No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

terça-feira, 26 de julho de 2016

Crônica de um abraço mortal.


Crônica de um abraço mortal.

               Ela parou em minha frente. Foi um susto enorme. Era grande, enorme, a principio pensei que eram os morcegos da Montanha Azul que um dia escalei. Jurei nunca mais voltar. Olhei para ela, ela sorria um sorriso que nem sabia se estava chorando ou rindo. Seus olhos miúdos naquela face pequena eram desproporcionais ao corpo gigantesco. Lutadora de Sumô? Pelo menos um metro e noventa de altura, uns 180 quilos de peso. Por aí. Olhei para aquela montanha, ou melhor, aquela senhora e cumprimentei. Sou educado por natureza. Ela não respondeu. Foi então que um trovão se jogou no ar. Parecia um jato a decolar em um aeroporto e o vento vindo de outra direção. – Eu te conheço! – Pensei que ia cair e me segurei na bengala mais fortemente. Ela se achegou mais perto. – Eu conheço você! Repetiu. – Sorri de leve. Não podia ser uma das minhas amigas virtuais do Facebook. Eu sabia que não. Lembrava-me da foto de todas que educadamente sempre me davam bom dia ou boa tarde ou boa noite.

                 - Eu adoro você! Ela continuou. – Me adora? Eu? Moça ou senhora sou casado, 75 anos de idade e 51 anos ao lado daquela que amo. Pensei em dizer. Só pensei, pois ela logo estalou no ar mais uma frases daquela de deixar a gente desmaiado de felicidade. – Você é lindo! Eu? Eu não moça. Sou feio, tão feio que o espelho meu se espatifou no ar quando perguntei a ele o que achava de mim. – Você trabalha na Globo! – Minha nossa. Na Globo? Não podia ser no SBT, ou na Record? Na Globo News eu sabia que não, afinal nunca fui jornalista e nem tinha aparência de intelectual. – Me lascou logo um nome: - Você é o Doutor Pancrácio! Marco Nanini! Acuda-me, por favor! Pedi aos céus que ele dissesse a ela que eu era um simples Chefe Escoteiro, já aposentado e que nem cortar um bambu podia mais. Mas ela não me deixou. Chegou perto de mim e senti aquele Velho perfume barato, comprado no Paraguai e vencido. De chofre achei que ia morrer.

                - Não perco um capítulo e quando você me aparece me desmancho toda! Ela disse. – Logo eu? Doutor Pancrácio? Se a UEB souber disso vão me dar uma medalha. A medalha dos Velhos Tolos do além. Ainda bem que eu era do bem. Olhei para ela e me lembrei de mamãe que quando eu era neném, não tinha talco, e ela passava açúcar em mim. Risos. Eu? Prefiro um bom pastel de Carne de Jacaré. Tentei explicar a ela que não era da Globo, não era o Doutor Pancrácio e nem era bonito. Dona sou tão feio que outro dia me olhei no espelho e ele me disse: Você não é feio, apenas tua cara está amarrotada. Claro que não deixei de barato e meti o martelo no espelho. Mas o pior aconteceu. Ela abriu os braços (Meu Deus, nunca pensei que ia morrer assim) e disse: Posso lhe dar um abraço? Tentei correr, mas a montanha se interpôs entre mim e Padaria. Onde me esconder?


Saltei de banda e não adiantou. Ela me abraçou. Aquele abraço quando você cai de um edifício de trinta andares e se esborracha no chão. Senti nas narinas o odor do perfume que ela passou no ano passado e não tomou banho só para ele ficar lá! Fiquei preso no ar. Ela me levantou como se eu fosse uma folha seca da arvore desconhecida de um conto Escoteiro que comecei a escrever. Segundos depois ela me largou e eu me esborrachei no chão. Tentei pedir socorro – Chamem o SAMU, liguem para a Célia! O ar aos poucos foi retornando. Ela tinha partido. Uma folha de papel jogada pelo vento foi aos poucos se achegando de mim. Estava escrito: Doutor Pancrácio, você é como comida gordurosa e romântica e vai direto pro coração. Eu te amo demais! Pensei com meus botões, é difícil ser bonito... Por isto que não tento, mas ainda bem que sou Escoteiro. Os carrapatos muriçocas carrapichos e outros afins do acampamento me amam. Que os diga as centenas de acampamentos que eu fiz por este mundo de Deus!

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Prece de um índio americano.


Prece de um índio americano.

“OH”! grande espírito, cuja voz eu escuto nos ventos, e cuja respiração dá vida a todo o mundo - escute-me. Eu estou perante você, um dos seus filhos. Eu sou pequeno e fraco. Eu preciso de sua Força e Sabedoria. Deixe-me caminhar em sua beleza e faça meus olhos observarem para sempre o pôr do sol vermelho e púrpura. Faça minhas mãos respeitarem as coisas que você fez meus ouvidos aguçados para escutar sua voz.

Faça-me sábio, para que eu possa conhecer as coisas que Você ensinou ao meu povo, as lições que Você escondeu em cada folha e em cada rocha. Eu busco a força não para ser superior a meus irmãos, mas para ser capaz de lutar com meu maior inimigo: "Eu mesmo". Prepare-me para ir até Você, com as mãos limpas e olhos corretos, então, quando a vida desvanecer-se assim como o pôr-do-sol, meu espírito irá até Você sem nenhuma mancha.

Deixe sua voz sussurrar em nossos ouvidos através do vento oeste no final do dia. Deixe-nos ser confortados com amor por nossos irmãos e irmãs sem nenhuma guerra.
Deixe-nos preservar boa saúde mentalmente e fisicamente para solucionar nossos problemas e realizar algo para as futuras gerações. “Deixe-nos ser sinceros com nós mesmos e nossa juventude e fazer do mundo um lugar melhor para viver.”

domingo, 17 de julho de 2016

Pierre Joubert.


Conversa ao pé do fogo.
Pierre Joubert.

                        Muito copiado pelos escoteiros de todos os países, os desenhos de Pierre Joubert fizeram história no Movimento Escoteiro Mundial. São seus os desenhos escoteiros mais conhecidos no Brasil e, talvez, em todo o mundo, tendo dado rosto aos escoteiros franceses e belgas durante dezenas de anos. Pierre Joubert nasceu a 27 de Junho de 1910, em Saint-André-des-Arts, Paris, França. Teve seu primeiro contato com escoteiros pela primeira vez, em 1924, e, no ano seguinte, decidiu entrar para o Grupo 14 daquela cidade. Estudou na “École des Arts Appliqués”, em Paris. 

                        Em Setembro de 1927, no Campo Escola de Chamarande, o Comissário Nacional Paul Coze, examinando um dos seus blocos de desenho, propõe-lhe que ilustre a revista dos Scouts de France. A sua primeira capa da revista surge a 1 de Novembro de 1927. A partir de 1934, a sua colaboração com as publicações dos Scouts de França passou a ser permanente e oficial, ilustrando revistas, livros e calendários. 

                        Os seus desenhos contribuíram para a definição de um novo estilo de escoteiro, desde o uniforme até às atividades arrojadas e com muita aventura. Foi ele quem criou o desenho da insígnia oficial dos Scouts de France que apareceu em 1940. Pierre Joubert ilustrou também livros e manuais para outras associações Escoteiras na França, Bélgica e no Canadá. 


                        A partir de 1937, ilustrou livros de aventuras para jovens, nomeadamente a conhecida série “Signe de Piste”, da editora Alsantia, que hoje tem muita procura no mercado de colecionadores de banda desenhada. As aventuras vividas pelo príncipe Éric e seus amigos, onde entravam escoteiros, levaram muitos jovens a entrarem para o escotismo. Nos anos 50, Pierre Joubert produziu uma quantidade enorme de ilustrações para as coleções "Marabout Júnior” e “Pocket Marabout”, da editora Marabout, incluindo mais de cem livros da série “Bob Morane”. Faleceu em La Rochelle, a 13 de Janeiro de 2002, aos 91 anos de idade.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Amélia.


Amélia.

Chefe o que fazer quando alguém nos diz que precisamos mudar? – Olhei para ela com as sobrancelhas levantadas. O que seria? Sou um bom ouvinte. Não gosto de interromper. Sou como aquele que diz que o homem comum fala o sábio escuta e o tolo discute. – Ela sorriu levemente. – Continuei calado. Tossi. Olhei para ela. – Chefe não entendeu? Dizem que o escotismo hoje tem que se adaptar a pedagogia moderna. Sorri. Eu já conhecia tais sintomas de mudança. Afinal tem gente que gosta tanto de carnaval que vive o ano inteiro de máscara. – Vi que ela queria uma resposta. O que dizer? Afinal a educação é o que sobra depois que a gente esquece o que aprendeu na escola da vida. – Chefe e então? Precisamos ou não mudar? Olhei para ela espantado: - Amélia, você é ótima, acabou de me colocar numa saia justa. – Eu sabia que nenhuma pergunta é indiscreta. Algumas respostas é que costumam ser e eu não sabia o que responder.

Não podia deixa-la decepcionada. Quem quer arruma um jeito. Quem não quer arruma uma desculpa e este não sou eu. O tempo deixa perguntas mostra respostas, esclarece duvidas... O tempo infelizmente ou felizmente trás verdades. Pensei em Confúcio quando disse que os extremamentes sábios e os extremamente estúpidos é que não mudam. Mas mudar o que? - Perguntei a ela. – Chefe o senhor é conhecido como um progressista do seu tempo. Quem o conheceu sabe que seu histórico ainda vive no passado, afinal o senhor é ou não um tradicionalista? Dizem que seu legado não foi posto em duvida, mas então, aceita mudar? Ela me pegou batendo o sino da meia noite na Igrejinha de São Domingos. Deus me livre de Kenedy que disse uma frase que nunca esqueci. – Se você agir sempre com dignidade, talvez não consiga mudar o mundo, mas será um canalha a menos. Um tema que sempre me tocou profundamente. Eu era daqueles que nunca devemos mudar de cavalo no meio do rio. Eu era um tradicionalista que no passado foi chamado de conservador, burguês e reacionário.

Precisava dar uma resposta, qual? Nunca tive vergonha de corrigir meus erros e mudar de opinião, porque nunca me envergonhei de raciocinar e aprender. O Velho Churchill dizia sem nenhuma dúvida que não há mal nenhum em mudar de opinião, contanto que seja para melhor. E era para melhor o que os novos sábios faziam? Está dando certo? Kennedy no alto da sua sabedoria dizia se formos mudar as coisas de modo como devem ser mudadas, teremos de fazer coisas que não gostaríamos de fazer. A humanidade não era mais a mesma como no passado. Tudo vai se evoluindo, mas o escotismo precisava mudar pelas mãos de quem não viveu o passado? – Amélia as mudanças são benéficas desde que estejam dando certo. Eu posso mudar, eu posso viver da minha imaginação ao invés da minha memória. Se eu acreditar que este é o melhor caminho. – Eu adoraria dizer a você que tudo vai dar certo. Que o sucesso está ali próximo de cada um de nós. Não existem obstáculos intransponíveis, pois tudo que uma pessoa possa planejar é capaz também de realizar.


Ela sorriu e se foi. Eu fiquei a meditar. Não sabia se acreditava em minhas próprias palavras. Sempre fui um discípulo das ideias do Líder. Seu seguidor fiel. Adaptei-me a realidade dos novos tempos, mas francamente tinha enormes dúvidas do seu sucesso. Eu sabia que o que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Parodiando Millôr Fernandes, meu destino não passa pelo poder, pela religião, por qualquer dessas mudanças idiotas. Meu script é original, fui eu quem fiz baseado no escotismo que acredito e por isto não morro no fim! 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O samurai.


Uma parábola interessante.
O samurai.

Conta-se que, um dia, um Samurai grande e forte, conhecido pela sua índole violenta, foi procurar um sábio monge, em busca de respostas para suas dúvidas. Monge, disse o Samurai, com desejo sincero de aprender, ensina-me sobre o céu e o inferno. O monge, de pequena estatura e muito franzino, olhou para o bravo guerreiro e, simulando desprezo, lhe disse: Eu não poderia ensinar-lhe coisa alguma, você está imundo. Seu mau cheiro é insuportável. Ademais, a lâmina da sua espada está enferrujada. Você é uma vergonha para a sua classe. O Samurai ficou enfurecido. O sangue lhe subiu ao rosto e ele não conseguiu dizer nenhuma palavra, tamanha era sua raiva. Empunhou a espada, ergueu-a sobre a cabeça e se preparou para decapitar o monge. Aí começa o inferno, disse-lhe o sábio mansamente. O Samurai ficou imóvel. A sabedoria daquele pequeno homem o impressionara. Afinal, arriscou a própria vida para lhe ensinar sobre o inferno.

O bravo guerreiro abaixou lentamente a espada e agradeceu ao monge pelo valioso ensinamento. O velho sábio continuou em silêncio. Passado algum tempo o Samurai, já com a intimidade pacificada, pediu humildemente ao monge que lhe perdoasse o gesto infeliz. Percebendo que seu pedido era sincero, o monge lhe falou: Aí começa o céu. Para nós, resta a importante lição sobre o céu e o inferno que podemos construir na própria intimidade. Tanto o céu quanto o inferno, são estados d´alma que nós próprios elegemos no nosso dia a dia. A cada instante somos convidados a tomar decisões que definirão o início do céu ou o começo do inferno. É como se todos fôssemos portadores de uma caixa invisível, onde houvesse ferramentas e materiais de primeiros socorros.

Diante de uma situação inesperada, podemos abri-la e lançar mão de qualquer objeto do seu interior. Assim, quando alguém nos ofende, podemos erguer o martelo da ira ou usar o bálsamo da tolerância. Visitados pela calúnia, podemos usar o machado do revide ou a gaze da autoconfiança. Quando a injúria bater em nossa porta, podemos usar o aguilhão da vingança ou o óleo do perdão. Diante da enfermidade inesperada, podemos lançar mão do ácido dissolvente da revolta ou empunhar o escudo da confiança. Ante a partida de um ente caro, nos braços da morte inevitável, podemos optar pelo punhal do desespero ou pela chave da resignação. Enfim, surpreendidos pelas mais diversas e infelizes situações, poderemos sempre optar por abrir abismos de incompreensão ou estender a ponte do diálogo que nos possibilite uma solução feliz.

A decisão depende sempre de nós mesmos. Somente da nossa vontade dependerá o nosso estado íntimo. Portanto, criar céus ou infernos, portas adentro da nossa alma, é algo que ninguém poderá fazer por nós.


sexta-feira, 8 de julho de 2016

Jaquirana a Cigarra dourada dos Montes Serrat.


Lendas Escoteiras
Jaquirana a Cigarra dourada dos Montes Serrat.
(Uma história para lobinhos).

Pela estrada da vida, eu ouço o cantar,
Da cigarra sabida, que soa no ar.
No pomar florido, o som a enfeitar.
A luz do colorido daquele gostoso lugar.
No verão, ao entardecer sopra a brisa refrescante.
Anuncia o anoitecer, com um canto delirante.
O canto daquela cigarra traz saudade, recordação.
Tal qual a fanfarra, em tempo de comemoração.
Aquele inseto risonho, que vive a provocar,
Às vezes com o canto tristonho que nos leva a meditar.
Ela, à árvore, se agarra, para o seu som soltar.
Canta, canta a cigarra até pelas costas estourar.
Tunin.

           Dorothy estava encantada. O canto lhe chamava para segui-la e ela não sabia onde ela estava. Parecia no galho do Limoeiro alto, mas nada viu. Chamou Merlin para ajudar a procurar. Logo toda a matilha verde vasculhava galho por galho e nada. O cantar continuava. Era lindo como se fosse a História do Flautista de Hamelin que a Akelá Lavinia contou. Toda a matilha procurava e desistiram com o grito de “Lobo, Lobo, Lobo” da Bagheera. Dorothy pensou em não ir. Ela não queria sair dali, o canto era extraordinário. Quem cantava assim? Ela nunca tinha ouvido e ninguém nunca lhe falara sobre ele. Jovi o Balu veio ao seu encontro. - Está na hora Dorothy. Não ouviu o chamado da Akelá? Ela relutante o seguiu. O canto parecia segurá-la, mas ela obedeceu ao Balu. Afinal ensinaram para ela muitas coisas, mas ela sabia que uma boa lobinha ouvia sempre os Velhos Lobos.

          Não prestou atenção a história de Bagheera. O acantonamento que faziam no Monte Serrat sempre fora para ela uma aventura a parte. Adorava mas agora o canto não saia de sua mente. Naquela noite parecia que o canto das cigarras não parava. Quando todos foram dormir ela ficou acordada por muito tempo. Ela pensou que uma cigarra a chamava. Levantou de mansinho e na janela viu uma linda cigarra dourada. Psiu! Ela chamou. Dorothy na sua ingenuidade sorriu e saiu de mansinho pela porta. Na varanda a cigarra a esperava. Ambas sorriam. – Você gosta da gente? Perguntou a cigarra. – Adoro vocês e amo o canto que vocês cantam! Disse Dorothy. Olhe eu me chamo Jaquirana, será que eu posso lhe contar uma história? Adoro histórias pode sim. Então vamos lá, vou contar para você uma história que minha família conta a gerações e dizem que começou com meu tataravô, uma cigarra muito sábia e inteligente. Preste atenção:

- Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque sem se preocupar com o futuro. Esbarrando em uma formiguinha que carregava uma folha pesada ela perguntou - Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O Verão é para a gente se divertir! – Não, não e não! Nós formigas não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno! O tempo foi passando e durante o verão a cigarra continuou se divertindo e passeando por todo o bosque. Quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer.

- Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha. A Cigarra então aconselhou: - Deixa esse trabalho para as outras sua boba! Vamos nos divertir. Vamos formiguinha cantar e dançar! A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga. Mas no dia seguinte, apareceu à rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vidinha boa. A rainha das formigas falou então para a cigarra: - Se não mudar de vida minha amiga, no inverno você há de se arrepender. Vai passar fome e frio.

- A Cigarra nem ligou, fez uma reverência para a rainha e comentou: - Hum! O inverno está longe querida! – Para a cigarra o que importava era aproveitar a vida e aproveitar o hoje sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo! Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga. Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente à cigarra quase morta de frio. Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa quente e deliciosa. Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse a cigarra: - No mundo das formigas, todas trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever. Agora toque e cante para nós.

- Para a cigarra e para as formigas, aquele foi o inverno mais feliz de suas vidas! Dorothy de olhos arregalados não sabia o que dizer. Achou a história linda. Ela que gostava de passear e nunca ajudava sua mãe agora seria diferente. Sempre reclamou da escola, dos seus deveres religiosos. Foi dormir contente e no dia seguinte contou a história para toda a Alcateia, que bateu palmas e queriam conhecer Jaquirana a cigarra. Dorothy olhou e mostrou no galho do abacateiro ela, uma linda cigarra que sorrindo se pôs a cantar:

¶Cigarra cor de mel. Extraordinária! Cigarra! Quem me dera Que eu fosse um velho cedro adusto e bronco, E tu, nessa alegria tumultuária, Viesses pousar sobre o meu tronco Ainda tonta do sol da primavera¶.


(esta história no final é baseada no conto A Cigarra e a Formiga adaptada da obra de La Fontaine).

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Moralto. A árvore da colina.


Moralto.
A árvore da colina.

                - Eu só o vi uma única vez na vida. Na verdade aquele foi um dia especial, não me perguntem por quê. Notei sua figura surgindo na estrada do Alencar, a pé, com um cajado simples, mas com passadas belas sem se mostrar cansado. Ele não me disse quem era e nem eu perguntei. Quando se aproximou de mim senti um brilho em sua figura e inexplicavelmente ele se transformou. Juro que ao longe estava com uma bata branca e ali na minha frente estava agora com um lindo uniforme Escoteiro. Como ele podia fazer aquilo? Era mágico? Se fosse o truque era perfeito. Não usava o chapéu e eu sei que aquela áurea brilhante o chapéu tiraria toda sua pose badeniana. Quem seria? Ele sorria para mim, um sorriso gostoso, dentes alvos olhos negros, cabelos castanhos compridos.

                  Parei ali para descansar um pouco da minha jornada e fazer um café. Precisava. A Árvore da Colina já era minha velha conhecida. Pequena, mas com uma folhagem que em todo seu redor fazia uma sombra invejável. Não havia nascente, não havia rios e nem tampouco regatos por perto. Somente a árvore para nos dar o descanso devido. Pensava em chegar ao acampamento da patrulha ao entardecer. Uma obrigação com meu pai me obrigou a ir depois deles. O destino não era longe. Após a curva do Falcão já se podia avistar a mata pequena, a cascata e o bambuzal. Tirei a mochila, pendurei meu chapéu em um galho e duas achas facilitarem o Tropeiro que iria fazer. Na mochila tinha café e pó. Meu canecão militar serviria para esquentar a água.

                  Levantei e disse bem vindo! Ele sorria. Não era bonito, mas tinha alguma coisa especial que encantava a todos em seu redor. Em vez de sapatos usava uma sandália. Calado se assentou a sombra junto ao tronco. Fechou os olhos e parecia rezar. Passei o café e ofereci a ele. Olhou meu cantil, estava cheio pela metade. Passei para suas mãos e ele bebeu devagar, parecia sorver o líquido com carinho de quem tem sede. Tomou o café me olhando nos olhos. Minha caneca de esmalte parecia brilhar em suas mãos. Fechou os olhos e dormiu por alguns segundos. Acordou sorrindo e levantou. Colocou a mão em minha cabeça e disse – “Que a paz esteja convosco”. Partiu sorrindo acenando com a mão e ao longe vi que estava de novo com a bata branca e seu cajado.

                   Fiquei só naquela sombra da Árvore da Colina meditando. Quem seria? De onde veio e para onde iria? O sol já ia se por na Montanha do Cavalo. Era hora de partir. Ainda havia mais duas horas de jornada. Conhecia o caminho. Limpei o fogo, joguei uma pitada de água do meu cantil nas brasas, mochila nas costas e parti. Não olhei para trás. A Árvore da Colina tinha o dom de não deixar ninguém partir. A noite chegou mansa e calma. Meu caminho estranhamente era claro, uma estrela no céu jorrava raios brilhantes na estrada. Nunca tinha visto nada igual. Do alto da Colina avistei a curva do Falcão. Estava perto. Meus pensamentos giravam entre chegar e lembrar-se daquela figura tão simples, com um sorriso inesquecível e com uma áurea brilhante que me encantou para sempre.


                     Nunca soube quem era. Não perguntei. Acho que ele sabia que um dia eu iria lembrar-se dele e saber que ele veio do céu. Porque eu não sei. Eu era apenas um Escoteiro a ir para seu acampamento. Meu café ele tomou sorrindo sinal que não era ruim. Nunca contei esta história para ninguém. Eu sabia que a partir deste dia o meu mundo se transformou pra sempre. Sabia que agora a paz morava em mim. A harmonia e o amor reinavam. A paz de um sorriso predominava. Agora eu sabia que naquele dia, naquela Árvore da Colina, Jesus me deixou entrar em seu coração!   

sábado, 2 de julho de 2016

Leonardo.


Leonardo.

Frequentemente me perguntam quantos anos tenho. Mas isso importa? Tenho a idade que quero e sinto. A idade em que posso gritar sem medo o que penso. Fazer o que desejo, sem medo do fracasso ou do desconhecido. Tenho a experiência dos anos vividos e a força da convicção dos meus desejos. Que importa quantos anos tenho! Não quero pensar nisso… Uns dizem que já sou velho e outros que estou no apogeu. Mas não é a idade que tenho, nem o que dizem as pessoas, mas o que meu coração sente e o meu cérebro diz.

Tenho os anos necessários para gritar o que penso, para fazer o que quero, para reconhecer velhos erros, retificar caminhos e aferrolhar êxitos. Agora, não têm mais porque dizer: És muito jovem… não conseguirás. Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas com o interesse de continuar crescendo. Tenho os anos em que os sonhos se começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança. Tenho os anos em que o amor, às vezes é uma chama louca desejosa de consumir-se no fogo de uma paixão desejada. Outras, um remanso de paz como a praia ao entardecer. Quantos anos eu tenho? Não necessito dizer um número, pois, meus anseios alcançados, os triunfos conseguidos, as lágrimas que pelo caminho eu derramei ao ver as ilusões desfeitas… Valem muito mais do que isso.


Que importa se cumpro vinte, quarenta, ou sessenta! O que importa é a idade que sinto. Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos. Para seguir sem temor pela vereda, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos. Quantos anos eu tenho? Isso a quem importa! Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.