Crônica
de um Velho Chefe Escoteiro.
Eu
queria ter o mundo, mas Deus disse que não.
- Ah! Eu queria ter o mundo aos
meus pés. Queria fazer dele um lugar feliz para viver. Mas o mundo não é assim?
A felicidade não está aqui? Porque então mudar? Não sei. Eu queria ter o mundo,
fazer todos sorrirem, se abraçarem e dizerem que agora somos todos irmãos. –
Mas é possivel? Afinal quantos estão sorrindo? Não seria muito mais dos que
estão nas sombras sem perdão? Eu penso e transformo meu desejo em ilusão,
ilusão de ter um mundo só meu. Mudar as pessoas, mudar tudo fazer todos iguais
a mim! – Foi ela a poetiza quem me incentivou – Escoteiro nos demais mundos
todos sabem, o coração tem moradia certa, fica bem aqui no meio do peito, pois
a anatomia mudou para todos, e agora todos são corações.
- Outro poeta no alto da sua
criação, remendou em um triste soneto: - Sábio é quem se contenta com o
espetáculo do mundo. Que grande circo, que espetáculo é este e eu não quero
perder. Afinal será meu mundo, mais alegre, mais delicioso, mais pomposo na
maneira de se andar falar e viver. Se eu mudar o mundo diria outro poeta,
sempre eles: - Muda-se o ser,
muda-se a confiança; Todo o mundo é composto de mudança, Tomando sempre novas
qualidades. Continuamente vemos novidades, Diferentes em tudo da esperança; Do
mal ficam as mágoas na lembrança, E do bem, se algum houve ficaram as saudades.
Não assim não, eu não farei a todos escoteiros, uns quem sabe talvez. Mas a
honra seria o primeiro embate. No meu mundo quem não tem honra não vai viver.
- Eu queria ter um mundo, de
águas cristalinas, de fontes que nunca irão secar. De peixes que irão pular na
catapulta da água, sorrindo do mundo novo que eles estão a viver. Meu mundo
teria campinas, vales verdejantes, flores perfumadas onde todos pudessem
caminhar. Meu mundo teria lindas montanhas, cascatas imensas a ribombar
cantando uma sonata de Schubert. Nas ruas irei plantar árvores frutíferas onde
a meninada pudesse se esbaldar. Meu mundo teria sol, teria chuva e teria lua. Teria
estrelas? Sim brilhantes gritantes a piscar no céu. Meu mundo teria bandeira, a
bandeira do Brasil. – Então não é só meu mundo, isto parece o meu país. Anjo,
não me interrompa me deixe criar meu mundo, do jeito que gostaria de ser. Meu
mundo não teria maldade, falsidade. Meu mundo teria caráter, honestidade, onde
o aperto da mão esquerda seria o documento mundial.
- Sonhos? Não tenho este
direito? Sei que Ele que está no céu a nos acompanhar deve estar pensando: -
Ele quer ser como eu! Por um instante entrei na seara que não me pertence,
esqueci que sou seu filho, sou sua criação, e depende de mim e todos que o
mundo seja assim sorridente consciente de sua obrigação. E sem perceber, outro
poeta entrou na minha imaginação: - Enquanto um chora, outro ri, é a lei do
mundo meu rico senhor. É a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono,
tudo rindo cansativo, mas uma boa distribuição de lágrimas, de sambas, soluços
e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se
assim o equilíbrio da vida...
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