No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

quarta-feira, 30 de maio de 2012

O "Velho" e saudoso bastão Escoteiro.



O "Velho" e saudoso bastão Escoteiro.

                      Tenho lido aqui comentários a respeito do bastão Escoteiro. Interessante. Já há tempos foi abolido. Quem comenta mais são os saudosistas. Eu entre eles. Agora que não existe ainda bem que sobrou o bastão da Patrulha, claro sem ele como usar totem? Tenho receio que também vão aboli-lo.  Não sei. Não digo que não usaria de novo. Mas porque não? Para dizer a verdade eu usaria sim. Mas concordo com o que dizem. Um trambolho para levar e trazer do acampamento e muitos que não estão acostumados irão esquecê-lo em qualquer encruzilhada de uma aventura, acampamento, ou seja, lá o que for. Mas meus amigos, sempre disse que tudo é uma questão de costume. Hábito de comportamento. Eu quando jovem nunca fiquei sem o meu. Eu mesmo o fiz. Calmamente sem pressa. Escolhi de um pé de goiabeira, acho que durou muitos anos. Mesmo passando para os seniores eu ainda o usava, apesar de que nesta sessão praticamente ninguém nunca o usou. A Patrulha sabia reconhecer um bom bastão escoteiro. Ele contava a história de seu dono. Seu tempo de atividade, seu crescimento, suas etapas, seus acampamentos. Mil coisas. Lembro que até o meu Insígnia de Escoteiros todos os alunos ainda usavam o bastão.

                     Mas o bastão queira ou não tinha mil e uma utilidades. Abrir picadas em matas, se defender de animais peçonhentos, e olhe importantíssimo em trilhas desfeitas para fazer barulho e espantar alguma cobra no caminho. Elas correm com o barulho. Ele era imprescindível em jogos, serviam como escada para elevar um Escoteiro em uma árvore alta, na montagem de campo e claro nunca esquecer suas mil e uma utilidades nos casos de emergências: - Uma torção do pé, alguma dor na coxa e se necessário se transformar em uma maca rapidamente com duas camisas. Sabe o que fazia nos Grupos Escoteiros que dei minha colaboração? Todos quando chegavam ao campo, tinham de fazer seu bastão Escoteiro e andar com ele. Fácil de fazer. Medidas? Altura até o inicio do pescoço, uma circunferência do dedo indicador e polegar em forma de O, e pronto você tem seu bastão escoteiro. Escolher uma madeira boa nem sempre é possível. Ma você deve lembrar aos escoteiros que ele deve aguentar seu peso, e não deve ser pesado para que fique fácil seu manuseio. Dependendo do bambu ele pode ser usado sem sombra de dúvida. Claro que ao terminar o acampamento ele seria descartado.

                    Muitos não gostavam. Escolheram tanto e agora jogar fora? Não dava para pegar ônibus urbano, mochila, sacos de intendência e bastão. Mas sempre dávamos um jeito. Lembro-me que qualquer Escoteiro sabia como usar. Quando estavam em forma, em posição de alerta (sentido), descansar ou saudando a chefia e a bandeira e andar em marcha de estrada. Até hoje gosto de ver um Monitor ou sub. passando o bastão para o outro. Uma cerimonia que todos orgulhavam. Não sem se ainda fazem assim. Mudou-se tanto!

                Mas convenhamos que hoje ele seja supérfluo. Quem o dispensou eu não sei, mas deve ter feito uma grande pesquisa nacional com os escoteiros para acabar com ele. E penso que todos concordaram. Aos poucos retiram muitas coisas do passado. Acredito que os jovens agora pensam de maneira diferente. Tenho que concordar. Nossos dirigentes devem saber o que fazem. Mas acreditem, quando vejo uma foto de outros países ou mesmo aqui do nosso, onde os meninos estão de bastão fico orgulhoso. Dei boas gargalhadas quando alguém me disse que BP colocou o bastão para lembrar o fuzil do exército, pois ele sempre viu todos como futuros soldadinhos. Risos. Dizem tanto sobre BP. Meu amigo BP! Falam tanto sobre ele que até esqueço se foi verdade mesmo que existiu. Quem sabe agora existe os novos que são modernos e um dia serão considerados os novos Baden Powell da liderança mundial escoteira. Mais modernos mais atuais. Fazendo um escotismo forte e vigoroso. Orgulho da nova geração.

                Um dia vou por aí a vaguear e se achar um belo bastão e eu o trarei comigo. O meu não tenho mais. E este se achar vai ficar em lugar de honra em minha casa. Irei colocar nele tudo que fiz e que ganhei na minha vida Escoteira. Mas isto não deve interessar a ninguém. Não mesmo. Existem outras situações mais importantes para preocuparem. É melhor deixar com os antigos as recordações. São coisas de “Velhos” escoteiros rabugentos e suas manias. Risos.  

terça-feira, 29 de maio de 2012

A lenda do Tico-Tico da asa partida



A lenda do Tico-Tico da asa partida

Quanto tempo! Muitos anos quando ouvi esta história que hoje resolvi contar. Se não me engano foi a Chefe Marlene. Hoje ela também está tão velhinha como eu. Nunca me esqueci dela. Sua Alcatéia era um doce. A alegria era reinante. Conheci muitos dos seus lobinhos, hoje homens feitos. Chefe Marlene era de uma simpatia que quem a conhecesse diria que não tinha inimigos. E não tinha mesmo! Um dia na casa dela me contou uma história que a principio não acreditei muito, mas era a Chefe Marlene. Tinha palavra.
Lavinia tinha seis anos e meio quando entrou para Alcatéia. Assim começou a sua narrativa a Chefe Marlene – Era uma menina triste. Quase não sorria. Brincávamos sempre com ela e ela séria. Mas sempre achei um dia ela iria mudar. Não se entrosou muito na matilha. Fazer amigos para ela era uma dificuldade. Sempre se mostrando arredia. Acho que foi no Acantonamento que fizemos em Rio Bonito que tudo começou. Seriam três dias. Os pais de Lavinia eram muito simpáticos. Alegres e eu não entendia a personalidade de Lavinia com a sua testa sempre franzida e os lábios fechados. Ela custava a enturmar apesar de que sua matilha verde era especial. Antiga e a maioria dos lobinhos eram como irmãos.
Tudo corria bem até um dia depois do almoço que demos pela falta dela. Um jogo gostoso chamado “fugindo do lobo mau” e ela sumiu. Onde estaria? Procuramos em volta das arvores, na casa sede e nem no riacho vimos nada. Era um riacho tão raso que a parte mais funda não passava do calcanhar de um lobinho. Uma hora depois vimos ela surgindo com um sorriso nos lábios. Era um sorriso tão bonito que desistimos de chamar sua atenção na hora. Alegria geral, depois de seis meses na Alcatéia pela primeira vez ela sorria. Esperei o jantar e quando todos sentaram na varanda para um breve tempo livre a procurei. Ela sorria para mim e dizia – Akelá, hoje é o dia mais feliz da minha vida. Fiz uma amizade que acho ninguém tem. Achei um Tico-tico da asa partida e ele gostou de mim e eu dele.
- Como sabe que é um Tico-tico? Perguntei. Ele me disse! Agora sei como são. Topete baixo listrado, belo, amarelo e ele disse que era um “macho”. Ele se assustou com um filhotão de chopim querendo comida e gritando com ele. – Asas da imaginação pensei. Deixei-a acreditar no que dizia. Não sabia se era para o bem dela ou não, pois agora sorrindo valia tudo. Até a história fantástica que contava. – Sabe Akelá, ela continuou – Ele estava fraco, pois sua companheira que o ajudava com alimentos tinha vários dias que não aparecia. E o que você come eu perguntei. – Ele respondeu – Sementes, insetos, mas preste atenção - Muitas vezes acham que somos pardais. E porque sua asa partiu? – Ele fechou os olhos e chorou baixinho. Um gavião malvado.
- Olhe ele dizia, eu tenho raiva dos chopim. Eles são parasitas. Botam ovos para nós chocarem. Não gosto e ele chorou de novo. Olhei para Lavinia e não vi nenhuma mentira em seu rosto ou seu modo de falar. Claro sei que passarinhos não falam assim deixei que ela desenvolvesse sua criatividade. Em pouco tempo ela esqueceria tudo. Todos os dias enquanto durou o acantonamento ela me pedia para visitar o Tico-Tico. Claro deixei, mas ela insistia para ir sozinha. É perto. Não vou me perder. Assim foi até o último dia. Uma surpresa aconteceu. Antes do retorno ela correu até o ninho do Tico-Tico e trouxe-o com ela. Achei que não seria bom que ela levasse para casa. Chorou tanto que achei que poderia, mas desde que sua mãe autorizasse.
No ônibus todos cantando e Lavinia conversando com o Tico-Tico. Todos assustaram quando uma vozinha fininha no do fundo gritou – Não parem de cantar! Adoro o que voces cantam. Até sei cantar a Arvore da Montanha! – Quem foi? Quem era? Não vi ninguém. Lavinia disse que era o Tico-Tico. Fui até lá para repreendê-la e o Tico-Tico virou para mim e falou. – Olá Akelá Marlene, a Lavinia fala muito bem da senhora. Chefe, um susto eu levei. Enorme. Quase caí ao chão. Acredite Chefe, o Tico-Tico falou mesmo!
Não disse nada. Fica o disse pelo não disse. Tico-Tico falante? Essas alcateias tem cada uma. Ouvi uma vozinha lá da cozinha dela chamando – Ela me convidou a ir com ela. O Tico-Tico estava em cima da mesa ciscando, dando pulinhos e vi que sua asa estava boa. – Um veterinário. Remendou tudo. Agora ele passeia por aqui quando Lavinia vai para a escola. Este é o tal que fala? O Tico-tico me olhou, ciscou para frente e para trás e disse – Acha que sou mentiroso Chefe? O Escoteiro e o Tico-tico tem uma só palavra e sua honra vale mais que sua vida!
Podem achar que é uma lenda. Mas acreditem, eu “quase” juro que é verdade. Danado de Tico-tico falante. Um tagarela isto sim! Risos.  

sexta-feira, 25 de maio de 2012

As aparições do Chefe Trovão.



As aparições do Chefe Trovão.

Todo sábado à tarde, levava meu filho para as reuniões da tropa escoteira. Ele se sentia realizado, e não aceitava faltar ou chegar atrasado. A princípio não achei tedioso, pois, ficava por ali esperando o término e aproveitava para ver o que faziam. Assim como eu vários pais ali também permaneciam. O Chefe Trovão ficava quase sempre conversando conosco. Não participava diretamente. Não era o Diretor Técnico. Eu sabia que ele era especial, pois todos o tratavam de maneira respeitosa. Soube depois que era um dos poucos que dirigia cursos, e conhecia como ninguém o fluxograma, o projeto e o intento do programa escoteiro.
Tornou-se para nós um amigo e assim como os demais chefes após as reuniões sempre nos reuníamos em casa de alguém, para conversar, bebericar uma cerveja ou refrigerantes. Era uma reunião divertida. Com o tempo, o chefe Trovão convenceu a todos nós a participar mais diretamente colaborando com o Grupo em questão. Nada como experimentar. Reuniu vinte e cinco pais, e durante uma tarde de um sábado e o dia inteiro do domingo, aplicou a todos o CAP (Curso de Adestramento Preliminar). Foi divertido, mas logo nosso tempo aos sábados, domingos e alguns dias da semana começaram a ser tomados, em função única e somente para as atividades escoteiras.
Nos primeiros meses fiquei em dúvida, mas com o passar do tempo o escotismo começou a ficar enraizado em meus pensamentos e assim como os demais pais começamos a nos dedicar de corpo e alma ao movimento escoteiro. Fomos mordidos pelo mosquito encantado de Baden Powell. Daí para um CAB e a parte II da Insígnia foi um pulo. No mês de julho, estava marcado um acampamento de cinco dias, numa pequena mata pertencente a um amigo do chefe Trovão. A Tropa Escoteira e Sênior iriam participar. Claro que também estaríamos presente. Não iriamos faltar. Aos poucos fomos aprendendo como preparar o material, a intendência, as caixas de patrulhas, ou seja, tudo aquilo que os escoteiros conhecem tão bem.
Ficamos sabendo pelos outros chefes dos mitos do acampamento, e um fato nos deixou intrigado. O chefe Trovão fazia questão que todos os chefes participassem do banho das “três e meia” da madrugada com um “sabonete especial” no primeiro dia de acampamento. Era uma tradição. Ninguém podia faltar. “Que diabos” pensei. Por quê? Qual a finalidade? Como havia um respeito nato ao Chefe Trovão não perguntamos. Vamos ver o que é e depois comentar.
No dia marcado partimos. Alegria geral. Chegamos cedo ao local. Lindo. Uma grande lagoa tendo em volta uma pequena floresta nativa. Havia uma bela clareira e a poucos metros acima corria um córrego com águas limpas com uma pequena cascata. Chamada de Bica Molhada por todos que acamparam ali. Os monitores escolheram seu campo e nós ficamos em um campo próprio não muito distantes deles. Esqueci-me de explicar que há mais de três dias fazia um frio horroroso em nossa cidade.
Tudo transcorreu nos conformes.  À tardinha, ainda com sol, todos se lavaram junto ao lago, e nós fomos até uma bica bem abaixo, que corria em bambus formando uma ducha sem igual. Após o jantar, foi feito um jogo. Terminado a reunião como os monitores, cada um foi procurar o seu canto para dormir. Já tínhamos se esquecido de tudo e eis que o chefe Trovão nos chamou a todos dizendo que o horário de três e meia era sagrado, não gostaria que ninguém faltasse ou chegasse atrasado. Nesta hora foi que nos lembramos do tal banho. Achei um absurdo. Um frio de rachar. Acho que agora estava com uns doze graus e pela madrugada deveria chegar Aa cinco ou seis. Já ia discordar quando o chefe Trovão me olhou enviesado e como estivesse lendo o meu pensamento, apontou para mim dizendo: - Sinto muito, quem faltar vou considerar como falta de “Espírito Escoteiro”. “Diacho” E agora? Não falamos nada. Tínhamos enorme respeito pelo Chefe Trovão.
Dormi preocupado. Era o cúmulo do absurdo. Se isto era escotismo meu pai era um macaco falante. Não aceitava tal ideia ou tal imposição. Pensei que no outro dia juntaria minhas tralhas e iria embora. Mas meu filho estava ali. Seria uma falta muito grande e uma tremenda decepção para ele. O jeito era esperar a madrugada, pois achava que aquilo não passava de uma piada. Não acordei às três e meia. Ninguém acordou. Não fomos chamados. Mas o Fabio um dos pais acordou dez minutos após e chamou a todos nós. Levantamos assustados. Um frio de rachar. Enrolado em um cobertor nos reunimos em volta do que restava do fogo aceso frente às barracas. O chefe Trovão não estava na sua. Já tinha partido sozinho.
O que fazer então? Cada um deu sua opinião no final, resolvemos ir até a ducha e pedir desculpas ao chefe Trovão. Devíamos isso a ele. Não era longe nem perto. Uns 200 metros abaixo da lagoa. Saímos tiritando de frio. Na trilha todos nós sentíamos calafrios. Não acredito em fantasmas nem em alma do outro mundo. Mas não sei por que, talvez o silêncio, as arvores sombrias, a lagoa escura nos fazia ter um medo que me bambeava as pernas. Pé ante pé avistamos a ducha (ficava uns 10 metros abaixo de nós) e vimos o chefe Trovão só de short, debaixo da ducha com as mãos levantadas, abaixando junto ao corpo e ficando em pé repetindo sempre, numa linguagem inteligível como se fosse uma prece ou invocação. Foi então que uma luz brilhante apareceu.
Olhe, eu tremia igual vara verde. Nunca tinha visto nada igual. A luz foi aumentando e em poucos segundos, diversos vultos como sombras fantasmagóricas também lá estavam saudando o chefe Trovão. “Deus do Céu” que era aquilo? Ainda não tinha visto nada igual em minha vida. O chefe levantou as mãos para o céu e ficou acima do chão uns dois metros continuando sua reza e os vultos numa espécie de dança macabra ficaram rodando em sua volta.
Um grande redemoinho foi formado. Não vi mais os vultos e o chefe Trovão. A luz brilhante começou a faiscar, lançando raios para todos os lados. Fugimos dali esbaforidos, tremendo, alguns garanto tinham molhado os pijamas, ninguém falou nada, todos queriam ir à frente e ninguém atrás. Cada um entrou em sua barraca, ofegante, esperando a calma chegar. Que nada, a tremedeira não passava. Não estávamos acostumados com isto. Os minutos foram passando, estávamos acalmando e eis que bem no inicio da trilha, pela fresta da barraca avistamos o chefe Trovão.
Com um short curto, a toalha jogada nos ombros, assoviava alegre o “Acampei lá na montanha”. Parecia estar em uma praia num escaldante verão. Não mostrou curiosidade em saber se estávamos acordados. Fez uma pequena ondulação com o corpo, mexeu com os braços e se dirigiu a sua barraca. Ao entrar se voltou e abanou as mãos em direção à mata. Não vimos nada. No dia seguinte levantamos calados. Poucos conseguiram dormir. O acampamento cumpriu seu programa. Os escoteiros alegres, os seniores com seu grito de guerra, enfim uma grande exultação de um programa que se não fosse o acontecido, poderia dizer sem similar.
Retornamos no dia marcado. O Chefe Trovão parecia o mesmo. Professor, tutor, instrutor, mas sempre quando nos encarava, um sorriso maroto brotava para logo mostrar sua carranca de chefão. Na semana seguinte, notei que somente eu e mais dez pais ainda estávamos participando do grupo. Os demais mandaram as mães levar os filhos e avisar ao Chefe do Grupo que não poderiam continuar no movimento.
Não houve comentário. Parece que um pacto de silencio acometeu a todos. Eu mesmo nem com minha esposa falei do assunto e do acontecido. Acho que todos tinham medo de serem ridicularizados. Mas acredito e disso não tenho nenhuma dúvida, que o Chefe Trovão tem um pacto com o coisa-ruim ou então com espíritos amigos, cuja visita recebe sempre no afamado “banho das três e meia e seu sabonete mágico”.
O porquê de seu convite não tinha nenhuma lógica. Porque então nos convidou? Até hoje não sei. Sei que seus encontros maquiavélicos devem existir até hoje. Ele sabe que aqueles que viram seu ritual nada dirão. O medo de tudo o receio de represálias, seu estilo dominador nos faz esquecer o fato. Continuo até hoje no escotismo. Sou Escotista de Tropa Escoteira. O Chefe Trovão há alguns anos mudou de cidade. Não ouvi falar mais nele. Ninguém no grupo comenta o assunto. Dizem que o Chefe do Grupo também participa do ritual, mas eu não posso provar. Não vi e nem quero ver. Quando me lembro dele, sem querer vejo chifres em sua cabeça. Deus me livre! E a vida continua, falei por falar. Narrei por narrar. Não vi, não sei, não ouvi estou com os olhos fechados e minha mente não pensa. Esqueçam o que disse!
E se alguém encontrar o Chefe Trovão por aí, digam que eu mandei um forte abraço. Nada mais. Dele eu quero distância! Risos. 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Pérolas escoteiras da Internet


Pérolas escoteiras da Internet
(para rir somente e não acreditar, por favor!).

01 – Chefe avise a Patrulha que a excursão ao pico do papagaio que não precisam se preocupar com a subida. Consegui com meu tio o helicóptero dele que vai levar toda a Patrulha de manhã e vai nos buscar à tarde;

02 – Alguém sabe me dizer se vai ter reunião sábado? Tenho um compromisso sério no Shopping com uma “mina” de tirar o chapéu +D. O chefe já voltou da lua de mel?

03 – Como as reuniões de seniores estão muito chatas, o Chefe no Conselho de tropa definiu que iremos fazer reuniões via Skype ou o ooVoo. Assim poderemos conversar sentados, reunir outros amigos, beber uma limonada e quem sabe ficar com a namorada do lado;

04 – Alguém pode dizer ao Chefe que não vou mais para o acampamento? Tem uma balada de uma amiga e não posso perder;

05 – Visando dar mais viabilidade aos escoteiros da tropa, sugeri ao presidente da nossa Corte de Honra que ela seja transmitida via internet para que todos possam assistir como ela é feita e como procedemos nas reuniões;

06 – Amigos do Face, este é meu filho na sua promessa de escoteiro. Adoro ele. Amo ele de montão. (o jovem com uns onze anos estava com uma camisa Escoteira cheia de distintivos, dez estrelas de atividade, e com o lenço e o colar da Insígnia de Madeira);

07 – Pode acreditar Chefe, se Baden Powell (BP) fosse vivo hoje, tenho certeza teria aderido à modernidade. Usaria é claro um jeans e um chapéu texano, e escreveria um livro: O Escoteiro do Futuro no mundo das ilusões!

08 – Chefe! Não tenho ido às reuniões de sábado. Nós vamos ao grande jogo distrital? O senhor sabe que detesto reuniões, mas adoro atividades extra sede;

09 – Acreditem amigas, o acampamento foi péssimo. A minha TV portátil não pegou nada, meu celular acabou a bateria, meu colchão a ar não funcionou e para piorar meu notebook novinho não quis entrar na internet. Imagine! Quatro dias sem entrar no facebook?

10 – Atenção turma fiquei sabendo que dona Esmeralda não vai mais cozinhar para a tropa nos acampamentos. O Chefe está procurando um novo cozinheiro com experiência de dez anos, alguém conhece um bom? Disse que paga bem!

11 – Chefes do meu Grupo Escoteiro. Foi ótima a reunião de pais. Eles decidiram que os próximos acampamentos serão realizados no Camping Agua Dourada. Eles vão providenciar um bom cozinheiro, irão contratar o serviço de uma empresa especializada, que irá armar as barracas, fazer as pioneirias e até o fogo do conselho será apresentado por uma trupe muito famosa na TV! Esqueci-me de dizer, eles irão contratar garçons para servir todo mundo!

12 – Alguém pode fazer uma relação das atividades distritais, regionais e internacionais para jovens? As reuniões de sede e os acampamentos lá do Grupo Escoteiro estão deixando a desejar. Um “saco” para dizer a verdade;

13 – Chefia, não irei às reuniões nos próximos sábados, infelizmente me inscrevi em uma escola de Luta Livre e serão dois meses. Quando terminar se ainda estiver animado eu volto certo?
Resposta da chefia – Anotado Escoteiro. Sentiremos sua falta, adoramos você. Seu lugar estará sempre lá. Beijos!

14 – Amigos e amigas estou super animada, vou para o Jamboree. Espero encontrar voces lá. Na minha Patrulha só eu, afinal quem mandou eles serem pobres?

15 – Minha mãe contratou um estilista para fazerem lenços escoteiros. Devo levar todos para trocar no Jamboree, mas aviso, Não me venham com lenço de pobre! Se não tem assinatura de um design famoso, esqueçam. Não troco;

16 – Meus amigos escoteiros e escoteiras avisem a todos e aos seus chefes que vou criar um grupo no Facebook só para nós deixarmos recados para eles e nossos monitores. Assim fica mais fácil comunicar, pois ninguém sai do Facebook!

17 – Se Baden Powell (BP) fosse vivo, ele estaria rindo mais que nas suas fotos do passado. Quantas coisas ele iria ver e dar belas risadas! Pois é BP, ainda bem que só vê aí de cima sem poder opinar. Dizem tanto aqui sobre você. Quando chegar aí, vou lhe contar algumas perolas da internet e vamos rir juntos. Me aguarde!

E tem muito mais, mas fica para outro dia. E é como as Lendas e Fábulas que escrevo nas minhas historias. Acredite quem quiser...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um tesouro que se evaporou



Um tesouro que se evaporou

Esta historia aconteceu há muito tempo. Se não me engano foi em 1971. Um Conselho Regional (hoje Assembleia) em uma cidade no interior de Minas famosa por suas igrejas, ruas com calçadas rusticas, casas de mil e setecentos, uma linda cidade. O Grupo Escoteiro de lá foi nosso anfitrião. Fui lá algumas vezes para juntos fazermos o programa, pois as inscrições até então demonstravam que iriamos ter mais de trezentos participantes. Eles conseguiram em um mosteiro próximo, alojamentos e inclusive refeições por um preço módico que foi coberto pela prefeitura local.
Naquela época os Conselhos eram sempre cheios de atrativos. Tínhamos sempre aos sábados uma noite dançante (após o encerramento dos trabalhos) e se tornou uma tradição o grande jogo que sempre realizávamos no sábado à tarde. Desta vez deixamos para o "Chefe" de grupo de lá, a responsabilidade, pois ele me garantiu que tinha um bem bolado na “ponta do nariz”. Era conforme ele disse um Grande Jogo tipo caça ao Tesouro. Além da busca teríamos oportunidade de conhecer a cidade nos vários aspectos turísticos, pois o tempo reservado para isto não existia em nosso programa.
Separamos por Patrulha de seis o que deu mais de quarenta patrulhas. Cada uma foi informada por uma “Carta Prego” como seria o grande jogo. Uma pista na própria Carta levaria a pista numero dois e assim por diante até a última (a sétima). Todas as pistas foram colocadas em igrejas e museus e olhe, não era fácil interpretar o que deram como pista principalmente não conhecendo a cidade e seus monumentos históricos. Claro que foi liberado a consulta com moradores e por duas horas várias patrulhas conseguiram chegar na quinta. Na sexta somente quatro.
E onde estava a pista sete? No local determinado nada. Procura daqui e dali e foi chamado o "Chefe" de grupo que viu a sua responsabilidade de pessoa séria cair por terra. Deixou esta pista com um pai de lobinho e correu a casa dele. Descobriu que tinha ido para sua fazenda que não era tão longe. Quando lá chegou o tal estava bêbado, tão bêbado que não conseguia falar e com todas as pistas que deveria ter deixado lá no bolso. Mas ele não tinha escrito onde estava o tesouro. Não escreveu nada. O jogo foi encerrado. Uma desilusão dos afoitos que conseguiram ir até a sexta pista. E o tesouro? Existiria? O que seria?
Fiquei sabendo alguns meses depois que em um domingo de Ramos, a igreja cheia, o bispo que celebrava a missa resolveu usar a “ambula ou cibório” maior devido ao grande numero de fieis que iriam comungar. Nem olhou, pois deduzia que ela teria hóstias suficientes para todos. Na hora, quando ele abriu a tampa e enfiou a mão para pegar a primeira, viu que lá tinha muitos saquinhos bem acondicionados. Depois da missa abriu os saquinhos e viu que cada um tinha pedras preciosas sem muito valor (naquela época, hoje valem muito) e ficou encucado.
O "Chefe” do Grupo informado a respeito procurou o pai que tinha esquecido onde deixou o “tesouro” e agora lembrava. Dentro da “Ambula ou Cibório” da principal igreja da cidade. Pena que não houve final no grande jogo. Seria um presente e tanto para a Patrulha vencedora. Mas acho que valeu. O jogo não teve final, mas teve história. Mimeografei e mandei a todos os participantes para que conhecessem o final do jogo do Tesouro Misterioso que não houve.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Você já viu as flores silvestres escoteiro?


Você já viu as flores silvestres escoteiro?

Elas estão lá. Ainda existem as flores silvestres! Nos campos! Nas campinas! Nas montanhas verdejantes! Quantas vezes eu colhi pétalas de margaridas, de violetas, de jasmim e centenas de rosas selvagens, brancas, vermelhas, cujo perfume trouxe ao olfato deste "Velho" mateiro um aroma incomparável. Que belo jardim eu sempre via nas minhas andanças pela natureza. Centenas e milhares de flores cada uma mais linda que a outra. Centenas de abelhas douradas e beija flores azuis que a voejar pelos céus, vão à procura do caule tão saboroso.
Esta é a vida dos Escoteiros. São os exploradores da natureza. Ir para o campo e não admirar a força que ele possui é como ir a uma montanha e não ver o nascer e o por do sol. Tudo no campo é lindo, belo, mas é preciso saber enxergar. Temos que olhar e procurar onde estão a beleza das flores, dos pássaros, do zumbido dos insetos. Não existe alegria maior que descobrir o encanto de ver, um casal de pássaros a construir seu ninho. Não existe alegria maior que ver lá no alto de uma grande árvore naquela floresta impenetrável, uma orquídea branca como há desafiar o tempo que nasceu.
Sentar a beira de um regato e ficar olhando as águas claras e límpidas a correrem em direção ao mar. Ver o fundo o ballet dos peixinhos que alegres e saltitantes estão a buscar o alimento ou quem sabe a brincarem seus folguedos. Tirar o sapato e sentir um calafrio a percorrer o corpo, uma sensação gostosa e acariciante. Encontrar uma folha que substituindo a caneca é mergulhada na água trazendo algumas gotas brilhantes e amainando a sede.
Deitar a sombra de uma arvore e olhar suas folhas, seus galhos, tentar ver os pássaros que ali passam e param para um descanso. Ver um Bem-te-vi, um Pardal, quem sabe um Pássaro Preto ou mesmo um alegre Gavião com suas asas curtas, a perscrutar o horizonte. Assustar e sorrir com o canto da Cigarra. Identificar a beleza dos insetos que ali estão a subir em seu tronco e ver quanta vida e história aquela árvore centenária possui. Alegria então quando se vê um Quati, um Tamanduá Bandeira, um Tatu Bola a esconder no seu buraco infernal. (perigo de cobras – risos). Tantas coisas lindas a serem vistas e descobertas. Se você meu amigo é um Escoteiro ou um "Chefe" não deixe passar o tempo. Lá no campo mostre a todos que calmamente, a suspirar o doce aroma da natureza poderão saborear lindas nuances que se apresentarão de forma diferente para os olhos de um bom mateiro.
São coisas da vida, são coisas de escoteiros. Se deixar passar esta oportunidade então o escotismo não valeu a pena. Viva a natureza como ela é. Levante cedo. Veja o nascer do sol, olhe ao redor, veja a montanhas que agora estão se tingindo de dourado, olhe o lago, olhe o regato que suavemente vai de mansinho à procura do mar. E quando chover ouça a chuva, veja os pingos a caírem e produzirem sons fantásticos. E quando o sol estiver pleno, olhe as pradarias ou a relva que ao sabor do vento se divertem nas campinas. Um poeta disse que a natureza faz com que nós homens nos pareçamos uns com os outros e nos juntemos. A civilização faz que sejamos diferentes e que nos afastemos. Verdade?
Charles Dickens em sua sabedoria escreveu que a natureza dá a cada época e estação algumas belezas peculiares; e da manhã até a noite, como do berço ao túmulo, nada mais é que uma sucessão de mudanças tão gentis e suaves que quase não conseguimos perceber os seus progressos.
Escotismo é campismo. Escotismo é ar livre, escotismo é descoberta, escotismo é aventura, seja mais um e venha aprender como todos uma vida plena junto à natureza, pois só assim nos sentiremos escoteiros. Nos sentiremos realizados!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A Vaca malhada do “seu” Lindolfo da Maria


A Vaca malhada do “seu” Lindolfo da Maria

Dizem que historias acontecem com todos nós. E claro sempre procuramos dar uma conotação diferente quando contamos para alguém. A verdade absoluta nem sempre vem à tona, mas contar o real será que vale a pena? Se for assim melhor não continuar. Irão dizer – O Escoteiro tem uma só palavra! Claro que sim. Mas historias? Contos? Fábulas? Lendas? Sem uma pitada do incrível ou inacreditável acho que não teria graça. Assim sou eu. Gosto de contar histórias. Gosto de fazer as pessoas sonharem que poderiam estar lá, nas frases que escrevo no real ou imaginário não importa. Afinal quem não gosta de sonhar?
Nosso "Chefe" Escoteiro conheceu o “seu” Lindolfo da Maria em um mês de maio durante uma competição de cantorias, chamadas de “repentes” onde os cantadores cantam versos com perguntas ou provocações. Uma peleja gostosa onde vence sempre o cantor que cria os melhores repentes.



Minha verdadeira mãe, Maria restauradora.
Dai-me boa inspiração És a minha protetora
Sou poeta dos repentes Sou Lindolfo da Maria

Com frase lasciva ou lúbrica, contra mim, quem vier, cai.
Tenho feito cantor sábio. Me chamar de mestre e pai.
Vou botar você em canto. Que morre doido e não sai.

Isto mesmo, assim começou uma grande amizade entre nosso "Chefe" Escoteiro e o “seu” Lindolfo da Maria. Mas chega de entretantos e vamos aos finalmentes, pois o “causo” aqui é da Vaca Malhada do “seu” Lindolfo da Maria. Um convite para conhecer seu sítio e lá foi nossa Patrulha a primeira a aventurar por aquelas bandas, por sinal já desejado por nós. Derribadinha, um lugarejo as margens da estrada de ferro com menos de quinhentas almas. Chegamos cedo, por volta das onze da manhã no rápido da Estrada de Ferro Vitória Minas. Pergunta aqui e ali e menos de uma hora depois chegamos. Recebeu-nos efusivamente.
Encontramos um bom local junto a um bambuzal, com aqueles tipos enormes, grossos e até me lembrei de uma pesquisa que fiz de onde surgiu a palavra bambu. Há indícios de que a palavra bambu tenha origem no forte barulho provocado pelo estouro dos seus colmos quando submetidos ao fogo, “bam-boo!”. No Brasil, para denominar esta planta, os indígenas empregavam, entre outras, as palavras taboca e taquara. Mas voltemos ao local escolhido. Um riacho gostoso, uma plantação de mandioca, belos pés de goiaba, vários de mamão papaia enfim, um sonho de qualquer Patrulha Escoteira.
No primeiro dia foi aquele corre, corre da preparação do campo. A noite uma lua enorme “bunita qui nem um queijo” nos deixou alegre em ver toda a campina a nossa volta com alguns animais pastando aqui e ali. Mas este foi um acampamento curto. Muito curto mesmo. Sem muitas histórias para contar. Por quê? Acordamos de madrugada com nossa barraca sendo sugada! Isto mesmo, sugada! Acordei e vi uma boca enorme em minha direção. Um monstro! Dei um berro e todos acordaram com ele. Saímos correndo em desabalada carreira.
De longe ficamos olhando o que era a tal “assombração”. Não deu para ver. O acampamento da Patrulha desapareceu. Um medo terrível se apossou de nós. Era melhor procurar o “seu” Lindolfo da Maria. Acordou um pouco assustado. Quando contamos ele riu a beça. Não se preocupem, esqueci-me de avisar, deve ter sido a Vaca Malhada. Ele sempre faz isto. Dizem que ela tem uma boca enorme. Vamos até lá, pois ela come de tudo. Dito e feito. O acampamento era um desastre. A danada da Vaca Malhada destruiu tudo. Juntamos o que podíamos e fomos dormir no pequeno seleiro do “seu” Lindolfo da Maria.
No dia seguinte vimos que tudo fora destruído. “Maldita” vaca pensei comigo. Mas faz parte. Aprendemos que uma pequena cerca de cipó ou sisal poderia ter ajudado. Esquecemo-nos de fazer. Não foi um grande acampamento, mas ao amanhecer resolvemos fazer companhia ao “seu” Lindolfo da Maria em sua lida no campo. Éramos sete e nos divertimos na curralama em tirar o leite, em separar a bezerrada, e até eu resolvi “campeá-los” um pouco. Ficamos lá por mais um dia. No final juntamos o que sobrou e sem chorar pela perda voltamos. Dispostos é claro a conseguir de novo tudo que perdemos.
Assim é a vida, perde aqui, ganha ali. Nada deve ser eterno e nem pode ser. Um dia volto lá e vou desafiar o “seu” Lindolfo da Maria para uma peleja gostosa de repentes, pois quando cresci aprendi muito. Nas rodas a noite dos fogos de conselho, lá estava eu a desafiar no Quebra Coco. Claro, perdi muitos desafios, mas ganhei outros tantos, afinal não era assim que começava?

“Amigos aqui presentes, hoje estou um pouco rouco,
“Mas é bom ficar sabendo, sou campeão no Quebra Coco”!

Quebra coco, quebra coco, na ladeira do Piá, 
Escoteiro, quebra coco, e depois vai trabalhar.

O meu querido distintivo de Lapela Escoteiro



Levei um ano de minha adolescência com um lenço enrolado no pescoço, flor-de-lis na lapela e pureza no coração, para descobrir que não passava de um candidato à solidão. Alguma coisa ficou, é verdade: a certeza de que posso a qualquer momento arrumar a minha mochila, encher de água o meu cantil e partir. Afinal de contas aprendi mesmo a seguir uma trilha, a estar sempre alerta, a ser sozinho, fui escoteiro — e uma vez escoteiro sempre escoteiro.

O meu querido distintivo de Lapela Escoteiro

Quem já teve nunca o esqueceu. Uma época que tínhamos que correr atrás para conseguir um nas lojas escoteiras. Quando vi o meu pela primeira vez me encantei. Só não chorei porque o meu sonho agora era real.  Pequeno, dourado, com uma linda flor de lis em cores verde e amarelo. Minha mãe me entregou e disse: - Um presente que seu tio Vadim trouxe para você do Rio de Janeiro. Parecia que ele foi feito para mim. Até seu formato era a Flor de Lis perfeita. Com sua presilha se prendia facilmente na gola da camisa ou no paletó social.

Uma época de identificação de qual organização você pertencia. Era comum vermos os rotarianos, os do Lions Club, e tantas outras organizações onde todos postavam com orgulho o seu botton de lapela. Os padres também usavam o seu. O prefeito também. Na Câmara de Vereadores idem. Naquele tempo não saímos por aí com o lenço no pescoço tentando nos identificar de maneira diferente. O botton era tudo.

E que orgulho amigo o colocava na lapela e íamos desfilar para que os outros soubessem que ali estava um Escoteiro. Quando pela cidade encontrávamos alguém com ele, logo corríamos para cumprimentar: Sempre Alerta! Escoteiro de onde? Prazer. Eu sou da Patrulha Raposa. Abraços, aperto de mão, histórias, lembranças tudo em questão de minutos era conversado entre nós. Nossos chefes nos ensinavam que o uniforme se vestia completo. Nada de usar peças por aí. Usar o cinto? Nem pensar.

Um dia resolvemos fazer uma vaquinha, que rendeu além do esperado. Todos que participaram do Grupo Escoteiro na minha cidade e que os procuramos colaboraram. Como se fosse hoje, chegamos a ter mais de cinco mil reais! Uma fábula para a época. Para que? Para custear uma viagem de um "Chefe" Escoteiro até a capital, o Rio de Janeiro. Motivo? Comprar distintivos de lapela para todos os ex-escoteiros e todos os participantes do Grupo Escoteiro. E lá foi ele sorrindo, mais de vinte e duas horas de viagem. Não reclamou. Claro, todos nós gostaríamos de estar no lugar dele.

Aproveitamos para ver se sobrasse algum dinheiro para ele comprar também a moeda da boa ação. Quem não tinha? Eu já tinha a minha há tempos. De manhã bolso esquerdo. Feita a boa ação, bolso direito. Claro, nunca nos contentávamos e voltávamos para o bolso esquerdo novamente como a dizer: - Uma boa ação só hoje? Nunca. Pelo menos mais uma e mais uma. Quando o "Chefe" Escoteiro retornou, foi uma apoteose. Contando da viagem, do Rio de Janeiro, como era o mar, as praias, Copacabana, e como era a loja Escoteira.

Ele contava maravilhas. Quantos distintivos tinham lá. Quantas coisas bonitas. Quantos livros. Trouxe até um que ia passar de mão em mãos para que o lêssemos. O Guia do Escoteiro do "Velho" Lobo. Lindo! Espetacular! Quando o levei para casa não queria dormir. Ficava ali sentado na cama lendo, relendo. Coisas do passado. E junto ao "Chefe" Escoteiro que viajou ao Rio de Janeiro nós também ficávamos ali a sonhar em um dia ir lá também. Naquele dia mesmo inundamos a cidade com o distintivo de lapela. Quando seu Leôncio o prefeito recebeu o dele, logo colocou com orgulho. Agora todos sabiam quem eram ou quem foi escoteiro na cidade. E claro, um orgulho em usar na escola, no trabalho (eu era engraxate) na igreja, ou seja, em qualquer lugar. Não precisa dizer - Olhem! Estou sem uniforme, mas sou Escoteiro de coração!

Meu lindo distintivo flor de lis de lapela que nunca esqueci. Se voces tiverem um devem sentir o que eu sentia. O orgulho em usar e dizer aos quatro ventos: - Eu sou um Escoteiro! Se os políticos lá no seu habitat usam eu não sei. Mas ainda lembro-me de muitos profissionais, médicos, engenheiros e tantos outros que orgulhosamente o colocavam como a dizer, sou isso mesmo, esta flor de lis fez parte da minha vida.  Eu sempre amei o escotismo e hoje sou o que sou graças a ele.

São coisas do passado. Passado que já se foi. Mas que ficaram gravadas até hoje no presente. Será que hoje ainda tem alguém que usa a linda Flor de Lis de Lapela? Que se orgulha em se mostrar como Escoteiro? Claro, tenho certeza que sim. Mas porque escrevo isto? Não sei. Gosto de lembrar-me do meu passado e quem não gosta? Foram tantas e tantas coisas que marcaram. Que valeram em minha vida no Movimento Escoteiro. Por isto minha luta em manter certas tradições que combatidas por outros nada provam se o mito do passado não pode também se erradicar no presente.

Vamos passando, passando, pois tudo passa / Muitas vezes me voltarei / As lembranças são trombetas de caça / Cujo som morre no vento.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Operação Morcego Negro


Operação Morcego Negro

Para mim Operação “sujar as calças”. Risos. Bem feito. Quem mandou inventar? Claro, o Romildo era assim. Um sonhador e um aventureiro. Aprontava poucas e boas quando Monitor da Patrulha Morcego na tropa de escoteiros. Todos sabiam de sua lealdade, de sua competência e mesmo não tendo a aparência de um menino forte e alto todos os respeitavam. Os chefes gostavam dele. Esforçado, conseguiu a Segunda Classe e a Primeira Classe também. Por ser difícil onde moravam e poucos sabiam da Região Escoteira ninguém se lembrou de ver a possibilidade de um processo para a ortoga do Escoteiro da Pátria. E olhe que ele merecia.
Na Patrulha Escoteira dentre outras aventuras que criou, a mais célebre foi a de que deviam construir uma balsa para que o pessoal do outro lado do rio não precisasse dar uma volta de mais de doze quilômetros para vir à cidade. – O "Chefe" Escoteiro falou para ele - Romildo, balsa não é como você pensa. Não é fácil. Ela é feita de toras, muitas taboas, pregos, arame e depois de pronta uma corda maior que o rio para ir e voltar. Sem contar um cabo de aço que vai ser muito difícil conseguir por aqui.  
Mas quem disse que Romildo desistiu? Chamou os monitores e expos seus planos. Todas as tardes iriam até o Curtume do “Seu” Tomas e ele próprio já tinha cedido varias toras que estavam na porta do curtume. O trabalho começou. Escoteiros não desistem nunca. Uma parafernália de serrotes, um traçador, martelos, plainas, machado do lenhador. Formão, trados, um milhão de coisas. Até uma bancada de carpinteiro ele conseguiu. Onde ele arrumou tudo isto eu não sei. Não vou entrar em detalhes, mas eles construíram a tal barca. Gastaram quatro meses. Lourival o ex-Escoteiro dono da loja de ferragens doou as cordas. Mas o cabo de aço não. Resolveram usar outra corda. Fazer um tripé de cada lado que pudesse suportar o peso foi outra aventura. E finalmente, usando um sisal amarrado à cintura, Romildo atravessou o rio a nado e depois puxou as cordas.
Não vão acreditar como fizeram para esticar as cordas. Eles sabiam como usar a corda tipo “roldana”, pois conseguir pelo menos duas delas seriam muito difícil. Com um carro de boi emprestado da fazenda do Zé Pacheco eles esticaram as cordas. Depois fizeram uma experiência com a balsa. Não foi fácil leva-la pelo rio de um lado a outro. Pretendiam chamar o prefeito para a inauguração. E não é que ele foi? A primeira vez até o outro lado do rio foram oito. Divertido. Na volta a balsa encheu. Mesmo Romildo dizendo que não ia aguentar ninguém saiu. Dito e feito, a corda arrebentou e a balsa correu rio abaixo com gente pulando no rio feito jacaré. Graças a Deus que sabiam nadar. O prefeito de terno e gravata chingou todo mundo.
Romildo levou um “esfregão” do "Chefe" Escoteiro e da Corte de Honra. Merecia é claro. Foram muitas a que o Romildo aprontou. Passou para os seniores e logo convenceu a Patrulha Estrela Cadente a escalar o Pico da Mortalha, que ficava em frente à cidade. – Impossível disseram todos. Gente que entende de escaladas não conseguiu. Romildo convenceu que deviam ir pelo menos na metade. Só duzentos metros. Lá tinha uma saliência onde cabia todos. Depois era só contar na cidade e ficariam como os primeiros a escalar o Pico da Mortalha.
Deram o nome de Operação Morcego Negro. Sempre era assim. Ele gostava de inventar nomes pomposos.  Partiram em sábado pela manhã. Uma volta de doze quilômetros. O plano era subir logo, chegar até a saliência (mais de trezentos metros de altura) e descer chegando ao pé da pedra no máximo às cinco da tarde. Local bonito, aguada boa, poderiam acampar ali até o dia seguinte quando retornariam. Começaram a subida. Cantando. Rindo. Duas horas depois não havia mais canção e nem risadas. O sol batia nas costas e na encosta elevando a temperatura a mais de quarenta graus.
Pensaram em voltar, mas a saliência estava a poucos metros. Mais uma hora e chegaram. Riram. Apertados, mesmo assim houve abraços. Sentaram e lancharam. Olharam a cidade. Linda. O sol já ia se por. O vermelho do sol batendo nas aguas do Rio Saltimbanco era um espetáculo incrível. Melhor descer disse Romildo. Dizem que descer todo santo ajuda. Engano. Menos de dois metros e voltaram. Não dava. O medo de cair e não ter onde se firmar era por todos possuídos. A noite chegou escura como bréu. Melhor ficar aqui e esperar o amanhecer disse Nelsinho. Que seja. Dormir como? Um frio de rachar. Saliência pequena qualquer descuido e “pimba” iriam parar lá em baixo. Amarraram-se uns nos outros.
Lá em baixo a cidade brilhante, luzes, automóveis como se fossem formigas. O dia amanheceu. Ainda bem que eram escoteiros seniores. Acostumados. Agora era descer. Descer? Nem sabiam como subiram até ali. Alguns choraram outros ficaram pensando que seriam ridicularizados por todos na cidade. E a tropa Sênior? O que diriam? – Aí Mané! Vai no papo do Romildo e voces dançam! Sorte de todos. Alguém no topo os viu. Muitos vieram. Cordas. La pelas onze da noite o ultimo foi içado.
Mas ninguém nunca esqueceu o Romildo. Cresceu se formou engenheiro. Passou a construir pontes. Prédios de alturas mil. Ainda faz suas aventuras. Convidou diversos chefes escoteiros amigos para formar uma Patrulha. Sem grupo é claro. Só eles. De uniforme porque não? E assim nasceu a Patrulha Impisa. Não sei se conhecem, mas olhe, já foram até explorar o Pico da Neblina no alto Amazonas. Fazem coisas de estarrecer. Eu mesmo não sei se iria participar de uma Patrulha assim. Hoje, passado muitos anos, a Operação Morcego Negro é contada em prosa, se tornou um épico e foi anotada no livro da Patrulha. Uma foto da Patrulha Estrela Cadente ainda está lá na sede. Muitos dos meninos novatos ficam horas e horas olhando e sonhando em ser um deles!

E como dizem por aí, qualquer semelhança é mera coincidência! Risos

domingo, 6 de maio de 2012

O legado do lobinho Pasqualino



Uma fábula deliciosa para os chefes de Alcateias lerem ou contarem aos seus lobinhos e lobinhas.

O legado do lobinho Pasqualino

                Pasqualino queria muita coisa. Parecia um menino mimado. Queria e pedia aos seus pais videogame, uma bicicleta e roupas novas. Ainda não tinha sete anos e seus pais, pessoas humildes tentavam explicar e ele as dificuldades que estavam passando. Ele não entendia, ou melhor, não queria entender. Quando resolveu entrar para os lobinhos foi um Deus nos acuda! Seus pais o levaram e o matricularam, dizendo ao "Chefe" Escoteiro que não tinham condições financeiras. Pasqualino gostou. Divertia-se. Não era um bom lobinho. A Akelá o ensinou as cinco leis e ele nem aí. Na matilha não obedecia ao primo. Nas formaturas ficava brincando para chamar a atenção de todos.
                Sempre davam uma oportunidade a Pasqualino. A própria Akelá estava desistindo. Foi à casa de seus pais e mesmo humilde era limpa arejada e o casal de uma simpatia radiante. Na sua promessa acharam que Pasqualino iria mudar. Não mudou. O Grupo Escoteiro comprou para ele o uniforme e Pasqualino nem sorriu. Achava que era a obrigação de todos para com ele. Era assim também na escola. Todos preocupavam com seu futuro. Isto não podia continuar. Mandar embora do grupo o Pasqualino não era a solução. Iria continuar assim e apesar de pais maravilhosos todos achavam que o futuro dele seria nebuloso.
                Um dia em um feriado de Sete de Setembro a Alcatéia foi fazer um acantonamento. Claro, a taxa de Pasqualino foi paga pelo grupo. Sua mãe esmerou em tudo para que fosse separado para ele tudo que a Alcatéia pediu para o acantonamento. Mas ao chegar lá, ele viu que os outros da matilha tinham coisas que ele não tinha. Esbravejou. Reclamou. Quem não conhecesse achava que ele era um pobre menino onde todos só queriam prejudicá-lo. No sábado à tarde, enquanto sua matilha era encarregada da limpeza do salão onde se reuniam Pasqualino se mandou.
               Pensou consigo que iria dar um susto na Akelá e quando sua mãe soubesse o que aconteceu ela iria dar muito mais a ele. Menino danado o Pasqualino. Ao sair na pequena trilha que levava a uma montanha ele se encantou. Era como se a trilha o hipnotiza-se. Seguiu a trilha cantando “A Promessa de Mowgly era matar o Shere Khan”. Ele gostava desta. Cantava muito. Viu que próximo à trilha tinha um regato e por que não dar um mergulho? Pois é. Pasqualino não tinha mesmo responsabilidade. Pulou na água e deixou a correnteza o levar. Não viu, mas uma enorme cachoeira engoliu Pasqualino e ele caiu de uma grande altura.
              Desmaiou. Acordou com a barriga cheia de agua e viu ao seu lado um enorme tigre que o olhava e sorria. Custou em Pasqualino? Custou conseguir que você me achasse. Pasqualino tremia. Quem é você? Shere Khan meu caro Pasqualino. Tentei pegar o Mowgly, mas Balu e Bagheera não deixam eu me aproximar dele. Agora tenho você. Vou comê-lo inteirinho. E Shere Khan ria. Pasqualino começou a gritar e saiu correndo. Corria e gritava. Ao seu lado Shere Khan o acompanhava e dizia: - Pode gritar, ninguém vai ouvir. Ninguém se interessa por uma lobinho indisciplinado como você. Não deu mais. Pasqualino caiu e acordou na caverna de Shere Khan. Ele tinha ascendido uma fogueira. Lembrou-se do fogo do conselho que assistiu no ultimo acampamento. Agora era diferente. Tenebroso por assim dizer.
             Estava amarrado. Chegaram outros tigres. Enormes! Dentuços! Olhos vermelhos com fogo.  Este vai ser nosso banquete? Perguntaram. Shere Khan ria e dizia – Vamos nos fartar. E esse vai ser delicioso. Ele grita, ele berra por qualquer coisa. E melhor sua carne deve estar estragada, pois não se contenta com nada. Só sabe reclamar e pedir. Não faz nada para ninguém! Um dos tigres lambeu os beiços. Que delicia! Pasqualino estava horrorizado. Lembrou-se de rezar. Nunca tinha feito isto. Tudo que queria conseguia mesmo sendo pobre por isso nunca rezou. Sua oração não saia. Estava rouco. Levaram-no para o fogo. Os tigres começaram a dançar em volta e a cantar: “Come, come tigre manco, que é hora de fartar, vamos todos meus amigos, pois é hora do jantar!”.
             Pasqualino acordou gritando. Gritava e berrava. Sentia a chama do fogo da caverna do tigre lhe queimando o corpo. A Akelá estava assustada. Viu Pasqualino deitado debaixo de uma arvore e nem sabia o que aconteceu. Bem, conta-se a lenda que Pasqualino mudou. E como mudou! Ninguém mais reconhecia nele o Pasqualino de outrora. Dizem e isto eu não sei, que Pasqualino só fazia o bem. Era amado na Alcatéia e quando foi para a tropa foi recebido com grandes abraços e lá fez grandes amigos.
         Os pais de Pasqualino se sentiram os mais felizes do mundo. Seu filho do coração era outro. Agora não importava para ele a riqueza. Tudo que conseguia sabia dar valor. Valeu Pasqualino. Valeu. Espero que seu legado sirva de exemplos a todos os lobinhos indisciplinados que ainda existem por aí. Sei que são poucos, pois os que conheço sempre ouvem os velhos lobos.
          Até hoje Pasqualino dá risadas. Sabe que Shere Khan mais uma vez perdeu. Tigre manco tigre louco, vá para sua terra! Para sua caverna mal cheirosa! Se um dia o encontrar você não vai me reconhecer! Pasqualino ria. Pois é meus amigos eu soube que se tornou um grande médico e que ajudava em todas as favelas da cidade. No Grupo Escoteiro que organizou só aceitava meninos e meninas pobres. Sempre contava para eles que ali Shere Khan não tinha vez! Viva Pasqualino, que ele consiga atingir a felicidade e encontre o caminho para o sucesso que merece!

“Um poema uma saudade”



 “Um poema uma saudade”

Eu gosto de acampar, De por a mochila as costas,
De sentir o seu calor, ir por estradas sem fim.
De parar para descansar, olhar as flores silvestres,
Sentir o sol me queimando, e seguir no horizonte,
Nas montanhas de marfim.

Eu gosto de andar com todos, Botar o pé na estrada.
De sentir a poeira no rosto, Cantar uma canção bem bolada,
Junto com amigos queridos. De sentir o meu suor,
E esperar o meu "Chefe", Que vai dar a bela ordem:
- Parando! É hora de descansar.

Eu gosto de chegar lá, Onde será nosso lar,
Pois é onde vamos viver, amando a nossa patrulha.
Gosto de ver a turma, correria nas barracas,
Do pórtico e do fogão, em suspenso com o barro,
Da mesa feita tão simples, e que vamos orgulhar.

Como eu gosto de tudo simples. De tudo feito com as mãos,
Sem muita apresentação. Gosto da noite e o luar,
De olhar para o céu, ver as estrelas brilhantes,
 Levar um pequeno susto, Quando o cometa passar.

Gosto da água fria, de um riacho qualquer.
Deitar na relva e dormir, acordar de madrugada,
O cantar da passarada e ver o orvalho cair.
Gosto da minha barraca, descansar da minha luta,
Pois nela que vou dormir. E quando a hora chegar
Vou sonhar com tudo isto, vou passear na nuvem branca,
Quando a Patrulha se levanta, em busca do amanhã.

Gosto de ver a fumaça, do fogão à lenha queimando,
Do nosso alegre cozinheiro, com os seus olhos vermelhos,
Como se fosse chorar, e sorrindo ele sabe,
Que não é só amizade é pertencer à equipe,
De meninos de estipe, a sonhar sonhos azuis.

Gosto de olhar minhas mãos, com muitos calos marcados,
Pois o facão e o machado, o sisal e o cipó,
Não perdoam a ninguém. Disso sabem os escoteiros,
Pois todos são bons mateiros, aprendendo a viver.

Gosto de olhar ao longe, ver o simpático lago azul.
Peixes que pulam na água, e sempre dou boas risadas,
Pois não consegui pescar. Gosto de ver os amigos,
Das patrulhas lá ao longe, construindo muitas pontes,
Ninhos de águia, pórticos, sempre avante!

 E Sabe? Eu gosto de terminar, uma boa pioneira,
Dar uns passos atrás, por as mãos junto à cintura.
E ver o trabalho que fiz. Como é gostoso saber
Que glorioso esforço em também o conseguir.

Gosto de cair ao chão, na grama do acampamento.
Dou risadas com amigos, pois ali é união,
Não é um jogo qualquer. Onde dizem que sou fraterno,
Que não é hoje é eterno, o nosso doce amanhã.

Gosto de jogar um bom jogo, um bom scalps gostoso,
Uma boa corrida na selva, uma boa luta na relva,
Ou então imaginar, pois ali o jogo é tão sério,
A busca da força amiga, onde se vive a sonhar.

Gosto de sentar a noite, na porta da minha barraca,
Fazer um pequeno fogo, sentir a grande alegria, de ver,
A Patrulha aproximando, um café quente e fervendo,
Conversas jogadas ao vento, saudades da minha escola,
Da namorada amada, da mãe que não há momento,
Alcançar o seu intento, beijar o seu rosto e sorrir.

Gosto de ficar sem assunto, sentir o cheiro do mato,
Ouvir o som do regato, o cantar de um sabiá,
Um vagalume perdido, o uivo de um lobo guará,
Bem distante, nas montanhas verdejantes,
Onde ele anda errante, onde é o seu habitat.

Gosto de beber, a água de uma nascente,
Tão fresca e tão brilhante, de olhos fechados na fronte,
Sentir o orvalho caindo, no rosto daquela manhã.
Do som da passarinhada ao anunciar nos gritantes,
Até o grilo falante, cantando o alvorecer.

Gosto de correr pelos campos, sentir a brisa no rosto,
O vento que vai e vem. Gosto de ver o meu "Chefe",
Bom sujeito boa praça, que um dia me deu tudo,
Que não perde um segundo, ensinando o que serei.

Gosto muito da alvorada, da bandeira arvorada,
Em um galho firme qualquer. De fazer à saudação,
Sentir-me um patriota, saber que a maciota.
Não faz parte do saber. Ver a Bandeira tão verde,
O vento soprando forte, representando a nação.

Gosto mesmo sou menino, eu adoro o escotismo,
Que vive dentro de mim. Adoro as flores silvestres,
A formiga que não para, A coruja que não ri,
O tatu que se esconde no seu buraco infernal.

E para terminar a voces eu digo, eu faço o que eu decido,
Na sede ou acampando, o saber estou buscando,
Para o alguém do amanhã. Adoro ser Escoteiro,
Correr em busca do tudo, sentir no corpo o orgulho,
De cumprir minha lei, minha missão.

Um dia fiz a promessa, a todos eu prometi,
Que seria homem honrado, do escotismo apaixonado,
Olhando até nas alturas, em busca das aventuras,
Que só podemos encontrar, no meu escotismo amado.

Você que ficou aqui, bem no centro da cidade,
De onde não sinto saudade, pois é no campo aonde eu vou.
Vou correr pelas campinas, com meu chapéu Escoteiro,
Com meu olhar trigueiro, sentir sol da manhã.

Adeus, você que fica não chore, com minha brusca partida,
E se um dia quiser vá me encontrar onde estou.
Coloque sua mochila, aprume a sua bandeira,
Cante uma bela canção, um belo sorriso no rosto,
E venha me encontrar.

Pois aqui na ventania, esperando com alegria,
Olhando sempre o horizonte, esperarei por você,
A surgir atrás dos montes e dizer com muito orgulho:
Meu amigo meu irmão, acredite,
Agora eu sou Escoteiro.

Osvaldo um escoteiro