Lendas Escoteiras.
Respeitável público! Com vocês... O Palhacinho Juju!
Ouvi esta história de um
Chefe amigo que ouviu de outro amigo. Verdade ou não eu acreditei nela. – Chefe
ele disse, o senhor já ouviu em algum lugar que os palhaços fazem a alegria de
todos, mas que também são seres humanos e choram. Esta é uma história de um
deles. Tudo aconteceu no Circo Mundo Magico. Foi lá que nasceu Justino. Pai e
mãe húngaros malabaristas. Casaram-se no circo. Eram muito aplaudidos na sua apresentação.
Possuíam um pequeno Moto-Rome roupas, uma TV preta e branca era toda sua
fortuna. Fortuna? Pois é. Ainda tinham refrigerador a gás, um fogareiro de duas
bocas, lembranças do passado e nada mais. Não tinham sonhos grandiosos, nem
conta em banco, nem cartão de crédito. Nunca pensaram em sair do circo. Quando
Justino nasceu fizeram uma extravagancia. Deram uma grande festa, distribuíram
charutos e dançaram por toda a madrugada. O circo nunca teve lotação esgotada.
Sempre as mesmas pessoas que aos poucos se tornavam amigas.
À medida que Justino crescia viram que ele
gostava de sorrir e pouco chorava. Quando completou dois anos notaram que
Justino não conseguia andar. O levaram a um especialista, ao padre para benzer
e tentaram um médium que dizia curar todo mundo. O especialista disse que ele
não tinha as pernas atrofiadas. Mesmo assim Justino não conseguia andar. Ele
sentia dor nas pernas, sentia vibração, mas nada. Justino fez sete anos e vivia
em uma cadeira de rodas. Ele gostava de cantar, rodopiar em sua cadeira. Sempre
gritava para todos ouvir que um dia seria um palhaço famoso. Um dia se pintou
como um palhacinho e o deixaram brincar um pouco no picadeiro. Os poucos que
estavam ali se encantaram. Agora a meninada aos sábados e domingos enchiam as
arquibancadas. Batiam palmas, pulavam e gritavam – Viva o palhacinho Juju! Para
ele foi o máximo. Agora era admirado e todos pediam que ele viesse logo nas
apresentações. Claro que quando não estava no picadeiro Justinho sentia uma
tristeza enorme. Aos poucos foi aprendendo a conviver com seus medos suas
sombras e seus sentimentos.
Quando se aventurava a sair das cercanias do
circo, nenhum menino, nenhuma turminha o aceitava. O olhavam com piedade, demonstravam
compaixão ou mesmo gritavam piadinhas sem nexo. Coisa que Justino detestava.
Justino voltava para o circo e atrás do trailer chorava. Rezava pedindo a Deus
uma vida diferente. Tudo se transformava quando estava no picadeiro. Lá o
Palhacinho Jujú adorava fazer a platéia sorrir, cantar, brincar como nunca. Aprendeu
a ler e escrever com o Senhor Josué proprietário do circo. Um dia ao entrar no
picadeiro ele viu um grande número de jovens, meninos e meninas, alguns de
azul, outros de caqui, com chapelões esquisitos que o aplaudiram com uma palma
diferente, incrivelmente bonita, que tocou no fundo do coração de Justino. Um
deles foi até ele e disse que era o maior palhaço que já tinham visto. Deu-lhe
a mão esquerda e disse que o Escoteiro era amigo de todos e ele agora seria
amigo dos Escoteiros. Ao terminar seu número ficou ali na coxia atrás das
cortinas e olhando para eles. Eram alegres, batiam palmas diferentes, cantavam
canções esquisitas e aplaudiam com uma sinceridade que tocou fundo o coração de
Justino.
Naquela noite ele dormiu e
sonhou. Um sonho lindo. Um campo com cheio de arvores, bandeiras ao vento,
cantando o Rataplã, e ele sorria por estar no acampamento dos seus sonhos. Brincou,
correu com os meninos Escoteiros jogou com eles, e viu passar em sua mente toda
a felicidade que um escoteiro com pernas sadias pode ter. Acordou suado, era
apenas um sonho Ele sabia que nunca poderia acampar nadar nunca. Lágrimas
correram em seu rosto. Uma amargura profunda bateu forte no coração de Justino.
Mal conseguiu tomar um café e engolir um pedaço de pão. Ouviu uma algazarra no
circo. Não entendeu bem. Chegaram vários adultos uniformizados de caqui, com
chapelão na cabeça, a procura do Palhacinho Jujú. Falavam que o Grupo Escoteiro
votou a favor de levar o Palhacinho Jujú até o Grupo e homenageá-lo. Justino
continuava não entendendo. Quando o viram o abraçaram. Diziam que Justino era
um grande Escoteiro sem o saber. O queriam na abertura da reunião e ali
entregarem para ele um certificado de gratidão.
Seus pais concordaram. Ficava
a critério de Justino decidir se ia ou não. Ele estava perplexo. Como ele
experimentara uma alegria que nunca teve quando no palco foi aplaudido por
eles, Justino achou que devia ir. Era sábado e lá dezenas de meninos e meninas gritavam
seu nome. Quando a Bandeira Nacional foi hasteada, Justino chorou. Agora
diferente. De Alegria. Após a cerimônia chamaram Justino ao meio da ferradura e
entregaram a ele um certificado de gratidão do Grupo Escoteiro. Uma honra que
não era entregue a qualquer um. Justino se emocionou. Um convite de um monitor
o fez ficar indeciso, mas Justino não tinha medo. Aceitou. Naquele dia se
tornou um Coruja. Divertiu-se como nunca. Jogou com eles como se tivesse duas
pernas. Cantou com eles. Aprendeu a dar nós, a fazer sinais, o que era uma
patrulha, como era o Grupo Escoteiro. Justino vibrava com todo o seu ser. Final
da reunião. Justino sabia como era. Sempre foi assim. Mais um sonho que se foi.
Quando poderia de novo voltar?
Durante a semana sua vida
de Palhacinho Jujú continuou a mesma. Sempre se lembrava do sábado mais lindo
de sua vida. Nos seus sonhos ele voltava lá sempre. Não era um derrotado e iria
lutar pelo que viu, participou e amou. A noite foi para seu cantinho onde
chorava suas amarguras. Ficou lá longo tempo vendo as estrelas, alguns cometas
que passavam com pressa, olhando a beleza do infinito. Ele acreditava que Deus na
sua infinita bondade não se esqueceria dele. E não é que no sábado seguinte
eles foram buscá-lo novamente? Justino, disse o Chefe, você agora faz parte da
nossa fraternidade. Todo sábado teremos um para vir aqui e levá-lo. O coração
do Palhacinho Jujú bateu forte. Agora seria um Coruja para sempre. Cresceu na
patrulha. Foi segunda classe e nos acampamentos demonstrava uma agilidade sem
tamanho. Parecia que o Palhacinho Jujú
não andava em uma cadeira de rodas. Um belo dia, em um acampamento em Lagoa
Dourada, acordou não viu ninguém e sua cadeira de rodas tinha sumido. Olhou
para todos os lados e parecia que alguém o empurrava para frente.
Ele não entendia o que estava
havendo. Andou com dificuldade, mas andou. Todos aplaudiram. Muitos correram
para abraçá-lo. Um verdadeiro milagre. Dizem que o escotismo faz coisas
maravilhosas, que só os que crêem sabem que podem mudar o mundo. Justino voltou
a andar normalmente. Estudou, entrou em uma faculdade, se formou, se tornou um
homem com grandes qualidades morais. Comprou um trailer novo para seus pais.
Não trabalhava mais no circo, mas era ainda muito querido por todos. Conheci
seu circo e seus pais disse o Chefe. Hoje, o circo não existe mais. Todos se
foram. Ninguém nunca se esqueceu das piadas, da maneira de interpretar do
Palhacinho Jujú. Mas em cada coração daquela juventude do Grupo Escoteiro que
conviveu com Justino, bate forte ao lembrar-se do Palhacinho Jujú. A emoção de
vê-lo andar nunca será esquecida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário