Lendas
Escoteiras.
Existe uma
idade para ser feliz?
Existe somente uma
idade para a gente ser feliz
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-los
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Maria Amélia queria ser
feliz. Nunca olhou para dentro de si para saber se era ou não feliz. Ela tinha
uma bela casa, seus pais a amavam, seu quarto tinha tudo que queria e estudava
em um dos melhores colégios da cidade. E era Escoteira! Isto mesmo, só isto
bastava para ela se sentir feliz, mas não sentia. Ela fazia tudo para dar um
sorriso, uma gargalhada como suas amigas de patrulha faziam e não conseguia.
Nos fogos de conselho os esquetes para ela não tinha graça, enquanto a patrulha
rolava de rir ela espantada dizia para si: – Porque não faço o mesmo? Quando a
Monitora sorria para ela e dizia que a Escoteira é alegre e sorri nas
dificuldades ela engolia em seco. Um artigo da Lei difícil de seguir. Sim ela
tinha uma só palavra, era leal, cortes, amiga de todos e fazia questão da
seriedade em seu comportamento. Mas sorrir? Ser feliz? Ela tinha certeza que
não era. Tinha motivos para isto? Ela não sabia dizer.
Uma só idade para a
gente se encantar com a vida
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.
e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo nem culpa de sentir prazer.
Nos seus treze anos ela não
tinha sonhos. Sonhar para que? Ela pensava que para sonhar só dormindo e os
sonhos deveriam vir naturalmente. Mas não, ela mesmo nem sabia o que desejava.
Seria um grande amor? Um guapo jovem que entraria em seu coração? Não, não era
isto que ambicionava. Mas então o que? Ela adorava acampamentos, excursões,
corria pelos campos floridos da primavera como a colher flores com um simples
olhar. Ela sabia que todas as amigas da patrulha lhe dedicavam carinho e
amizade. Mas então o que ela queria? Maria Amélia não sabia. Disseram para ela
que quando fizesse a Promessa seria o dia mais feliz de sua vida. Foi? Ela
achava que não. Para ela uma rotina simplesmente de um único dia a olhar a
Bandeira e fazer seu juramento. Disseram para ela que o dia que tivesse a
oportunidade de contar estrelas, em uma noite linda sem luar, com ventos calmos
e orvalho caindo seria seu dia de felicidade. Mas não foi. Gostava sim de olhar
as estrelas no céu, mas sempre a pensar como elas surgiram se haveria lá novas
moradas, se nasceu por lá um Baden-Powell para fazer da juventude um sonho
esperado.
Fase dourada em que a
gente pode criar e recriar a vida
à nossa própria imagem e semelhança
e sorrir e cantar e brincar e dançar
e vestir-se com todas as cores
e entregar-se a todos os amores.
experimentando a vida em todos os seus sabores
sem preconceito ou pudor.
à nossa própria imagem e semelhança
e sorrir e cantar e brincar e dançar
e vestir-se com todas as cores
e entregar-se a todos os amores.
experimentando a vida em todos os seus sabores
sem preconceito ou pudor.
Interessante que Maria Amélia
não via tudo sombrio, ela chorava sim, mas como todas as meninas Escoteiras de
sua idade. Chorou quando sua mão encheu de calo ao fazer uma pioneira, chorou
quando a fumaça entrou em seus olhos quando ajudava a fazer o jantar, chorou
quando sem querer ela chutou uma pedra na trilha da floresta. São coisas banais
que acontecem com qualquer um. Chorou vários dias quando viu um canário amarelo
morrer por uma pedrada próximo ao Lago Dourado. Seu coração partiu de dó. Não
viu quem foi, mas não teve desejos de vingança. Seu coração era cheio de amor.
Ela pensou várias vezes em sair do escotismo. Mas ela amava muito as suas
amigas e tudo que fazia. Nunca teve desejos em conseguir condecorações,
distintivos e tudo que fazia era feito simplesmente sem ambições pessoais.
Maria Amélia poderia dizer que era uma privilegiada. Seus pais nunca negaram
nada para ela desde que estivesse ao alcance deles. Dizem que a ave constrói o
ninho, a aranha a teia e o homem a amizade. Maria Amélia sempre fez amigos e
mesmo assim tentava sorrir e não conseguia, tentava ser feliz e achava que não
era.
Tempo de entusiasmo e de coragem
em que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo,
de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.
em que todo desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda a disposição de tentar algo novo,
de novo e de novo, e quantas vezes for preciso.
Eram mais de onze da noite quando a patrulha foi dormir. Duas barracas e
ela com mais duas amigas estava em uma delas. As amigas riam, contavam causos,
contavam seus amores escondidos dos pais e Maria Amélia só ouvia. Ela dormiu um
sono pesado, ofegante, e ela se sentiu presa em um veículo que dançava na
estrada, bamboleante como se estivesse sem direção. Viu os faróis em direção
contrária, uma enorme carreta no mesmo caminho. A batida foi forte. Viu seu pai
na direção ser esmagado, sua mãe jogada para fora do carro estirada na grama e
morta. Ela sentia pontadas no coração. Alguma coisa havia ultrapassado seu
corpo e ela tentava chorar, mas não doía. Maria Amélia acordou gritando.
Acordou todo acampamento. Ainda não eram duas da manhã. A Chefe Marta veio
correndo. Ela contou o que aconteceu. Ligaram para a casa de Maria Amélia.
Todos bem e dormindo acordaram assustados. Maria Amélia Sorriu e viu que fora
só um sonho ou quem sabe um pesadelo. Agora ela sabia o que era a felicidade.
Ter seu pai e sua mãe ao seu lado não tinha preço. Ter as amigas também, Ela
sabia que agora iria dar valor ao que tinha e daria tudo para conservar. Maria
Amélia encontrou sim, a felicidade que sempre desejou.
Essa idade, tão fugaz na vida da gente,
chama-se presente,
e tem apenas a duração do instante que passa...
... doce pássaro do aqui e agora
que quando se dá por ele já partiu para nunca mais!
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