No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

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A aventura está apenas começando

terça-feira, 26 de julho de 2016

Crônica de um abraço mortal.


Crônica de um abraço mortal.

               Ela parou em minha frente. Foi um susto enorme. Era grande, enorme, a principio pensei que eram os morcegos da Montanha Azul que um dia escalei. Jurei nunca mais voltar. Olhei para ela, ela sorria um sorriso que nem sabia se estava chorando ou rindo. Seus olhos miúdos naquela face pequena eram desproporcionais ao corpo gigantesco. Lutadora de Sumô? Pelo menos um metro e noventa de altura, uns 180 quilos de peso. Por aí. Olhei para aquela montanha, ou melhor, aquela senhora e cumprimentei. Sou educado por natureza. Ela não respondeu. Foi então que um trovão se jogou no ar. Parecia um jato a decolar em um aeroporto e o vento vindo de outra direção. – Eu te conheço! – Pensei que ia cair e me segurei na bengala mais fortemente. Ela se achegou mais perto. – Eu conheço você! Repetiu. – Sorri de leve. Não podia ser uma das minhas amigas virtuais do Facebook. Eu sabia que não. Lembrava-me da foto de todas que educadamente sempre me davam bom dia ou boa tarde ou boa noite.

                 - Eu adoro você! Ela continuou. – Me adora? Eu? Moça ou senhora sou casado, 75 anos de idade e 51 anos ao lado daquela que amo. Pensei em dizer. Só pensei, pois ela logo estalou no ar mais uma frases daquela de deixar a gente desmaiado de felicidade. – Você é lindo! Eu? Eu não moça. Sou feio, tão feio que o espelho meu se espatifou no ar quando perguntei a ele o que achava de mim. – Você trabalha na Globo! – Minha nossa. Na Globo? Não podia ser no SBT, ou na Record? Na Globo News eu sabia que não, afinal nunca fui jornalista e nem tinha aparência de intelectual. – Me lascou logo um nome: - Você é o Doutor Pancrácio! Marco Nanini! Acuda-me, por favor! Pedi aos céus que ele dissesse a ela que eu era um simples Chefe Escoteiro, já aposentado e que nem cortar um bambu podia mais. Mas ela não me deixou. Chegou perto de mim e senti aquele Velho perfume barato, comprado no Paraguai e vencido. De chofre achei que ia morrer.

                - Não perco um capítulo e quando você me aparece me desmancho toda! Ela disse. – Logo eu? Doutor Pancrácio? Se a UEB souber disso vão me dar uma medalha. A medalha dos Velhos Tolos do além. Ainda bem que eu era do bem. Olhei para ela e me lembrei de mamãe que quando eu era neném, não tinha talco, e ela passava açúcar em mim. Risos. Eu? Prefiro um bom pastel de Carne de Jacaré. Tentei explicar a ela que não era da Globo, não era o Doutor Pancrácio e nem era bonito. Dona sou tão feio que outro dia me olhei no espelho e ele me disse: Você não é feio, apenas tua cara está amarrotada. Claro que não deixei de barato e meti o martelo no espelho. Mas o pior aconteceu. Ela abriu os braços (Meu Deus, nunca pensei que ia morrer assim) e disse: Posso lhe dar um abraço? Tentei correr, mas a montanha se interpôs entre mim e Padaria. Onde me esconder?


Saltei de banda e não adiantou. Ela me abraçou. Aquele abraço quando você cai de um edifício de trinta andares e se esborracha no chão. Senti nas narinas o odor do perfume que ela passou no ano passado e não tomou banho só para ele ficar lá! Fiquei preso no ar. Ela me levantou como se eu fosse uma folha seca da arvore desconhecida de um conto Escoteiro que comecei a escrever. Segundos depois ela me largou e eu me esborrachei no chão. Tentei pedir socorro – Chamem o SAMU, liguem para a Célia! O ar aos poucos foi retornando. Ela tinha partido. Uma folha de papel jogada pelo vento foi aos poucos se achegando de mim. Estava escrito: Doutor Pancrácio, você é como comida gordurosa e romântica e vai direto pro coração. Eu te amo demais! Pensei com meus botões, é difícil ser bonito... Por isto que não tento, mas ainda bem que sou Escoteiro. Os carrapatos muriçocas carrapichos e outros afins do acampamento me amam. Que os diga as centenas de acampamentos que eu fiz por este mundo de Deus!

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