Hora de dormir, de sonhar, de voltar nas terras onde nasci.
Eu sou sentimental... Demais!
Hoje me senti
emocionado. Pelas lembranças. Danadas de lembranças! Elas não me deixam em paz.
Tentei rir, cantar, pensar que houve depois de tudo muitas coisas que não dá
para comparar. Mas eu sei que sou uma explosão de sentimentos. Como disse o
poeta sou uma bomba sentimental e sem desarme. Tento ser como muitos com
fisionomia de gelo que parecem não ter sentimentos, duros, com um sorriso de
aço que você não sabe aonde ele quer chegar. Eu queria ser como eles, mas não
consigo, eu choro, minhas lágrimas caem com vontade quando me sinto
extremamente sentimental. Já me disseram que o miserável receio de ser
sentimental é o mais vil de todos os receios modernos. Disseram-me uma vez que
Velho não chora, Velho sempre sorri, Velho é diferente, sempre tem noções de
amor a dar e não mostram seus sentimentos. Acho que sou um Velho temporal, que
fazia muito tempo que não me sentia tão sentimental.
Quando olho para minhas mãos
e lembro-me dela no outrora do limiar de minha vida, quando me lembro do vento
correndo espaços pelos montes, pelos horizontes e vendo a minha frente o sol
inclemente potente, dizendo para eu prosseguir na jornada que escolhi fazer. Hoje
minhas forças não são as mesmas, de um sopro armava uma barraca, de um canto
surgia um fogão, uma mesa, tantas coisas que machuca só em lembrar. E os amigos
da patrulha? Cada um ocupando seu espaço dentro do meu coração. Eu lembro, eu
era afetuoso, afável, carinhoso e cordial. Afinal minha lei não me ensinou a
ser assim? Hoje é patético minha fisionomia, meus ombros nem obedecem mais. Tem
hora que tremo, minhas pernas ficam bambas, dá vontade de colocar uma mochila e
sair por aí a cantar o Rataplã e eu sei que não vai dar. Da vontade de dizer a
esta tristeza que bateu em minha porta, abrir um belo sorriso e dizer: -
Desculpa senhora Tristeza, mas hoje a senhora Felicidade chegou primeiro!
Afinal sou um Velho
sentimental e humano, humano como todos que me rodeiam, talvez um pouco mais,
ainda sou um idealista, um lírico sonhador que ainda pensa que pode fazer mil
bandeirolas no ar. Nunca tive e nem tenho medo do ridículo, nunca me considerei
assim. Ingênuo talvez, piegas quem sabe. Dramático? Pode ser. Mas sou mesmo
impressionável, me derreto todo com uma linda historia de amor. Ainda sou
antiquado, gosto de abrir portas, dar lugar aos que merecem mais do que eu.
Gosto de tirar o chapéu fazer uma reverencia e dizer: Boa tarde Senhora, desculpe
minha demora, custei para chegar aqui. Fico todo abestalhado, apatetado, quando
alguém me dá um beijo, beijo simples, na face adormecida, nossa! Sou assim?
Água com açúcar melado, um paspalhão babadinho, sem a mínima noção do ridículo?
Que tempos
que não esqueço. Quantas vezes no meu cavalo de aço eu saia a correr por aí.
Com amigos aparvalhados, procurando por todo lado um lugar para acampar. Com
meu Chapelão Escoteiro nunca esqueci meus frágeis conhecimentos, bom de nós,
bamba em seguir as estrelas. Sabia amar a natureza e nem lembro mais quantas
vezes chorei ao ver o nascer do sol em uma montanha qualquer. Nunca fui um bom
cantor e nem um bom monitor. Tive minha Primeira Classe, lutei me escovei para
conseguir. Minha prova de jornada foi demais. Ah! Tempos de lobo, de Escoteiro
de Sênior, de Pioneiro. Chefe nem tanto, não tem aquele gostinho de viver sob a
mesma bandeira ao crepúsculo e ao amanhecer.
È difícil
recordar o passado e não soluçar de saudades. Mas isto interessa a quem? Quem
quer saber minhas lamúrias, meus infortúnios de uma vida que eu mesmo escolhi?
Lastimar eu sei que não vale, pois só a saudade dói demais quando bate firme na
mente do Chefe, do Velho Escoteiro que hoje nem é sombra do seu passado que um
dia existiu. Ainda estou emocionado. A corrente do ontem bate forte com o hoje.
É espantoso que ainda consiga lembrar. Graças a Deus pelo menos uma alegria de
ter uma mente sadia. Lembranças? Memórias que não se apagam, rascunho de uma
saudação mal feita? Imaginação inspirada de algum que não existe mais? Acho que
sim. Ainda tenho lembranças. Carinho de um passado, espírito Escoteiro na mente
e no coração. Dias assim sentimentais existem, ninguém pode fugir, uns choram
outros riem e outros dizem que isto é coisa dos fracos.
Boa noite amigos e amigas. Desculpe o registro não anotado de um
passado sempre lembrado. Desculpem meu choro minhas lágrimas. Mas mesmo sendo
um Velho Escoteiro eu sou sentimental demais!