No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

sábado, 14 de março de 2015

Existe uma idade para ser feliz?


Lendas Escoteiras.
Existe uma idade para ser feliz?

Existe somente uma idade para a gente ser feliz
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.

                  Maria Amélia queria ser feliz. Nunca olhou para dentro de si para saber se era ou não feliz. Ela tinha uma bela casa, seus pais a amavam, seu quarto tinha tudo que queria e estudava em um dos melhores colégios da cidade. E era Escoteira! Isto mesmo, só isto bastava para ela se sentir feliz, mas não sentia. Ela fazia tudo para dar um sorriso, uma gargalhada como suas amigas de patrulha faziam e não conseguia. Nos fogos de conselho os esquetes para ela não tinha graça, enquanto a patrulha rolava de rir ela espantada dizia para si: – Porque não faço o mesmo? Quando a Monitora sorria para ela e dizia que a Escoteira é alegre e sorri nas dificuldades ela engolia em seco. Um artigo da Lei difícil de seguir. Sim ela tinha uma só palavra, era leal, cortes, amiga de todos e fazia questão da seriedade em seu comportamento. Mas sorrir? Ser feliz? Ela tinha certeza que não era. Tinha motivos para isto? Ela não sabia dizer.

Uma só idade para a gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.

                  Nos seus treze anos ela não tinha sonhos. Sonhar para que? Ela pensava que para sonhar só dormindo e os sonhos deveriam vir naturalmente. Mas não, ela mesmo nem sabia o que desejava. Seria um grande amor? Um guapo jovem que entraria em seu coração? Não, não era isto que ambicionava. Mas então o que? Ela adorava acampamentos, excursões, corria pelos campos floridos da primavera como a colher flores com um simples olhar. Ela sabia que todas as amigas da patrulha lhe dedicavam carinho e amizade. Mas então o que ela queria? Maria Amélia não sabia. Disseram para ela que quando fizesse a Promessa seria o dia mais feliz de sua vida. Foi? Ela achava que não. Para ela uma rotina simplesmente de um único dia a olhar a Bandeira e fazer seu juramento. Disseram para ela que o dia que tivesse a oportunidade de contar estrelas, em uma noite linda sem luar, com ventos calmos e orvalho caindo seria seu dia de felicidade. Mas não foi. Gostava sim de olhar as estrelas no céu, mas sempre a pensar como elas surgiram se haveria lá novas moradas, se nasceu por lá um Baden-Powell para fazer da juventude um sonho esperado. 

Fase dourada em que a gente pode criar e recriar a vida
à nossa própria imagem e semelhança
e sorrir e cantar e brincar e dançar
e vestir-se com todas as cores
e entregar-se a todos os amores.
experimentando a vida em todos os seus sabores
sem preconceito ou pudor.

               Interessante que Maria Amélia não via tudo sombrio, ela chorava sim, mas como todas as meninas Escoteiras de sua idade. Chorou quando sua mão encheu de calo ao fazer uma pioneira, chorou quando a fumaça entrou em seus olhos quando ajudava a fazer o jantar, chorou quando sem querer ela chutou uma pedra na trilha da floresta. São coisas banais que acontecem com qualquer um. Chorou vários dias quando viu um canário amarelo morrer por uma pedrada próximo ao Lago Dourado. Seu coração partiu de dó. Não viu quem foi, mas não teve desejos de vingança. Seu coração era cheio de amor. Ela pensou várias vezes em sair do escotismo. Mas ela amava muito as suas amigas e tudo que fazia. Nunca teve desejos em conseguir condecorações, distintivos e tudo que fazia era feito simplesmente sem ambições pessoais. Maria Amélia poderia dizer que era uma privilegiada. Seus pais nunca negaram nada para ela desde que estivesse ao alcance deles. Dizem que a ave constrói o ninho, a aranha a teia e o homem a amizade. Maria Amélia sempre fez amigos e mesmo assim tentava sorrir e não conseguia, tentava ser feliz e achava que não era.

Tempo de entusiasmo e de coragem
em que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo,
de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.

Eram mais de onze da noite quando a patrulha foi dormir. Duas barracas e ela com mais duas amigas estava em uma delas. As amigas riam, contavam causos, contavam seus amores escondidos dos pais e Maria Amélia só ouvia. Ela dormiu um sono pesado, ofegante, e ela se sentiu presa em um veículo que dançava na estrada, bamboleante como se estivesse sem direção. Viu os faróis em direção contrária, uma enorme carreta no mesmo caminho. A batida foi forte. Viu seu pai na direção ser esmagado, sua mãe jogada para fora do carro estirada na grama e morta. Ela sentia pontadas no coração. Alguma coisa havia ultrapassado seu corpo e ela tentava chorar, mas não doía. Maria Amélia acordou gritando. Acordou todo acampamento. Ainda não eram duas da manhã. A Chefe Marta veio correndo. Ela contou o que aconteceu. Ligaram para a casa de Maria Amélia. Todos bem e dormindo acordaram assustados. Maria Amélia Sorriu e viu que fora só um sonho ou quem sabe um pesadelo. Agora ela sabia o que era a felicidade. Ter seu pai e sua mãe ao seu lado não tinha preço. Ter as amigas também, Ela sabia que agora iria dar valor ao que tinha e daria tudo para conservar. Maria Amélia encontrou sim, a felicidade que sempre desejou.

Essa idade, tão fugaz na vida da gente,
chama-se presente,
e tem apenas a duração do instante que passa...
... doce pássaro do aqui e agora
que quando se dá por ele já partiu para nunca mais!

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