A lambança, o coveiro, o escoteiro medroso, O prefeito, o
delegado e o Valente Comissário.
De novo?
Claro, porque não? Alguns se divertem outros não. Sempre disse que quem não tem
histórias para contar não sabe o que é viver. Lambanças do passado me fazem dar
gargalhadas. Juro pela alma do fantasma que é verdade! Para ser sincero, repito
que daria tudo para uma volta ao passado. Risos. Sempre que vem a lembrança
fatos e lambanças, me lembro de alguns adágios conhecidos – Cão que ladra não
morde. Quem faz muitas ameaças não costuma cumprir nenhuma. - Gato escaldado até a
água fria tem medo. Aprendemos
a recear tudo quanto nos lembre duma experiência penosa algo que alguma vez nos
causou dano.
Bem chega
de lenga-lenga e vamos às lambanças. Simples, nem tão cheia de vida, mas porque
não escrever sobre elas? Vamos lá:
Primeira –
1969. Uma carta do Escoteiro Chefe. Um Grupo Escoteiro no interior fazendo
lambanças. Pedia para que tomasse providencias. Só marchavam. Centenas deles.
Meninas juntas. (era proibido, só bandeirante). Mandei um telegrama. Chego
domingo pela manhã. Se possível um encontro pessoal para troca de ideias. Iria
dar um chega prá lá no Chefe. Se necessário fechar o grupo. Peguei um ônibus, cheguei às onze horas da
manhã. Na rodoviária dois soldados e um tenente me e esperando. –
"Chefe" Escoteiro, estão todos praça.
“Diabos”
Praça? Lá fui eu com eles. Na praça uma apoteose. Milhares de pessoas. Fui
conduzido ao palanque. Presentes o prefeito, o delegado, o presidente da
câmara, o padre, o juiz, o promotor, o Capitão da policia militar, e outros que
esqueço agora. Cumprimentos, abraços. Discurso. Só o prefeito falou quase uma
hora. Deram-me a palavra, não sabia o que dizer. Começou o desfile. Mais de mil
escoteiros. Meninas, meninos, adultos uma coisa incrível!
O orador
apresentava no microfone – Fanfarra Escoteira se apresentando. Enorme mais de
oitenta participantes. Que fanfarra meu Deus! Ficou de frente ao palanque.
Agora o pelotão um – os corvos! E passava o pelotão marchado. Agora os Touros! E
Assim foi, nove pelotões. Todos com nomes de patrulha! E como marchavam bem.
Acho que cada pelotão tinha pelo menos cento e vinte escoteiros.
Terminou o
desfile. Levaram-me para almoçar no Clube mais chique da cidade. Mais
discursos. À tarde desisti. Vi que não conseguiria falar com o
"Chefe" do Grupo. Pensei outra ocasião. Ele não sabe o que o espera.
Peguei um taxi para a rodoviária. Perguntei ao taxista: o que o Chefe dos
escoteiros faz? – Ele? É Juiz de menor, e dono da maior fábrica da cidade.
Irmão do Prefeito, sobrinho do juiz de direito, cunhado do Promotor de Justiça
e sua mulher é delegada federal. O juiz é sobrinho da mulher dele. O presidente
da câmara é seu filho. O capitão da policia é seu primo. Esqueci, o padre é
irmão da mulher dele! “Puts grila!” pensei. Melhor ir para casa e esquecer tudo
isso! Que o Escoteiro Chefe se vire. Risos.
Segunda –
1952, 12 anos. Uma especialidade de acampador. O Monitor me disse que precisava
passar na prova de coragem. Claro que topei. Era o mais corajoso da Patrulha.
Prova? Ficar de onze da noite até seis da manhã no meio do cemitério da cidade
sentado em um banquinho de madeira. Para provar, fazer oito mini-pioneirias. Moleza!
Um tamborete, um pedaço de bambu. Saltei o muro (cinco me levaram até lá).
Escolhi o local e fiquei perto da lápide da minha bisavó. Ela me protegeria. Escuro
feito breu. Um vento frio começou a soprar. Estávamos próximo do Rio Doce.
Meia noite
e meia. Olhava toda hora para os lados. Estava tremendo. Não conseguia fazer as
pioneiras. O bambu que levei ainda estava intacto. A faca é claro na mão para
me defender. A menos de vinte metros uma chama azul saiu de um jazigo. Outra
logo em seguida de um sepultura tenebrosa. E mais outra de uma tumba cinzenta.
(fogo-fátuo, ou melhor, chamado de fogo tolo. Avistado em pântanos brejos e
cemitérios arenosos. Uma inflamação espontânea do gás (metano) ou da
decomposição de seres vivos).
Aguentei o
que pude. Eram duas da manhã. O fogo virou de outras cores. Tremia. O xixi
escorria. – O que faz aí? Uma voz trovejante. Gelei. Olhei para trás, um homem
de capa preta, enorme, sem dentes, um chapéu preto. Não aguentei mais. O capeta
em pessoa! Sai em desabalada carreira e gritando, saltei o muro e fui correndo
para casa. Um banho para tirar a sujeira (me borrei todo).
No outro
dia a Patrulha perguntou e ai? Como foi? Moleza. Até tirei um cochilo! Eles
riram a valer. O Monitor disse – Olhe não foi o que o Zé Pé na Cova o coveiro
disse. (o tal da capa preta). Disse que você se borrou todo e saiu gritando! E
todos riram por muitos e muitos anos. Falar o que? Voces que me leem estão
rindo? Pensam que é fácil? Então vão lá. A meia noite. Depois podem rir a
vontade! Risos. (consegui a especialidade, acharam que eu merecia).
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