Ora de dormir, amanhã é outro
dia...
Apenas uma lágrima.
Ela chegava todas as quintas feiras tentando passar despercebida. Num
pequeno fusca descia pegava as sacolas que estavam no veículo. Os vizinhos
acostumaram com ela. Nunca perguntaram quem era, seu nome e de onde vinha.
Sempre chegava vestida simplesmente, nunca mostrando sinais de riqueza. Na casa
que ela iria entrar os meninos sorriam. Sabiam que ela iria trazer comida e
eles já estavam com muita fome, mas o que mais gostavam era da barra de
chocolate que ela dava a cada um. Corriam para dizer a sua mãe que ela chegava.
A mãe deles estava prostrada na cama, pois não podia mais andar. Seu marido
ajudou enquanto pode e quando caiu do terceiro andar de um prédio onde
trabalhava ela achou que ele não ia voltar nunca mais para ela. Ela sempre
chegava e lhe dava um beijo na testa. A mãe sorria de alegria. Quem era ela?
Nunca perguntou e ela nunca falou. Correu a preparar o jantar. Trouxe para ela
em uma bandeja.
- Fiz para três dias. Acho que os meninos podem esquentar e se Deus
quiser volto no sábado. A mãe chorou. De alegria. Nunca pensou que alguém no
fim de sua vida iria olhar por ela. Ela abraçou todo mundo e partiu. Deu um
beijo gostoso na menina mais nova de seis anos. – Lembre-se você é a mulher da
casa. Cuide de sua mãe e de seus irmãos. Ela partiu não para sua casa e sim
para o hospital onde o marido dela estava internado. A mãe viu quando ela
partiu. Uma pequena lagrima ela deixou cair. Ele ficou seis meses em coma e
estava se recuperando aos poucos. Bolachas, bombons, livros e flores ela
entregou a ele. – Em sua casa está tudo bem. Disse. Nunca vai faltar nada para
seus filhos e sua esposa. Dito isto ela partiu. Médicos e enfermeiras nunca
souberam quem era ela. Sabiam que ela pagava todo o tratamento que o SUS se
recusou a fazê-lo. Ele sabia que ela sempre voltaria. Pelo menos uma vez por
semana. Uma pequena lagrima caiu de seus olhos.
Sua filha queria participar com a mãe. Mãe sou escoteira, preciso fazer
minha boa ação. A mãe olhou para a filha. – Que tipo de boa ação poderia fazer?
Não sei mãe pensei em ajudar com as compras e limpar a casa dela. – Se fizeres
compras será pago por mim, assim não será boa ação. Se quiseres ajudar pense o
que pode fazer por você mesmo. No sábado ela foi com a mãe. Fez um vestido
simples. Pensou em ir como escoteira com seu uniforme. Achou que seria mostrar
que estava fazendo caridade e ela sabia que isto não tinha valor nenhum para
depois da vida. Os vizinhos estranharam a mocinha com a senhora. O mesmo carro,
a mesma roupa simples. O sapato usado sem cor. Ela aprendeu com a mãe a
caridade sem ostentação. Varria, lavava a roupa dos meninos, lavou-os e cuidou
deles como se fossem seus filhos. Gostou do que fez. Pediu a mãe para vir
sempre. Pelo menos duas vezes por semana.
Ela não foi ao hospital. Achou que pela sua idade uma visita seria
inconveniente para fazer a boa ação sozinha. Um dia chegou à casa da mãe dos
meninos. Muita gente na porta. A mãe tinha morrido, nos seus olhos apenas uma
pequena lágrima e um sorriso. Ela morreu sabendo que seus filhos seriam
olhados. A senhora cuidou de tudo, assustou quando viu o pai dos meninos na
porta. Impossível pensou, ele não andava. Ele soube do que aconteceu por um anjo.
Era hora de partir. Seus filhos precisavam dele. Não houve choros convulsivos
no enterro. Cada um deixou cair uma pequena lágrima. A Senhora nunca abandonou
aquela família. Ela sabia o que tinha lido de um pensador religioso -
"Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo.
Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta".
A filha nunca comentou no Grupo Escoteiro o que fazia como fazia e a
ajuda ao próximo que ela dava e que chamava de boa ação. Sua mãe tinha lhe
ensinado que isto é particular. Quando saímos por aí contando nossas caridades
elas perdem o valor. A caridade sai do coração e não na voz para mostrar que
somos bons para todos. Ela repetiu de novo a palavra do pensador religioso que
disse – "O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu que as pessoas
escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu que
nos amássemos uns aos outros.”.
A menina escoteira nunca mais esqueceu. Aprendeu com sua mãe que não
importa a crença que acredita. Pode ser católica, evangélica, mulçumana ou
espirita, importa sim o que pode fazer pelos outros sem alardear que fez.
Cresceu pensando sempre no que sua mãe lhe dizia sempre: - Filha, a caridade é
amor, amor é compreensão, deixe cair uma pequena lagrima de alegria toda vez
que ajudar alguém!
- Nosso Senhor ensina-nos a orar, sem esquecer o trabalho. A dar,
sem olhar a quem. A servir, sem perguntar até quando... A sofrer, sem
magoar, seja quem for. A progredir, sem perder a simplicidade. A semear o bem,
sem pensar nos resultados... A desculpar, sem condições. A marchar para frente,
sem contar os obstáculos. A ver sem malícia... A escutar, sem corromper os
assuntos. A falar, sem ferir. A compreender o próximo, sem exigir entendimento...
A respeitar os semelhantes, sem reclamar consideração. A dar o melhor de
nós, além da execução do próprio dever, sem cobrar taxas de reconhecimento...
Senhor fortalece em nós, a paciência para com as dificuldades dos outros, assim
como precisamos da paciência dos outros, para com as nossas próprias
dificuldades... Ajuda-nos para que a ninguém façamos aquilo que não desejamos
para nós... Auxilia-nos, sobretudo, a reconhecer que a nossa felicidade mais
alta será, invariavelmente, aquela de cumprir seus desígnios onde e como
queiras, hoje, agora e sempre. (Chico Xavier).
Boa noite a todos vocês. Lembrem-se sempre a vida é um momento, é um sopro… E a gente só
leva daqui, o amor que deu e recebeu, a alegria, o carinho e mais nada.
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