Uma fábula deliciosa para os chefes de Alcateias lerem ou
contarem aos seus lobinhos e lobinhas.
O legado do lobinho Pasqualino
Pasqualino queria muita coisa.
Parecia um menino mimado. Queria e pedia aos seus pais videogame, uma bicicleta
e roupas novas. Ainda não tinha sete anos e seus pais, pessoas humildes
tentavam explicar e ele as dificuldades que estavam passando. Ele não entendia,
ou melhor, não queria entender. Quando resolveu entrar para os lobinhos foi um
Deus nos acuda! Seus pais o levaram e o matricularam, dizendo ao
"Chefe" Escoteiro que não tinham condições financeiras. Pasqualino
gostou. Divertia-se. Não era um bom lobinho. A Akelá o ensinou as cinco leis e
ele nem aí. Na matilha não obedecia ao primo. Nas formaturas ficava brincando
para chamar a atenção de todos.
Sempre davam uma oportunidade a
Pasqualino. A própria Akelá estava desistindo. Foi à casa de seus pais e mesmo
humilde era limpa arejada e o casal de uma simpatia radiante. Na sua promessa
acharam que Pasqualino iria mudar. Não mudou. O Grupo Escoteiro comprou para
ele o uniforme e Pasqualino nem sorriu. Achava que era a obrigação de todos
para com ele. Era assim também na escola. Todos preocupavam com seu futuro.
Isto não podia continuar. Mandar embora do grupo o Pasqualino não era a
solução. Iria continuar assim e apesar de pais maravilhosos todos achavam que o
futuro dele seria nebuloso.
Um dia em um feriado de Sete de
Setembro a Alcatéia foi fazer um acantonamento. Claro, a taxa de Pasqualino foi
paga pelo grupo. Sua mãe esmerou em tudo para que fosse separado para ele tudo
que a Alcatéia pediu para o acantonamento. Mas ao chegar lá, ele viu que os
outros da matilha tinham coisas que ele não tinha. Esbravejou. Reclamou. Quem
não conhecesse achava que ele era um pobre menino onde todos só queriam
prejudicá-lo. No sábado à tarde, enquanto sua matilha era encarregada da
limpeza do salão onde se reuniam Pasqualino se mandou.
Pensou consigo que iria dar um
susto na Akelá e quando sua mãe soubesse o que aconteceu ela iria dar muito
mais a ele. Menino danado o Pasqualino. Ao sair na pequena trilha que levava a
uma montanha ele se encantou. Era como se a trilha o hipnotiza-se. Seguiu a trilha
cantando “A Promessa de Mowgly era matar o Shere Khan”. Ele gostava desta.
Cantava muito. Viu que próximo à trilha tinha um regato e por que não dar um
mergulho? Pois é. Pasqualino não tinha mesmo responsabilidade. Pulou na água e
deixou a correnteza o levar. Não viu, mas uma enorme cachoeira engoliu
Pasqualino e ele caiu de uma grande altura.
Desmaiou. Acordou com a barriga
cheia de agua e viu ao seu lado um enorme tigre que o olhava e sorria. Custou
em Pasqualino? Custou conseguir que você me achasse. Pasqualino tremia. Quem é você?
Shere Khan meu caro Pasqualino. Tentei pegar o Mowgly, mas Balu e Bagheera não
deixam eu me aproximar dele. Agora tenho você. Vou comê-lo inteirinho. E Shere
Khan ria. Pasqualino começou a gritar e saiu correndo. Corria e gritava. Ao seu
lado Shere Khan o acompanhava e dizia: - Pode gritar, ninguém vai ouvir.
Ninguém se interessa por uma lobinho indisciplinado como você. Não deu mais.
Pasqualino caiu e acordou na caverna de Shere Khan. Ele tinha ascendido uma
fogueira. Lembrou-se do fogo do conselho que assistiu no ultimo acampamento.
Agora era diferente. Tenebroso por assim dizer.
Estava amarrado. Chegaram outros
tigres. Enormes! Dentuços! Olhos vermelhos com fogo. Este vai ser nosso banquete? Perguntaram.
Shere Khan ria e dizia – Vamos nos fartar. E esse vai ser delicioso. Ele grita,
ele berra por qualquer coisa. E melhor sua carne deve estar estragada, pois não
se contenta com nada. Só sabe reclamar e pedir. Não faz nada para ninguém! Um
dos tigres lambeu os beiços. Que delicia! Pasqualino estava horrorizado. Lembrou-se
de rezar. Nunca tinha feito isto. Tudo que queria conseguia mesmo sendo pobre
por isso nunca rezou. Sua oração não saia. Estava rouco. Levaram-no para o
fogo. Os tigres começaram a dançar em volta e a cantar: “Come, come tigre
manco, que é hora de fartar, vamos todos meus amigos, pois é hora do jantar!”.
Pasqualino acordou gritando.
Gritava e berrava. Sentia a chama do fogo da caverna do tigre lhe queimando o
corpo. A Akelá estava assustada. Viu Pasqualino deitado debaixo de uma arvore e
nem sabia o que aconteceu. Bem, conta-se a lenda que Pasqualino mudou. E como
mudou! Ninguém mais reconhecia nele o Pasqualino de outrora. Dizem e isto eu
não sei, que Pasqualino só fazia o bem. Era amado na Alcatéia e quando foi para
a tropa foi recebido com grandes abraços e lá fez grandes amigos.
Os pais de Pasqualino se sentiram os
mais felizes do mundo. Seu filho do coração era outro. Agora não importava para
ele a riqueza. Tudo que conseguia sabia dar valor. Valeu Pasqualino. Valeu.
Espero que seu legado sirva de exemplos a todos os lobinhos indisciplinados que
ainda existem por aí. Sei que são poucos, pois os que conheço sempre ouvem os
velhos lobos.
Até hoje Pasqualino dá risadas. Sabe
que Shere Khan mais uma vez perdeu. Tigre manco tigre louco, vá para sua terra!
Para sua caverna mal cheirosa! Se um dia o encontrar você não vai me
reconhecer! Pasqualino ria. Pois é meus amigos eu soube que se tornou um grande
médico e que ajudava em todas as favelas da cidade. No Grupo Escoteiro que
organizou só aceitava meninos e meninas pobres. Sempre contava para eles que
ali Shere Khan não tinha vez! Viva Pasqualino, que ele consiga atingir a
felicidade e encontre o caminho para o sucesso que merece!
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