“Antonio”
Se ele tivesse uma
ampulheta do tempo diria que a areia findava e breve ela estaria vazia. Sabia
que viver semanas seria uma dádiva, pois o especialista disse que não duraria
tanto. Doença cruel que o fazia morrer devagar e sofrido. Cada sessão de
quimioterapia era um suplicio e muitas vezes ele pediu a Deus que o levasse,
mas sabia que não poderia decidir. Sua vida estava nas mãos Dele e se fosse
para ser assim teria de ser. Um dia riu de si mesmo quando pensou em acabar com
a vida do Professor Gerson. Foi um momento de raiva que ele ajoelhou e pediu
perdão pelos pensamentos nefasto. Setenta anos de escotismo, um dos poucos
fundadores iniciado como lobo via a cada dia o sonho Escoteiro se acabar. Uma legião
que lutaram junto via angustiados tudo se perder nas mãos de um diretor
hipócrita, que decidiu sem consultar ninguém retomar o terreno da sede
escoteira.
Um documento
entregue em uma solenidade na praça da cidade que não valia mais. Um prefeito
que lhes deu uma posse de mentira, uma luta ano a ano para transformar uma
saleta em uma sede com todas as necessidades de suas sessões. Quanto sangue
derramado? Quanto suor e lágrima para conseguir um tijolo, uma telha, uma porta
e tudo agora estaria perdido? Com que direitos? O advogado Jamil disse que não
tinham como fugir. Tinham de entregar a sede em trinta dias. A lei era clara.
Deu sua vida, deu seu amor, viveu ali fazendo tudo pela cidade e agora não
havia retribuição. Prefeito, vereadores se curvavam ao novo Diretor Nomeado da
FATEC uma entidade governamental. Para onde iriam? Como continuar? Todas as
tardes ele procurava uma solução e nada. Mesmo espiritualista maldizia o
Diretor que nunca foi Escoteiro e não queria entender os benefícios de uma
educação extraescolar. Prefiro morrer antes, não dá para assistir esta
derrocada final.
Foi levado ao hospital.
Escoteiros e chefes acorreram ao local. Eis que extenuado chega o Presidente.
Amigos o decreto do Professor foi anulado. Uma petição entregue ao Ministério
da Educação que ninguém sabe quem enviou foi aprovada. Agora somos
proprietários com escritura lavrada! Uma palma estrondosa ecoou na porta do
hospital. Na UTI Antonio sorria. A luta se encerrava. Valeu enviar aquela
petição. Agora poderia morrer em paz!
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