Lendas
Escoteiras.
As
aventuras dos Escoteiros Manezinho e Alfeu.
O
Coronel Tibúrcio, o Capitão Barba Rubra e os jagunços da morte!
Manezinho, Monitor
da Patrulha Leão procurou Alfeu da Tigre. Corria o mês de janeiro e eles não tinham
nada para fazer. A cidade sem atrativos, o Grupo Escoteiro em férias e a
maioria dos amigos escoteiros viajando. - Olhe Alfeu, estou entediado. Sem nada
para fazer e sem atividades na tropa e todos viajando porque não fazemos aquela
viagem a Pirapora e lá pegar uma gaiola a vapor e descer o São Francisco até
São Romão? - Alfeu riu alto. Você está doido Manezinho. Como? Sem dinheiro? E
precisamos de pelo menos quinze dias. – Alfeu, calma, eu bolei um plano. E ele
contou tudo que planejou. Manezinho a principio ficou em duvida, mas a viagem
seria espetacular. De tanto pedir na estrada de ferro, conseguiram uma passagem
de segunda Classe até Pirapora. Não deu outra. Embarcarem em uma sexta à noite.
A viagem tranquila. Chegaram pelas oito da manhã. O rio São Francisco na ponte
de Buritizeiro era lindo, corredeiras fantásticas. Procuram logo o porto da
cidade.
Caolho e Pé de
Chumbo estavam escondidos na gruta do Diabo a mais de dez dias. Água não
faltava e peixe também não. A lagoa do Dourado estava perto. Caolho conseguiu
matar uma capivara e ela foi à salvação. Mas já estavam fartos daquela carne.
Sem sal só assado não dava mais. Sabiam que tinham de ficar ali por pelo menos
cinco dias. Pé de Chumbo levou um balaço na coxa esquerda por um maldito
volante e foi um Deus nos acuda para tirar a bala. Maldito Coronel Tibúrcio.
Maldito mesmo. Não dava folga e nem sossego. Três anos fugindo dele.
Percorreram boa parte do sertão. E o danado não desistia. Graças a Deus que
ainda estavam com seus dois fuzis e seus Colt 45. Uma centena de balas que dava
para o gasto. O plano deles era ir até São Romão, pintar o cabelo, fazer a
barba e com roupas novas embarcariam na Gaiola
até a Bahia. Dali seria fácil ir para São Paulo. Caolho era bom sujeito.
Várias vezes tentou rezar, mas a reza não ajuda. Era um excelente atirador e
diziam que onde colocava os olhos colocava uma bala.
O Coronel
Tibúrcio estava no bar do Caveira. Como sempre estava sempre alerta olhando
tudo que via e de costas para a parede. Um costume de quem pegava bandidos a
unha. Falou com o prefeito e o Major da Capitania dos Portos. Queria liberdade
nos barcos da capitania. Só assim poderia prender Caolho e Pé de Chumbo. Tinha
enormes bigodes e duas mãos enormes. Diziam que matado centenas de pescoços de
jagunços com suas próprias mãos. O Sargento Minerva e o Cabo Horivaldo pelavam
de medo dele. Quando falava sua voz parecia um trovão. Prefeito e o Major
Saldanha só diziam que se fosse à barca do Capitão Barba Ruiva não ia dar. Olhe
Coronel ele chega hoje à tarde. Fale com ele. – Vou sim ele vai ver quem manda.
Sou um Coronel e matador de pistoleiros e jagunços. Ele é um simples capitão.
Deve-me respeito!
O Capitão
Barba Rubra estava na proa, e o Imediato Cata Preta era quem tomava conta do
timão. Mais dois quilômetros e chegariam a Pirapora. Se pudesse voltaria no
mesmo dia. Já morria de saudades de Lucinha. Como gostava daquela moça. Casou
com ela há dois anos e parecia que foi ontem. Queria que ela morasse com ele no
barco. Mas ela não quis. Barba Rubra amava o barco. Quando aportou viu
aquele coronel de fancaria com mais de trinta volantes. Ali no cais achava que
era o rei do mundo. Deu suas ordens para descarregar a gaiola. Passava das cinco quando tudo acalmou. O Coronel
Tibúrcio subiu a bordo. Olhou de soslaio o capitão do barco. Uma figura
imponente. Alto, muito, acharam que tinha mais de dois metros, forte, moreno e
seus cabelos e barba rubra chamavam a atenção. Tinha um vozeirão que fazia
medo. Começaram a discutir. Alfeu e Manezinho que chegavam acharam que ia haver
briga. Muitos volantes (soldados) tomaram posição com seus fuzis. Mas o Coronel
Tibúrcio aceitou as condições do capitão Barba Rubra. Manezinho o que se achava
mais líder se aproximou do capitão – Capitão, sempre alerta! – O capitão olhou
e pensou – Que diabos são estes meninos de uniforme? Manezinho explicou tudo. O
Capitão Barba Rubra estava fulo com o coronel Tibúrcio. Mandou-os subir ao
convés. Conversaria com eles depois. Mais tarde os procurou, se arranchem em um
canto qualquer e se precisarem de uma rede falem comigo.
À tardinha o barco partiu. O Coronel estava fulo de raiva. Queria o
barco só para eles. Estavam atrás de uns jagunços e precisam chegar logo a São
Romão. O capitão sabia que hora menos hora teria que enfrentar o Coronel. Não
gostava dele. Nunca tinham topado, mas já ouvira falar que não era boa bisca.
Gostou dos tais meninos escoteiros. Dois valentes para ele. Lembrou-se de sua
infância. Sofreu muito, mas valeu. Tinham pedido para os levarem a São Romão.
Claro que sim. São meus convidados disse. Não gostou quando disseram que iam
voltar pela Trilha da Morte. Sabia que era um lugar perigoso. Grutas, cavernas,
cascavéis aos montes e muitos jagunços escondiam ali. Explicou mas eles
disseram que não iriam parar nas grutas.
O Coronel Tibúrcio estava numa cabine tão pequena que mal cabia lá.
Preferiu ir para o convés e lá tomar algumas cervejas, mas suas costas ficariam
desprotegidas pela margem do rio. O Sargento Minerva e o cabo Horivaldo ficaram
protegendo suas costas. Seu plano era descer em São Romão, e olhar de gruta em
gruta para ver se achava aqueles filhos da mãe. Ia matar cada um deles como um
porco do mato. Era o que mereciam pelos roubos e pelas mortes que cometeram.
Não iria levar nenhum deles, não valeria a pena. Melhor é encher eles de balas
e quem sabe cortar a cabeça como exemplo? Riu de seus pensamentos. Ficou ali
pensando como gostaria de dar uns tapas naquele capitão de merreca. Um capitão!
Querendo ser mais que um Coronel. No dia seguinte chegaram a São Romão. Manezinho e Alfeu despediram do Capitão
Barba Rubra. Com suas mochilas as costas e seus chapelão Escoteiro, disseram
adeus e partiram. Sabiam que iam sentir saudades. O capitão foi muito legal com
eles. Seguiram conforme o planejado pela Trilha da Morte. Era nove horas da
manhã. Quarto dia de viagem. A trilha era gostosa. Quase não tinha subida. Pararam
perto de uma lagoa para pernoitar e jantar. Um arrozinho com linguiça seria uma
boa.
Alfeu foi até a lagoa ver se dava para pegar uns peixes. Não viu um
homem que pegava água em dois cantis. Só viu quando ele apontou uma arma. – Mandou
chamar Manezinho. Venham comigo se não quiserem morrer. – Fazer o que? Foram
com ele morro acima. Levaram suas mochilas e escondidos atrás de muitos galhos
entraram em uma gruta. Tinha outro lá. Deitado com muito sangue na roupa.
Manezinho e Alfeu tremiam de medo. Tomaram deles a mochila e reviraram tudo.
Riram quando acharam um pouco de arroz, linguiça, e macarrão. O Capitão Barba
Rubra ficou cismado. O corre. corre do Coronel Tibúrcio para seguir a Estrada
da Morte onde foram os Escoteiros o preocupava. Sabia que podia acontecer o
pior. Se os escoteiros fossem encontrados por bandidos o Coronel Tibúrcio não
iria perdoar. Mataria a todos. Tomou uma resolução. Disse para Cata Preta o
imediato tomar conta do barco e não partir enquanto ele não voltasse. Pegou seu
Taurus de seis tiros, levou também seu Colt 38 cano curto. Conseguiu um cavalo
na estação da barca. Partiu a galope. Ouviu o tiroteio de longe. Maldito
Coronel!
Virou a trilha na entrada da lagoa e avistou os soldados entrincheirados
e fazendo um verdadeiro fogo de tiros em cima de uma caverna. Chegou gritando – Pare Coronel pare! Lá em
cima tem dois escoteiros! São dois meninos! – O Coronel Tibúrcio assustou. Que
diabos este capitão merreca estava fazendo aqui? Sabia dos jagunços na gruta,
mas dos escoteiros não. - Suma daqui capitão, falou. Suma! Esta briga não é sua
e que se danem os escoteiros. Não fui eu que os levou lá. Mas não deu outra, o
Capitão Barba Rubra apeou do cavalo e se atracou com ele. Uma briga dos
infernos. Não deu tempo de usarem suas armas. Manezinho e Alfeu choramingavam
de medo. Ouviram quando alguém gritou - Entreguem-se! Vou contar até dez!
Depois podem rezar e entregar a alma para o diabo! Entregar? Nunca. Eles sabiam
que o Coronel não perdoava e não faziam prisioneiros. Um tiroteio começou.
Manezinho e Alfeu correram para o fundo da gruta. Caolho e Pé de Chumbo
aproveitaram para correr pela encosta e sumiram na estradinha para Buritizeiro.
O Coronel Tibúrcio estava deitado com muitos dentes quebrados. A luta
fora sangrenta. Ambos eram homens destemidos. O Capitão Barba Rubra estava
sangrando. Viu que um dos volantes atirara nele. Tinha levado um tiro no ombro.
O danado do Coronel não era homem de apanhar sem vingar. Seu volante atirou a
queima roupa. Sangrava muito. O Coronel mandou os soldados prendê-lo. Ninguém
se aproximou. Deu tempo para o Capitão tirar o seu Taurus e o Colt de seis
tiros cada um e botar para correr os volantes do Coronel. O Coronel olhou para
ele e disse: – Vai ter volta seu capitão de fancaria. Não vou perdoar esta
intromissão na minha missão. Pegou seu cavalo e sumiu na virada da trilha atrás
de seus volantes. Manezinho e Alfeu correram até onde estava o Capitão.
Estancaram o sangue do ombro do Capitão.
– Pode ficar tranquilo Capitão. A bala saiu do outro lado. Tinham uma
pequena caixa de primeiros socorros com mercúrio cromo e junto a um pedado do
lenço que levavam colocaram na ferida. Fizeram uma tipoia com seus lenços e
acharam o cavalo do capitão.
Demoraram mais de duas horas para retornar a São Romão. De lá partiram
de ônibus para Pirapora. O adeus ao Capitão Barba Ruiva foi choroso. Até aquele
Capitão que não tinha medo e enfrentou uma tropa de muitos soldados e o mais
famoso Coronel da redondeza viu que lágrimas caiam quando da partida dos
escoteiros no ônibus. Muitos meses depois eles levaram um susto. O Capitão
Barba Rubra apareceu na reunião com sua esposa. Foi uma festa. Todos queriam
conhecer o famoso Capitão Barba Rubra. Dizem que Caolho e Pé de Chumbo
conseguiram escapar e hoje moram em São Paulo. O Coronel Tibúrcio se aposentou
e comentam também que ficou amigo do Capitão Barba Rubra. Histórias são
histórias, servem para divertir. Dizem que o Capitão Barba Rubra ainda está
vivo. Sei não. Um dia vou a Pirapora para confirmar, afinal sou Escoteiro e
acredito em tudo que me contam!
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