soube explicar até hoje como
conseguiram fazer o trajeto da Curva do Cavalo Doido até a cidade em meia hora.
Sempre era uma hora. Desta vez a patrulha acreditou. A contra gosto Josué
Orelhudo o Monitor não teve saída. A patrulha desta vez estaria presente com
todos seus patrulheiros. Marinho Osso Fino que tinha dois meses de tropa e veio
da Alcateia não queria ir de jeito nenhum. Mas o Monitor disse que eles eram um
time, ou participavam todos ou nenhum.
Meia noite, meia noite e meia e nada.
Eles riram de Maneco Detetive e ao subir nas bicicletas viram chegando nada
mais nada menos que o Joviano Pinta Silgo. Um Chefe Escoteiro que morreu
afogado há mais de cinco anos. Todos lembravam-se dele por ser um Chefe de
tirar o chapéu. Ele estava de uniforme e falou – Escoteiros, voltem para casa,
não brinquem com alma do outro mundo. Esta turma aqui tem gente boa e tem gente
ruim. Eles nunca aparecem para adultos, só para crianças. Procurem viver suas
aventuras, suas jornadas, suas reuniões com alegria e felicidade sem ter esta
turma do lado. Eu vou proteger vocês aqui e lá do céu. Só voltem se for de
passagem para uma atividade escoteira. Chefe Joviano deu um sempre alerta e
sumiu na escuridão da noite.
Eles fizeram um pacto de silêncio.
Só Maneco Detetive é que não gostou do tal pacto. Ele queria sua especialidade
de Caçador de Fantasmas. Mas tudo bem existiam outras. Maneco Detetive nunca
desistiu de ser um Caçador de Fantasmas. Jurou para sim mesmo que quando
crescesse seria como aqueles do cinema que caçavam fantasmas. O tempo passou e
hoje quem desce do trem na Estação de Lagoa da Prata vê do outro lado um enorme
edifício onde está escrito: Caçador de Fantasma e Detetive. Dr. Maneco Detetive
a suas ordens. E olhem que sempre tem a porta apinhada de gente!