Lendas
Escoteiras.
Maria Morena Escoteira
que nos fez sonhar...
¶ Linda morena, morena, morena
que me faz penar
A lua cheia que tanto brilha, não brilha tanto quanto o teu olhar.¶
A lua cheia que tanto brilha, não brilha tanto quanto o teu olhar.¶
Ah! Rotina. Quanta rotina nos
meus sábados Escoteiros. Não que eu não gostasse de estar lá com a meninada.
Nada disto, eles para mim eram parte da minha vida, mas vai chegando momentos
que a gente não se motiva, nada ajuda uma tarde modorrenta e mesmo acampando
aquele “Tchan” do começo não existe mais. Vez ou outra eu me perguntava o que
estava fazendo ali em Luar do Sertão. Já devia ter ido embora há muito tempo.
Afinal estava solteiro vinte e cinco anos em uma cidade onde só se falava da
vida dos outros, onde os velhos sentavam na praça a jogar damas, e o programa
aos sábado se resumir a um baile no Clube Mediterrâneo, ou um sessão no cinema
Palácios. Não podia reclamar, tinha um bom emprego no Banco do Brasil. Bem
quisto e me disseram que seria um futuro gerente, pois meu trabalho era
elogiado. Mas não era só isto, meus pais velhinhos não podiam ser abandonados
pelo seu único filho. E os Escoteiros? Nasci lá como lobo e até hoje sou um
eterno apaixonado.
¶ Tu és morena uma ótima pequena
não há branco que não perca até o juízo
Onde tu passas sai às vezes bofetão toda gente faz questão do teu sorriso ¶
Onde tu passas sai às vezes bofetão toda gente faz questão do teu sorriso ¶
Mas era só. As moçoilas de Luar do
Sertão eram insossas, sem graça e até que namorei umas três, mas não deu certo.
No inicio como Chefe estranhei. Queria era continuar Escoteiro, fazendo
estripulias no campo, pioneirias impossíveis, descobrir novos campos campinas e
montes onde eu achava que ninguém ainda conhecia. Mas o tempo foi passando, a
rotina seguia seu rumo e o vento da alegria esqueceu de me dar um luar com
muitas estrelas no céu. Os meninos Escoteiros da tropa estavam enfadados, já
havia alguns que não apareciam sempre. Naquele sábado nem sei por que estava
fazendo o jogo de feiticeiros e estátuas. Jogo chato, amolante e sem graça. Eu
não gostava dele e sabia que a meninada Escoteira também não. Matias Risonho me
fez um sinal – O que foi Matias? – O chefão está chamando. – De novo pensei. De
vez em quando Matusalém o Diretor Técnico dava nos nervos. O cara era de doer e
gostava de falar. Olhei para trás e até pensei em deixá-lo de molho por alguns
minutos. Ele merecia.
¶ Teu coração é uma espécie de
pensão de pensão familiar à beira-mar
Oh! Moreninha, não alugues tudo não deixe ao menos o porão pra eu morar.¶
Oh! Moreninha, não alugues tudo não deixe ao menos o porão pra eu morar.¶
O que? Quem estava com ele? Quem
era ela? Uma Deusa? Desceu do céu? Onde ele arrumou aquilo tudo? Uma linda
morena como nunca tinha visto, linda? Não mais que isto estupenda morena.
Larguei a tropa jogando e fui em passos rápidos até ela. Ela sorria para mim,
meu Deus! Que sorriso! Morena linda, esgalga, penumbrosa, parece à flor colhida
ainda orvalhada no justo amanhecer. Apresentou-se – Maria Morena, Escoteira da
cidade do Garanhuns. Sou Chefe lá! Pronto! Já sabia qual cidade ia morar para
sempre! Graças a Deus que naquele sábado de homem só eu. Mais Elisete,
Elizabeth e Noreth da Alcateia. Estava pasmado, ou melhor abestalhado com tão
magnifica mulher. Uma morena de olhos grandes, parecendo jabuticabas colhidas
na hora ao amanhecer, lábios carnudos avermelhados, sorrisos que derrubavam os
maiores exércitos que marchavam para a guerra. Era um sorriso de Atena, deusa
da guerra, da sabedoria, da habilidade a titã da sabedoria.
¶ Por tua
causa já se faz revolução vai haver transformação na cor da lua
Antigamente a mulata era a rainha desta vez, ó moreninha, a taça é tua.¶
Antigamente a mulata era a rainha desta vez, ó moreninha, a taça é tua.¶
Dei um sempre alerta sem graça
tentando fazer uma pose de Brad Pitt. Meu corpo tremia, meu coração batia e
abestalhado por ver tão linda mulher no pátio da sede. Ela me olhou com os
olhos húmidos brilhantes e com uma voz de Afrodite a dizer que seus exércitos
iriam vencer a mais sublime das batalhas me perguntou: Posso fazer um estágio
com o Senhor por dois meses? – Dois? Nunca, você vai estagiar comigo para
sempre! Agora meu coração é seu e a tropa é sua, pensei. Uma voz chata me dizia
– “Ah, porque não a deixas intocada Chefe Poeta, tu que és Chefe, na misteriosa
fragrância do seu ser, feito de cada Coisa tão frágil que perfaz esta rosa”! –
Uma voz esganiçada, grossa, feia, mil vezes maldita ecoou no ar – Mozinho! Vai
demorar? – Olhei para o maldito. Moreno brabo, feio, atarraxado, pior de
uniforme disformado, de uma vez só estraçalhou meu coração! Seu marido? Noivo?
Acosturado? Pé de Café? Danado, estragou tudo! – Olhei para ela, ela desanuviou
o horizonte que despontava raios e trovões e disse: – Já vou Mozinho! Virou
para mim, com aquela cara inocente, tão doce, tão amada, tão linda, tão
adocicada e disse: – Posso voltar no sábado?
- ¶ Mas (diz-me a Voz) por que deixá-la em haste agora que
ela é rosa comovida
De ser na tua vida o que buscaste tão dolorosamente pela vida ? Ela é morena rosa, poeta... Assim se chama... Sente bem seu perfume... Ela te ama...¶
De ser na tua vida o que buscaste tão dolorosamente pela vida ? Ela é morena rosa, poeta... Assim se chama... Sente bem seu perfume... Ela te ama...¶
Linda Morena, uma marchinha de
Lamartine Babo.
Alguns versos de Vinicius de Morais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário