“Joel”.
Era
sábado. Ele gostava de ficar na janela vendo Silvio em sua varanda sorrindo. Um
belo sorriso por sinal. Pensava no sonho que tivera, ele também um dia poderia
ter sido Escoteiro, mas foi só um sonho. Nunca foi. Nos seus sonhos sempre
passeava em uma vale florido, com perfumes de jasmim, um céu azul e nuvens
escritas: - Seja sempre feliz! Era bom demais ficar ali onde uma paz silenciosa
lhe dava uma gostosa proteção de vida. Sentava na relva, sentia a brisa fresca
que soprava em seu rosto, via ao longe um Arco Iris lindo e pensou se lá no seu
final tinha um pote de ouro. Silvio era
seu vizinho, novo, casado com um filho de sete anos. Não sabia se era inveja ou
culpa por sentir a felicidade dos outros também o fazer feliz. Sua semana não
tinha sido boa, muitos problemas. Ele já tinha conversado com Silvio, sua
alegria, seu modo de vida e o amor aos escoteiros. Maior ainda por saber que Maria
e seu filho José também eram como ele.
Na janela ele imaginava Silvio e a família se preparando para partir
rumo a sua felicidade. A sede escoteira não era longe. Silvio afirmou que se
ele era feliz fazia questão que os outros também o fossem. Toda vez que saiam
na porta de sua casa se abraçavam e oravam. Era um pai e esposo amoroso. Dizia
sempre para todos ouvirem: - Amo vocês, sem vocês não sou nada. Ele ouvia
sempre Silvio e família cantar o Rataplã. Aprendeu também. Uma e vinte saíram
cantando e uniformizados. Sempre iam a pé e os vizinhos chegavam à janela para
cumprimentar. Admirava seu porte, seus uniformes, seu orgulho em se mostrar
como escoteiros. Joel sentiu uma pequena lágrima correr em sua face. Porque ele
não tinha conseguido ser assim? Um dia
acompanhou Silvio de longe com extrema dificuldade. Viu-o chegar abraçar e
cumprimentar a todos. Do menor ao maior. Ouviu-o dizer baixinho a cada um: - –
Obrigado por ser meu amigo, você é muito importante para mim e para o Grupo
Escoteiro.
Chorou quando eles viraram a esquina. Chorou quando entrou e foi para o
seu quarto. Resolveu seguir a rotina. Vestiu seu uniforme agora apertado que
nunca usou como Escoteiro. Colocou seu lenço, seu chapéu. Olhou no espelho e
viu que estava bem uniformizado. Sentou em sua cama, deixou sua mente passear
de novo pelo seu sonho do vale florido. Tirou o uniforme, sabia que em poucos
minutos Anastácia a enfermeira ia chegar. Em sua cadeira de rodas foi para a
sala. Ela entrou cumprimentou. Ah! Deus. Eu sei que mereço fui eu que escolhi,
mas me perdoe, tenho uma vontade enorme de poder seguir com o Silvio e não
posso. A enfermeira não sorriu. Ela nunca sorria. Duas injeções e varias
massagens em seu coração para aliviar a dor. Sabia do seu fim, o doutor não
escondeu. Sorria, pois aprendeu a sorrir pensando que lá em cima bem além das
estrelas alguém esperava por ele. Quem sabe lá ele poderia ser um Escoteiro?
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