Lendas
Escoteiras.
As aventuras
de Zezé Escoteiro. O encantador de serpentes!
Quando Zezé fez nove anos seu pai
lhe comprou uma corneta. Calma, era de plástico ele nunca poderia comprar uma
de metal como as usadas nas fanfarras da escola e do Tiro de Guerra. Zezé não
podia ver ninguém desfilando que ele ia atrás. Era um se fosse um menino da
fabula do Flautista de Hamelin sendo levado pelo som do mágico que tocava a
flauta. Uma linda fábula, mas aqui minha história é outra. Sei pai queria lhe comprar
um tambor ou um tarol, mas o dinheiro andava curto. Durante dias ninguém
aguentou Zezé e sua corneta. Ficava o tempo todo com ela a tocar, mas o som era
aquele parecido com um berrante. Algumas semanas depois a vizinhança deu graças
a Deus, pois Zezé esqueceu sua corneta. Com onze anos pediu ao seu pai para
levá-lo nos Escoteiros. Apesar de família humilde lá foi ele de mãos dadas com
seu pai no dia da reunião. Zezé amou o escotismo. Fez dele uma parte de sua
vida. Não pensem que Zezé era especial, não era. Apenas mais um na Patrulha
Pavão que ele aprendeu a defender com sua própria vida. Claro era assim que o
Monitor ensinava.
Zezé era um dos primeiros a
chegar à sede e um dos últimos a sair. Sabia que aos sábados não tinha ninguém
na rua para brincar com ele e agora sendo Escoteiro não sentia vontade de ficar
com seus amigos conversando. Eles não diziam nada com nada. Veio à primeira
excursão, Zezé ria a toa. Era disciplinado e tudo que o Monitor ou o Chefe
mandasse ele obedecia. Se for para ficar na fila ele fazia questão de andar bem
atrás e olhando os passos do da frente para “acertar o passo” conforme gritava
o sub Monitor lá atrás. Aprendeu tudo que o Monitor lhe ensinou. Armar
barracas, andar com facas, facões, machadinhas e mesmo pesado ficou vários dias
treinando com um machado do lenhador que existia em sua casa. Aprendeu
orientação, a ler mapas, era bamba em sinais de pista e ninguém o superava em
semáforas e Morse. No terceiro acampamento da tropa aconteceu um fato curioso.
A patrulha jogava bastão para atravessar um regato e ele cair fincado do outro
lado para esticar a corta de uma ponte que iriam fazer.
Quando iam saindo até o
córrego das lagartixas voadoras, ele se lembrou de sua corneta. Sempre a levava
consigo e nunca a tocou no campo. Sabia que o Chefe não gostava e ele sempre
pensando um dia tocar para ver se os pássaros iriam pousar em seu ombro. Leu
sobre isto e queria tentar. Naquele dia o Chefe estava preparando uma pista
molhada, para todos aprenderem a reconhecer pessoas, pássaros e animais pelas
pegadas. Ele sem ninguém ver pegou na mochila dentro da barraca sua corneta de
plástico. Antes da patrulha seguir em marcha de estrada Zezé sorrindo tocou sua
corneta. Um barulho horrível. Uma nota só. Todos os Escoteiros da patrulha
olharam para ele espantados. Não é que ele parou e viram muitas cobras
correndo? Toquinho nunca viu isso. Era Monitor de patrulha há três anos e quase não se via cobras no campo. Mas desta
vez elas estavam escondidas. Ao ouvir o som da corneta levaram o maior
susto e se mandaram.
Toquinho fez questão de
contar para todos os monitores e eles insistiram para Zezé ir tocar a corneta
no campo deles. Chefe Estrela não acreditou e foi com eles para ver Zezé tocar.
Começou a rir com aquele som horrível. Mas não é que muitas serpentes que
estavam por ali se mandaram? Claro que nunca houve um caso de mordida de cobra
com eles, mas agora ele estava mais tranquilo. A fama de Zezé Escoteiro correu
toda a cidade. Era dona Chiquinha pedindo para ele tocar no seu quintal, era
Dom Manuel prefeito para ele tocar na praça onde já apareceram serpentes
venenosas. Até o Coronel Ludovico insistiu com ele para ir a sua fazenda,
passar uns dias lá e espantar as cascaveis que de vez em quando matavam suas
vacas leiteiras que não sabiam defender. E os Grupos Escoteiros da cidade?
Sempre atrás dele para ir ao acampamento tocar sua famosa corneta para as mães
dos escoteiros dormirem em paz.
Muitos quiseram pagar, mas Zezé
Escoteiro naquele jeitinho de matuto caipira agradecia. Dizia que era um Escoteiro
e o que fazia era sua boa ação. Seu pai e sua mãe começaram a ficar
preocupados. Todos os dias havia alguém chamando Zezé para tocar sua corneta em
algum lugar. Tudo que é bom dura pouco ou não dura nada. A sina de Zezé estava
com dias contados. Claro, dizem que em volta da cidade e nos locais de
acampamentos não havia mais cobras.
Começaram a reclamar de Zezé Escoteiro. Diziam que as pragas nas
plantações de feijão e milho estavam aumentando. Sapos multiplicaram-se. Zezé
era o culpado por tudo de ruim que acontecia com as plantações. Estava havendo
um desaparecimento de espécies e subespécies que dependiam das serpentes para
manter a diversidade biológica de tudo que existe em nosso planeta. Antes o
Zezé Escoteiro era um herói e agora era condenado por diversificar a vida das
espécies ali em sua cidade Ouro Negro.
A vida de Zezé mudou, mas seu
amor ao escotismo não. Ficou um menino triste, mas acreditava que fez o bem sem
olhar a quem. Nunca cobrou nada. Ele sempre nos acampamentos era o que mais ria
o que mais contava suas histórias. Era aquele que amava o campo, amava as
estrelas, o luar, sempre pensando que um dia iria seguir o sol que caminha para
o oeste. Montepino veio correndo avisar ao Zezé que proximo da lagoa do Jacaré
havia uma enorme cobra. Zezé pegou sua corneta e foi lá ver. Era grande mesmo,
sem mentira tinha mais de oito metros, gorda enorme e parecia dormir. Zezé não sabia
ninguém tinha contado para ele como era uma Sucuri. Elas habitam em lagoas e
rios e quando a fome aperta comem de tudo, tartarugas, quatis, capivara e até
bezerros pequenos. Comem não vão engolindo aos poucos apertando sua vítima.
Como enxerga mal usa a sensibilidade de sua língua e focinho para primeiro
comer a cabeça da vítima.
Zezé Escoteiro nunca tinha lido
sobre isto. A Sucuri não tem veneno. Foge ao primeiro sinal de perigo. Zezé
chegou devagar, a menos de dois metros tocou sua corneta. Nada, a cobra parecia
dormir. Zezé tomou coragem e foi até a cabeça da cobra, com um pé pronto para
correr tocou com a maior força sua corneta na cabeça da cobra. Só Zé Pequetito
viu o que aconteceu. Contou para todo mundo e a história se espalhou pela
cidade. Ao tocar a corneta a cobra levou o mais susto. Sem perceber abriu a
bocarra e vomitou com força tudo que estava em seu estomago em cima de Zezé
Escoteiro! Zezé espantado saiu correndo cheio de gosma, de pedaços de carne,
sangue e outras coisas mais. Ficou mais de quatro horas se lavando no córrego
da Traíra. Jogou longe sua corneta. Jurou para sim mesmo que nunca mais, mas
nunca mais mesmo iria tocar corneta para espantar serpentes.
Não pensem que Zezé Escoteiro
desistiu de ser Escoteiro. Quando alguém na cidade pedia para ele contar como
foi ele nunca recusou. Dava belas risadas e dizem que até hoje a história da
Sucuri que vomitou em Zezé é contada em todos os lugares que davam enormes
gargalhadas de tudo!
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