Medalha “velho lobo”
A tempos ou melhor em 2017 em um
artigo postado o meu amigo Giancarlo Valente defendia galhardamente que eu
deveria ser agraciado com a medalha “Velho Lobo”. GV é insistente. De suas
posições ele não abre mão. Ainda bem que o tenho em meu coração. Muitos
comentaram a favor ou contra. Alguns se apegaram nas normas regimentais. Ah!
Normas e normas! Porque o chefe não faz o registro? – Bem tenho 79 anos de
idade. Entrei para o escotismo em 1947 onde em abril fiz minha promessa de
lobo. Três anos e meio depois fiz a de escoteiro. Certificado e registro nem
sabíamos que existiam. Meu escotismo foi de mochila nas costas, bicicleta
errante e até mesmo meu Vulcabrás favorito correndo estradas e trilhas de
aventura. Escotismo livre leve e solto, sem amarras.
O tempo foi passando e eu
escoteirando. Sênior, pioneiro ah! Quantas aventuras. Hoje sei que não é mais
assim. Já comentam que Escotismo de sede dá resultados. Ainda bem que tem
muitos escoteirando pelos campos e fazendo belas aventuras. Fui Chefe de Lobo,
de tropa, de Sênior fui distrital. Nunca deixei de escoteirar. O tempo foi
passando e em 1956 fiz meu primeiro registro. Não como hoje com uma
parafernália eletrônica. Impressos indo e vindo pelo correio. Alguns registros
demoravam até oito meses. Eis que em Belo Horizonte, por causa de um ADIP onde
o Escoteiro Chefe estava presente me pediu para ir à sede regional. Convidou-me
para ser o Comissário. Aceitei. Foram quase nove anos correndo municípios
mineiros. Foi meu início na minha saga de dirigente.
Não gostava do que via. Escotismo é o
de B.P e se alguém julga que não fico na minha. Fui a Brasília no Conselho
Nacional hoje chamado pomposamente de Assembleia. Tentei conversar com o
Escoteiro Chefe, levei uma plêiade de escritos meus para distribuir. Pediu-me
para deixar para o próximo. Trouxe tudo de volta. E olhe nada mudou. O mote de
vá a Assembleia é de matar de rir. Em 1977 cheguei a São Paulo. DCIM dezenas de
cursos eu pensei que poderia ajudar. Engano. A trupe que comandava o
adestramento no estado me deixou no ostracismo. Não desisti. Participei aqui de
dois grupos, antes em mais três. Fizemos um IM onde muitos pais adestrados por
mim participaram. Reuniões a cada vinte dias para discutir o caderno. Fui
convidado para Assistente Regional de Adestramento. O ar ferveu. Impossível
gritaram os donos do poder. Muitos da Equipe Regional de Adestramento se recusaram
a participar dos cursos que convidava. Foram mais de cem cursos em tempo
integral. Reunia próximo de 15 chefes IMs para um seminário de adestramento a
cada trinta dias. Vinha gente de São Vicente e outras cidades do Estado. Um dia
o “J.M” da baixada santista me disse: - Chefe, o regional pediu para eu
afastar. Pediu a todos.
Fui ser chefe em um grupo próximo a
minha casa. Quase 12 anos. O grupo cresceu e achei que devia passar o bastão.
Um dia pediram-me para montar e dirigir o primeiro CAB Pioneiro no Brasil. Se
inscreveram mais de 40 alunos. A trupe do poder quase deu a luz e teve a
pachorra de infiltrar o DCIM muito conhecido e admirado no curso. Seria ele
encarregado para ver se eu tinha condições? A história disto tudo fica para
depois. O tempo foi passando e a EB passeando na Europa para a Conferência
Mundial. Quem paga? Disseram-me que o plano era assumir a WOSM. Risos. Resolvi
lutar sozinho. Mandei o registro às favas. Não me valia de nada. Alguém deve se
lembrar de que na década de setenta, incluíram na Promessa Escoteira – Servir a
União dos Escoteiros do Brasil. Nossa! Servir? Afinal uma associação não existe
para servir seus associados? Curitiba a vista. Lá montaram a base. Sabichões,
doutores, pedagogos enfim um universo de novos lideres se formaram. Apossaram-se
do poder.
Li várias vezes o Dossiê do Doutor
Jean Cassaigneau. Agora sim pensei. Vai alertar esta cambada para tirar o
escotismo entre muros e fazer a coisa andar. Que nada. Não afirmo, mas a ideia
era fazer desaparecer os antigos os galochas escoteiros. Com gente nova a
disciplina não seria discutida. Hã Democracia! Claro que deu certo. Não tinha
mais armas para lutar. Mostrar o que penso o que poderíamos discutir nas ULs
para que o escotismo desse um salto no futuro. A EB resolve, não faz pesquisa,
não pede sugestões e lá vem de novo uma nova norma para cumprir. Discutir
normas regimentais como funciona a EB? Sabemos que temos experts que decoraram
tudo. São os Politicamente Corretos que defendem suas posições na EB. São
errados? Não. Aprenderam assim. Acham que devemos ser obedientes e
disciplinados. Eles são a linha de frente. A EB? Empanzinada com o poder agora
só pensa naquilo! Isto mesmo. Nada pode dar prejuízo. Deus do céu!
Não fiz e nunca mais farei meu
registro na Escoteiros do Brasil. Sou e serei sempre um associado sem pagar da
antiga União dos Escoteiros do Brasil. Na minha época havia sorrisos no ar.
Havia lealdade. Havia sinceridade e nada era feito nos porões do poder. Sei que
ainda tem muitos dirigentes de alma escoteira. São poucos. A indelicadeza, a
falta de cortesia, o abraço e a deslealdade parece estar se infiltrando nas
hostes do poder. Sei que ninguém tem nada com isto, mas no passado eu tinha
amizades, gente que sabia dar um abraço, um sorriso e ser leal. Fui amigo do
Chefe Francisco Floriano de Paula. Tive a honra de receber e bebericar com
gente da alta roda escoteira: - Muitos DCBs, DCIMs a Maria Pérola o Hélio (quem
se lembra?) o Basbaum o Darcy Malta. Muitos gostavam da comida da Célia. Hoje?
São os tais. Sorrisinhos nos corredores do Congresso/Assembleia. Tapinhas nas
costas. Tem aqueles que são entendidos, viram para você e dizem: Servir meu
amigo servir. Afinal você paga para ser chefe e ainda reclama?
Finalmente fui convidado sim pelo
Elmer a ir ao Seminário dos Antigos Escoteiros. Não fui. Não gostei do convite.
Não era o que pensava. Não gosto de paparicar e ficar na sombra. Gosto de
elogiar discutir bases concretas e não só filosofia. Não me pediram opinião e
cá pra nós eu já sabia o que ia acontecer. – Bem voltemos à medalha. Como
regional recebi doze. Quatro em duplicidade. Nada há ver com as grandes
condecorações que os grandes chefes fazem questão de colocá-las brilhantemente
no pescoço. Agora fazer um registro para receber uma medalha? Isto é ético?
Onde está a minha dignidade? Nunca vou esnobar uma medalha. Mas sou um Velho
Chefe Escoteiro e não um Velho Lobo. Hoje colaboro escrevendo. Artigos de
formação, de contrariedade, de histórias e lendas escoteiras. Sem querer me
esnobar a Escoteiros do Brasil e muitas outras associações escoteiras devem
muito aos meus contos, minhas histórias onde o escotismo floresce de uma
maneira natural e encantada.
Nada mais a dizer. Ao Giancarlo meu
amigo até hoje continuo agradecendo pela lembrança. Aos comentários também. Não
guardo rancores. Faço questão da honestidade, da honra e do caráter. Nunca
ofendi ninguém. Tento sim ajudar no que posso e aprendi, mas não dou o braço a
torcer. Ainda não sou daqueles que ao receber uma caricia no rosto dou o outro
lado para continuar. . Sou amigo de todos, falem mal de mim, mas podem contar
sempre comigo. A todos meu fraterno abraço.
Sem mais, Chefe Osvaldo.
Sem mais, Chefe Osvaldo.
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