Lendas
Escoteiras.
Maneco Cozinheiro,
o Escoteiro azarado e trapalhão.
A patrulha não sabia mais o que fazer.
Maneco tinha um sorriso encantador, mas era um perfeito azarado e porque não
dizer desastrado. Lilico o Monitor tentou e tentou e nada. Deu conselhos, ficou
ao lado dele mas parecia que o azar o perseguia. - Chefe! Não dá mais. Se ele
continuar na patrulha não ganhamos uma. Ontem mesmo quando o senhor deixou que
o chamássemos para o cerimonial ele deu um belo sorriso e depois aprontou aquela.
“Aquela” foi um “pum” que de tão alto fez todos gargalharem na ferradura. O
Chefe Luiz pensou e pensou. Não era a primeira vez. Maneco cozinheiro além de
aprontar sem querer era mesmo um azarado. A patrulha quando ele entrou se
divertia com ele. No primeiro acampamento lá foi ele para o “Miguel” e em vez
de ter folhas preparadas pegou logo um punhado de urtigas. Deus do céu! Ele
gritou feito um louco e por toda a noite não dormiu e não deixou ninguém dormir.
Aos poucos Maneco cozinheiro foi se
integrando a patrulha, mas sempre aprontando. Por sorte ou azar o colocaram
como bombeiro/aguador e ele se achava o máximo. Contava para todos que seria o
futuro Monitor, pois seu cargo atual na escala hierárquica o proximo cozinheiro
seria ele. Todos sabiam que se isto acontece à patrulha ia para o brejo. Maneco
Cozinheiro nem sorte tinha. Sua mochila nas marchas de estrada mesmo levando
quase nada quebrava sempre as alças. Lá estavam todos para ajudar a costurar.
Quando o Comissário Fugi Moto compareceu em um acampamento aceitou o convite de
sua patrulha para almoçar. Todos assustados sabiam que Maneco ia aprontar e não
deu outra. Todos sentaram nos bancos em volta de mesa e quando ele foi sentar
apoiou na mesa e ela veio abaixo. Os pratos esparramados com o almoço pelo
chão. Não havia repetição e as demais patrulhas dividiram com eles. Fazer o
que? O próprio comissário Fugimoto riu a valer e achou que isto acontece com
todo mundo. Ele não conhecia Maneco Cozinheiro.
Pintassilgo era o cozinheiro.
Batuta, um grande cara e um excelente cozinheiro. Fazia milagres com pouca
coisa. Saia pelos campos e voltava com um bornal cheio. Sorria e dizia – Comida
para dois dias! Ele salvava a patrulha no campo. Podiam perder jogos, inspeção,
podiam perder em tudo, mas na cozinha Pintassilgo dava show. Um dia chegou
chorando na sede. – Turma, minha mãe vai para a capital, ela quer achar meu pai
que sumiu! Careca o sub não acreditou. Perder Pintassilgo e ganhar Maneco
Cozinheiro? Que bela troca! Mas não teve jeito, uma semana depois Pintassilgo
despediu de todos e foi embora. Jurou que um dia voltaria. Deste que
Pintassilgo deu a notícia que Maneco Cozinheiro sorria de orelha em orelha.
Fizeram um Conselho de Patrulha. Ele tinha de participar também. Discutiram,
discutiram e não teve jeito, Maneco Cozinheiro foi empossado. O mundo desabou
em cima dos Corujas. Agora estavam perdidos em tudo.
No primeiro acampamento os
patrulheiros choraram. O arroz queimado. O feijão duro, o bife sem tostar e
sangrando. Batatas fritas? Só na terra dele. Perna Curta o Monitor procurou o
Chefe – Não dá Chefe, ou mude ele de patrulha ou a nossa não vai ficar ninguém.
Chefe Pascoal não sabia o que fazer. Já sabia das aventuras de Maneco
cozinheiro e suas trapalhadas. Sempre achou que o tempo iria ajudar e ele ia se
incorporar a patrulha. No final de acampamento todos viraram as costas para
Maneco Cozinheiro. Ele foi para a casa chorando. Sabia que fez tudo errado,
devia ter pedido a sua mãe para ensiná-lo e não fez isto. Achou que olhando
Pintassilgo bastava. Pensou em sair do escotismo, quem sabe seria melhor para
todos?
No sábado seguinte voltou à
sede e na bandeira pediu a palavra - Chorando disse que estava saindo do
escotismo. A patrulha sorriu os demais disseram baixinho – Graças a Deus. E não
é que o Chefe Pascoal tomou as dores dele e não o deixou sair? Devia ter
deixado, pois o mastro da bandeira se partiu e caiu na cabeça do Chefe! Bem
feito disseram todos. Todos sabiam que ele o Maneco Cozinheiro era mais azarado
que Chico Feliz. O danado não era Escoteiro, fez um jogo na sena ganhou e cadê
o jogo? Sumiu! Todos seus amigos sabiam dos
números que ele jogava, mas não adiantou. A Caixa não pagou. O Chefe
Pascoal chamou os monitores. Explicou sua atitude que mesmo razoável não
convenceu. Maneco Cozinheiro sabia que todos eram contra ele. Sabia que eles
estavam certos. Foi para a casa e passou cinco dias lá trancado no seu quarto
pensando.
Mandou um recado para a
patrulha e o Chefe. – Preciso de uma licença de sessenta dias! Todos aceitaram
pulando de alegria menos o Chefe. No tempo determinado Maneco Cozinheiro
retornou. Quem o visse não acreditava. Cabelos longos presos por um elástico tipo
rabo de cavalo. Porte de atleta, muito bem uniformizado e sempre sério, quase
não sorria. A patrulha sentiu força nele. No acampamento deu o maior show. Fez
um arroz de forno (ele mesmo construiu) um feijão tropeiro e as batatinhas
fritas eram demais. As demais patrulhas ficaram estupefatas. À noite na
conversa ao pé do fogo o Monitor Perna Curta insistiu com ele que contasse o
que aconteceu. Maneco Cozinheiro sorriu. – Meu Monitor um milagre. Como ele
aconteceu fica somente entre Deus e eu. – Todos riram e bateram palas para
Maneco cozinheiro. A Patrulha Coruja nunca mais foi à mesma. Ganhava tudo, era
a melhor sempre. E a comida? Nota dez!
Maneco Cozinheiro nunca
contou que procurou o Professor Sabe Tudo. Abriu-se com ele. Ele sorriu.
Ficaram juntos por dois meses e ele ensinou tudo que sabia sobre como
conquistar as pessoas. Fez questão que seu Filho um famoso cozinheiro que fez
curso na França lhe desse umas aulas. O resto sua mãe terminou. Em casa
desenhou fogões, fornos, tipos de fogos e ficou bamba treinando no seu quintal.
São coisas que só aqueles que acreditam em mudar acontece. Ninguém é só aquilo
que outros veem. Em cada um de nós existe outro eu. Maneco descobriu o seu. Há
cinco anos folheando uma revista enquanto esperava minha vez no dentista, vi uma foto que me
chamou atenção. Era Maneco Cozinheiro em um concurso de cozinha em Paris. Tirou
o primeiro lugar. De um cozinheiro Escoteiro para um cozinheiro internacional.
Como dizem por ai? – São coisas de Escoteiros!
Nenhum comentário:
Postar um comentário