Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Meu reino por
um taco!
Nick Drops Takoman não
tinha muita simpatia por minha pessoa. Juro que ria dele não pela sua figura,
mas pela sua mania e ambição de poder e subir “na vida Escoteira” como ele
mesmo dizia. Bem eu sou assim mesmo. Vivido e calejado no escotismo. Dizem que
minha língua não tem tamanho. Pode ser mesmo. Eu sempre brincava com ele comentando aquela
célebre frase dita no conto de Willian Shakespeare na sua peça Ricardo III, Ao
perder seu cavalo em plena luta e desesperado, Ricardo III exclama a frase que
ficou na história – “Meu reino por um cavalo”. Para ele eu falava baixinho:
“Meu reino por um taco”! Nick Drops fechava a cara e sai bufando. Confesso que
me sentia culpado, mas estava cansado de tais tipos que sonham em ser grandes
chefes, ter poder, quem sabe ser mais um dos famosos da UEB. Jeremias Toca Fogo
Chefe do Grupo “Moro no Mato” um dia me contou que ele mandou fazer vinte tacos
na marcenaria do Avelar Ponto Morto. Garantiu-me que ele quase todas as noites vestia
o seu uniforme, e colocava o colar onde todas as contas se espremiam para caber
em um colar que ele mesmo trançou. lá. Já pensou Vinte delas? Para mim era
demais e até não acreditei em Jeremias Toca Fogo.
Mas no seu Grupo
Escoteiro ninguém gostava dele. Era mandão, se achava o tal e nas últimas
eleições chegou a ir de casa em casa dos pais dos Escoteiros pedindo voto. Ele
queria ser eleito o Diretor Técnico do Grupo. Muitos dos chefes juraram que se
isto acontecesse eles sairiam na hora. O pior de tudo é que Nick Drops era um
desleixado na sua apresentação. Quando a UEB apresentou a vestimenta ele correu
a comprar várias. Tinha a calça curta, a comprida, tinha a camisa de manga
comprida, manga curta, e adorava sair de chinelinho com a camisa para fora da calça
pensando que estava abafando. Um dia viu um figurão Escoteiro com um chapéu
texano e comprou logo quatro. Nick Drops adorava um figurão Escoteiro. Fazia
todos os cursos que apareciam, gastava horrores para estar presente em todas as
assembleias nacionais e regionais. Não perdia um Jamboree e em todos estes
lugares lá estava ele com aquele sorriso próprio que só os puxa sacos tem, junto aos figurões presentes. O que ele não
entendia é porque não havia ainda recebido sua comenda da Insígnia de Madeira.
Afinal tinha feito todos os cursos e ninguém sabia explicar o porquê. Diziam
que seu intelecto não era lá estas coisas.
Nick Drops tinha esposa e
filho. Em sua casa era um tirano. Sua esposa submissa e seu filho tinham enorme
medo dele. Trabalhava como vendedor nas Lojas Catamarreco, uma das maiores da
cidade de Vento Parado. Os chefes que tentavam se aproximar sempre diziam a
ele: - Nick Drops seu estilo em dirigir sua família é errado. Você como
Escoteiro os trata como se eles fossem seus empregados. Você só sabe mandar. – Nick
Drops olhava de lado não dizia nada, mas no fundo mandava o Chefe ir para as
conchichinas. Vendo que em seu estado natal não conseguia sua Insígnia e que
mesmo chefes de outros estados não tinham interesse em ajudá-lo, tomou uma
resolução. Tomou emprestado no Banco Me Paga que eu Gosto a juros
estratosféricos uma enorme quantia. Se o Brasil não resolve, a Inglaterra
resolve pensou! Na terra de BP quem tem um olho é rei! Só falou no grupo que
iria faltar alguns dias, mas logo estaria de volta. Nick Drops ria de orelha a
orelha. Londres! Aqui vou eu, dizia e partiu em uma manhã em um Avião da Aerolinas
Me Segura que eu Caio. Ninguém sabia seu destino. Muitos diziam que ele foi a
serviço da à empresa, mas foi para onde?
Ele achava que em Londres,
mais precisamente em Gilwell Park ele iria fazer um curso rápido e receberia
sua tão sonhada Insígnia. Na viagem da classe econômica ele andava prá lá e prá
cá se exibindo. Estava com sua vestimenta número quatro, conforme ele mesmo
havia numerado. Os passageiros não sabiam que uniforme era aquele e outros riam
dele, afinal estes tipos foram feitos para a gente rir. No aeroporto de Heathrow começou seu suplicio. Não entendia nada de inglês. Achou um
carregador de malas que se dizia boy scout e o levou até um taxi. Ainda bem que
não foi assaltado. Os ingleses gostam de rir dos caipiras, mas são honestos.
Nisto eu tiro o chapéu para eles. O taxi parou em frente ao campo de Giwell.
Ele sorrindo com a mochila nas costas cantava: - ¶ Eu era um bom touro um bom
touro de lei, não estou mais toureando o que fazer não sei! Risos. O diabo é
que ele nunca foi um touro!
Viu a entrada. Adorou o
pórtico que já vira em fotos no Google. Viu o edifício atrás. Logo estava no
hall de entrada. Um jovem sério, com um sorriso de cavalheiro inglês deu as
boas vindas em inglês. Nick Drops não entendia nada. Tentava explicar na sua
maneira de mandão que tinha vindo fazer um curso da Insígnia de Madeira.
Preciso da Insígnia de Madeira! – Ele gritou! - Pago qualquer preço! E jogou
várias notas de libras esterlinas na mesa. O Mané gritava a mais não poder. Daqui
não saio daqui ninguém me tira! - Enquanto não me deram o lenço de Gilwell fico
aqui. Sou vou embora com ela no pescoço! O que fazer? O jovem Escoteiro
cavalheiro inglês que não entendia bulhufas de português tentou de tudo. Chamou
seu Chefe Mister Jonny Pulla Pulga. Nada. Com muito custo conseguiram através
de um guia de viagem de Belo Horizonte que passava por lá traduzir o que o
Chefe Idiota e puxa saco queria. – Explicou, mas as inscrições não são assim.
Tem que ter o chamegão da UEB. Sem ela – necas! O Chefe de BH ria a valer. Ele
também era um Escoteiro e conhecia bem tais tipos. Pediu humildemente que ele
passasse uma noite lá, só para observar e contar para seus amigos no Brasil. Nick
Drops dormiu no mato sem barraca, sem coberta em um frio de rachar!
Voltou ao Brasil no outro dia. Procurou o Formador Chefe na sua cidade.
– Contou mentiras e mentiras. O formador não disse nada, conhecia o
puxa-saquismo do Chefe. – Vou ver, vou ver o que posso fazer disse ele. Em casa
sua esposa orgulhosa, seus filhos imaginando o pai cheio de tacos. Era um sonho
que passou para toda a família. Ele naquela noite sonhou que estava recebendo
sua Insígnia. Veio BP e colocou nele o colar de contas zulu, tinha dez tacos! E
olhe que BP tinha cinco porque era o Escoteiro Chefe do Mundo. Veio a Rainha da
Inglaterra e colocou outro colar com mais trinta tacos. Veio O Barack Obama e
mais oitenta tacos. Ele não conseguia ficar de pé. Era taco que não acaba mais!
Por fim a Dilma com seu sorriso de quem adora um panelaço mandou trazer um
avião dela cheio de taco. Ele tremeu com o peso. Caiu e foi enterrado por tacos
e tacos junto a Baden-Powell na sua morada no Quênia. Acordou suando e
chorando. Pediu perdão a Tikititas sua esposa, pediu perdão ao seu filho Talpaitalfilho
e prometeu mudar.
Olhe, eu mesmo não acreditei quando soube. Mas Nick Drops mudou. Virou
um grande Chefe e amado por muitos que o odiavam. Esqueceu os tacos, esqueceu a
IM e agora se dedicava somente aos seus jovens e refazer os amigos que perdeu.
Um dia um distrital foi lá na sede e entregou a ele a Insígnia de Madeira. Ele
sorriu agradecido, mas agora diferente. Um sorriso de quem sabe que tem de dar
mais aos jovens, pois se ele era um Bom Lobo e um Bom Lobo de lei tinha que
mostrar que o escotismo tem tudo para nos fazer feliz e nos ensinar qual o
melhor caminho a seguir!
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