No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

segunda-feira, 30 de março de 2015

Pitfundo, o Chefe que engoliu o apito.



Conversa ao pé do fogo.
Pitfundo, o Chefe que engoliu o apito.

                 Você o conheceu? – Claro que sim Chefe. Quando soube do que aconteceu eu rezei quarenta Aves Maria e trinta Pais Nosso! – Nossa! Vejo que gostava dele – Não é questão de gostar Chefe mas Pitfundo era irritante. Apitava que nem um danado. Ele ria, se inchava, se mostrava como o verdadeiro sargentão no apito. E olhe se alguém chegava atrasado, levava uma carraspatana e um apitaço no ouvido para não esquecer nunca mais! Como ele era, magro gordo, alto ou baixo? Baixo Chefe, uma barriga maior que a sua. Andava com as mãos balançando. Gostava de fazer jogos de transportes em maca e ele se fingia de doente para ser carregado! Olhe Chefe, ele tinha mais de cento e vinte quilos!  Um dia ele se apaixonou pela Pamonia, o senhor lembra dela, todos chamavam-na de Olivia Palito, a mulher do Popeye. Ela não tinha namorado, mas Pitfundo era chato demais com aquele apito alemão e ficava de olho nela. Ele comprou muitos apitos. Um francês, um inglês um americano e um italiano. Andava com todos no bornal para uma eventualidade.

                 Olivia Palito não deu bola. Nem ligou. Ela era a Diretora Secretária do grupo. Solteira, trabalhava na Biblioteca Municipal. Dizem que entrou no Grupo Escoteiro atrás de um marido, mas suas investidas davam em nada. Ela comprou uma vestimenta destas novas que os “Maiorais” inventaram. Comprou logo cinco tipos. Cada reunião vestia um. Ia nas reuniões do distrito, região e não perdia uma boca livre na nacional. Era perita em Assembleias e o escambal. Gostava de ficar passeando nos salões e despistava sempre entrando nos WC dos homens! Risos – “Discurpe” gente me enganei, procurava os da madame foi engano! Pois é. Uma vez ficou atrás do Presidente do CAN por dias. Não deu sossego ao coitado. Coitado? Bem namorar Olivia Palito era melhor namorar o Quasímodo. Sabia que no Brasil não tiraria nenhuma lasquinha em chefes Escoteiros então foi parar no Jamboree do Japão. Agora sim pensou, esta turma dos olhos costurados não me escapa!

                   Não conseguiu nada. Com muito custo começou um affair com um Chefe japonês. Gordo, enorme, pesava cento e oitenta quilos. Ela em principio assustou mas soube que ele era cheio da grana. “Lutador de Sumô” e Samurai disseram para ela. Não conhecia o esporte mas viu que ele era podre de rico. A levou para sua mansão. Chegando lá chamou seu interprete: - Senhô diz que senhora será a sétima esposa. Todo domingo será sua vez! Sumiru Ka Kombi avisa que vai ser a sétima gueixa. Vai se chamar Cotira na Nuka. Deve obedecer as ordens de Sumira ká Nota a primeira esposa. Olivia Palito tremeu. Que roubada me meti? Pensou. A noite fugiu a pé do castelo de Sumiru Ká Kombi. No Jamboree desistiu de namorar japoneses. Ficou impressionada com os Escoteirinhos japoneses. Uns tiquititos de nada e falavam japonês de cor e salteado, já pensou? Voltou para sua terra pensando em namorar Ptifundo. Só sobrou o apitador chefe das multidões.

                  Ele o coitado solteiro desistiu de Olivia. Que ela fosse a Chefe que quisesse ser mas não seria mais sua esposa. Foi então que conheceu Praquitinha. Amor à primeira vista. Pegou seu bornal, encheu de apitos e foi até a janela da casa dela altas madrugadas. Apitava por dois minutos cada um dos seus apitos. Quando o silvo agudo do apito de marinheiro começou levou um tiro de espingarda chumbinho no traseiro. Era o pai dela de saco cheio com tantos apitos. Gritou e rolou pelo chão berrando que estava morrendo. No hospital disseram que foi só oito balinhas cheias de querosene e sal. A escoteirada de sua tropa pagou pelo que não fez. Polenta, Nariz Longo, Zebedeu e Joelho Seco os monitores se revoltaram. As patrulhas se reuniram. Procuram o Diretor Técnico Cobra D’água que nada resolveu. Procuraram o distrital Sapo do Brejo e nada também. Na região nem recebidos foram.

                  Reuniram a tropa. Discutiram por oito horas seguidas. Todos eram unânimes que se o Chefe Pitfundo quisesse apitar que o fosse no raio que o parta. Muitos Escoteiros estavam ficando surdos de tanta apitaria! O Presidente da Nacional Doutor Aquiquemmandasoueu, mandou um recado: - Vocês pagaram a mensalidade anual da UEB? Não? O Chefe Pitfundo pagou. Portanto ele é bem vindo. Se quiserem pagar posso pensar em resolver o caso do Chefe o Chefe Apitador. Duros não sabiam o que fazer. Bem ninguém resolveu o problema dos Escoteiros. Pitfundo parece que soube do motim da tropa. Agora é que não daria mais sossego. No lugar de jogos cinco minutos de apito inglês. Técnica seria substituída pelo apito francês e assim por diante. Viajante um Escoteiro da Patrulha Trombeta apresentou um plano. A tropa aprovou. Fizeram uma vaquinha e compraram uns vinte super bonder. Encheram sem o Chefe ver os miolos dos apitos.


                 Naquela reunião logo que chegou meteu a boca no apito americano. Ele gostava. Gostava de ser chamado Boy Scout gud Morney. No primeiro apito nada, sem som. No segundo perdeu o fôlego, no terceiro puxou o ar ao contrário. O apito foi sugado pela sua boca e desceu como um bólido pela goela até o esôfago. Ele berrou sem voz. Começou a dançar em volta de si próprio. Começou a fazer xixi na calça. Pulava feito Macaco Prego. A diretoria veio correndo. Chamaram o Samu que ao socorrê-lo sentiu que ele lançava violentamente para fora de si o canhão que vomitava fogo. O apito foi parar longe. A Tropa Escoteira deitada no chão rolava de rir e dava gargalhada atrás de gargalhada. Olhe, não sei se ele continuou na tropa mas nunca mais apitou em sua vida. Olivia casou com Jujú Marreco e tiveram vinte filhos. Dezoito deles são lobinhos, escoteiros e seniores. Que eu saiba o apito foi proibido naquele grupo escoteiro. Bem feito pensei, que sirva de exemplo para os chefes apitadores! Kkkkkkkkkkkkkk.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Quando eu me for deste mundo...



Hora de dormir, amanhã é outro dia...
Quando eu me for deste mundo...

                         Quando eu me for deste mundo eu tenho um pedido. Um pedido simples de amigo para amigo. Não digam que fui para o Grande Acampamento. Não digam que fui para o Acampamento Eterno. Não quero ir e nem ficar lá. Quero ter liberdade de ir e vir. Quero poder ter a alegria de pegar uma carona em um cometa qualquer e ir parar em uma nebulosa azul. E quando me cansar irei parar na Constelação zodiacal de Virgem. Quantas virgens eu encontrarei lá? Dizem que é um grupo de estrelas fixas, ligadas por linhas imaginarias formam uma figura pertencente ao campo da imaginação. Dizem que ela sempre foi marcada por histórias míticas. Uma das primeiras a receber uma denominação e representada pela imagem de uma donzela. Dizem que foi Têmis, divindade da justiça. Insatisfeita com o procedimento da humanidade e ela retorna aos céus. Portanto meus amigos irei encontrá-la no céu e trocar ideias mil.

                     Assim por favor, quando eu me for, esqueçam este tal de Grande Acampamento. Só porque dizem estar lá o nosso fundador e tantos outros que um dia fizeram o juramento a Bandeira? Sim, sim eu fiz o juramento também, mas quero passar por lá de passagem. Será um bivaque. Uma parada sem armar minha barraca. Irei dormir sob as luzes das estrelas do firmamento. Darei um Sempre Alerta, cumprimentarei BP e outros amigos meus que estão lá, cantarei uma canção com eles em uma conversa ao pé do fogo, posso até fazer um cafezinho brasileiro no meu meião querido que muitos amigos meus adoravam. (risos). Ficarei algumas horas somente e partirei célere como um foguete para outras plagas do universo. Depois voltarei ao nosso planeta. Têm lindos locais que nunca fui e sempre sonhei em ir. Irei acampar um dia no Monte Kilimanjaro, onde dizem ser a montanha branca de Masai. Quem sabe um dia também para conhecer o Monte Kenya e de lá avistar o Chalé do nosso líder?

                         Acampamento Eterno? Caramba! Já pensou ficar para sempre em um acampamento desses? Logo eu um Escoteiro andarilho e sonhador? Sem possibilidade de explorar novas montanhas, novos vales, picos sem fim, descobrir novas terras para armar minha barraca, viajar por aí sem se preocupar onde pousar.  Já pensou se não puder ver e ouvir o vento cantar minha canção de amor preferida? Por favor, quando eu me for me desejem boa viagem, digam a todos que lá vai o Chefe com sua Mochila nas costas, bandeiras ao vento a cantar o Rataplã por este mundão que Deus criou, mas nunca para o acampamento Eterno! Sentarei em uma nuvem branca como a neve e com um violão gostoso, tocarei e cantarei as mais lindas canções escoteiras que aprendi cantar. Se me deram uma harmônica tocarei lindas músicas Escoteiras como fazia quando jovem. Se olharem para o céu irão ver-me sorrindo, cantando e dançando o Guiganguli até o luar aparecer. E olhem, quando vocês acamparem me procurem ao lado da Coruja Buraqueira no Alto do Jequitibá, posso estar voando e sorrindo junto aos Pica Paus que picotam troncos nas mais altas árvores. Se observarem melhor posso estar montado em uma onça pintada que dominarei como dominei uma vez um potro selvagem e correndo pelas campinas atrás de flores silvestres e dos beija flores coloridos.

                       Posso pedir um favor? Sorriem quando eu me for, pois eu estarei sorrindo. Não quero que chorem, pois eu não vou chorar. Minha alma estará solta na natureza que amo. Voarei ao lado de uma Águia-da-cabeça-branca, sabendo que ela me ensinará grandes mergulhos nas escarpas cintilantes, e grandes voltas em nuvens que correm no céu azul. E se passar um Gavião do Penacho Amarelo, sorrirei para ele e ao seu lado iremos explorar o Everest porque lá nunca estive. E se passar correndo um Falcão Maltês eu pedirei para me levar até a Pirâmide Carstensz e se possível uma volta no Aconcágua, pois sei que não vou me apertar. Levarei comigo meu chapéu de abas largas; no ombro meu bornal, no cinto meu cantil francês, meu canivete suíço, uma faca alemã, uma mochila brasileira e direi a todos que encontrar... Acreditem! Eu sou internacional. É gente, vou andar como nunca andei. Vou subir e descer picos que sempre estive ou que ainda desconheço. Percorrerei montes e vales e quando cansar irei cantar a canção do Clã – e em minha frente como uma grande tela eu estarei em uma montanha bem perto do céu, lá onde existe uma lagoa azul... Ou então como em sonhos eu voltarei a Giwell para que um curso assim eu possa tomar...

                       Mas calma meus amigos, ainda vai demorar, não é prá já. Temos tempo e quanto tempo teremos ainda para jogar conversa fora, conversar ao pé do fogo através da mente, falar das grandes lendas Escoteiras, cantarmos juntos em volta de uma fogueira dizendo que não é mais que um até logo. Portanto não esqueçam, um dia irei. Todos nós estamos na fila. Eu você e todos os seres que habitam a terra. E torno a insistir, não digam que fui para o Grande Acampamento. Não fui e não vou. Passarei por lá de passagem é claro. Lá tenho grandes amigos que jamais esqueci. E eles sabem que sou um Escoteiro andarilho. Sabem que sem uma mochila, uma trilha em uma montanha, com meu cantil e um farnel no meu bornal não sou ninguém. Que o céu e o universo me esperem. Quando eu me for ele será pequeno para mim!


Boa noite, e que a quinta seja uma linda noite como todas. Uma semana alegre é o que desejo a todos.

sexta-feira, 20 de março de 2015

Crônicas de um Velho Escoteiro. Minha linda Capa Negra e o Orvalho caindo lá do céu.



Crônicas de um Velho Escoteiro.
Minha linda Capa Negra e o Orvalho caindo lá do céu.

¶ O orvalho vem caindo, vai molhar o meu chapéu
e também vão sumindo, as estrelas lá do céu...

                         Recebi um recado do meu Avô. Para ir a casa dele urgente. Não éramos muito chegados, mas ele não pedia mandava. Lá fui eu naquela tarde cinzenta. Parecia que ia chover. Entrei me ajoelhei e beijei sua mão pedindo a benção. Ele me olhou rápido e virou os olhos para outro lado. – Tome esta capa. Foi do meu pai e vem de geração em geração. Seu pai não quis mesmo dizendo da importância que ela teve. Danado de filho o seu pai! E não diga nada. Pode ir embora. Sua Vó Cecilia veio ao seu encontro. Meu Avô se calou. Já entendia ele. Mesmo com onze anos. Peguei a capa e a levei para casa. No meu quarto a coloquei. Ficou grande. Arrastava no chão como se fosse o padre Zózimo que usava suas batinas compridas na igreja nas missas de domingo.

                          Minha mãe disse que podia fazer a bainha. Tinha lido que os escoteiros usavam uma manta nos Fogos de Conselho. Minha capa poderia ser uma manta. Nos nossos nunca usamos. Mas eu podia ser o primeiro. O Chefe Calango me explicou que se costuma colocar os distintivos que a gente ganha de outros grupos ou distrito nela. Disse que assim muitos iriam saber que quem estava usando era um Escoteiro acampador e viajado. Bem, lembrei que tinha cinco. Vamos lá. No primeiro acampamento, quando chegou à noite do fogo do conselho coloquei a capa. Vi que ela se mexia muito nos meus ombros. Sempre escorregando e caindo.

                         Em casa quando a retirei da mochila ela falou baixinho. – Escoteiro! Posso falar com você? Nossa! A capa falava! Não entendi nada. Mas ela me disse que só podia ser usada durante o dia. Estava boquiaberto. - Você fala? – Claro, seu avô não lhe falou? Puts! E agora? – Gaguejando perguntei por que só durante o dia. Preciso mais de você a noite. – Não dá durante a noite, me desculpe disse ela. Tenho alergia e eu e o Orvalho não nos entendemos. – Você e o Orvalho? O que tem ele? Você o conhece? – De longa data disse. Acho que foi por volta de 1920. Meu dono resolveu me deixar pendurado em um varal e o Orvalho começou a cair, de leve e depois mais forte, frio, insensível me molhando e comecei a tossir. Pedi para ele parar e ele riu. Peguei uma gripe e fiquei mal um ano!

                         Fiquei deveras preocupado. Eu adorava o Orvalho. Gostava de senti-lo molhando minha face, a cair em mim de leve e era um bálsamo em minhas atividades escoteiras noturnas. Quantas e quantas vezes ele e eu convivemos pacificamente em acampamentos distantes, em serras e campinas, em colinas verdejantes? Quantos versos eu fiz e quantos poemas e canções eu dediquei ao Orvalho? Quantas histórias de amor foram feitas entre dois namorados e o Orvalho “caindo?”. Não sabia o que dizer e o que fazer. Mas pelo sim pelo não resolvi tomar uma decisão. – Capa Negra, no próximo acampamento você vai comigo. Eu, você e o Orvalho e juntos vamos fazer uma conversa ao pé do fogo, e cada um terá direito de falar e reclamar um do outro. Quem sabe chegaremos a uma conclusão?

                       E assim foi feito. Resolvi que a conversa ao pé do fogo deveria ser feita altas horas da noite. Longe da barraca e dos meus companheiros de Patrulha. Escolhi o Vale da Redenção, onde vivem os Beija Flores Coloridos, os bem-te-vis cantantes, ás águias de rabo vermelho a voar no Pico da Luz. Lá seria um bom lugar. No caminho o Orvalho nos seguia de cabeça baixa. Molhava a relva e se deliciava com a lua cheia mostrando que ele era uma brisa leve e fresca e não poderia fazer mal a ninguém. – Chegamos, sentamos a moda índia. - Orvalho disse, vamos conversar. – Tudo bem Escoteiro. Já sei de tudo. Uma noite ouvi você conversando com a Capa Negra. Nunca pensei em fazer mal a ninguém. À noite e a madrugada são minhas companheiras e sabem como sou. Os namorados me adoram. Os escoteiros quando estão jornadeando ao luar em uma montanha gostam do meu frescor. E quando eu estou caindo o vento para de soprar, pois sabe que minha brisa vai encantar os pássaros noturnos e servirá de deleite para matar a sede dos insetos que voam ao meu redor!

                          Vi que a Capa Negra estava chorando. – Orvalho ela disse. Perdão. Fui egoísta. Só olhei o meu lado. Esqueci que meu dever é proteger o Escoteiro. Juro que nunca mais irei reclamar e o Escoteiro pode contar comigo sempre! – Bela Capa, linda Capa, se já a amava agora muito mais. Voltamos para o acampamento cantando Noel Rosa – O Orvalho vem caindo, vai molhar o meu chapéu, e também vão sumindo, as estrelas lá no céu...

                      E eu e a minha bela Capa Negra vivemos por muitos e muitos anos. Sempre foi minha amiga e companheira. Ainda ontem abri meu baú mágico de minhas lembranças escoteiras. Lá estava ela, sorrindo, me esperando, pois sabia que eu iria colocar ela no sol, para não mofar e um dia quem sabe, voltar a viver comigo em um delicioso acampamento em uma noite de luar junto ao Orvalho caindo lá do céu! 

Somos gotas de orvalho
que no chão vivem a bater
fazendo nascer à flor 
que mais tarde será você!


Boa noite, uma linda reunião e muitos sorrisos amanhã!  

sábado, 14 de março de 2015

Existe uma idade para ser feliz?


Lendas Escoteiras.
Existe uma idade para ser feliz?

Existe somente uma idade para a gente ser feliz
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

                  Maria Amélia queria ser feliz. Nunca olhou para dentro de si para saber se era ou não feliz. Ela tinha uma bela casa, seus pais a amavam, seu quarto tinha tudo que queria e estudava em um dos melhores colégios da cidade. E era Escoteira! Isto mesmo, só isto bastava para ela se sentir feliz, mas não sentia. Ela fazia tudo para dar um sorriso, uma gargalhada como suas amigas de patrulha faziam e não conseguia. Nos fogos de conselho os esquetes para ela não tinha graça, enquanto a patrulha rolava de rir ela espantada dizia para si: – Porque não faço o mesmo? Quando a Monitora sorria para ela e dizia que a Escoteira é alegre e sorri nas dificuldades ela engolia em seco. Um artigo da Lei difícil de seguir. Sim ela tinha uma só palavra, era leal, cortes, amiga de todos e fazia questão da seriedade em seu comportamento. Mas sorrir? Ser feliz? Ela tinha certeza que não era. Tinha motivos para isto? Ela não sabia dizer.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.

                  Nos seus treze anos ela não tinha sonhos. Sonhar para que? Ela pensava que para sonhar só dormindo e os sonhos deveriam vir naturalmente. Mas não, ela mesmo nem sabia o que desejava. Seria um grande amor? Um guapo jovem que entraria em seu coração? Não, não era isto que ambicionava. Mas então o que? Ela adorava acampamentos, excursões, corria pelos campos floridos da primavera como a colher flores com um simples olhar. Ela sabia que todas as amigas da patrulha lhe dedicavam carinho e amizade. Mas então o que ela queria? Maria Amélia não sabia. Disseram para ela que quando fizesse a Promessa seria o dia mais feliz de sua vida. Foi? Ela achava que não. Para ela uma rotina simplesmente de um único dia a olhar a Bandeira e fazer seu juramento. Disseram para ela que o dia que tivesse a oportunidade de contar estrelas, em uma noite linda sem luar, com ventos calmos e orvalho caindo seria seu dia de felicidade. Mas não foi. Gostava sim de olhar as estrelas no céu, mas sempre a pensar como elas surgiram se haveria lá novas moradas, se nasceu por lá um Baden-Powell para fazer da juventude um sonho esperado. 

Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida
à nossa própria imagem e semelhança
e sorrir e cantar e brincar e dançar
e vestir-se com todas as cores
e entregar-se a todos os amores.
experimentando a vida em todos os seus sabores
sem preconceito ou pudor.

               Interessante que Maria Amélia não via tudo sombrio, ela chorava sim, mas como todas as meninas Escoteiras de sua idade. Chorou quando sua mão encheu de calo ao fazer uma pioneira, chorou quando a fumaça entrou em seus olhos quando ajudava a fazer o jantar, chorou quando sem querer ela chutou uma pedra na trilha da floresta. São coisas banais que acontecem com qualquer um. Chorou vários dias quando viu um canário amarelo morrer por uma pedrada próximo ao Lago Dourado. Seu coração partiu de dó. Não viu quem foi, mas não teve desejos de vingança. Seu coração era cheio de amor. Ela pensou várias vezes em sair do escotismo. Mas ela amava muito as suas amigas e tudo que fazia. Nunca teve desejos em conseguir condecorações, distintivos e tudo que fazia era feito simplesmente sem ambições pessoais. Maria Amélia poderia dizer que era uma privilegiada. Seus pais nunca negaram nada para ela desde que estivesse ao alcance deles. Dizem que a ave constrói o ninho, a aranha a teia e o homem a amizade. Maria Amélia sempre fez amigos e mesmo assim tentava sorrir e não conseguia, tentava ser feliz e achava que não era.

Tempo de entusiasmo e de coragem
em que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo,
de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.

Eram mais de onze da noite quando a patrulha foi dormir. Duas barracas e ela com mais duas amigas estava em uma delas. As amigas riam, contavam causos, contavam seus amores escondidos dos pais e Maria Amélia só ouvia. Ela dormiu um sono pesado, ofegante, e ela se sentiu presa em um veículo que dançava na estrada, bamboleante como se estivesse sem direção. Viu os faróis em direção contrária, uma enorme carreta no mesmo caminho. A batida foi forte. Viu seu pai na direção ser esmagado, sua mãe jogada para fora do carro estirada na grama e morta. Ela sentia pontadas no coração. Alguma coisa havia ultrapassado seu corpo e ela tentava chorar, mas não doía. Maria Amélia acordou gritando. Acordou todo acampamento. Ainda não eram duas da manhã. A Chefe Marta veio correndo. Ela contou o que aconteceu. Ligaram para a casa de Maria Amélia. Todos bem e dormindo acordaram assustados. Maria Amélia Sorriu e viu que fora só um sonho ou quem sabe um pesadelo. Agora ela sabia o que era a felicidade. Ter seu pai e sua mãe ao seu lado não tinha preço. Ter as amigas também, Ela sabia que agora iria dar valor ao que tinha e daria tudo para conservar. Maria Amélia encontrou sim, a felicidade que sempre desejou.

Essa idade, tão fugaz na vida da gente,
chama-se presente,
e tem apenas a duração do instante que passa...
... doce pássaro do aqui e agora
que quando se dá por ele já partiu para nunca mais!

quarta-feira, 11 de março de 2015

A lenda da Escoteirinha e Árvore da Vida.


Lendas Escoteiras.
A lenda da Escoteirinha e Árvore da Vida.

                     Conta-se uma lenda muito antiga, que existia em uma pequenina cidade, uma linda árvore que foi plantada em frente ao coreto da praça. Muitos diziam que ela sempre atendia aos pedidos dos meninos e meninas que ali se dirigiam. Ninguém sabia se era um abacateiro, ameixeira, ou mesmo uma árvore comum. Interessante. Nunca deu flores ou frutos. Nunca floriu na vida. Talvez esta tenha sido sua maior tristeza. Não atendia aos adultos. Apesar de ser uma velha árvore ela sempre se sentiu como uma jovem e sabia que na mente dos jovens existia a pureza, os sonhos eram mais azuis e a vida era mais bela. Nem sempre os jovens lhe pediam o que ela poderia oferecer. Ficava triste com isto e a sua maneira tentava ajudar.

                 A lenda contava que em uma tarde alegre, onde o sol ainda não havia se escondido atrás das montanhas e os pardais ainda procuravam ninho, em uma algazarra divertida, ela viu pela primeira vez uma menina, pequena, miúda, rostinho simples, e com um lindo uniforme de Escoteira. Interessante que todos os sábados a menina, ou melhor, a Escoteirinha ia ter com ela, e ficava até o escurecer. Não pedia nada, só a olhava e sorria. A Árvore da Vida perguntava sempre a si própria - Será que ela não tem sonhos? Gostaria de saber para poder ajudar. A Árvore da Vida ficava encantada quando a escoteirinha aparecia. Foi então que viu na mente da escoteirinha que ela se preocupava com a Árvore da Vida. Você não tem flores? Não tem fruto? Á Árvore da Vida se emocionou. Ninguém nunca se preocupou com ela e aquela escoteirinha se preocupava. Foi então que há escoteirinha um dia passou a levar uma sacola de esterco e em uma das mãos uma pequena lata com água, e colocava aos pés da Árvore. Á Árvore chorava de alegria. A escoteirinha disse – Árvore, vou lhe chamar de Árvore da Vida. Você vai reviver. Você terá flores e será a única Árvore da Vida no mundo que vai dar todas as espécies de frutos.

                    A Árvore da Vida chorava de emoção. – Como? Pensava. Ninguém nunca ninguém se preocupou se ela era uma árvore comum, se era uma árvore que pensava e nunca ninguém falou com ela a não ser para pedir. Ela sempre atendeu os sonhos da meninada. Ela sabia que a cidade inteira um dia descansou nas suas sombras e agora uma simples escoteirinha se preocupava com ela? – Mas um dia cinzento triste ela viu a escoteirinha sentar-se e encostar a cabeça em seu tronco e a Árvore da Vida viu que ela chorava. A Árvore da Vida ficou triste. Muito triste. Viu que a Escoteirinha em seus pensamentos chorava, pois não iria a um grande encontro que os escoteiros faziam e que chamavam Jamboree. Seus pais não podiam pagar. O quer fazer? Como ela podia ajudar a escoteirinha? Á Árvore da Vida soprou em sua fronte, uma brisa fresca, perfumada de suas folhas verdes e a escoteirinha dormiu.

                       A escoteirinha acordou em um lugar lindo, com arco íris de todas as cores. Azuis, amarelos, verdes, uma relva cheia de flores silvestres e ela viu ao longe um enorme acampamento. Muitas barracas e milhares de escoteiros e escoteiras de todo o mundo. Assustou, pois ao seu lado a Arvore da Vida estava segurando suas mãos e dizia – Vamos minha amiga. Você vai participar do primeiro Jamboree Escoteiro no mundo! Vai conhecer seu fundador. E a Escoteirinha sorria. Um sorriso que poucas escoteiras sabem dar. Eram milhares de jovens do mundo inteiro, todos segurando sua mão e dizendo “Sempre Alerta” linda Escoteirinha! Era a maior felicidade que ela podia alcançar. Viu alguém batendo em suas costas se voltou e viu que era o fundador do escotismo. Abraçou-a e disse - Minha jovem escoteirinha, acredite, você é quem faz seus sonhos e os transforma em realidade. Nem todos podem ter o que querem, mas devem lutar para ter. Acredito em você. E você deve acreditar na sua promessa!

                      Quem passou ali no coreto naquela tarde de um lindo por de sol, assustou-se. Em pouco tempo centenas de habitantes da cidade se aglomeraram em volta da árvore da vida. Viram que uma menina estava deitada encostada no tronco da árvore. Ninguém nunca prestou atenção nela, uma árvore é uma árvore, diziam. Não era a única ali naquela praça. Ninguém nunca deu valor a ela, mas notaram uma Escoteirinha que sorria. Em volta dela lindas borboletas de todas as cores sobrevoavam sobre sua cabeça, pássaros mil faziam seus cantos nos galhos da árvore. Levaram um susto. A Árvore da Vida que nunca floriu, nunca deu frutos agora estava florida! Linda! Cheia de frutos. Incrível! Nunca viram nada parecido. Uma brisa gostosa no ar trazia perfumes de flores silvestres, e um papagaio verde e amarelo pousou em seu ombro e cantava – “Ela foi para o Jamboree, ela foi para o Jamboree!”.


                    A história chega ao fim.  Ela sonhou.  E que sonho meu Deus! Não foi naquele Jamboree, mas sabia que um dia iria em outro. Seu sonho não ia morrer nunca. Ela iria crescer trabalhar e fazer seu sonho virar realidade. E a Escoteirinha foi para sua casa sorrindo e cantando – ¶“De BP trago o espírito, sempre na mente, sempre na mente e no meu coração estará!”¶. E a Árvore da Vida que vivia em uma praça simples nunca mais a abandonou. As pessoas sempre tem aquilo que desejam. E ela a escoteirinha sabia que um dia teria seu desejo realizado. Sonhe, sonhe muito Escoteirinha! Acredite em seus sonhos. Alguém não disse que o futuro pertence àqueles que acreditam na beleza da vida e dos seus sonhos?    

terça-feira, 10 de março de 2015

Apenas uma lágrima.


Ora de dormir, amanhã é outro dia...
Apenas uma lágrima.

                     Ela chegava todas as quintas feiras tentando passar despercebida. Num pequeno fusca descia pegava as sacolas que estavam no veículo. Os vizinhos acostumaram com ela. Nunca perguntaram quem era, seu nome e de onde vinha. Sempre chegava vestida simplesmente, nunca mostrando sinais de riqueza. Na casa que ela iria entrar os meninos sorriam. Sabiam que ela iria trazer comida e eles já estavam com muita fome, mas o que mais gostavam era da barra de chocolate que ela dava a cada um. Corriam para dizer a sua mãe que ela chegava. A mãe deles estava prostrada na cama, pois não podia mais andar. Seu marido ajudou enquanto pode e quando caiu do terceiro andar de um prédio onde trabalhava ela achou que ele não ia voltar nunca mais para ela. Ela sempre chegava e lhe dava um beijo na testa. A mãe sorria de alegria. Quem era ela? Nunca perguntou e ela nunca falou. Correu a preparar o jantar. Trouxe para ela em uma bandeja.

                 - Fiz para três dias. Acho que os meninos podem esquentar e se Deus quiser volto no sábado. A mãe chorou. De alegria. Nunca pensou que alguém no fim de sua vida iria olhar por ela. Ela abraçou todo mundo e partiu. Deu um beijo gostoso na menina mais nova de seis anos. – Lembre-se você é a mulher da casa. Cuide de sua mãe e de seus irmãos. Ela partiu não para sua casa e sim para o hospital onde o marido dela estava internado. A mãe viu quando ela partiu. Uma pequena lagrima ela deixou cair. Ele ficou seis meses em coma e estava se recuperando aos poucos. Bolachas, bombons, livros e flores ela entregou a ele. – Em sua casa está tudo bem. Disse. Nunca vai faltar nada para seus filhos e sua esposa. Dito isto ela partiu. Médicos e enfermeiras nunca souberam quem era ela. Sabiam que ela pagava todo o tratamento que o SUS se recusou a fazê-lo. Ele sabia que ela sempre voltaria. Pelo menos uma vez por semana. Uma pequena lagrima caiu de seus olhos.

                    Sua filha queria participar com a mãe. Mãe sou escoteira, preciso fazer minha boa ação. A mãe olhou para a filha. – Que tipo de boa ação poderia fazer? Não sei mãe pensei em ajudar com as compras e limpar a casa dela. – Se fizeres compras será pago por mim, assim não será boa ação. Se quiseres ajudar pense o que pode fazer por você mesmo. No sábado ela foi com a mãe. Fez um vestido simples. Pensou em ir como escoteira com seu uniforme. Achou que seria mostrar que estava fazendo caridade e ela sabia que isto não tinha valor nenhum para depois da vida. Os vizinhos estranharam a mocinha com a senhora. O mesmo carro, a mesma roupa simples. O sapato usado sem cor. Ela aprendeu com a mãe a caridade sem ostentação. Varria, lavava a roupa dos meninos, lavou-os e cuidou deles como se fossem seus filhos. Gostou do que fez. Pediu a mãe para vir sempre. Pelo menos duas vezes por semana.

                   Ela não foi ao hospital. Achou que pela sua idade uma visita seria inconveniente para fazer a boa ação sozinha. Um dia chegou à casa da mãe dos meninos. Muita gente na porta. A mãe tinha morrido, nos seus olhos apenas uma pequena lágrima e um sorriso. Ela morreu sabendo que seus filhos seriam olhados. A senhora cuidou de tudo, assustou quando viu o pai dos meninos na porta. Impossível pensou, ele não andava. Ele soube do que aconteceu por um anjo. Era hora de partir. Seus filhos precisavam dele. Não houve choros convulsivos no enterro. Cada um deixou cair uma pequena lágrima. A Senhora nunca abandonou aquela família. Ela sabia o que tinha lido de um pensador religioso - "Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta".

                      A filha nunca comentou no Grupo Escoteiro o que fazia como fazia e a ajuda ao próximo que ela dava e que chamava de boa ação. Sua mãe tinha lhe ensinado que isto é particular. Quando saímos por aí contando nossas caridades elas perdem o valor. A caridade sai do coração e não na voz para mostrar que somos bons para todos. Ela repetiu de novo a palavra do pensador religioso que disse – "O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros.”.

                    A menina escoteira nunca mais esqueceu. Aprendeu com sua mãe que não importa a crença que acredita. Pode ser católica, evangélica, mulçumana ou espirita, importa sim o que pode fazer pelos outros sem alardear que fez. Cresceu pensando sempre no que sua mãe lhe dizia sempre: - Filha, a caridade é amor, amor é compreensão, deixe cair uma pequena lagrima de alegria toda vez que ajudar alguém!

                  - Nosso Senhor ensina-nos a orar, sem esquecer o trabalho. A dar, sem olhar a quem. A servir, sem perguntar até quando... A sofrer, sem magoar, seja quem for. A progredir, sem perder a simplicidade. A semear o bem, sem pensar nos resultados... A desculpar, sem condições. A marchar para frente, sem contar os obstáculos. A ver sem malícia... A escutar, sem corromper os assuntos. A falar, sem ferir. A compreender o próximo, sem exigir entendimento... A respeitar os semelhantes, sem reclamar consideração. A dar o melhor de nós, além da execução do próprio dever, sem cobrar taxas de reconhecimento... Senhor fortalece em nós, a paciência para com as dificuldades dos outros, assim como precisamos da paciência dos outros, para com as nossas próprias dificuldades... Ajuda-nos para que a ninguém façamos aquilo que não desejamos para nós... Auxilia-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais alta será, invariavelmente, aquela de cumprir seus desígnios onde e como queiras, hoje, agora e sempre. (Chico Xavier).


Boa noite a todos vocês. Lembrem-se sempre a vida é um momento, é um sopro… E a gente só leva daqui, o amor que deu e recebeu, a alegria, o carinho e mais nada.