No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

domingo, 30 de dezembro de 2012

Um tributo a minha esposa. Célia Maria Ferraz. Sei que vocês não sabem, eu tenho um anjo ao meu lado.



Um tributo a minha esposa. Célia Maria Ferraz.
Sei que vocês não sabem, eu tenho um anjo ao meu lado.

 Muitos insistem em procurar a felicidade sem saber que ela está bem perto de nós. Muitas vezes não descobrimos e em outras muito tarde conseguimos ver. Estamos chegando em 2013. Mesmo nas dificuldades que estou enfrentando eu me considero um homem feliz. E sabe quem é responsável por tanta felicidade? Minha esposa. Isto mesmo. Celia que é minha vida e minha luz. Casamos novos. Ela com 17 eu com 23. Sempre tivemos um enorme respeito um pelo outro. Vivemos várias fases neste mundo de Deus. Não tivemos lua de mel. Como? Risos. O dinheiro passava longe. Fomos morar em uma cidadezinha. Trabalhava em uma usina siderúrgica. Peão de obra. Caminhão lonado indo e vindo. Comendo poeira. Minha casa? Alugada. Cozinha e quarto. Banheiro? Nos fundos do quintal. Móveis quase nenhum. Fogão a lenha. Um radinho de pilha.

Moramos em várias moradas. Em varias cidades. Em vários estados. Ela ao meu lado. Incansável. Nunca reclamou da vida que levávamos. Depois outro estado, uma fazenda, boiada das grandes, cobras, galinhas, porcos, Emas e Ciriemas, barcos, São Francisco, E rio das Velhas. Jacarés peixes e sucuris à vontade. Assim o tempo foi passando. Ainda noivo já lutava ao meu lado no escotismo. Sabia do meu segundo amor. Vestiu o uniforme de Bandeirante. Depois de Chefe Escoteira. Fez curso. Quase IM. Não continuou. Não dava. Fiquei mal e fui parar em um hospital. INSS. Ela lá. Junto comigo dia e noite. Até hoje é ela minha luz, minha enfermeira, aquela que me ajuda a pegar um ônibus, a correr nos prontos socorros da vida. Impossível descrever uma vida juntos de 49 anos. Muito tempo. Prometi a ela viver pelo menos para a festa das bodas de ouro. Que Deus me ouça.

Não posso continuar. Fico engasgado. Não era para escrever aqui. Ninguém aqui no facebook precisa ficar ouvindo lamurias. Mas tinha de dizer. Se tenho amigos aqui, ela é a responsável. Em 2012 rezei para chegar a 2013. Um ano se passou. Não sei se outros virão. Mas quando um dia qualquer eu me for lembrem-se dela. Se sou o que sou e acho que nada sou devo a ela. Tem dias que acho não ser merecedor de ter ao meu lado uma mulher como ela. Que os céus a proteja sempre. Ela ainda não leu estes parcos escritos tirados de um dia de alegria. Sim. Hoje estou alegre e tanto estou que digo a todos que quiserem ouvir – AMO DE MONTÃO A MINHA CELIA. ELA É MINHA VIDA, MINHA LUZ. TENHO CERTEZA QUE IREMOS VIVER PARA SEMPRE, POIS NOSSO AMOR É ETERNO!

Tudo de bom meus amigos. Nada mais a dizer. Que Deus os acompanhe sempre. Que possam ter sonhos dourados e que se realizaram como os meus. Sonhos bons, sonhos que irão dar novo ânimo para 2013. Feliz 2013! 

sábado, 29 de dezembro de 2012

Por que as pessoas sofrem?



Por que as pessoas sofrem?

     — Vó, por que as pessoas sofrem?

     — Como é, minha neta?
     — Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
     — Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
     —Vó...
     —Oi...
     — Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
     — É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu amor?
     —Não, Vovó.

     — Você lembra-se da estorinha do Patinho Feio?
     — Lembro.
     — Então... O Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.

     — O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
     — Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne. Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.

     — É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
     — É por isso! Viu como você é esperta?
     — Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
     — Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o cisnezinho precisava fazer para poder se enxergar?
     —O que?

     — Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
     — Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
     — Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
     — É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
     — Não entendi minha filha?

     — Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro...
     — Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
     — Todos nós somos querida. Em parte.
     — Ele vai descobrir quem ele é de verdade?

     — Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.
     — E aí viramos cisnes?
     — Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
     — Aonde você vai?
     — Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!

     A boa vovó apenas sorriu!

(encontrado na internet sem identificação)

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

O passo do elefantinho.



Lendas escoteiras
O passo do elefantinho.

“O circo chegou na cidade,
É tempo de pensar no que se viu
Montaram uma tenda bem grande,
“Uma tenda do tamanho do Brasil”!

             Interessante. A vida da gente é sempre cheia de surpresas e quando nos lembramos das boas damos um enorme sorriso. Estava eu absorto e escrevendo quando começou a tocar “O Passo do Elefantinho” com a orquestra de Henry Mancini (Baby Elephant Walk, escrito em 1961 por este compositor para o filme Hatari). Adoro esta música principalmente porque ela me faz lembrar-se de Rafaella, uma lobinha morena, sete anos, miudinha e sempre de fisionomia séria. Dificilmente sorria para alguém. Nunca faltou uma reunião e mesmo doente chorava para ir. Uma vez chorou tanto que seus pais com sua charrete (não tinham carro) a levaram agasalhada e enrolada em uma manta para a sede. E quem disse que adiantou a Akelá, o Balu ou a Kaa falar com ela? Necas! Ficou lá sentada em uma cadeira só olhando e sem sorrir!

           O Circo dos Palhaços Impossíveis estava na cidade. Naquela época onde armavam sua tenda eles faziam questão do desfile apoteótico. Eles sempre se instalavam as margens da Estrada do Fim do Mundo. Chamava-se assim porque era esburacada, pontes caídas, assaltantes enfim, era mesmo um fim de mundo. Não se chegava a lugar algum. Nem bem o circo chegou e um carro de som saiu às ruas anunciando as atrações. Depois vinha atrás palhaços, equilibristas, artistas e animais exóticos. A rua enchia de gente e nas janelas apinhavam-se todos. A meninada vibrava correndo atrás e muitos davam plantão junto ao circo na sua montagem para ver o movimento. A maioria dos jovens do Grupo Escoteiro Olavo Bilac estavam lá. Boquiabertos. Vendo aquela parafernália sendo montada. Os pais sorriam de contentes, pois pelos menos os filhos tinham aonde ir e os sonhos das molecagens agora tinham uma pausa.

             Rafaella viu o desfile. Não sorriu, mas quando o elefante passou com a Rainha de Sabá sentada em seu dorso seus olhos brilharam. Sua mãe e seu pai não notaram seu súbito interesse. Eles mesmos achavam estranho dela não sorrir. Pessoas humildes sem posses consultas a médicos especialistas estava fora de cogitação. Chefe Noravinio em reunião dos chefes do grupo sugeriu que o grupo todo fosse em um espetáculo. Época de férias poderiam combinar com o dono do Circo e quem sabe seria mais barato? Dito e feito. O Senhor Wiener Neustadt proprietário do circo exigiu que fosse chamado de Arquiduque Maximiliano, pois era trineto do próprio. Discutir para que? – Sexta, às dezesseis horas. O circo vai apresentar um espetáculo especial para os Escoteiros falou. Uma gentileza de Arquiduque Maximiliano, lembrem-se disto! Não irão pagar nada!

            Uma festa. Mais de cento e quarenta membros. Grupo grande. Junto outros tantos de familiares e penetras aproveitando a “boca livre”. Duas horas todos na porta. Uniformizados é claro. Rafaella rondava o circo. Viu a jaula dos animais e próximo o elefante. Tentou aproximar. Não deixaram. O espetáculo começou. Uma bandinha, o apresentador – Respeitável publico! Seguiu os artistas, equilibristas, mágicos, saltimbancos e os animais. O brilho, a beleza e o colorido dava asas a imaginação e a fantasia dos escoteiros. Eram levados para um mundo diferente. Um mundo de sonhos, das alegrias e os palhaços? Incríveis! A escoteirada pulava de alegria. Mas Rafaella só olhava. Não sorria. Um elefante adentrou na arena. Junto um menino vestido de indiano com um turbante azul. O elefante o seguia. Rafaella ficou de pé. Sorriu! Rafaella sorria! Ninguém a viu sorrindo, acho que só eu.

               Ninguém prestava atenção em ninguém. Naquela hora só a arena e os espetáculos de sonhos, de azuis, amarelos, vermelhos e de mil cores que estavam sendo visto pelos escoteiros. Só viram Rafaella na Arena. Susto! Gritaram – Rafaella volte! Ela não ouvia ninguém. Foi até o elefante. O tocou na tromba. O elefante olhou para ela. Ajoelhou-se e sentou. A pegou com a tromba e bramindo a jogou no ar pegando-a novamente. Rafaella dava gargalhadas e a escoteirada acompanhou. Seu Arquiduque Maximiliano veio correndo. Mas o elefante levantando a colocou em seu dorso e ficava em pé sempre segurando Rafaella com a trompa.

                O adestrador de animais conseguiu retirar Rafaella de lá, mas ela gritava para não sair. Na arquibancada ela parou de rir. Ninguém entendeu nada. Rafaella sorrateiramente pulou por baixo da arquibancada, passou por baixo da lona e quando procuraram por ela foram encontrar junto ao elefante atrás do circo e dando risadas. Interessante que o elefante gostava dela. O circo ficou na cidade nove dias. Embarcaram em um trem da Leopoldina rumo à outra cidade. Rafaella sumiu. Cidade pasmada! Impossível diziam. Aqui não tem disso. Procuras mil. Rafaella tinha entrado no vagão do elefante como clandestina. Descobriram quando chegaram a Nuvem Azul. Seu Arquiduque Maximiliano passou um telegrama para buscá-la. Interessante. Rafaella voltou a sorrir. Quando voltou a Alcatéia foi recebida como a heroína de aventuras. Palmas e abraços. Valeu Rafaella. Um dia não há vi mais. Soube que seus pais foram morar em uma fazenda de um parente que morreu. Quem sabe lá junto à natureza ela não esteja sorrindo junto a um Lobo Guará cinzento e brincando pelas campinas verdejantes? Rafaella, um sonho de menina. Uma lobinha que soube fazer sua própria aventura.

O dia que o Escoteiro Tonico Tonelada conseguiu seu “Lis de Ouro”.



Lendas escoteiras.
O dia que o Escoteiro Tonico Tonelada conseguiu seu “Lis de Ouro”.

                       A cidade de Ouro Fino era pequena para ele. Se ele andasse no passeio os outros tinham de ir para a rua. O chamaram de tudo. Gordão, baleia, Jamanta, mas o que pegou mesmo foi Tonico Tonelada. Seu nome era Antonio Maquete de Marisia.  Nasceu com doze quilos e meio. Até o berçário foi improvisado. Interessante que sua mãe era magrinha e seu pai um pouco avantajado, mas com a barriga. Não teve irmãos. Eram classe media e não faltava nada para ele. Com o passar dos anos chegou a pesar 125 quilos aos seis anos. Comia feito um esfomeado. Andava com um bornal cheio de doces, chocolates, biscoitos e muitos lanches salgado que Marinalva a empregada fazia para ele. Seu pai e sua mãe eram proprietários de uma pequena fábrica de parafusos que ia de vendo em popa. Alem do mercado interno agora estavam exportando para o exterior.

                      Quando fez quatro anos ele passou nas mãos de vários médicos. Cada um tentando isto e aquilo e nada. Foi quatro vezes internado num Spá. Sempre a noite causava o maior reboliço por falta de comida. Desistiram. Na escola uma carteira especial foi improvisada. Demorava em sentar e levantar e no recreio sentava em uns tocos e comia e comia. Aos seis e meio pediu para matricular nos escoteiros. Chefe Joasem assustou. E agora meu Deus! Pensou. Nunca deixou um menino chorando do lado de fora. Mas aquele não era só um menino. Era uma carreta de vinte toneladas com vinte e quatro rodas! Chamou o Akelá, o Balu a Bagheera e Hathi. Eles levaram um susto. Como fazê-lo entrar em uma matilha? Como seria recebido? E os jogos? Ele não podia correr, não tinha agilidade, mas negar a entrada?

                    Tonico Tonelada entrou para os escoteiros. Sorria sem parar. Agora seria alguém. Falou com Marcelinho primo da sua matilha que ele não iria se envergonhar dele. Não levou seu bornal de doces e quitutes. Pediu a Marinalva que não preparasse mais nada para ele. Na primeira reunião estava com 145 quilos. Em dois meses com 122 quilos. Em um ano com 100. Mas ficou franco, muito fraco. No acantonamento em Joaçalva, um sitio do pai de um lobinho ele desmaiou. Foi duro para carregá-lo. Mas Tonico Tonelada não desanimava. Tonico Tonelada era outro. Chegou aos 90 quilos aos dez anos. Tentou o Cruzeiro do Sul, mas acharam que ele não estava preparado. Ele não acreditava nisto. Fez tudo que era pedido. Já andava com mais agilidade. Mas a tristeza de não conseguir o distintivo o desanimou. Passou para a Tropa Escoteira com 100 quilos. Engordava a olhos vistos. Joubert seu Monitor não gostava dele. Nenhuma Patrulha o queria e só os Panteras em votação o aceitaram. Pudera, eram cinco e todos novos inclusive o Monitor.

                      Durante cinco meses Tonico Tonelada sofreu nas mãos dos patrulheiros. No acampamento em Campo Novo prepararam uma armadilha para ele. O levaram em uma garganta fechada e ele conseguiu a custo passar, mas no retorno não. Ficou engastalhado entre duas pedras. Depois de muitas risadas a Patrulha viu que o assunto era sério. Com medo do Chefe chamaram a Gavião para ajudar. O Chefe Joubert desconfiou e foi atrás. Com uma corda por cima conseguiram retirá-lo, mas com muitas feridas. Chamou a atenção de todos. Tonico Tonelada não acusou ninguém. Disse que ou se é amigo de todos e irmão dos demais ou não se é nada. Não se trai um patrulheiro irmão. Escoteiros não são dedo duro! Com suas palavras passaram a olhar para ele com outros olhos.

                      Tonico Tonelada tinha um sonho. Ser Escoteiro Liz de Ouro. Ninguém acreditou nele. O Máximo que poderia conseguir seria o Cordão Verde Amarelo. Aos doze anos não teve jeito. Entregaram para ele o Distintivo especial. Quando ia fazer treze lá estava ele recebe o Vermelho e Branco. Esmerava-se nas especialidades e já possuía cinco e se preparando para a de primeiros socorros nível II. O vermelho e branco não teve dificuldade. Com as doze especialidades e a de cozinheiro e acampador nível II viu que em breve seria um Liz de Ouro. Entrou com o pedido na Corte de Honra. Ela não teve como dizer não. Sua chefia ficou em duvida, mas Tonico Tonelada voltou aos 90 quilos. Seu corpo modificava. Agora já não parecia gordo, mas incrivelmente forte. Cresceu muito e sua altura com quatorze anos já era um metro de setenta e seis.

                      Tonico Tonelada não perdia tempo. Fez seu projeto individual, as especialidades requeridas e já tinha a IMMA (Insígnia Mundial do Meio Ambiente). Tirou de letra os 36 conjuntos de etapas de progressão rumo e travessia. Dito e feito. Todos boquiaberto. Tonico Tonelada, o gordão, o Jamanta era o primeiro Escoteiro a receber o Liz de Ouro no Grupo. Fato inédito. Na data da entrega foi uma festa. Seus pais contrataram um bufê caríssimo para receber todos os amigos dele naquele sábado à noite. A cerimonia de entrega na Arena da Bandeira foi uma apoteose. Linda. Todo o grupo presente. O Comissário Distrital também.

                        Tonico Tonelada se tornou um modelo para todos os escoteiros que um dia acharam que ele não iria conseguir nada. Conseguiu. Sei que hoje ele é um radialista. Montou uma emissora em sua cidade. ZYW.120. Cresceu e montou varias outras rádios em outras em cidades vizinhas. Um homem de sucesso. Ameaçou compra a Rede Globo. Nunca acreditei nisto. Risos. Sei que continua Escoteiro. Agora é Diretor Técnico do Grupo onde começou. A cidade de Ouro Fino e as demais da região faziam o povo todo correrem todas as tardes para ouvirem Tonico Tonelada. “Esta é a Radio Tonelada, falando de Ouro Fino para o Brasil e para o Mundo; Alerta Escoteiros do Brasil”!

domingo, 23 de dezembro de 2012

Uma noite maravilhosa de Natal!



Lendas escoteiras.
Uma noite maravilhosa de Natal!

                 Eu sempre tive um carinho enorme pela noite de natal. Família reunida, muitos presentes, abraços uma bela ceia isto sempre me encantou. Triste eu ficava quando lembrava que muitos não tinham esta minha felicidade. Já passava da meia noite e junto com minha esposa admirávamos na varanda os foguetes e a luzes no céu. Uma enorme tristeza se abateu sobre mim.  Lembrei-me da última visita que fiz na casa do Chefe Maninho. Sempre foi um pai para nós escoteiros de Esperança Feliz. Dizem que ele entrou para o Grupo em 1943. Ficou mais de sessenta anos no escotismo. Sempre notei nele uma pessoa triste, um olhar perdido no horizonte, olhos fundos e sempre com uma lágrima furtiva que ficava tentando esconder.

                  Chefe Maninho morreu há dois meses. Nas suas exéquias poucos foram. Nunca entendi isto. Esperava uma multidão e não foi quase ninguém. Claro era difícil vê-lo sorrir. Acho que ninguém nunca recebeu dele um abraço. Era muito fechado em si mesmo. Nunca esqueci o que ele me contou um dia. O Fogo do Conselho havia terminado e ficamos lá eu ele, Rosa uma Chefe Escoteira, Nair sua Assistente e Paulo Alberto um Chefe de tropa. Ficamos conversando e a meia noite todos foram dormir. Ficamos só eu e ele. Não sei por que ele estava com os olhos marejados de lágrimas. – Calma Chefe eu disse. Está se sentindo mal? - Não meu amigo, respondeu. São as lembranças que não cessam. E então, começou a contar parte de sua vida que acredito era desconhecido por todos que ficaram ao seu lado por muitos e muitos anos.

                 - Chefe, eu perdi meu pai quando tinha dez anos. Eu o adorava. Ele era tudo para mim. Levava-me aos parques de diversões, me levava em alto mar para pescar, fomos acampar em lugares inóspitos e mesmo já sendo um Escoteiro eu vibrava em sua companhia. Ele era Militar das Forças Armadas. Segundo Sargento do Regimento de Infantaria e todos o admiravam pelo seu caráter, por ser tudo o que hoje não sou. Um pai alegre, prestativo, amigo e muito respeitado não só em seu regimento como em toda vizinhança. Ele mesmo me contou com orgulho que fora incorporado ao 3º Regimento do Exercito Brasileiro. Um regimento da Força Expedicionária Brasileira. Em poucos meses ele partiu para a guerra na Itália.   Eu e mamãe choramos muito quando ele partiu. Sabe amigo Chefe, ele partiu em uma noite estranha, cuja lembrança nunca mais me sai. Chamou-me e disse – Filho, seu pai vai lutar lá na Alemanha. Vou me cuidar. Ainda vamos fazer grandes coisas, eu e você. Eu voltarei.

                  - Nos primeiros meses ele escrevia sempre. Mamãe, minha querida mamãe! Ela lia suas cartas, baixinho devagar, dizia que logo estaria de volta, pois a guerra estava prestes a acabar. Todos os dias ele vinha em meus sonhos, e nele retornava como se estivesse me abraçando. Passou um ano e ele não voltou. No natal escrevi para o Papai Noel uma carta. Uma carta simples, só pedia ao meu bom amigo que trouxesse de volta o meu papai que foi lutar na guerra. – Olhe Papai Noel, você que pode mais que a gente, e tem uma força sem igual, me dê Papai Noel este presente, se possível nesta noite milagrosa de natal. Mas nada. Nem resposta. No ano seguinte escrevi de novo. – Papai Noel, meu santo e bom paizinho, eu tenho meu coração como uma brasa, nesta hora triste em rezar ao Senhor eu venho. Papai Noel, se todos tem o seu papai em casa, só eu Papai Noel é que não tenho?

                Os dias, os meses foram passando. Mamãe só vivia pelos cantos chorando. As cartas não vieram mais. O silêncio era completo. Lembro-me que um dia mamãe passou a se vestir de preto e nunca mais sorriu para ninguém. E para piorar tudo meu amigo, um tarde chuvosa do mês de julho, bateram em nossa porta e dois oficiais do Exército Brasileiro entregaram a minha mãe uma medalha. Disseram a ela que ele tinha sido um herói. Mamãe, mamãe, eu quero meu papai! Ela calada, taciturna não chorou mais. Seu rosto lindo que nunca esqueci agora parecia uma mascara de cera. Na missa dos domingos ela disse para o Padre Antonio que estava perdendo a fé. Perdeu seu marido na guerra, ainda tinha seu filho, mas o mundo para ela desmoronou.

                 Sabe meu amigo, aquele mil novecentos e quarenta e cinco foi o ano que mais chorei. Eu sempre a noite rezava. Não acreditava que ele tivesse morrido. Jesus, meu amado e bom mestre eu dizia, se os tais heróis não voltam para casa, será que vale a pena ser herói? Senhor Jesus, meu santo e bom paizinho, me dê neste natal um presente. Acabe com minha revolta e me traga de novo o meu papai que foi brigar na guerra. Eu sei que o Senhor pode tudo e sei que vai dar um jeitinho de mandar o meu papai de volta. – Olhei para ele e ele chorava. Um "Velho" de oitenta anos chorando. Continuou a me contar - Olhe meu amigo Chefe. Não dá para esquecer. Acho que mamãe sempre ouvia minhas preces, pois um dia, naquela noite de natal, eu dormi abraçado com o retrato do meu pai. E confesso que tive lindos sonhos com ele. E sabe meu amigo Chefe, ao acordar gritei surpreso, pois lá estava enrolada em meu sapato uma enorme bandeira do Brasil!

               Sem palavras. Chorava ali com aquele velho naquela fogo que aos poucos se apagava. A brisa vinha de leve a nos dar um pouco de calma, de frescor. As pequenas fagulhas ainda existiam naquela fogueira que eram agora somente cinzas. Havia ainda algumas fagulhas que se arriscavam ainda a subir aos céus. Lânguidas e serenas para logo serem levadas com o vento. Papai Noel. E quem ainda não acredita nele? O natal, linda noite para alguns, muitas tristezas para outros. Abracei com força o Chefe Maninho. Ficamos ali até o amanhecer.  Nunca mais o esqueci. Que Deus esteja com você meu amigo, nestes pastos verdejantes do céu, junto ao seu papai e sua mamãe!

(História baseada no poema de Orlando Cavalcante, “Oração de natal de um órfão de guerra”). 

sábado, 22 de dezembro de 2012

Meus lindos netos, e uma noite maravilhosa de natal.



Lendas e sonhos de uma Noite de Natal. 
Meus lindos netos, e uma noite maravilhosa de natal.

                   Tudo que contei aconteceu em uma noite em um dia vinte e quatro de dezembro. O ano deixa prá lá. Todos os anos a mesma coisa. Família toda reunida. Na sala os netos faziam a maior algazarra. As mães de cabelo em pé. Celia querendo terminar a ceia e a “netaiada” não deixava. Chamei-os todos e sentados em circulo no tapete da sala disse que ia contar uma história. Eles nunca gostaram. Eu tentei algumas vezes, mas só a netinha de quatro e seis anos se interessava e isto poucas vezes. Como tusso muito ninguém gosta.

                    - Olhe, esta história aconteceu a muitos e muitos anos atrás. Uma época que eu gostava de acampar sozinho. Pegava minha mochila, meu bornal, meu farnel e minha bolsa de intendência e lá ia eu para algum lugar – Sozinho Vovó? Sim. Lembro que fui acampar na Floresta do Ouro Negro. Peguei o trem de ferro na Estação às oito da noite. Conhecia o caminho com a palma de minha mão. Pulava do trem em movimento na subida do Gato Preto próximo ao Túnel do Machado Cego. Isto por volta de meia noite. Mais duas horas de subida e eu chegava à Clareira do Chefe Osvaldo conforme eu a batizei. Dei uma parada. Olhei nos rostinhos de cada um para ver se estavam gostando. A netinha de dois meses não. Dormia a sono solto no colo de sua mãe. Os demais ainda prestavam atenção.

                     - Naquela noite não armei a minha lona. Não precisava. O céu estrelado e o orvalho que caia eram prenuncio de um lindo dia. Fiz um café, ascendi o meu cachimbo devagar e com calma. Naquela época fazia isto. Eu adorava o som noturno da floresta. Ainda não eram duas da manhã. Estava começando a cochilar quando fui acordado pela ave com o canto mais lindo que já tinha ouvido. O Uirapuru. Poucos têm este privilegio. Ele se esconde na parte mais fechada da mata. Muitos sonham em encontrá-lo. Diz a lenda, que quando o Uirapuru canta, até as outras aves se calam. Ele é pequeno, mas quando solta a voz meu Deus! Vi que ele se calou. Agora ouvia o som de uma viola. O que? Alí na floresta? Duas da manhã? Só podia ser caçadores. Lá fui eu pé ante pé e o que vi não acreditei.

                     - Ao som da viola o Uirapuru cantava e ao lado um macaco compenetrado. Em cima de um galho um falcão desconhecido sorria. Pensei que ali na floresta só eu era o admirador de tão belo espetáculo. A viola era magnificamente tocada pelo Urubu Rei. Ele não cantava. Só crocitava. Era enorme, na sua mão a viola tomava vida. Notei que alem de mim outros animais chegavam para aquele “Sarau” maravilhoso em plena Floresta do Ouro Negro. Vi um casal de quatis que se aninharam perto. Duas Onças enormes também sentaram na grama. Lobos de todos os tipos. Ciriemas, Emas, jacarés. Centenas de pássaros chegavam e em poucos instantes os melhores lugares tinham sido tomados. Dez capivaras, vinte tatus, dezena de cobras de todos os tipos – Nesta hora um neto me perguntou: Vovó tinha cobra? Tinha mas elas ali eram mansas.

                     - O “Sarau” ia de vento em popa. A Coruja Buraqueira se revezava com o Uirapuru. Até um Macaco Prego resolveu fazer graça. A floresta em peso compareceu. Nesta hora no melhor da festa uma Ema gigantesca veio gritando: Caçadores! Caçadores! Fujam todos! Gritei alto: Não, deixem comigo, eu dou uma lição neles e com a ajuda de vocês eles nunca mais vão voltar para a Floresta do Ouro Negro. Expliquei meu plano. Tudo combinado fui ao encontro dos caçadores. Os encontrei na Pedra do Menino Malvado. Gritei para eles – Saiam da minha floresta! Aqui não vão matar nenhum bicho! Eles deram risadas. Gargalhavam alto. Eram dois com duas espingardas velhas. – E quem vai nos impedir? Você? Um velhote que mal fica em pé? – Nesta hora eles foram cercados.

                        Centenas de animais. Contei oito onças pardas. Cinco Lobos cinzentos. Dezenas de Gaviões do Bico Vermelho. Quatis, cobras cascavéis, urutu, jararaca. Eles levaram o maior susto. Os bichos começaram a gritar ao seu modo – Hu, hu, hu! Nunca vi gente correr tanto. Sumiram nadando no Lago do Homem Devorado. Vi dezenas de jacarés nadando atrás deles. Risos. Voltamos ao ponto de reunião. O sarau continuou. Fiquei ali acampado por quatro dias. No meu campo sempre tinha meus amigos em minha volta. A Onça Parda da montanha não me abandonou um só instante. Voltei triste prometendo voltar um dia. A bicharada veio despedir.

                        O Gavião Vermelho me disse que preparasse minha manta. Fizesse dela como se fosse um paraquedas. Amarrei muito cipó. Mandaram-me sentar. Centenas de pássaros com seus bicos agarraram nos cipós e me levaram aos céus. Uma visão fantástica. Espetacular. Só quem viveu sabe como é. Deixaram-me próximo ao Túnel do Machado Cego e ali esperei o trem. Eles ficaram comigo até quando o trem apareceu em movimento. Despedi-me deles e com um salto me joguei no vagão de passageiros. Pela janela do trem vi que eles me acompanhavam. Uma pequena lagrima de saudades rolou pelo rosto.  Gritei alto prometendo que voltaria. Seu Delgado o condutor já me conhecia. Parei de contar. Vi que só tinha dois netos. Os demais estavam brincando de esconde, esconde. Risos. Eles não sei por que não gostam de minhas histórias. - Vovô isto é verdade ou mentira? Eu sorrindo disse para eles, olhem, é como nas histórias de Sherazade. As mil e uma noite de um sonho, assim acreditem se quiserem, pois boi não é vaca e feijão não é arroz! E quem quiser acreditar que conte dois! E ri a vontade.

                          E fomos todos para a mesa deglutir aquela ceia de natal maravilhosa que a Celia preparou. Saudades dos meus tempos de acampamentos. Saudades de quantas e quantas vezes acampei só. Saudades do Uirapuru e sua voz maravilhosa, saudades do grande violeiro o Urubu Rei da Floresta do Ouro Negro. Nem sempre as coisas boas duram para sempre. Ufa! Lembranças e lembranças de um tempo maravilhoso que não volta mais. Não acreditam em minhas histórias? Risos. Palavra de Escoteiro! Ora, Ora, sou Chefe, dizem que o Chefe pode tudo não? Risos.  

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O grande amor da Escoteira Nataly.



Lendas escoteiras.
O grande amor da Escoteira Nataly.

                       Nataly não estava acreditando. Nunca pensou em passar por aquela situação. Namorar alguém na tropa? Nunca! O grupo escoteiro Tesouro do Mar já teve experiências que não deram certo. Os chefes se reuniram e fizeram uma norma. Pequena, sem muitos artigos. Aconselhava a não ter namorados entre escoteiros e guias. Na sede e na saída era proibido. Se os pais concordassem desde que dessem testemunho pessoal ao Chefe, o namoro em casa ou em locais devidamente autorizados poderiam acontecer, no grupo não. Ela riu quando viu estas normas. Era Escoteira. Dedicava de corpo e alma a sua Patrulha, suas atividades e em tempo algum pensou em namorar alguém. Quando a norma foi entregue a todos ela mesmo comentou com Norberto da sua Patrulha – Estamos aqui para fazer escotismo e não namorar. Era firme nas suas palavras.

                      Nataly naquele setembro fez sua passagem para a Tropa Sênior. Eram dezesseis. Seis rapazes e dez moças. Escolheu a Patrulha Pico da Neblina e ali encontrou grandes amigos. Não esquecia sua Patrulha Quati. Sempre que podia fazia uma visita e as amigas que lá ficaram.  O disse me disse de quem gosta de quem havia entre os seniores e guias. Ela nunca deu ouvido para isto. Não era o que queria. Sonhava em ser Escoteira da Pátria e este era seu objetivo maior. Gostava da tropa. Animada, com mais liberdade de ação e de ideias. No Conselho de Tropa Sênior podia-se opinar e sugerir. Junto com eles fora em vários acampamentos regionais e até em um Jamboree. Mas sua preferencia mesmo era os acampamentos da tropa. Se possível longe da cidade, terreno desconhecido e sem casas perto. Nada que pudesse trazer a lembrança de civilização.

                        Tudo aconteceu no Acampamento em Agua Doce. Lindo local bem arborizado, um riacho gostoso para banho, muitos bambus para pioneirias. Seriam quatro dias e poderia ter sido o melhor acampamento de sua vida. Poderia mas não foi. No segundo dia à tarde o Chefe Landinho comentava sobre orientação, percurso de Giwell, leitura de mapa tema já discutido com o Monitor Robson da Patrulha e ele nos dava conhecimento da jornada do outro dia. Sem querer ela olhou para Paulo Roberto. Era um “bonitão” da tropa. Viu que ele olhava para ela e não tirava os olhos de sua direção. Ficou sem ação. Já o conhecia, não tinham muitas amizades fora do grupo e até na ultima “balada” na casa da Guia Marly pouco dançou com ele.

                        A noite ele se aproximou dela durante o jogo dos Feiticeiros da Morte. Perguntou se precisava de ajuda. Obrigada disse. Foi dormir impressionada. Sonhou com ele. Pela manhã acordou pensando nele. O amor chegava. A paixão adolescente florescia. Nataly estava ficando apaixonada. Tentou tirar ele da sua mente e não conseguia. Todo o acampamento para ela deixou de existir. O amor das atividades passou a ser o amor por ele. No terceiro dia só suspirava. Seu coração batia descompassadamente. Sua respiração quando olhava para ele acelerava. Sintomas de uma paixão? Ou de um grande amor chegando? Nunca em sua vida pensou que isto pudesse acontecer com ela. Afinal foram três dias de campo e tudo isso aconteceu tão rápido assim?

                       Na noite de sábado após o Fogo de Conselho as amigas se reuniram com os seniores para um “sarau” (cantigas de roça, desafios, poesias) e sob a supervisão de Chefe Vera ficaram até meia noite se divertindo. Paulo Roberto sentou ao seu lado. Ele a atraia. Irresistível. Seu coração como sempre deu pulos e pulos e sentiu sua mão suada quando ele a pegou. Era uma emoção forte demais. Ficaram rindo, brincando e se divertindo quando foi dada a ordem de recolher. Nataly achou que naquela noite não tinha dormido bem. Esqueceu por completo o acampamento. Esqueceu que ia tirar a especialidade de pioneiria. Esqueceu-se de tudo. Só pensava nele e já em plena madrugada dormiu. Sentiu um calor enorme no corpo e acordou assustada. Rezou. Pedia a Deus para que não se entregasse tanto aqueles devaneios.

                       No último dia após a inspeção e bandeira ele lhe fez um sinal. Ela não entendeu e ele repetiu. Subir o morro e encontrar com ele. E agora? Não sabia o que fazer e seu coração pediu que ela fosse. Atrás do bambuzal lá estava ele. Olhar lindo. Ele era o homem mais lindo que ela conhecera. Ele a tomou nos braços, a beijou e ela quase desmaiou. Ouviu vários jovens rindo e batendo palmas. – Ganhou a aposta Paulo Roberto. Disse que a beijaria e beijou. Nataly ficou vermelha. Aposta? Maldito! E ela acreditou? Saiu correndo e chorou. E como chorou. Sua monitora ficou preocupada. O acontecido logo, logo tomou conta da tropa. Nataly queria morrer. Ali mesmo a Chefe Vera fez um Conselho de Tropa. Pediu a cada um sua opinião do que tinha acontecido. Foi correto? Foi Escoteiro? Leal? Votou-se pela suspensão de Paulo Roberto por dois meses.

                          Ele não voltou mais a tropa. Dizem que sua família mudou para um bairro distante. Nataly aprendeu a lição. Por vários meses detestou todos os homens. Mas depois sentiu que na tropa o apoio moral foi grande. Os que apostaram e fizeram chacota pediram perdão. Eu não gosto de julgar. Sempre não fui a favor de tropas mistas. Mas aceito que tem muitas dando bons resultados. Se esta história serviu de lição para mim não sei. Para Nataly tenho certeza. Ela só foi namorar firme com dezoito anos. Casou aos vinte e dois. Tem dois lindos filhinhos gêmeos. A males que vem para o bem. As coisas ruins que acontecem hoje conosco, podem nos ajudar e muito no futuro. Nada como ter exemplos e experiências para achar a trilha certa. A trilha que conduz ao Caminho para o Sucesso! 

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.



Lendas escoteiras
O solitário Eddy. O leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos.

                    “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Ninguém esquece. O grito de quem já foi um patrulheiro fica marcado para sempre. Eu era um deles, da Raposa. Um ano e meio na tropa. Era meu mundo naquela época. Não havia outro. O escotismo para mim estava no meu sangue, na minha alma e no meu coração. Naquela quinta do mês de julho, lá pelos idos de 1952 combinamos com o Seu Leôncio de pegar uma carona em seu Carro de Boi até o seu sítio, nas proximidades da Colina dos Sete Cavalos. O Chefe Jessé amigo dele aprovou um acampamento nosso em suas terras de seis dias. Prometeu passar por lá pelo menos duas vezes e Seu Leôncio disse que tomaria conta de nós.

                   Quem um dia teve a felicidade de viajar num carro de boi, Jamais esqueceu. Aquele zumbido infernal com o tempo é como se fosse uma suave melodia de uma recordação sem igual. Foram duas horas e meia de sorrisos, e a gente ficava cantando, gritando, dando vivas e olhando a Canga, o Canzil, os Arreios, o Cabeçalho, e tentando descobrir o cantar das rodas no Cocão, na Cheda, no Recavem e tantas coisas lindas que compõe o carro de boi. Seu Leôncio era bom carreiro. Usava com maestria a vara do ferrão com dois guizos sem machucar os bois. Chegamos à subida das Colinas dos Sete Cavalos lá pelas onze da manhã. Trabalho duro. Armar campo. Mesa, toldos, fogão suspenso, lenheiro, aguadeiro e o Jairinho era muito bom na construção de um pórtico.

                   Eu gostava daquela Patrulha. Éramos amigos de verdade. Depois do jantar ainda à tardinha, sentados no chão e tomando um cafezinho próxima a mesa (faltavam os bancos) levamos o maior susto. Susto tal que nem correr deu ânimo. Minhas pernas tremiam como se fossem varas verdes. Bem no centro do pórtico um enorme Leão Branco! Isso mesmo! Um Leão Branco. Parado a nos olhar. Eu comecei a molhar as calças e acho que os demais também. Lembramos quando o Chefe Jessé nos instruir quando víssemos uma onça. – Não correr Jamais. Todos olham nos olhos dela. Um de nós passo a passo para trás tenta dar a volta. Sobe em uma árvore e lá grita, Faz barulho para chamar a atenção do animal. Quando conseguisse todos corriam e subiam na primeira árvore que encontrassem. Eu era o que estava mais atrás. Não fiz nada disto. Um medo terrível. Meu corpo parecia um tronco fincado no chão. Diabos! Não sei o que deu em Marino. Como se estivesse hipnotizado foi devagarinho até o leão. Ele afagou sua juba. O Leão Lambeu os pés de Marino. Ninguém acreditava no que via.

                     Assim começou a fantástica amizade de sete escoteiros e um Leão Branco. Marino o chamou de Eddy. O dia inteiro ele brincava conosco em nosso campo de Patrulha. Chegou até a nadar junto a nós no córrego da Canoa Quebrada. A noite ele sumia para bem de manhãzinha voltar. Muitas vezes ainda dormindo ele abria as portas das barracas e nos lambia fazendo cocegas. Amei aquele Leão. Ninguém pensou o que ele estaria fazendo ali. Ninguém lembrou como ele se alimentava. No sábado Seu Leôncio viu. Assustou. Pegamos na mão dele e o levamos até o Eddy. Ele não acreditava. Manso como um potrinho recém-nascido. Conversou com nosso Monitor. Natanael nos contou depois. Eddy estava matando para comer bezerros e pequenas ovelhas dos fazendeiros da redondeza. Queriam matá-lo. Sabiam que ele havia fugido do circo Garcia há cinco meses atrás. Tentaram capturá-lo e até alguns homens armados percorreram os montes, vales, campinas e tantos outros lugares tentando encontrá-lo e matá-lo e não conseguiram.

                   Eu não podia acreditar. Matar o Eddy? Nunca. Preferia morrer com ele. No domingo pela manhã vimos mais de vinte homens armados junto com Seu Leôncio. Eddy estava conosco brincando. Gritaram para sairmos de perto. Eu não sai. Agarrei o pescoço de Eddy. Ele me deu um puxão e foi correndo em cima dos homens armados. Um verdadeiro tiroteio. Nós gritávamos para não matá-lo. Eddy gemeu forte, virou para nós e como se fosse um último adeus abanou seu rabo e mexeu com sua enorme juba. Caiu morto no chão crivado de balas. Tinha sangue em todo seu corpo. Eu corri e fiquei abraçado com Eddy. Eu gritava e chorava. Chamava os homens de assassinos. – Mataram meu amigo! Malditos! Vão para o inferno! Não sabia o que pensar, coisas de meninos coisa de escoteiros que amam os animais.

               Durante vários meses nossa Patrulha não sabia o que falar. Nas reuniões ficávamos por muito tempo em nosso canto de patrulha, calados sem nada dizer a não ser ter os olhos vermelhos e cheio de lágrimas. De vez em quando um olhava para o outro e soluçava forte. Papai e Mamãe tentaram me consolar. Tentaram explicar que um leão tem um alto custo para alimentar. Come mais de oito quilos de carne por dia. Ele estava matando os animais dos fazendeiros. Nada. Isto para mim nada adiantava. Eu amei o Eddy enquanto vivo e o amava agora também.

           “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá rá rá, Raposa”! O tempo passou. Mas sempre me lembrava do Eddy. Um dia encontramos toda a Patrulha no Bar do Elias. Já adultos. Eu com mais de vinte e cinco anos. Tomamos varias cervejas e comemos linguicinhas picadinha com cebolas fritas, famosas na cidade.  E quem se lembra do Eddy? Perguntou Afonsinho. Pronto. Marmanjos chorando. Quem nos visse naquela mesa iria ver sete marmanjos chorando. Ficamos no bar por mais de cinco horas, sempre a lembrar dos belos dias que passamos com o Eddy. E triste ter belas histórias para contar como esta sem um final feliz. Um Leão Branco que vivia na Montanha dos Sete Cavalos. Nunca mais voltamos lá. Para que? Para chorar? Para lembrar-nos de um Leão que amamos e que nos tiraram assim? Hoje sei que foi a melhor decisão. Mas lá no fundo do meu coração eu não aceito isto. Como conviver com o Eddy para sempre eu não tinha explicação. Mas sua morte foi dura demais para enfrentar.

          “Azanka, Malenka, Lelenka - Lita, kalita Zazá – Rá, rá, rá, Raposa”! Minha Patrulha. Patrulha que amei por muitos anos. Patrulha com belas histórias que nos marcaram para sempre. Marquito, Marino, Natanael, Jovelino, Afonsinho, Jairinho e eu. Onde andam vocês? Saudades de todos. Imensas Saudades também do Eddy. O Leão Branco da Montanha dos Sete Cavalos que amei e ficou para sempre no meu coração.

sábado, 15 de dezembro de 2012

O delicioso casamento do porquinho Markito, na Floresta Encantada do Seu Mathias.



Lendas Escoteiras.
O delicioso casamento do porquinho Markito, na Floresta Encantada do Seu Mathias.

                     Markito era amigo do Neném, que era amigo do Jofre, que era amigo do Leialdo, que era amigo do Natalino, que era amigo do Zefiraldo, que era amigo do Denis e que sempre foi amigo do Lelé e Geraldinho. Bem, só tinha uma diferença. Markito era um lindo porquinho rajado de cinza com branco. Os demais escoteiros da Patrulha Pica-Pau. Desculpem. Sei que não estão entendo e vou explicar. A Patrulha Pica Pau era da Tropa Escoteira Santos Dumont e esta era do Grupo Escoteiro Leão do Norte. Eram muito amigos até o dia que apareceu Markito. Ninguém não deu nada por ele. Estavam em reunião e eis que aparece um porquinho pequeno, branco e cinza e melhor, limpinho. Parecia porco de cinema.

                      No cerimonial de bandeira ele ficou entre o Monitor da Pica-pau e o patrulheiro seis. Eles acharam graça e ninguém falou nada. Nem o Chefe da tropa. Durante toda a reunião ele acompanhou a Patrulha. Quando foram para casa pensaram que nunca mais iam ver o porquinho. Engano. No sábado seguinte lá estava ele, e no próximo e no próximo. Sem perceberem ele virou um patrulheiro. Formava, quando davam o grito ele grunhia junto. Em pouco tempo se tornou uma celebridade na tropa. Onde morava, como se alimentava ninguém nunca soube. Fizeram pesquisa na vizinha e nada.

                     Dois meses depois a tropa foi para um acampamento de quatro dias aproveitando um feriado de finados na fazenda do Seu Mathias. Na saída ao subir no ônibus lá estava o porco. Já o haviam apelidado de Markito. Disseram que ele parecia com um Sênior namorador do grupo e quando ele soube disto virou “bicho”. Brigou, berrou, levou o caso para O Conselho de Tropa, para a Corte de Honra e nada. O apelido do porco ficou. Markito deu um salto gigante. Bateram palmas para ele, mas subiu com elegância os degraus do ônibus. O acampamento foi uma festa. Markito era o máximo. No terceiro dia ele sumiu de manhã. Lá pelas três da tarde apareceu. Agora com uma companheira. Uma porquinha linda. Dizem que ele falou com o Denis, não acredito nisto, mas o Denis era um bom Escoteiro e não mentia nunca.

                    Chefe, disse o Denis. Markito quer casar. – Casar? O Chefe deu boas risadas. Ele quer que eu faça o casamento? – Sim Chefe. Se ele quer assim porque não? Diga a ele que amanhã no fogo do conselho eu irei celebrar ao casamento dele com a... Qual o nome dela? Fiorentina Chefe. Ele insiste que chamem o Seu Mathias. Ele será o padrinho. A tropa quando soube caiu na gargalhada. Foi o fogo do conselho mais gostoso que participaram. Em determinado momento o Chefe anunciou o casamento do porco Markito e a porca Fiorentina. Quando iam iniciar um fato inusitado. A arena do fogo se encheu de porcos, cavalos, bois, bezerros, galinhas, galos, cabras, gatos, cachorros e uma passarinhada enorme.

                    Não teve jeito. O casamento foi feito. Os escoteiros ficaram boquiabertos. A bicharada começou a cantar, a dançar e até uma Coruja com voz de anjo e acompanhada por um violão tocado pelo Urubu Rei engrandeceu aquele casamento histórico. O fato deveria ficar entre quatro paredes, mas não se sabe como na cidade de Bela Aurora uma semana depois se encheu de repórteres de todos os jornais e TV do país. Todos queriam conhecer Markito e Fiorentina. Mas eles? Sumiram. Procuraram em todo o lugar. Uma semana depois um jornal do Rio de Janeiro publicou que o casal foi visto em Buzios na praia das Caravelas se revezando na linda e tranquila praia da Tartaruga com suas águas transparentes.

                    Só dois meses depois quase no final da reunião, foi que Markito e Florentina apareceram na sede.  Ele com a barriga bem grande e Markito sorria de felicidade. Contou para o Denis que não ia voltar mais para a Patrulha Pica-pau. Construíram uma casinha na Ladeira do Porco, próximo a fazenda do Senhor Mathias, e lá pretendiam viver suas vidas. Todos desejaram felicidades e assim termina a história do Porco Markito, sua esposa Fiorentina e seus Filhos Newmar, Freed, Ronaldo, Pelé e um porquinho azulado,  pequeno bem raquítico que poucos olhavam para ele. Maradona!

                  E acreditem se quiser. Eu conheci Markito e sua família. Mas eu sou um contador de histórias e poucos acreditam em mim. Risos. Para terminar, eu digo – Boi não é vaca, feijão não é arroz. E quem quiser que conte dois!   

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A canção que ela fez para mim!



Lendas de um Chefe Escoteiro.
A canção que ela fez para mim!

                     Naquele sábado fui para a reunião meio desanimado. Não sei por quê. Muitas reuniões parados na sede, nenhuma excursão, jornada ou até um acampamento de fim de semana. Para ser franco eu também não mexi uma palha para animar a patrulha. Na sede ninguém. Por quê? Sempre nos encontramos ali antes do inicio, falar dos outros, papear, “causos” não era uma rotina? Fui para o pátio da sede. Então eu a vi. Fiquei sem fala. Linda! Impossivelmente linda! Uma princesa seria? Desceu das nuvens direto na sede? Ou quem sabe um anjo que Deus mandou para dar novo ânimo aos seniores? Olhe meu coração disparou. Minha mente deixava o corpo e se transportava para os mais lindos locais que já tinha ido. Fui à Cachoeira do Sonho, fui à Montanha Das Borboletas Douradas, fui até no despenhadeiro da Mil Mortes. Joguei-me lá de cima. Sabia que não ia morrer.

                 Foi então que percebi. Lá estavam os Seniores. Todos eles. Não faltou ninguém. Em pé encostados na parede da sede, e como eu não tiravam os olhos da linda moça dos cabelos dourados. Cachos despencando como na Cascata do Sol Nascente. Olhos? Azuis! Incrivelmente azuis. Uni-me a eles. Não notaram a minha presença. Seus olhos esbugalhados assim como o meu só tinham uma direção. Cláudia Alvonaro. Seu corpo? Não posso dizer aqui. Mas parecia ter sido esculpido por Michelangelo, ou melhor, Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni. Ah! Una Madonna Escoteira? Quem sabe ali estava sua obra prima da renascença sua bela escultura a Pietá. Não podia ser. Estávamos em 1958 e não 1498 quando ela foi esculpida.  

                   A paixão tomou conta de mim. De mim só não de todos os seniores. Doze rapazes perdidamente apaixonados pela bela Cláudia Alvonaro. Mas de onde ela veio? Da cidade não era. Conhecíamos todas as beldades. – Ela é de Vitória. Espírito Santo disse um Sênior. Meu Deus! Capixaba e linda assim? Bendita Vitória. Santino o Chefe Sênior adentrou ao pátio. Jovem ainda. Vinte e oito anos. Viu-nos e foi até nós cumprimentando. Ninguém olhou para ele. Inteligente como todo Chefe Sênior descobriu através de um “Kim” imaginário o motivo de nossa perplexidade e imutabilidade. – Ora, ora, parecem que nunca viram uma garota! Ele disse. Sem respostas. Continuávamos mudo. Olhos vidrados na bela Cláudia Alvonaro. A mais bela capixaba que o mundo conheceu. E nós os bravos seniores da tropa Anhanguera.

                     Ela estava linda. Uniforme azul, bonezinho de lobo. Saia curtinha (que pernas meu Deus!). Akelá? Não tinha mais de dezoito anos! Não seus bobos disse o Chefe Sênior. Ela é Assistente. Tem dezessete. Está fazendo uma visita. Vai embora hoje no trem noturno das oito. – Vou também! Falaram todos ao mesmo tempo. Chefe Santino riu sonoramente. Que vida. Descobre-se o amor de nossas vidas, a nossa alma gêmea e ela vai embora assim? E para piorar tudo ela começou a cantar. Os lobos sentados em círculo e ela cantando uma canção que não conhecia. Voz? Uma cantora nata! Ninguém na sede tirava os olhos dela. Maravilhosamente bela e uma voz de harmoniosa, que podia seguramente ser a maior cantora de todos os tempos.

                   O céu que me condene! Que me mate! Que acabe comigo. Estava “deverasmente” apaixonado. Perdidamente apaixonado. E o pior aconteceu! Ela olhou para mim e deu um sorriso. Senti o corpo tremer. Tive que sentar. Que sorriso! Que voz! Que rosto! Que corpo! Não podia ser uma mulher Akelá. Era uma deusa trazida do Olimpo. E eis que como se fosse uma chicotada, como se tivesse caído uma pedra enorme em minha cabeça, um Chefe novo de uns vinte e cinco anos entrou acompanhado do Chefe do grupo.  – Vamos embora meu amor! O que? Meu amor? Então olhei melhor, ele estava com a aliança na esquerda e ela também. Marido e mulher.

                  Ela se foi. Deu um “xauzinho” e disse um Sempre Alerta que nunca mais, nunca mais mesmo e eu juro, irei esquecer. A mulher dos meus sonhos, a mulher que iria ser a minha vida, a minha alma gêmea se foi. Se houve reunião de seniores eu não sei. Acho que os outros também ficaram como eu no mundo da lua. Começamos mudos e terminamos calados. Chefe Santino sorria no alto dos seus vinte e oito anos. Um homem experimentado sabendo o que sentia aqueles garotos que estavam crescendo e aprendendo com a vida. Cláudia Alvonaro virou a esquina abraçado com seu amado. A tropa acompanhou com os olhos seu ultimo adeus. E eu? Fiquei meses sonhando, pensando até que um dia!...

Atenção meus amigos. Preciso ter uma ideia de quantos estão lendo minhas postagens. Se você leu esta agradeceria muito se desse um clique no “curtir”. Meu muito obrigado.