No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

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A aventura está apenas começando

domingo, 14 de dezembro de 2014

Respeitável público! Com vocês... O Palhacinho Juju!


Lendas Escoteiras.
Respeitável público! Com vocês... O Palhacinho Juju!

                       Ouvi esta história de um Chefe amigo que ouviu de outro amigo. Verdade ou não eu acreditei nela. – Chefe ele disse, o senhor já ouviu em algum lugar que os palhaços fazem a alegria de todos, mas que também são seres humanos e choram. Esta é uma história de um deles. Tudo aconteceu no Circo Mundo Magico. Foi lá que nasceu Justino. Pai e mãe húngaros malabaristas. Casaram-se no circo. Eram muito aplaudidos na sua apresentação. Possuíam um pequeno Moto-Rome roupas, uma TV preta e branca era toda sua fortuna. Fortuna? Pois é. Ainda tinham refrigerador a gás, um fogareiro de duas bocas, lembranças do passado e nada mais. Não tinham sonhos grandiosos, nem conta em banco, nem cartão de crédito. Nunca pensaram em sair do circo. Quando Justino nasceu fizeram uma extravagancia. Deram uma grande festa, distribuíram charutos e dançaram por toda a madrugada. O circo nunca teve lotação esgotada. Sempre as mesmas pessoas que aos poucos se tornavam amigas.
 
           À medida que Justino crescia viram que ele gostava de sorrir e pouco chorava. Quando completou dois anos notaram que Justino não conseguia andar. O levaram a um especialista, ao padre para benzer e tentaram um médium que dizia curar todo mundo. O especialista disse que ele não tinha as pernas atrofiadas. Mesmo assim Justino não conseguia andar. Ele sentia dor nas pernas, sentia vibração, mas nada. Justino fez sete anos e vivia em uma cadeira de rodas. Ele gostava de cantar, rodopiar em sua cadeira. Sempre gritava para todos ouvir que um dia seria um palhaço famoso. Um dia se pintou como um palhacinho e o deixaram brincar um pouco no picadeiro. Os poucos que estavam ali se encantaram. Agora a meninada aos sábados e domingos enchiam as arquibancadas. Batiam palmas, pulavam e gritavam – Viva o palhacinho Juju! Para ele foi o máximo. Agora era admirado e todos pediam que ele viesse logo nas apresentações. Claro que quando não estava no picadeiro Justinho sentia uma tristeza enorme. Aos poucos foi aprendendo a conviver com seus medos suas sombras e seus sentimentos.

              Quando se aventurava a sair das cercanias do circo, nenhum menino, nenhuma turminha o aceitava. O olhavam com piedade, demonstravam compaixão ou mesmo gritavam piadinhas sem nexo. Coisa que Justino detestava. Justino voltava para o circo e atrás do trailer chorava. Rezava pedindo a Deus uma vida diferente. Tudo se transformava quando estava no picadeiro. Lá o Palhacinho Jujú adorava fazer a platéia sorrir, cantar, brincar como nunca. Aprendeu a ler e escrever com o Senhor Josué proprietário do circo. Um dia ao entrar no picadeiro ele viu um grande número de jovens, meninos e meninas, alguns de azul, outros de caqui, com chapelões esquisitos que o aplaudiram com uma palma diferente, incrivelmente bonita, que tocou no fundo do coração de Justino. Um deles foi até ele e disse que era o maior palhaço que já tinham visto. Deu-lhe a mão esquerda e disse que o Escoteiro era amigo de todos e ele agora seria amigo dos Escoteiros. Ao terminar seu número ficou ali na coxia atrás das cortinas e olhando para eles. Eram alegres, batiam palmas diferentes, cantavam canções esquisitas e aplaudiam com uma sinceridade que tocou fundo o coração de Justino.

                  Naquela noite ele dormiu e sonhou. Um sonho lindo. Um campo com cheio de arvores, bandeiras ao vento, cantando o Rataplã, e ele sorria por estar no acampamento dos seus sonhos. Brincou, correu com os meninos Escoteiros jogou com eles, e viu passar em sua mente toda a felicidade que um escoteiro com pernas sadias pode ter. Acordou suado, era apenas um sonho Ele sabia que nunca poderia acampar nadar nunca. Lágrimas correram em seu rosto. Uma amargura profunda bateu forte no coração de Justino. Mal conseguiu tomar um café e engolir um pedaço de pão. Ouviu uma algazarra no circo. Não entendeu bem. Chegaram vários adultos uniformizados de caqui, com chapelão na cabeça, a procura do Palhacinho Jujú. Falavam que o Grupo Escoteiro votou a favor de levar o Palhacinho Jujú até o Grupo e homenageá-lo. Justino continuava não entendendo. Quando o viram o abraçaram. Diziam que Justino era um grande Escoteiro sem o saber. O queriam na abertura da reunião e ali entregarem para ele um certificado de gratidão.

                  Seus pais concordaram. Ficava a critério de Justino decidir se ia ou não. Ele estava perplexo. Como ele experimentara uma alegria que nunca teve quando no palco foi aplaudido por eles, Justino achou que devia ir. Era sábado e lá dezenas de meninos e meninas gritavam seu nome. Quando a Bandeira Nacional foi hasteada, Justino chorou. Agora diferente. De Alegria. Após a cerimônia chamaram Justino ao meio da ferradura e entregaram a ele um certificado de gratidão do Grupo Escoteiro. Uma honra que não era entregue a qualquer um. Justino se emocionou. Um convite de um monitor o fez ficar indeciso, mas Justino não tinha medo. Aceitou. Naquele dia se tornou um Coruja. Divertiu-se como nunca. Jogou com eles como se tivesse duas pernas. Cantou com eles. Aprendeu a dar nós, a fazer sinais, o que era uma patrulha, como era o Grupo Escoteiro. Justino vibrava com todo o seu ser. Final da reunião. Justino sabia como era. Sempre foi assim. Mais um sonho que se foi. Quando poderia de novo voltar?

                       Durante a semana sua vida de Palhacinho Jujú continuou a mesma. Sempre se lembrava do sábado mais lindo de sua vida. Nos seus sonhos ele voltava lá sempre. Não era um derrotado e iria lutar pelo que viu, participou e amou. A noite foi para seu cantinho onde chorava suas amarguras. Ficou lá longo tempo vendo as estrelas, alguns cometas que passavam com pressa, olhando a beleza do infinito. Ele acreditava que Deus na sua infinita bondade não se esqueceria dele. E não é que no sábado seguinte eles foram buscá-lo novamente? Justino, disse o Chefe, você agora faz parte da nossa fraternidade. Todo sábado teremos um para vir aqui e levá-lo. O coração do Palhacinho Jujú bateu forte. Agora seria um Coruja para sempre. Cresceu na patrulha. Foi segunda classe e nos acampamentos demonstrava uma agilidade sem tamanho. Parecia que o  Palhacinho Jujú não andava em uma cadeira de rodas. Um belo dia, em um acampamento em Lagoa Dourada, acordou não viu ninguém e sua cadeira de rodas tinha sumido. Olhou para todos os lados e parecia que alguém o empurrava para frente.


                  Ele não entendia o que estava havendo. Andou com dificuldade, mas andou. Todos aplaudiram. Muitos correram para abraçá-lo. Um verdadeiro milagre. Dizem que o escotismo faz coisas maravilhosas, que só os que crêem sabem que podem mudar o mundo. Justino voltou a andar normalmente. Estudou, entrou em uma faculdade, se formou, se tornou um homem com grandes qualidades morais. Comprou um trailer novo para seus pais. Não trabalhava mais no circo, mas era ainda muito querido por todos. Conheci seu circo e seus pais disse o Chefe. Hoje, o circo não existe mais. Todos se foram. Ninguém nunca se esqueceu das piadas, da maneira de interpretar do Palhacinho Jujú. Mas em cada coração daquela juventude do Grupo Escoteiro que conviveu com Justino, bate forte ao lembrar-se do Palhacinho Jujú. A emoção de vê-lo andar nunca será esquecida.

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