No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras
A aventura está apenas começando

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

A fantástica estrada dos aflitos.


A fantástica estrada dos aflitos.

                  Eu sorria. Adorava acampar sozinho e chegou meu dia. Minha mochila verde musgo pronta. Afiei minha Faca Randall Modelo 3, meu pequeno facão Universal. Não esqueci minha Prismática que não usava há anos. Dos meus cinco cantis iria levar desta vez o Espanhol feito em couro natural que possui revestimento interno em polietileno. Funciona como uma moringa, ao ser molhado o exterior, a evaporação da água refresca o liquido interior. Era perfeito para minha jornada que iria realizar. Olhei de soslaio meu bastão de Peroba Rosa. Pesado, ponteira de aço, duas e meia polegadas de diâmetro. Melhor não. Peguei meu bornal de couro de Toscana, que dizem ser o melhor dos melhores. Sapequei nele cinco matutagens para me safar da fome. Uma caixa de bombons Ferro Rocher meu chocolate preferido. Em um cantinho bem embrulhado guardei três garrafinhas de uísque Johnniewalker. Era para as noites enluaradas nas minhas conversas ao pé do fogo. Dos meus três chapéus de abas largas, preferi o Velho Prada Paulista. Lenço bem dobrado, meião nos trinques lá fui eu pela estrada dos Aflitos a procura da Clareira na Floresta do Tenente. Gostava de acampar ali.

                   Nem bem percorri quatro quilômetros e na curva do Boi Bravo avistei a turma do CAN e do DEN. O que faziam ali? Esperando-me? – Preparava para gritar que era inocente. Que desejava a todos eles uma feliz reeleição neste ano. Afinal a maioria tinha a côrte escoteira nas mãos e eu não podia fazer nada. A menos de vinte metros parei. – Afinal sou um Velho desdentado, senil e esculhambado, escorado em uma bengala de madeira e não tinha defesa. Sabia que teria de enfrentá-los. Emboscaram-me em uma curva onde não podia fugir. Olhei para trás e pensei em voltar correndo. Correndo? Minino! Correr não é minha praia e vi ao longe se aproximando um batalhão de senadores e deputados do Congresso Nacional. Na frente o Chefão Cunha, com seu andar peculiar de Imperador do Universo. Ele acha que é Deus e faz o que quer. Ao seu lado uma chusma de seguranças. Cada um mais mal encarado que o outro. – E agora? Na frente à turma do CAN e DEN não deixavam eu passar; eram uns quinze, todos de vestimenta que a gente sabe como é. Bagunça solta, camisa fora da calça, meinha branca ou azul. Havia um presidente regional de chapéu de boiadeiro. Estava lindo de morrer.

                    O Cunha parou na minha frente. Gritou – Velhote Escoteiro! Deixou de criticar seus compinchas e esticou suas garras no congresso? O Fernando Henrique chegou correndo. – Calma Cunha, calma, é só um velhote senil que se acha o tal no escotismo! – Calma nada Fernandinho, se manda, vai tomar conta do filho que não é seu em Paris. Sua ex-namorada botou a boca no trombone. Você e o Lula são farinha do mesmo saco! Lula chegou apressado. Falando de mim? Hoje é sexta, irei de helicóptero para meu tríplex no Guarujá. Sem perceber disse ao Lula: Doutor Lula, já que não vai neste fim de semana ao seu sitio em Atibaia, posso mandar uma Tropa escoteira acampar lá? Foi um Deus nos acuda. Veio logo a Dilma com seu andar de princesa namorada do Shrek e gritando comigo. – Vá te catar chefete! Vá procurar a Zica se não tem o que fazer!  Jaques Wagner me olhou com aquele olhar de baiano feroz. Temer ria baixinho cochilando debaixo de uma árvore a espera que todos se danassem. Vi o Collor passar em disparada em uma Ferrari ultimo tipo.

                    Começaram a discutir uns com os outros. Procurei a Bancada Escoteira no Congresso. Não vi ninguém. Foi o Renan quem me alertou que estavam todos na fila para ver se recebiam algum “pixuleco” da Petrobrás. Achei uma passagem entre eles. Devagar fui me mandando e subi uma trilha desconhecida. Vi lá no alto Baden-Powell fazendo sinal. Era minha salvação. General famoso por estratégias sorri com gosto. Mas no meio do caminho surgiu cinco diretores de empreiteiras. Todos me olhando ferozmente. Um deles gritou: - É ele quem fez a delação premiada para acabar conosco! Desçam o pau! Sem dó e sem piedade. Comecei a chorar. Afinal não sou herói. Tenho a língua solta e escrevo com facilidade mas lutar? Ainda mais Velho e gagá? Gritei por socorro, fiz um sinal de fumaça com o S.O.S. Apitei como um louco. Tirei a camiseta branca em sinal de paz e nada. Rezei, pedi aos céus que se me safasse nunca mais iria dizer que a turma do CAN são enrolados. Disse a mim mesmo que iria bater palmas para a DEN.


                      Meus gritos ressoaram naquela montanha maldita que tantas vezes acampei. Ouvi a Célia me chamando – Osvaldo! Osvaldo! Acorda! De novo estes pesadelos? Ufa! Graças a Deus. Passei um aperto que não queria que fosse realidade. Sorri, se eles acham que vou calar estão enganados. Vou meter o pau enquanto não se mostrarem dignos de confiança. Alguém bateu na porta. A Célia foi atender. – Osvaldo está aqui o Japonês da Federal! Querem falar com você! Minha nossa! Desta vez estou roubado e mal pago!

Nenhum comentário:

Postar um comentário