No mundo dos sonhos com as fábulas escoteiras

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A aventura está apenas começando

domingo, 7 de setembro de 2014

O lobisomem de Holambra.


Histórias Escoteiras.
O lobisomem de Holambra.
(uma história escrita pelo Chefe Kleber Svidzinski)

                            Não conseguia entender por que os cachorros da rua estavam uivando, todos, sem parar. Mas não era isso que me tinha feito perder o sono. Na verdade nem tinha me atentado a este detalhe dos cães, não conseguia pegar no sono, tinha uma aura estranha no ar, algo inquietante. Percebi que minha cadela Mona também fazia coro aos uivos.
De repente, como num passe de mágica, todos, sem exceção, pararam de uivar. Incrível. Foi que se tivesse acontecido uma ordem para aquilo. Instintivamente olhei no relógio digital que ficava na cômoda a minha frente... Meia noite em ponto. Confesso que aquilo me intrigou me deixou meio impressionado.
- Lúcia – chamei minha esposa – está acordada?
- Sim Bem, estou. – respondeu-me no mesmo instante.
- Viu isso? Percebeu? - indaguei
- Sim, que será que aconteceu? Está um silêncio estranho, pesado... - respondeu
- Viu que horas são? – perguntei já me virando na cama.
- Muito estranho...

                      Mal ela acabara de mencionar e escutamos uns barulhos de garrafas vazias na nossa área de serviço. Tínhamos um pequeno armário de aço onde colocávamos produtos de limpeza e algumas garrafas de refrigerantes  de vidro vazias. A Mona, gemendo baixinho estava tentando se enfiar dentro do local. Costumava fazer assim quando sentia muito medo,  tipo quando estouravam fogos. Eu e minha esposa trocamos um olhar silencioso, cada vez mais achando aquilo tudo muito, mas muito estranho. Salvo o desespero da nossa cachorra o silêncio continuava pesado, misterioso.
De repente uns ruídos chamaram ainda mais nossa atenção. Ao redor da nossa casa havia uma calçada de ardósia de uns oitenta cm de largura. Começamos a prestar atenção, não conseguíamos falar nada, estávamos petrificados. Alguma coisa estava caminhando lentamente, passando ao lado de nossa janela, eram claramente passos de uma criatura que caminhava sobre duas pernas e possuía garras, o som era característico. Estas faziam barulho ao contato com a ardósia...

                     Eu e minha esposa nos demos as mãos, que criatura dotada de garras caminhava sobre duas pernas somente? E por que ela causava o pânico em minha cadela? Levantei-me lentamente da cama, caminhei até a janela. Os passos haviam se cessado... Silêncio total.  Comecei a me preocupar com minha cachorra, ela estava apavorada, havia parado de se mexer, parecia que não queria ser encontrada, tentando se esconder. De repente um barulho alto na garagem... O alarme de meu carro disparara. Minha esposa quase que foi ejetada da cama, juntos, de mãos dadas, caminhamos em silêncio até a janela que dava vistas a nossa garagem, abrimos uma pequena fresta e fitamos nosso carro. O porta-malas estava aberto...

                        Nesse momento já estava arrepiado da cabeça aos pés. Não conseguia compreender o que estava acontecendo. Minha esposa correu pegar a chave do carro e acionou o controle cessando o som do alarme. O silêncio voltou a ser sepulcral... Não sei como, mas alguém ou alguma coisa havia aberto o porta-malas do carro. Olhei para todos os lados da rua, minha esposa apertava meu braço com muita força, a tensão era grande. - Não posso deixar o porta-malas aberto... Tenho que ir fechá-lo. – disse olhando para minha esposa - Está doido? – respondeu angustiada – Não está sentindo alguma coisa estranha no ar? – em seus olhos percebia uma aflição clara.

                        - Sim, tem alguma coisa acontecendo lá fora, mas não posso deixar meu carro aberto. – respondi meio indeciso. Não sabia se teria coragem para fazer o que me propunha. Holambra é uma cidade com estilo europeu, na época a maioria da casa não possuíam muros de frente as casas ficando bem expostas. Minha preocupação era que quisessem me roubar o carro. - Vamos fazer o seguinte, vou sair lá fora, você fica aqui na porta com as mãos na fechadura, qualquer problema eu vou tentar entrar correndo, você fecha a porta imediatamente e passa a chave, ok? – disse, sem a menor certeza que aquilo seria uma atitude lúcida.

- Não Amor, deixa isso pra lá, pode ser uma armadilha, talvez queiram que você faça exatamente isso – disse agoniada, pegando agora meus braços com ambas as mãos, apertando fortemente.
- Tenho que fazer, não posso deixar nosso carro exposto – minha posição de chefe de família tinha que ser firme, apesar de estar com a mesma preocupação da minha esposa – Fique calma, nada acontecerá, confie – disse, procurando encorajar mais a mim do que a ela.

Olhei mais uma vez pela fresta da janela. O silêncio era quase palpável. A rua completamente deserta, nem cães, nem grilos, nem corujas, nada, somente a respiração tensa, minha e da minha esposa. Fui até a porta, abri-a meio indeciso, temeroso, tentando manter a lucidez, coloquei a cabeça para fora. Minha esposa quase espremendo meus ombros, tensa. Olhei para um lado e outro... Nada. Fui agachando lentamente e olhei por baixo do carro, não havia nenhum sinal, nenhuma presença. Levantei lentamente, olhei para minha esposa, o pânico em seus olhos indicavam claramente a tensão que havia no ar.

Saí lentamente, olhava para todos os lados incessantemente, minha esposa a postos, porta entreaberta, mãos na fechadura. Dirigi-me ao porta-malas do carro, escutava até as batidas do meu coração. Fui baixando a tampa do porta-malas lentamente, evitando fazer ruídos, não deixava de olhar para todos os lados. Não bati a tampa, forcei-a até escutar o clique da trava. Passei a chave e me virei em direção à porta lentamente, tenso.
Na casa que morava, na divisa com os vizinhos havia um pequeno muro, baixo, talvez um metro de altura mais ou menos, somente para delimitar as divisas. Não sei por que, senti um impulso grande de olhar do outro lado do muro da casa de cima. Indeciso mas curioso, fui na direção do muro, continuava tenso, olhei brevemente para minha esposa, ela estava apavorada, me questionava com os olhos. Cheguei na divisa e fui tentar olhar por trás... Quando estava chegando quase na divisa, o susto... GROUFFF...

Um forte sussurro, um hálito quente na direção de meu rosto. Tomado de pânico me virei desesperadamente e corri em direção à porta, passei como um furacão e junto com minha esposa batemos fortemente a porta e quase que no mesmo segundo a trancamos. Corremos para o quarto nos jogamos sobre a cama abraçados, tensos, pânico total. Não precisávamos falar nada.
Seja lá o que foi que nos assustou não era um ser humano. Não sei dizer o que era. A única certeza é que não foi fruto de nossa imaginação, afinal éramos dois a vivenciar aquilo. Não tivemos coragem para voltar e ver se conseguíamos descobrir o que foi aquilo. No outro dia, não havia vestígios nenhum, nenhuma evidência do ocorrido. Somente as garrafas totalmente desarrumadas e uma cadela ainda meio apavorada davam os sinais do que havia sido aquela noite.
Só uma certeza... Não foi sonho, tampouco algo fruto de nossa imaginação.


Um ano depois e a história quase que se repetiu, desta vez em Mogi Guaçu... Mas este será um outro conto. 

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