No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

domingo, 31 de agosto de 2014

Escotismo Civismo e cidadania. Um “causo” do acontecido.


Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Escotismo Civismo e cidadania. Um “causo” do acontecido.

              Conheci Marco Aurélio na década de sessenta. Nem sei como fomos nos encontrar ali, em um pequeno arraial, próximo a cidade de Itanhomi. Na época eu tentava a sorte vendendo livros Os empregos praticamente não existiam e eu não podia viver à custa dos meus pais. Com meus vinte e três anos sentia que minha responsabilidade me fazia procurar algum útil e claro, me manter profissionalmente. Era um bar simples, mais para boteco, mas a fome que eu estava nem ligava onde poderia comer. Uma mesa na entrada com dois bancos compridos, coberta de sapé dava uma sombra gostosa e tranquila. Um refrigerante quase sem gelo e dois pães com mortadela era meu almoço e comia como se fosse a melhor refeição do mundo. Disseram-me que ali eu poderia pegar um ônibus para Residência e de lá para minha cidade seria fácil. Ele chegou e sorriu para mim. – Desculpe senhor, posso me assentar aí também? – Claro meu amigo eu disse. Ele riu quando viu o que tinha nas mãos e era igual ao suculento almoço dele. Pães com mortadela e refrigerante.

             E não é que ele era Escoteiro? Ali naquele fim de mundo, comendo um belo lanche de mortadela e logo um Escoteiro chega para jogar conversa fora. Aos poucos ele contou como entrou para o escotismo. – Olhe Vado, sempre morei em Salto Grande, uma cidade de 40 mil habitantes. Eu tenho lá uma pequena fábrica de sapatos herdadas de meu pai que herdou do meu avô. Eu fui educado por eles de uma forma diferente. Na cidade todos me olhavam como se eu não fosse como eles. Claro que não era eu era tudo que meu pai me deu quando jovem, Fazia questão do cavalheirismo, da ética e da cidadania. No entanto levar para todos o que eu pensava era impossível. Como andava de cabeça em pé, e nunca me meti em falcatruas ou mesmo arruaças. Naquela cidade eu era tido como um exemplo para todos. Um tarde de agosto, há três anos passados no final de um domingo, dormitava em minha varanda quando percebi na minha porta uma senhora e quatro Escoteiros. Gostei da maneira com que se apresentaram e como me dirigiram a palavra respeitosamente.

            Se existe uma coisa que sempre fiz questão foi à educação dos jovens com os adultos. E eles se dirigiram a mim dizendo senhor, olhando-me nos olhos, e isto me cativou. Dona Matilde contou-me uma história que me emocionou. A Tropa 222, do Grupo Escoteiro Santo Ângelo estava em vias de desaparecer. O Grupo Escoteiro fundando há oito anos no inicio estava indo muito bem. Com uma Alcateia e a tropa estavam partindo para organizar a tropa sênior em breve. Pedi a ela para me explicar o que era tropa, Alcateia e Grupo Escoteiro. Foi uma aula gratuita de escotismo que ela me deu. Sentados ali na varanda Dona Norma uma espécie de tia que me ajudava nos afazeres da casa nos serviu um café com biscoitos e precisava ver a educação dos quatro jovens a se servirem. Ela foi direto ao ponto quando explicou que o antigo Chefe Fasano, tinha falecido há quatro meses em virtude de um câncer no cérebro. Isto destruiu metade do grupo em um mês. Ninguém aceitava aquele destino, pois amavam o Chefe como se fosse um pai.

            - Senhor Marco Aurélio, viemos aqui contando que vai aceitar nosso convite para ser o Chefe da tropa. Falei com os meninos sobre o senhor e a maioria já o conhece. Para eles teria que ser alguém com moral e ética e o senhor preenche bem seus desejos. Olhei os quatros jovens. Dois meninos e duas meninas. Olhavam-me como se eu fosse o seu líder, aquele que podiam contar. Quer saber? Não pedi um tempo. Aceite de pronto e os sorrisos valeram minha resposta. Sempre me bati com a questão de cidadania, da ética e da honra e nada melhor que um movimento de jovens que acreditam nisto para que eu pudesse colaborar com eles. No primeiro dia conversei com todos, ainda não sabia que o Sistema de Patrulhas me dava à liberdade de ter meninos que dirigem outros meninos. O tempo me ensinou muitas coisas e vi que o escotismo era um manancial para que os jovens tivessem uma formação adequada para um país que precisavam de homens e mulheres em quem se pudesse confiar.

             Quando li os livros Escoteiros do fundador e outros sabia que tinha dado um passo certo. Senti claro que os mais antigos me consideram um seguidor deles, e pouco se abriam para que eu pudesse sugerir e mostrar como funciona uma democracia. Não eram todos, mas aos poucos fui batalhando e com o passar dos anos aceito da forma como era. A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá a pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida de do governo de seu povo. No escotismo a cidadania não era vista assim. Acreditava e acredito que precisamos ensinar também aos adultos o que ensinamos aos jovens através das patrulhas e dos monitores esta tão falada democracia. Ainda tem alguns que pensam que a democracia seria aquela que o faz dono da verdade e das ações. Eu sei que a participação numa sociedade ideal não é fácil de ser implantada. Como a liberdade consciente e imperfeita numa democracia como a nossa, poderiam todos pensar que seria uma utopia mudar esta visão.

             Aos poucos fui fazendo cursos e vi até que alguns dirigentes que ali se prestavam a colaborar não estavam devidamente preparados para sua função de educador. Para dizer a verdade fiquei em duvida se eu tinha amigos Escoteiros ou lideres que só mandavam e nada mais. Não desisti e fiz outros afinal não é em um dia ou dois que teremos adquiridos todo o conhecimento que precisávamos. No livro do fundador dizia ele que aprender com os jovens é como se cursar uma faculdade escoteira. Eu sabia que quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões e isto poderia colocar a todos numa posição de inferioridade dentro do grupo social. Por isto aceitei o desafio. Fiquei quatro anos ininterruptos. Mas o pior aconteceu. Eleita uma nova diretoria sem eu perceber começou a luta de egos, cada um querendo mostrar sua liderança seu poder e eu novato não entendia bem onde eles queriam chegar.


                 Não deu outra. A disputa de egos foi tanta que um deles pediu a intervenção regional do grupo. Desisti. Isto mesmo fui embora para minha casa. Os meninos choraram e tentaram me demover, mas enquanto estivessem no grupo pessoas atrás do poder em sabia que não tinha condições de ajudar em nada. O grupo não durou três anos. Fechou as portas. – Perguntei a ele e você? O que fez? – Chefe, o caminho estava livre. Voltei, reabri o grupo, convidei pais sem sonhos de poder e hoje estamos fazendo um belo escotismo. – É eu pensava com meus botões. A verdade sempre aparece. Uma buzina e vi a velha jardineira chegando. Um abraço, um aperto de mão e um desejo de nos vermos novamente. Quem sabe? E lá fui eu rumo a Residência onde se tivesse sorte pegaria um ônibus no mesmo dia para casa.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

AS MARAVILHOSAS HISTÓRIAS ESCOTEIRAS III.


AS MARAVILHOSAS HISTÓRIAS ESCOTEIRAS III.

Aos meus amigos e amigas leitores deste blog. Agora vocês terão oportunidade de ter em seus arquivos, um livro só de histórias Escoteiras. Três semanas separando, lendo, comparando e finalmente escolhi 31 espetaculares histórias Escoteiras para o meu novo livro de histórias. Ficou pronto hoje. Histórias escolhidas a dedo. Só as mais lidas mais curtidas e mais comentadas do Facebook e dos meus blogs. Não faltaram seis histórias inéditas ainda não publicadas. 89 páginas de puro deleite e viagens fantásticas no mundo maravilhoso dos Escoteiros. Primeiro tivemos as Maravilhosas Histórias Escoteiras I, depois as Maravilhosas Histórias Escoteiras II e esta última bateu todos os recordes de envio por e-mail. Esta terceira eu tenho certeza que vai agradar a todos participantes do Movimento Escoteiro. Do lobinho ao Chefe, da Escoteira a pioneira. Claro pode agradar também aos nossos dirigentes... Quem sabe?

Agora se você quiser ter o seu exemplar em PDF é só ir lá ao meu e-mail e pedir. Prometo enviar no mesmo dia. Opa! É gratuito. Você não paga nada, mas olhe não peça e não deixe seu e-mail aqui. Não dá para atender você assim. Vamos lá, aguardo seu pedido. Se não gostar reclame com Baden-Powell, ele é o culpado, pois juntamente com Deus me fez um Escoteiro!


elioso@terra.com.br repetindo elioso@terra.com.br

terça-feira, 26 de agosto de 2014

O dia em que Lagoa Vermelha parou para assistir o casamento do Chefe Bento Soares.


Lendas Escoteiras.
O dia em que Lagoa Vermelha parou para assistir o casamento do Chefe Bento Soares.

                 Era uma cidade feliz. Muito mesmo. Todos lá se conheciam e eram grandes amigos. Aos sábados e domingos se reunião na praça central, cumprimentando-se, contando “causos” e lembrando-se dos velhos tempos. Chefe Bento era uma figura de destaque na cidade. Não porque fosse politico, mas pela sua bondade, pelo seu sorriso e pelo seu trabalho em prol da comunidade. Além de Chefe da Tropa Escoteira Andrômeda ele trabalhava no Posto de Saúde da cidade há mais de vinte anos. Dizia-se que quase todos os habitantes de Lagoa Vermelha foram escoteiros e isto quem sabe explica a grande amizade entre eles. Chefe Bento era mesmo diferente. Se fosse padre estaria explicado, mas não era. Sua tropa Escoteira o adorava. Nunca faltou a uma reunião. O Padre Albertinho não fazia nada sem o consultar. Fizeram tudo para ele se candidatar a prefeito e sempre recusou. O Prefeito Belarmino e as demais autoridades tinham por ele o maior respeito.

               Morava em uma casa simples bem próximo da sede Escoteira motivo pela qual ela estava sempre cheia de escoteiros. Sua mãe dona Lindalva tinha uma paciência enorme. Nunca brigava com a meninada. Ela comentava sempre que se Jesus dizia “vinde a mim as criancinhas” porque eu também não faço o mesmo? Chefe Bento estava noivo de Cidinha, uma jovem simples, que trabalhava como servente no Grupo Escolar Flores da Cunha. Magra, loira e uns olhos azuis que quase não se via, porque ficava sempre de cabeça baixa. Cidinha também era um amor de pessoa. Os alunos adoravam seu estilo e só não entrou para o Grupo Escoteiro porque achava que não tinha “estudo” suficiente. Fizera somente o quarto ano primário e parou de estudar para trabalhar. Sua família dependia dela. Chefe Bento e Cidinha namoravam desde crianças. Ambos achavam que não podiam viver um sem o outro. Nunca houve palavras bonitas entre eles de “eu te amo” “estou apaixonado” e só se beijaram uma vez, mas um beijo calmo, nada de língua prá lá e prá cá.

             A cidade em peso esperava o dia do casamento. Seria em 22 de novembro próximo. Menos de cinco meses. Seria uma festa de arromba. O Padre Albertinho fez questão de celebrar o casamento sem nenhum ônus para eles. A igreja vai ajudar também nos móveis do casal. Os lobinhos, escoteiros, seniores e pioneiros se cotizaram para as demais despesas. Uma lista foi passada de mão em mão de casa em casa. Estava quase cheia. Vários fazendeiros prometeram bois, porcos, galinhas e o clube de mães da igreja e do Grupo Escoteiro comprometeram-se a fazer tudo. Tudo caminhava a mil maravilhas. Em 12 de junho a tropa foi acampar na Serra da Felicidade. Sempre acampavam lá. Ficava nas terras do Coronel Adauto, um fazendeiro amigo e conhecido de todos. Na abertura do campo o Coronel Adauto estava presente. Ele gostava de ver a escoteirada formar e cantar o hino Nacional. Todos se espantaram desta vez. Ao lado dele uma bela morena de olhos negros, saia curtinha, cabelos negros longos, corpo escultural. Linda de morrer! – Minha sobrinha disse. Veio morar comigo.

            As patrulhas estavam cismadas. Chefe Bento presente como sempre foi, mas agora tinha ao seu lado a bela Francisca e eram somente sorrisos. Dia e noite juntos. Um dia Pedrinho os viu beijando junto ao moinho do Ventor. Um susto. A tropa toda ficou sabendo. Logo a cidade em peso sabia. Segredos? Ali em Lagoa Vermelha não havia. Todos sabiam de tudo. – Coitada da Cidinha diziam. Ela calada. Parecia que não estava revoltada. Claro, Chefe Bento continuou indo a sua casa como se nada tivesse acontecido. Um dia procurou o Padre Albertinho. - Senhor Padre, disse – Não vou confessar agora. É só um conselho. Não sei o que diz meu coração. Não quero ficar sem a Cidinha. Ela é meu sonho para vivermos juntos para sempre. No entanto não sei, mas estou amando a Francisca. O que faço padre?

                 Lagoa Vermelha em peso “cochichavam” entre si. O disse me disse das comadres eram enormes. Quem é essa Francisca? De onde veio? Tomar o Chefe Bento da Cidinha? Vai ver que é uma “pistoleira” da cidade grande. Onde o Coronel Adauto arrumou esta bruxa? Durante um mês o buchicho não parou. Chefe Bento não sabia o que fazer. Não tinha coragem de olhar nos olhos de ninguém. Sempre de cabeça baixa. O Coronel Adauto um dia pediu para ele ir até a fazenda. E agora pensou Chefe Bento? Ele vai me imprensar na parede. Não sei o que fazer. Nem mamãe soube me aconselhar.

               O dia acabava de amanhecer. Um céu avermelhado prenuncio de um dia quente e sem chuva. Um carro preto, grande atravessou a cidade de ponta a ponta e se dirigiu a fazenda do Coronel Adauto. O povo só ficou sabendo quando Zé das Flores, um vaqueiro da fazenda, entrou no Boteco do Martinho e contou as novidades. O marido da Francisca veio buscá-la. Ela não queria ir. O Coronel Adauto ficou calado. Eram casados e ela devia obrigação a ele. Não concordou com a farsa dela se apaixonar pelo Chefe Bento. Pensou várias vezes contar o que sabia. Era casada com um mafioso da capital. Sujeito perigoso. Ela fugiu dele e mesmo aconselhando a voltar não aceitou.

                 O povo viu o carro preto pegando a estrada da capital com a Francisca dentro. Quando Chefe Bento soube, dizem seus amigos lá do posto de saúde que ele chorou. Dois meses depois o casamento foi realizado. Vieram escoteiros de várias cidades. Fizeram uma bonita passagem de bastões para ele e Cidinha passar quando saíram da igreja. Padre Albertinho sorria também. Quem sabe ele toma jeito? A nova casa estava preparada, mas eles pouco ficaram ali. Pegaram o ônibus de Lagoa Formosa naquela tarde e foram em lua de mel merecida.


                Acompanhei tudo. Sei que o Chefe Bento nunca mais foi o mesmo. Seu sorriso espontâneo desapareceu. Todos diziam que Cidinha estava sempre com os olhos vermelhos. Dois anos depois nasceu Tomé, um ano mais e Marcela veio ao mundo. Pararam por aí. Sei que depois dos dois rebentos o sorrisos voltou ao rosto do Chefe Bento. Sei também que eles viveram felizes para sempre.                       

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Primeira Classe, o sonho de Lord Jim.


Lendas escoteiras.
Primeira Classe, o sonho de Lord Jim.

              Lord Jim era um sonhador. Desde que entrou para os escoteiros ele sonhava. Sonhava com acampamentos, com excursões, com a Patrulha, com as viagens enfim, Lord Jim gostava mesmo de sonhar. Havia uma diferença em Lord Jim, ele sonhava com os pés no chão. Emocionou-se no dia de sua promessa. A tropa em posição de Alerta!  Mino o Monitor ao seu lado, o Chefe Maílson o olhando nos olhos e ele dizendo a Promessa Escoteira sem errar.  Lembrou ali na ferradura quando entrou na tropa. O abraço do Chefe, do Monitor e de todos os patrulheiros da Gavião. Era novo para ele estas provas de amizade. Nunca tinha visto. Diziam que os escoteiros são fraternos. No primeiro acampamento ele sentiu a verdadeira felicidade de viver como um herói das selvas. Aprendeu rápido. Até como cozinheiro ele uma vez ajudou.

                 Quando começou na Patrulha Gavião o batizaram como Lord Jim. Seu nome era Stefano. Gostou do apelido. Quando leu que Baden Powell também foi Lord seu orgulho mudou para melhor. Agora seu sonho era outro. A Segunda Classe. Não foi difícil. Em um ano e meio conseguiu. Melhor ainda a recebeu em uma noite de lua cheia, no Acampamento das Vertentes, acendendo o fogo do conselho com um palito e pulando as chamas três vezes para receber seu nome de guerra. Apesar de que a tradição rezava ser um nome indígena ele pediu para continuar sendo Lord Jim. Seu Monitor o abraçou. Todos deram um enorme grito de guerra da tropa. – Viva Lord Jim! O Chefe Maílson entregou a Segunda Classe e ele se derreteu todo. Não perdia um acampamento, nenhuma excursão. Era um dos primeiros a chegar à sede para as reuniões. Não tinha sonhos de ser Monitor, seu sonho agora era ser um Primeira Classe. Os cordões claro estavam vivos nestes sonhos.

                 As provas foram feitas paulatinamente. Recebeu do seu Monitor como deveria ser e as datas. Ele mesmo procurou o Capitão Lamartine dos bombeiros para que aprendesse a prova das especialidades de Bombeiro e Socorrista. Acampador tirou facilmente. Em dois anos na tropa já tinha mais de trinta noites de acampamento. Comprou um caderno de duzentas folhas e ali anotava tudo. Datas, onde, quando, tempo e as partes importantes que lá aconteceram. Agora estava se preparando para a jornada. Era a apoteose. Todos que fizeram eram respeitados e até endeusados na tropa. Todos queriam ouvir os contos aventureiros da jornada. Aprendeu a ler mapas, tirava de letra os pontos cardeais, colaterais e sub. colaterais, sabia o que era azimute, graus, aprendeu com facilidade a fazer um esboço de Giwell e seu passo Escoteiro e passo duplo eram perfeitos. Nunca em tempo algum ele errou no seu passo duplo. A quilometragem não tinha erros. 

               O dia da jornada chegou. Ele e Levegildo que ele mesmo convidou partiram rumo ao Vale do Roncador. Não conhecia, nunca tinha ido lá. O Chefe e o Assistente distrital Escoteiro tinham conversado antes. Um ônibus o levou até a estradinha do Sitio do Marcondes. Sua mochila estava perfeita. Nada de mais nada de menos. O farnel o de sempre. Um macarrão, uma batata, um arroz, sal, alho e um vidrinho de gordura. Sabão e mais nada. Não estava pesada. Queria levar a velha Silva de guerra, mas os seniores estavam com ela. Sobrou uma Prismática. Tudo bem. Ele a dominava com perfeição. Na porteira abriram o mapa. Na mosca. Era ali mesmo. Ele contava os passos e Levegildo anotava o que via por ali. Dois pintassilgos, um Anu do Brejo, beija flores voando longe, dois macaquinhos pregos no pé de Jaca.

                Às seis e meia da tarde chegaram ao sitio do Marcondes. Não havia duvida. Duvida ouve na senhora que os recebeu. Parecia que não sabia o que eles queriam, mas disse que eles poderiam usar o riacho e acampar a vontade. Uma sopa deliciosa, lavar vasilhame, limpar bem a barraca para evitar animais peçonhentos, e após uma vista no relatório e uma oração foram dormir. Levantaram cedo. Um café, biscoitos nova arrumação e pé na taboa. Agradeceram à senhora e partiram. Sabiam que deviam atravessar a Mata do Canarinho, mas disseram que não eram mais de quatro quilômetros dentro dela.  Engano. Meio dia, uma hora e não saiam de dentro da mata. Voltaram. Foram até o sitio. Perguntaram. O mapa não ajudava. A senhora disse que eles erraram, se voltassem pela serra eles veriam o caminho.

              Duas da tarde. Combinaram de chegar à sede às cinco da tarde. Isto se o ônibus não atrasasse. Agora sim o caminho estava correto. O mapa voltou a funcionar. Só às sete da noite chegaram ao ponto de ônibus. Demorou. Chegaram à sede as onze da noite. O Chefe Maílson preocupado. O Assistente distrital não quis esperar. Foi embora. Disse que não daria a prova. Se não tem responsabilidade com horários não merecem a Primeira Classe, disse. Dito e feito. Foram reprovados. Lord Jim não chorou e nem desistiu. Ele tinha têmpera de escoteiro. Seis meses depois repetiu a jornada. Desta vez conseguiu fazer tudo no horário. Lord Jim fez do seu sonho realidade. Pediu ao Chefe Maílson para que o distintivo fosse entregue também no Fogo de Conselho. Claro que sim o Chefe disse.


             Noite escura, trovões, o fogo aceso. O Chefe queria voltar para o campo. Começou a cair uma chuva torrencial. Lord Jim chorou. Preciso receber agora Chefe! Não posso esperar outro acampamento. Terei feito quinze anos e serei Sênior! A chuva caia aos borbotões. A tropa ficou de pé. Em posição de sentido. Trovões ribombavam pelo ar. Lord Jim ali em pé em frente ao Chefe. Era mesmo um vendaval dos bons. O vento soprava forte. Mino o Monitor colocou a mão no seu ombro. - Você está pronto Lord Jim? Sim ele disse. O Chefe entregou o distintivo de Primeira Classe. Refez a promessa. Deu um enorme sorriso. Um raio assustador atravessou os céus. A luz que ele produziu mostraram um rosto de um Escoteiro orgulhoso e valente. Agora era um Primeira Classe! Agora tinha muitas histórias para contar! Com ribombos e assombros da chuva que caia intermitente, a tropa ainda em posição de sentido cantou o Rataplã. Todo o hino. A selva recebia com orgulho aquela chuva intermitente e o cantarolar dos escoteiros! Ah! Sonhos! Como é bom sonhar e os ver realizados. Viva Lord Jim. O Escoteiro Primeira Classe!  

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

As névoas brancas do Rio Formoso.


Lendas escoteiras.
As névoas brancas do Rio Formoso.

O nada é a profecia da minha partida
o tudo é sopro que busca aquiescer
sou uma cor do arco-iris... Perdida
o lume solar na gota de chuva a correr
para beijar a névoa que deita escondida
a deleitar-se nos braços do amanhecer
Cellina


                      Faz muito, muito tempo quando a nossa Patrulha Sênior descobriu as lindas e espetaculares cachoeiras do Rio Formoso. Eram incrivelmente belas. Ainda sem rastros humanos. Pensei comigo que precisava acampar ali. Três quedas simultâneas, um som imperdível das cataratas caindo sobre as pedras e dando outro salto no espaço. Em volta uma floresta ainda inóspita. A névoa se formava a qualquer hora do dia. Uma visão fantástica. Quando vi pela primeira vez eu estava com meus quinze quase entrando nos dezesseis anos. Descobrimos por acaso. Uma jornada até o Serrado do Gavião onde existiam milhões de Folhas Secas. Um terreno vazio, sem árvores e muitas folhas. Era um mistério saber de onde vinham. Soubemos da história. Vamos lá disse o Romildo. Patrulha Sênior, cheia de ardor, procurando aventuras, vontade de enfrentar desafios e nada como descobrir. Está no sangue dos seniores.

                    O caminho iniciava na Mata do Tenente, famosa porque uma tropa do exército ficou vinte dias perdidos nela. Saíram com dificuldade, fracos e quase morreram. Bem, eles não eram escoteiros como nós. Risos. A mata não era um obstáculo e o rio também não. Dava para andar bem nas suas margens. Com quatro horas de viagem, vimos uma bruma cinza que se espraiava no ar. A mata parecia que estava sendo tomada pelas chamas. Que seria? O ribombar da cachoeira nos fez estremecer. Um espetáculo magnifico. Incrivelmente fantástico! A cachoeira formava redemoinhos no ar. Uma nuvem de vapor cobria certas partes da queda d’água. Os pássaros se deleitavam. Voavam de supimpa naqueles redemoinhos e saiam do outro lado molhados como se estivessem sorrindo. Não entendemos o porquê da névoa. O Rio Formoso era todo formado por quedas de diversos tamanhos e na falta delas, as corredeiras davam outro brilho aquele magnífico rio. Quem o batizou deveria ter sonhado muito com coisas belas, pois o Rio era formoso e um grande espetáculo.

                    Pretendíamos chegar ao Serrado do Gavião ainda naquela tarde e se não parássemos nossa jornada seria cumprida. No entanto o espetáculo a cachoeira nos hipnotizava. Sentamos numa pedra próxima e os barulhos das quedas d’água eram tão intensos que mal dava para conversarmos. O ribombar das águas batendo nas pedras eram imensos.  Romildo o Monitor levantou e fez o sinal. Mochilas as costas. Fomos em frente. Com tristeza, pois sabíamos que na volta o caminho não seria o mesmo. Voltaríamos pela Mata do Peixoto já conhecida. Subimos as pedras, olhamos novamente, pois íamos embrenhar na mata longe do Rio Formoso. Impossível prosseguir. Aquela cachoeira nos hipnotizou. Parecia dizer para nós que não podíamos deixá-la sozinha na noite que estava por vir. Paramos. Um círculo de seis seniores se formou. Ir ou parar? Seis votos a favor, nenhum contra. Todos escolheram e Romildo aceitou. Escolhemos um local próximo à primeira queda para pernoitar. Não armamos barracas. Iriamos dormir sob as estrelas em pedras lisas que as enchentes do Rio Formoso nos reservaram. Sem sinal de chuva. “Vermelho ao sol por, delicia do pastor”. A noite chegou um jantarzinho gostoso foi servido pelo nosso cozinheiro. Fumanchu. Comemos ali mesmo olhando para as quedas no lusco fusco da tarde. Um espetáculo maravilhoso. Era uma visão dos Deuses.

                   Ficamos horas e horas sem conversar. O barulho era imenso. Cada um de nós meditava as maravilhas que nos são reservadas pelo Mestre. A noite chegou de mansinho, o espetáculo maior ainda estava por vir. Uma bruma em forma de nevoa branca foi tomando conta onde estávamos e penetrando na mata calmamente. Ainda mudos. Cada um olhando. Aqui e ali um canto de um gavião procurando seu ninho. Um Tuiuiú posou próximo a nós. Sabíamos que ele iria cantar para chamar sua femea. Não deu para ouvir. O ribombar da cachoeira não deixava. Israel acendeu um fogo. Pequeno. As chamas se misturavam com a névoa branca. Raios vermelhos das chamas ultrapassaram a nevoa. Que espetáculo! Sabia que isto nos marcaria para sempre. Na névoa se formou um céu colorido como se fossem milhares de arco íris noturnos. Ninguém queria falar. Ninguém falou em dormir. Não sei quanto tempo ali ficamos. Estávamos como encantados por uma feiticeira da selva que perdida no tempo  nos inebriou naquela névoa e nos fez esquecer-se de quem éramos.

                   Acordei de madrugada. Amanhecendo. O rosto molhado com o orvalho que caia da bruma branca. Ela nos fez companhia toda a noite. Cada um foi levantando. Arrumamos nossa tralha. Comemos uns biscoitos de polvilho. Olhamos pela última vez aquelas quedas que nos levou sem saber a um paraíso perdido daquele rio que chamavam de Formoso. Calados e mochilas as costas nos pomos em marcha. Alguém olhou para trás, a névoa branca se dissipava. Deu para ver centenas de pássaros se molhando nos respingos da cascata imensa. Durante horas ninguém falou. Sempre olhando para trás. Somente o pequeno trovejar ainda se ouvia das quedas que já haviam desaparecido no horizonte. Nunca mais voltei lá. Ninguém de nós voltou. Passaram uma cerca de “arame farpado” em tudo. O homem só o homem resolvia quem entra e quem sai. Já não havia mais a natureza, pois foi substituída pelos desmandos do ser humano. Aquele que mesmo chegando depois dela, diz arrogantemente: “sou o dono da terra, dono da natureza”.

♫ “Põe tuas mágoas bem no fundo do bornal e sorri”!
O que importa é vencer o mal, mantenha sua alegria,
“Não importa você se zangar, pois o mal vai acabar”! ♫


Quanto ao Serrado do Gavião é outra historia. Não deixou tantas saudades como as Névoas brancas do Rio Formoso.   

sábado, 16 de agosto de 2014

Maneco Cozinheiro, o Escoteiro azarado e trapalhão.


Lendas Escoteiras.
Maneco Cozinheiro, o Escoteiro azarado e trapalhão.

        A patrulha não sabia mais o que fazer. Maneco tinha um sorriso encantador, mas era um perfeito azarado e porque não dizer desastrado. Lilico o Monitor tentou e tentou e nada. Deu conselhos, ficou ao lado dele mas parecia que o azar o perseguia. - Chefe! Não dá mais. Se ele continuar na patrulha não ganhamos uma. Ontem mesmo quando o senhor deixou que o chamássemos para o cerimonial ele deu um belo sorriso e depois aprontou aquela. “Aquela” foi um “pum” que de tão alto fez todos gargalharem na ferradura. O Chefe Luiz pensou e pensou. Não era a primeira vez. Maneco cozinheiro além de aprontar sem querer era mesmo um azarado. A patrulha quando ele entrou se divertia com ele. No primeiro acampamento lá foi ele para o “Miguel” e em vez de ter folhas preparadas pegou logo um punhado de urtigas. Deus do céu! Ele gritou feito um louco e por toda a noite não dormiu e não deixou ninguém dormir.

        Aos poucos Maneco cozinheiro foi se integrando a patrulha, mas sempre aprontando. Por sorte ou azar o colocaram como bombeiro/aguador e ele se achava o máximo. Contava para todos que seria o futuro Monitor, pois seu cargo atual na escala hierárquica o proximo cozinheiro seria ele. Todos sabiam que se isto acontece à patrulha ia para o brejo. Maneco Cozinheiro nem sorte tinha. Sua mochila nas marchas de estrada mesmo levando quase nada quebrava sempre as alças. Lá estavam todos para ajudar a costurar. Quando o Comissário Fugi Moto compareceu em um acampamento aceitou o convite de sua patrulha para almoçar. Todos assustados sabiam que Maneco ia aprontar e não deu outra. Todos sentaram nos bancos em volta de mesa e quando ele foi sentar apoiou na mesa e ela veio abaixo. Os pratos esparramados com o almoço pelo chão. Não havia repetição e as demais patrulhas dividiram com eles. Fazer o que? O próprio comissário Fugimoto riu a valer e achou que isto acontece com todo mundo. Ele não conhecia Maneco Cozinheiro.

                  Pintassilgo era o cozinheiro. Batuta, um grande cara e um excelente cozinheiro. Fazia milagres com pouca coisa. Saia pelos campos e voltava com um bornal cheio. Sorria e dizia – Comida para dois dias! Ele salvava a patrulha no campo. Podiam perder jogos, inspeção, podiam perder em tudo, mas na cozinha Pintassilgo dava show. Um dia chegou chorando na sede. – Turma, minha mãe vai para a capital, ela quer achar meu pai que sumiu! Careca o sub não acreditou. Perder Pintassilgo e ganhar Maneco Cozinheiro? Que bela troca! Mas não teve jeito, uma semana depois Pintassilgo despediu de todos e foi embora. Jurou que um dia voltaria. Deste que Pintassilgo deu a notícia que Maneco Cozinheiro sorria de orelha em orelha. Fizeram um Conselho de Patrulha. Ele tinha de participar também. Discutiram, discutiram e não teve jeito, Maneco Cozinheiro foi empossado. O mundo desabou em cima dos Corujas. Agora estavam perdidos em tudo.

                No primeiro acampamento os patrulheiros choraram. O arroz queimado. O feijão duro, o bife sem tostar e sangrando. Batatas fritas? Só na terra dele. Perna Curta o Monitor procurou o Chefe – Não dá Chefe, ou mude ele de patrulha ou a nossa não vai ficar ninguém. Chefe Pascoal não sabia o que fazer. Já sabia das aventuras de Maneco cozinheiro e suas trapalhadas. Sempre achou que o tempo iria ajudar e ele ia se incorporar a patrulha. No final de acampamento todos viraram as costas para Maneco Cozinheiro. Ele foi para a casa chorando. Sabia que fez tudo errado, devia ter pedido a sua mãe para ensiná-lo e não fez isto. Achou que olhando Pintassilgo bastava. Pensou em sair do escotismo, quem sabe seria melhor para todos?

                 No sábado seguinte voltou à sede e na bandeira pediu a palavra - Chorando disse que estava saindo do escotismo. A patrulha sorriu os demais disseram baixinho – Graças a Deus. E não é que o Chefe Pascoal tomou as dores dele e não o deixou sair? Devia ter deixado, pois o mastro da bandeira se partiu e caiu na cabeça do Chefe! Bem feito disseram todos. Todos sabiam que ele o Maneco Cozinheiro era mais azarado que Chico Feliz. O danado não era Escoteiro, fez um jogo na sena ganhou e cadê o jogo? Sumiu! Todos seus amigos sabiam dos  números que ele jogava, mas não adiantou. A Caixa não pagou. O Chefe Pascoal chamou os monitores. Explicou sua atitude que mesmo razoável não convenceu. Maneco Cozinheiro sabia que todos eram contra ele. Sabia que eles estavam certos. Foi para a casa e passou cinco dias lá trancado no seu quarto pensando.

                  Mandou um recado para a patrulha e o Chefe. – Preciso de uma licença de sessenta dias! Todos aceitaram pulando de alegria menos o Chefe. No tempo determinado Maneco Cozinheiro retornou. Quem o visse não acreditava. Cabelos longos presos por um elástico tipo rabo de cavalo. Porte de atleta, muito bem uniformizado e sempre sério, quase não sorria. A patrulha sentiu força nele. No acampamento deu o maior show. Fez um arroz de forno (ele mesmo construiu) um feijão tropeiro e as batatinhas fritas eram demais. As demais patrulhas ficaram estupefatas. À noite na conversa ao pé do fogo o Monitor Perna Curta insistiu com ele que contasse o que aconteceu. Maneco Cozinheiro sorriu. – Meu Monitor um milagre. Como ele aconteceu fica somente entre Deus e eu. – Todos riram e bateram palas para Maneco cozinheiro. A Patrulha Coruja nunca mais foi à mesma. Ganhava tudo, era a melhor sempre. E a comida? Nota dez!


                  Maneco Cozinheiro nunca contou que procurou o Professor Sabe Tudo. Abriu-se com ele. Ele sorriu. Ficaram juntos por dois meses e ele ensinou tudo que sabia sobre como conquistar as pessoas. Fez questão que seu Filho um famoso cozinheiro que fez curso na França lhe desse umas aulas. O resto sua mãe terminou. Em casa desenhou fogões, fornos, tipos de fogos e ficou bamba treinando no seu quintal. São coisas que só aqueles que acreditam em mudar acontece. Ninguém é só aquilo que outros veem. Em cada um de nós existe outro eu. Maneco descobriu o seu. Há cinco anos folheando uma revista enquanto esperava  minha vez no dentista, vi uma foto que me chamou atenção. Era Maneco Cozinheiro em um concurso de cozinha em Paris. Tirou o primeiro lugar. De um cozinheiro Escoteiro para um cozinheiro internacional. Como dizem por ai? – São coisas de Escoteiros!  

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Joviano Escoteiro também fez sua revolução.


Lendas Escoteiras.
Joviano Escoteiro também fez sua revolução.

O Cavaleiro de Itararé.
“Chorem senhores da retaguarda, que a tropa de Itararé está chorando,
os comandantes, os soldados. Um misto de ódio e pesar. Abriram-se
as portas de S. Paulo, senhores de S. Paulo! Pudessem elas ser
sustentadas com lagrimas”...

              Dizem que histórias são histórias, mas para que servem as histórias? Não são para contar o que aconteceu ou então florear um fato que poderia ter acontecido? Ninguém pode contestar Joviano. Se ele foi um fato ou não isto não importa. Ele foi o primeiro Escoteiro que participou da batalha de Itararé. Um Escoteiro sem Chefe, sem Monitor e demorou muitos anos para ele formar sua primeira patrulha. Contaram-me que ele achou na Casa de Dona Helena, sua madrinha um livro Escoteiro que ele devorou em cinco dias. Demorou, pois lia mal para os seus onze anos. Sabia que seu pai nunca iria lhe dar o uniforme e sua mãe mesmo costureira nunca ia fazer. Mas onde arrumar o meião? O chapéu? Lembrou-se de uma página do livro que dizia – Se quer realizar o que pensa, comece. Tudo precisa de um começo. Pediu emprestado ao Juca do Nestor a caixa de engraxate. Ia usar nos dias de semana, pois aos sábados e domingos ele utilizava.

                 Quando bateu do balcão da Loja do Senhor Euclides ele tinha um belo sorriso. Saiu de lá com o embrulho do pano de seu futuro uniforme. Sua mãe riu quando viu, mas não negou a fazer para ele. Dois dias e ficou pronto. E o lenço? Tinha visto um do seu pai que ele usava quando foi boiadeiro. Serviu na mosca! Nem imaginou que o Zózimo da vendinha perto da igreja tinha um meião. Nem cobrou deu a ele de presente. A meninada de Itararé já sabia o que ele estava fazendo. Muitos também queriam fazer o mesmo – Ele disse – Faça o uniforme e vai ser da minha patrulha! – Que patrulha é Joviano? A patrulha Cuco. Uma patrulha de Baden-Powell. - E quem foi ele? O criador do escotismo. – E o que fazem os Escoteiros? Joviano riu. Não sabe? Acampam, correm pelos montes, fazem sinais, transmitem mensagens – Ele vibrava com isto. Sua casa sempre cheia de meninos para ver o tal livro dos Escoteiros.

                 Todos os dias depois da aula Joviano desfilava com seu uniforme na cidade. Garboso, sorrindo, marchando lá ia ele de rua em rua. Queria cantar uma canção dos Escoteiros, mas viu somente a letra – Rataplã do arrebol! Ele precisava aprender a musica. Uma tarde Joviano levou um susto. Um trem chegou cheio de soldados. Todos querendo saber para que. Seu pai não era muito comunicativo e custou para dizer que eles iriam defender o Túnel da Mantiqueira que levava a Passa Quatro em Minas Gerais. – Pai nós estamos em guerra? – Não filho, apenas uma revolução, mas fique tranquilo, aqui as tropas legalistas não entram! – Ele não sabia o que era legalista, mas não importava. Logo uma montanha de barraca emergiu no campo do Machado. Ele no seu uniforme foi para lá. Fez amizade com um praça cujo nome ele nunca perguntou. Gostava de ver ele todos os dias escrevendo para seus pais:

- Meu pai e minha mãe, escrevo da cidade de Itararé. Não se preocupem aqui estamos numa estação de repouso. Que terra adorável, somos servidos por garotas do outro mundo (não conte para a Mirtes). Sabemos que somos simples soldados e que sempre somos levados ao nosso posto de fronteira. Todas as notícias que circulam de Itararé são faltas. Não temos um ferido sequer. A vida de soldado raso é admirável. Pouco trabalha e só vive a comer reclamar e tapear os outros. Risos.

                Um dia chegou um trem blindado vindo da capital. Joviano correu para ver e ficou pasmado. Pela primeira vez ele conheceu o Capitão Neco que todos chamavam de Fantasma da Morte. Ele até esqueceu sua vida de Escoteiro e acompanhava o capitão para todo o lado. Mas nem tudo são flores. Os Legalistas tentaram invadir Cruzeiro e as Tropas Paulistas abriram fogo dentro do Túnel da Mantiqueira. Joviano ficou de longe espiando o tiroteio. A noite ficou em um acampamento de Soldados Paulistas. Foi o Malaquias, um moreno forte quem contou para ele dos Escoteiros da capital e de campinas. Ele contou uma história que o emocionou. Um menino Escoteiro de nome Aldo Cuioratto juntamente com muitos outros ajudaram as tropas como estafetas. Foi então que Joviano lembrou uma passagem de seu livro do fundador quando na guerra do Bóer, na cidade de Mafeking o coronel Baden-Powell usou meninos como estafetas, almoxarifes e muitas outras atividades.

                 Joviano pensou no heroísmo de Chioratto e quando soube que ele morrera em combate chorou. Um choro compulsivo, mas com uma revolta grande. Chamou seus amigos para fazerem o mesmo que os Escoteiros paulistas faziam. O Capitão Neco não quis e os mandou de volta. Joviano insistiu e o Capitão deu de ombros. Com seu uniforme Joviano liderava outros seis meninos. Ficavam até tarde ajudando os feridos, levando e trazendo mantimentos. No final ele soube que ali no túnel da Mantiqueira morreram mais de duzentos soldados. A guerra acabou. A cidade voltou a sua calma. As moçoilas chorando seu amor partir. Joviano foi aclamado pela cidade como um verdadeiro soldado revolucionário. Do Capitão Neco recebeu um capacete de aço e uma adaga.

                 Os anos passaram. As marcas da revolução ainda sobrevivem e se tornaram pontos turísticos principalmente o Grande Túnel da Mantiqueira. Joviano agora Chefe Escoteiro se tornou guia turístico. Ele sempre estava lá junto aos visitantes a dizer: - Só no Grande Túnel da Mantiqueira eu encontrei duzentos corpos. Acreditava que existiram outros, porque tem ainda os que moram lá e que tomaram, por exemplo, as balas perdidas. Em uma trincheira proximo ao túnel mais cinco soldados mortos que tentei socorrer. Para mim, continuava, nossos soldados foram heróis. Lutaram com forças quatro vezes maiores. Eles cantavam e sorriam nas trincheiras. Nossa cidade permaneceu firme apesar de muitas outras a população fugir. Vi caminhões lotados e vi a metralha das tropas federais. A cidade ficou estarrecida quando um avião federal sobrevoou a cidade. Muitas pessoas saíram às ruas admirados. No avião sem saber que havia mulheres e crianças a metralha pipocou deixando dezenas de mortos.  

                 Dizem que Joviano viveu até os sessenta anos. Morreu com seu uniforme Escoteiro e deixou no seu Grupo Escoteiro relatos do que viu e participou. Para ele o Capitão Neco foi o Fantasma da Morte. Nunca se escondeu da metralha. Sua história que alguns tentam transformar em livro termina citando o capitão:

-  Foi tentando consertar os trilhos e reativar o trem, que um comandante paulista disse uma das frases mais famosas da revolução. O capitão do Exército, Manoel de Freitas Novaes, conhecido como Capitão Neco, comandante das tropas na região tinha a missão de colocar o trem blindado para andar novamente. "Ele foi com um destacamento, mas os soldados desistiram no caminho. Contudo, o capitão manteve sua posição. Quando foi cercado pelos inimigos, foi questionado diversas vezes. Diziam: paulista se renda, e ele respondia que 'um paulista morre, mas não se rende'. Ali foi ferido e acabou morrendo em Cruzeiro".


segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Maninho virou homem e vai acampar!


Lendas Escoteiras.
Maninho virou homem e vai acampar!

             Ninguém acreditava, todos pensaram que era uma história da carochinha, afinal Maninho com onze anos tinha aparência de cinco. Raquítico, pequeno ele nunca brilhou como tendo uma saúde de ferro. Todos que olhavam para ele morriam de pena. – Não vai durar muito dona Laura – É acho que não dura não. Assim falavam suas vizinhas quando a ambulância após suas crises o trazia de volta a sua casa. Dona Tereza sua mãe era incansável. Nunca reclamou do trabalho que Maninho dava. Dia e noite ao lado dele, fazendo tudo que os médicos pediam, correndo em farmácias atrás de caros remédios e sem um tostão para pagar. Muitos ajudavam outros diziam – É problema do estado! E assim ano após ano ela penou para que Maninho sarasse – Impossível Dona Tereza, dizia o Doutor José. Eu já disse a senhora. Maninho tem Esclerose Lateral Amiotrófica, a senhora sabe, é uma doença devastadora. Se ele viver até os dez anos o que acho impossível é porque um milagre aconteceu. Mas Maninho passou dos dez e agora estava com onze anos.

              Muitos achavam que Deus devia levar aquele menino que aqui na terra só penava e dava um trabalhão enorme. Maninho dificilmente dava um sorriso, ele andava com estrema dificuldade e precisava da ajuda da mãe. Adorava ir ao parque proximo a sua casa e ver a meninada correndo, brincando no pula-pula, nas gangorras e descendo a toda no escorregador. Ele nunca soube o que era isto, pois nunca podia brincar como os outros. Um dia sem a mãe perceber, pois estava a conversar com uma amiga ele foi claudicando até a gangorra. Sentou com dificuldade. Outro menino da sua idade o ajudou – Deixa que vou empurrá-lo. Maninho sorria, o vento no balanço batendo no seu rosto era estupendo. Ele vibrava com o balançar para lá e para cá sublime. Só sentiu o baque quando caiu na areia de frente. Desmaiou e acordou no pronto socorro, como sempre tomando soro e com aquela horrível máscara no nariz. O corpo doía horrivelmente. Maninho chorou. Ele ainda não sabia pedir a Deus pela sua recuperação. Sua mãe rezava por ele.

               A aposentadoria que Dona Tereza recebia ia quase toda nas despesas de remédios com Maninho. O Pastor Joel muito amigo da família estava sempre lá rezando por ele e pedindo a Deus que fizesse dele um menino normal. De vez em quando ele sentava na cama, pedia água e se podia comer um pedacinho de chocolate. Agua sim, chocolate não. Um benemérito doou uma cadeira de rodas para Maninho. Ele a sua moda sorriu e agradeceu. Andar estava muito difícil. Agora ele podia andar pelas estreitas calçadas do parque, explorar lugares nunca visitados e sentir a brisa quando corria um pouco mais na sua cadeira de rodas. Maninho estava parado olhando um pardal no galho da Aroeira. Era lindo. Cantava e pulava em outro galho. Maninho com lágrimas nos olhos pensou porque ele não era um pardal? Podia voar cantar ir para lindos lugares e explorar a montanha que ele avistava ao longe de sua cidade.

                 Maninho avistou algum impossível. Vários meninos da idade dele com um lindo uniforme, brincando com cordas, levantando bandeiras, cantando e fazendo uma anarquia enorme quando ganhavam algum jogo. Ele ficou boquiaberto. Agora sim estava revoltado com sua vida. - Porque eu não sou como eles mamãe? Dona Tereza não sabia o que dizer. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Um menino de uniforme segurou sua mão. – Vamos você vai brincar conosco – Ele não pode andar, disse Dona Tereza. – Senhora, nós vamos jogar o Kim no espaço. Garanto que ele vai ganhar de todo mundo. Quer saber? Eu mesmo fiquei pasmado com a alegria de Maninho. Ganhou todos os jogos do Kim que o Chefe fez. Foi ovacionado, abraçado e sua alegria era tanta que ele chorava. O Chefe o pegou no colo e gritou – Viva o novo Escoteiro da tropa Avante! – Eu? Eu não posso andar! Nunca vou ser Escoteiro. E lá foi ele para sua casa triste e acabrunhado.

              Na outra semana alguém bateu na porta da sua casa. Ele estava tomando soro e sua respiração difícil. Entrou em seu quarto uma patrulha de escoteiros. – Não posso andar e não posso sair. – Vamos Maninho, o Chefe disse que você é um de nós. Dona Tereza sorriu e falou aos Escoteiros que era impossível. Senhora nosso Chefe diz sempre para nós que a sensação de bem estar, estar de bem consigo mesmo é um grande remédio. Maninho precisa sair ver o mundo e aprender a controlar sua própria vida. Ele precisa saber que sua vida é resultado do que ele fizer e assim não se sentirá refém do mundo. Mesmo assim dona Tereza não deixou que eles levassem seu filho. Ela era mais pragmática. Não podia dourar a realidade. Milagres acontecem, mas ele doente ir aos Escoteiros era diferente. Obedientes os Escoteiros foram embora. Os olhos vermelhos de Maninho tinham as lagrimas que ele guardava quando a tristeza chegava.

                Os Escoteiros eram insistentes. Duas ou três vezes por semana iam procurar Maninho. Na beira de sua cama cantavam, rezavam e jogavam jogos do Kim. Quando eles apareciam, Maninho dava um enorme sorriso. Parecia outro menino e a não ser pela sua aparecia altura e corpo pequeno ninguém diria que ele estava doente. O mundo é feito de alegrias e tristezas. Uns tem e não podem outros podem e não tem. A insistência dos Escoteiros passava as raias da boa educação. Dona Tereza resolveu dizer aos escoteiros que estavam dando falsas esperanças ao seu filho. Se até hoje ele sobreviveu foi por que ele dedicou sua vida a ele. Naquele sábado ela não pode dizer nada. Eles chegaram como sempre sorrindo e cantando e desta vez com um uniforme para Maninho. Foi demais. Nunca se viu um sorriso tão grande quando ele se olhou no espelho, deu um passo atrás e outro a frente. Com sua voz rouca fez a saudação Escoteira e disse Sempre Alerta!

              Podemos leva-lo Dona Tereza? O que fazer? Maninho em pé sorria e beijava sua mãe. Seu semblante era esplêndido. Sua voz mudou. - Deixa mãezinha, deixa. Se tiver de morrer porque não com eles? Lá meu sonho vai se torna realidade, lá eu cantarei com eles, vou brincar e ser a criança que nunca fui. Vou andar com eles e se Deus me reservar que eu possa acampar e quem sabe morrer feliz? Não tinha jeito. Ela foi com ele em espírito. Foi o dia mais feliz da vida de Maninho. Contar tudo que aconteceu é impossível. Quem sabe dizer que as rosas tem o perfume perfeito, que o bosque tem o ar perfeito, que os pássaros quando cantam encantam a todos. Quem sabe dizer que a aurora era mais linda, que o por do sol mudou só para alegrar o mundo? Impossível. – Mamãe, eu vou acampar! Dona Tereza olhou para Maninho, era outro, mais robusto, mais forte, um sorriso que pagava todo amor que ela lhe deu e continuou a dar. Contar como foi o acampamento, me desculpem, eu não vou contar. Contar como os vizinhos viam e não acreditavam também não vou contar.


                       Eu só posso dizer que muitos são felizes com o que são eles aprenderam a misturar o amor, o perdão e os sorrisos em um caldeirão da felicidade que se encontra no fundo do coração. Concluo que podemos conseguir a felicidade se fizermos de cada momento de nossa vida uma pequena felicidade! Quando abrimos os olhos de manhã e podemos enxergar o céu azul, as arvores floridas, ouvir os pássaros cantando, abraçar nossos entes queridos compartilhando com eles o pão de cada dia devemos dizer bem alto: obrigado, meu Deus, por mais esse dia de felicidade! Sim, a felicidade é um estado de espírito que nenhum bem material pode nos oferecer e que é alcançada somente com muita meditação, muita oração, e especialmente com a integração completa com o Pai Amor! 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Quando Deus criou o Chefe Escoteiro.


Lendas escoteiras.
Quando Deus criou o Chefe Escoteiro.

Deus estava no sexto dia de horas extraordinárias, quando aparece um Anjo e lhe diz: - - Estás levando muito tempo nessa criação Senhor! O que tem de tão especial esse homem?

Deus respondeu:
- Um Chefe de Escoteiro, ele terá que providenciar local para acampamento, transporte, preparar as crianças e jovens para as atividades, realizar caminhadas nas matas, pular cercas, entrar em rios e lagoas para ver se tem algum perigo. Tem que estar sempre em boa forma física, para poder acompanhar o ritmo dos escoteiros. Tem que fazer tudo isso seguindo as normas de segurança. E no acampamento a noite terá que contas história mesmo estando cansado. Também tem que possuir quatro braços, para poder ajudar a armar as barracas, fazer o fogo, levantar a tampa da panela para verificar se a comida está pronta e ainda passar a mão na cabeça do escoteiro que estiver desanimado como forma de incentivo.

O anjo olha par Deus e diz: - Quatro braços? Impossível!
Deus responde:
- Não são os quatro braços que me dão problemas e sim três pares de olhos que necessita. - Isto também lhe pedem neste modelo? – pergunta o Anjo.
- Sim, necessita de um par com raios-X, para saber se o local tem algum perigo; Necessita de um par ao lado da cabeça para que possa cuidar dos escoteiros e outro para conseguir olhar se alguém está pode se ferir durante uma atividade.
Neste momento, o Anjo diz: - Descansa e poderás trabalhar amanhã.
- Não posso – responde Deus – Eu fiz um Chefe de Escoteiro que é capaz de ensinar um jovem o caminho do sucesso, e depois do jovem alcançar o sucesso pessoal quando for adulto nunca mais irá aparecer no grupo. Ele se esquecerá do chefe, mas mesmo assim o chefe ficará feliz em saber que o jovem está no caminho certo e hoje e um pai ou mãe de família para nação. A, ao mesmo tempo, manter uma família de cinco pessoas com seu pequeno salário do seu trabalho fora do escotismo. Ele estará sempre pronto para colocar dinheiro do seu salário para realizar atividades com os jovens por ser um voluntário.
Espantado, o Anjo pergunta a Deus: - Mas Senhor, não é muita coisa para colocar em um só modelo?

Deus rapidamente responde: - Não. Não irei só acrescentar coisas, mas também irei tirar. Irei tirar seu orgulho, pois infelizmente para ser reconhecido e homenageado ele terá que estar morto. Ele também não irá precisar de compaixão: pois ao sair do velório de outro chefe, ele terá que voltar para sua missão e preparar a próxima reunião normalmente.
- Então ele será uma pessoa fria e cruel? – pergunta o Anjo.
- Claro que não responde Deus. Mesmo sendo um Chefe ele é para os jovens um irmão mais velho, ele não comanda, mas guiará pelo seu exemplo pessoal. Brincará através dos jogos ao ar livre. Simplesmente esquecerá os problemas quando estiver em atividades com os jovens será como um profissional do riso tem que esquecer os problemas e focar na sua missão que é ensinar a promessa e lei escoteira visando alcançar a cidadania, o companheirismo e o gosto pela natureza.

O anjo olha para o modelo e pergunta: - Além de tudo isso, ele poderá pensar?
- Claro que sim! – Responde Deus. Poderá no mesmo dia da instrução para crianças, adolescentes, adultos e explicar sobre a importância do escotismo para formação dos jovens e adultos.
Por fim, o Anjo olha o modelo, lhe passa os dedos pelas pálpebras, e fala para Deus: - Tem uma cicatriz, e sai água. Eu disse que estavas pondo muito nesse modelo!
- Não é água, são lágrimas… Responde Deus.
- E por que lágrimas? – Perguntou o Anjo.
Deus responde: - Por todas as emoções que carrega dentro de si… Por um jovem que não conseguiu seguir o caminho certo da cidadania e entrou no caminho das drogas e da violência… Pelo apoio que muitas das vezes não conseguiu das autoridades para realizar atividades para os jovens!
- És um gênio! – responde-lhe o Anjo.
- Deus o olha, todo sério, e diz: - Não fui eu quem lhe pus lágrimas… Ele chora porque é simplesmente um humano! Um simples Chefe Escoteiro!


PS: O conto foi adaptado do conto quando Deus criou o Policial, autor desconhecido.

Dia do chefe Escoteiro



OBRIGADO SENHOR POR ME PERMITIR SER UM CHEFE ESCOTEIRO.

A todos vocês que me seguem em meu blog, e se é um Chefe Escoteiro, aceite meu abraço, meu Sempre Alerta e meus parabéns. Fui um de vocês e hoje sei que o escotismo nunca morrerá por tantos chefes abnegados a fazerem pelos jovens o que BP nos ensinou. PARABÉNS!

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Os anjos também são escoteiros.


Lendas escoteiras.
Os anjos também são escoteiros.

                      Ela nasceu em dezembro, dizem que foi no dia vinte e cinco não sei. Nasceu prematura com sete meses. Dona Esmeralda sorriu quando ela nasceu. Dizem também e eu não posso afirmar que no céu um clarão enorme, como se vários arcos íris cruzassem o espaço iluminando a cidade de Espera Feliz. As pessoas correram para a rua e viram lá ao longe uma estrela brilhante desaparecendo no espaço. Na maternidade ninguém sabia explicar. Rosa Maria sorria. Incrível! Seu pai quando a colocou no colo ela piscou seus olhos negros grandes, como se dissesse – sou eu, Rosa Maria. Você sabe quem eu sou! Nasceu com dois quilos e meio. Ela ficou na maternidade por duas semanas e foi liberada a ir para casa.

                   Foi um dia que Espera Feliz recebeu uma revoada de pássaros. Tinha canários dourados, bem-te-vis azuis da cor do céu, araras verde e amarela fazendo acrobacias no céu azul. De novo o povo saiu às ruas. Ninguém sabia o que acontecia. O Padre Rosaldo teve uma visão. Um anjo chegou a terra. Na sua cidade. Quem seria o anjo? Ele se lembrou de uma frase de Augusto dos Anjos – “A esperança não murcha, ela não cansa, também como ela não sucumbe à crença. Vão-se sonhos nas asas da descrença, voltam sonhos nas asas da esperança”. Rosa Maria cresceu como uma jovem menina sonhadora. Não tinha forças para brincar como as outras. Na escola só fazia o bem, dizia amar a todos e ela tinha o mais lindo olhar que uma criança teria. Não era a primeira da classe e nem tinha super poderes. Mas os amigos e amigas sabiam que ela era especial.

                 Naquele ano, quando ela completou sete primaveras, o Grupo Escoteiro Estrela Verde foi fundado. Rosa Maria se inscreveu. Sua mãe não foi contra só preveniu os chefes sobre sua fraqueza. Na primeira excursão não quiseram que ela fosse. Iam andar muito a pé. Ela insistiu. Foi. Todos acharam muito estranho, ela parecia flutuar no ar mesmo que andando em passos largos. Todos na Patrulha amavam Rosa Maria. Mesmo a Patrulha querendo fazer tudo ela não deixava. Na sua promessa um fato significativo aconteceu. Um lindo casal de Tuiuiú, enormes, pousou no mastro da bandeira. Não era comum. Principalmente naquela região. Quando ela recebeu o distintivo, eles fizeram uma revoada e pousaram em seu ombro. Deste dia em diante uma serie de estranhos acontecimentos começaram a acontecer.

                  A filha de Dona Matilde tinha quatro anos e estava entre a vida e a morte. Rosa Maria indo para sua casa após a reunião, viu varias pessoas na porta. Entrou. Colocou sua mãozinha na dela e a beijou. A menina sorriu e sentou na cama. Ninguém entendia. As duas começaram a cantar e brincar de roda. A cidade ficou sabendo. Sempre alguém querendo milagres de Rosa Maria. Não houve outros. Não até ela fazer doze anos. Já Escoteira. Espera Feliz sofria uma enorme seca. O gado nas fazendas morria de sede. Os rios estavam secando. Muitos abandonavam a cidade em busca de sonhos que ali não se realizaram. Pela manhã viram Rosa Maria, uniformizada, em pé e em cima de um banco da praça, mãos abertas, olhando para o céu. Nuvens negras apareceram. Uma chuva fina começou a cair. Os rios voltaram. Os pastos ficaram verdes. Houve dezenas de casos. O

                   O Padre Rosaldo escreveu para o Bispo. Anjo ou Demônio? Ele se lembrou de uma frase de Michele – “Amigos são anjos que não só nos ensinam a voar como também nos mostram a hora de pousar na realidade”. Um padre de Roma chegou à cidade. Um pouco tarde. Uma tosse frenética tomou conta do corpo de Rosa Maria. Disseram que ela estava com leucemia. Ficou entre a vida e a morte por três meses. Um dia pediu sua mãe que lhe trouxessem seu uniforme. Com dificuldade o vestiu. Contra os desejos dos médicos foi à reunião. Deixaram. Seria sua ultima vontade.

                        Na sede todos a receberam com abraços e beijos. Ela pediu para falar no cerimonial de Bandeira. Não falou muito. Disse que ia para o céu. Lá também é lindo, lá também os anjos são escoteiros e escoteiras. Eles acampam nas estrelas distantes. Fazem jornadas na Grande Nuvem de Magalhaes, dormem na Via Láctea e adoram passear em Andrômeda. Todos estavam em silencio. Ela tossiu um pouco e continuou. – Deus um dia muito ocupado resolveu criar anjos pra auxiliá-lo. Esses anjos chamam-se amigos. Vocês são meus amigos. Que vocês escoteiros e escoteiras cumpram sua missão. Ajudem uns aos outros. Não chorem por mim, vocês são meus amigos e amigos são como anjos sem asas. Mas que com um único sorriso nos proporcionam tamanha alegria que nos levam até o céu. Eu vou embora logo, não quero que chorem. Devem sorrir e cantar canções alegres quando eu me for. As tristes machucam.

                        Rosa Maria morreu numa tarde de dezembro. Dizem que foi no dia vinte e cinco de dezembro. Não sei. Morreu sorrindo. Na Necrópole da cidade, lá estavam todos. Os escoteiros e escoteiras foram dar seu último adeus. Não estavam chorando, mas seus olhos marejados de lágrimas era difícil de esconder. Cantaram varias canções. Todas alegres como ela queria. Eles lembraram-se de suas últimas palavras no Grupo Escoteiro. Quando alguém nos vê chorar é como se despencássemos de uma alta nuvem. Vocês são meus amigos. São anjos. Foram escolhidos por Deus. Devemos nos alegrar, consolar e compartilhar os momentos que criamos para nós mesmos. Amo todos vocês!

                       Dizem, eu não sei que aquela noite milhares de cometas passavam brilhando no espaço sideral sobre a cidade deixando um rastro colorido enorme, com cores azuis, brancas, amarelas, alaranjadas e vermelhas. Dizem também e eu não posso afirmar que o brilho das estrelas se superaram. E acho que não posso acreditar no que me disseram. Nasceu uma nova estrela no céu. Brilhante. Um brilho que quase ofuscava a lua quando aparecia. Ficou lá, no céu de Espera Feliz para sempre!


** - algumas frases são do poeta Bruno Ciquetto.