Histórias
Escoteiras.
O lobisomem
de Holambra.
(uma
história escrita pelo Chefe Kleber Svidzinski)
Não conseguia
entender por que os cachorros da rua estavam uivando, todos, sem parar. Mas não
era isso que me tinha feito perder o sono. Na verdade nem tinha me atentado a
este detalhe dos cães, não conseguia pegar no sono, tinha uma aura estranha no
ar, algo inquietante. Percebi que minha cadela Mona também fazia coro aos
uivos.
De repente, como num
passe de mágica, todos, sem exceção, pararam de uivar. Incrível. Foi que se
tivesse acontecido uma ordem para aquilo. Instintivamente olhei no relógio
digital que ficava na cômoda a minha frente... Meia noite em ponto. Confesso
que aquilo me intrigou me deixou meio impressionado.
- Lúcia – chamei minha
esposa – está acordada?
- Sim Bem, estou. –
respondeu-me no mesmo instante.
- Viu isso? Percebeu? -
indaguei
- Sim, que será que
aconteceu? Está um silêncio estranho, pesado... - respondeu
- Viu que horas são? –
perguntei já me virando na cama.
- Muito estranho...
Mal ela acabara de
mencionar e escutamos uns barulhos de garrafas vazias na nossa área de serviço.
Tínhamos um pequeno armário de aço onde colocávamos produtos de limpeza e
algumas garrafas de refrigerantes de
vidro vazias. A Mona, gemendo baixinho estava tentando se enfiar dentro do
local. Costumava fazer assim quando sentia muito medo, tipo quando estouravam fogos. Eu e minha
esposa trocamos um olhar silencioso, cada vez mais achando aquilo tudo muito,
mas muito estranho. Salvo o desespero da nossa cachorra o silêncio continuava
pesado, misterioso.
De repente uns ruídos
chamaram ainda mais nossa atenção. Ao redor da nossa casa havia uma calçada de
ardósia de uns oitenta cm de largura. Começamos a prestar atenção, não
conseguíamos falar nada, estávamos petrificados. Alguma coisa estava caminhando
lentamente, passando ao lado de nossa janela, eram claramente passos de uma criatura
que caminhava sobre duas pernas e possuía garras, o som era característico.
Estas faziam barulho ao contato com a ardósia...
Eu e minha esposa nos
demos as mãos, que criatura dotada de garras caminhava sobre duas pernas
somente? E por que ela causava o pânico em minha cadela? Levantei-me lentamente
da cama, caminhei até a janela. Os passos haviam se cessado... Silêncio total. Comecei a me preocupar com minha cachorra, ela
estava apavorada, havia parado de se mexer, parecia que não queria ser
encontrada, tentando se esconder. De repente um barulho alto na garagem... O
alarme de meu carro disparara. Minha esposa quase que foi ejetada da cama,
juntos, de mãos dadas, caminhamos em silêncio até a janela que dava vistas a
nossa garagem, abrimos uma pequena fresta e fitamos nosso carro. O porta-malas
estava aberto...
Nesse momento já estava
arrepiado da cabeça aos pés. Não conseguia compreender o que estava
acontecendo. Minha esposa correu pegar a chave do carro e acionou o controle
cessando o som do alarme. O silêncio voltou a ser sepulcral... Não sei como,
mas alguém ou alguma coisa havia aberto o porta-malas do carro. Olhei para
todos os lados da rua, minha esposa apertava meu braço com muita força, a
tensão era grande. - Não posso deixar o porta-malas aberto... Tenho que ir
fechá-lo. – disse olhando para minha esposa - Está doido? – respondeu
angustiada – Não está sentindo alguma coisa estranha no ar? – em seus olhos
percebia uma aflição clara.
- Sim, tem alguma coisa acontecendo lá
fora, mas não posso deixar meu carro aberto. – respondi meio indeciso. Não
sabia se teria coragem para fazer o que me propunha. Holambra é uma cidade com
estilo europeu, na época a maioria da casa não possuíam muros de frente as
casas ficando bem expostas. Minha preocupação era que quisessem me roubar o
carro. - Vamos fazer o seguinte, vou sair lá fora, você fica aqui na porta com
as mãos na fechadura, qualquer problema eu vou tentar entrar correndo, você
fecha a porta imediatamente e passa a chave, ok? – disse, sem a menor certeza
que aquilo seria uma atitude lúcida.
- Não Amor, deixa isso
pra lá, pode ser uma armadilha, talvez queiram que você faça exatamente isso – disse
agoniada, pegando agora meus braços com ambas as mãos, apertando fortemente.
- Tenho que fazer, não
posso deixar nosso carro exposto – minha posição de chefe de família tinha que
ser firme, apesar de estar com a mesma preocupação da minha esposa – Fique
calma, nada acontecerá, confie – disse, procurando encorajar mais a mim do que
a ela.
Olhei mais uma vez pela
fresta da janela. O silêncio era quase palpável. A rua completamente deserta,
nem cães, nem grilos, nem corujas, nada, somente a respiração tensa, minha e da
minha esposa. Fui até a porta, abri-a meio indeciso, temeroso, tentando manter
a lucidez, coloquei a cabeça para fora. Minha esposa quase espremendo meus
ombros, tensa. Olhei para um lado e outro... Nada. Fui agachando lentamente e
olhei por baixo do carro, não havia nenhum sinal, nenhuma presença. Levantei
lentamente, olhei para minha esposa, o pânico em seus olhos indicavam
claramente a tensão que havia no ar.
Saí lentamente, olhava
para todos os lados incessantemente, minha esposa a postos, porta entreaberta,
mãos na fechadura. Dirigi-me ao porta-malas do carro, escutava até as batidas
do meu coração. Fui baixando a tampa do porta-malas lentamente, evitando fazer
ruídos, não deixava de olhar para todos os lados. Não bati a tampa, forcei-a
até escutar o clique da trava. Passei a chave e me virei em direção à porta
lentamente, tenso.
Na casa que morava, na
divisa com os vizinhos havia um pequeno muro, baixo, talvez um metro de altura
mais ou menos, somente para delimitar as divisas. Não sei por que, senti um
impulso grande de olhar do outro lado do muro da casa de cima. Indeciso mas
curioso, fui na direção do muro, continuava tenso, olhei brevemente para minha
esposa, ela estava apavorada, me questionava com os olhos. Cheguei na divisa e
fui tentar olhar por trás... Quando estava chegando quase na divisa, o susto...
GROUFFF...
Um forte sussurro, um
hálito quente na direção de meu rosto. Tomado de pânico me virei
desesperadamente e corri em direção à porta, passei como um furacão e junto com
minha esposa batemos fortemente a porta e quase que no mesmo segundo a
trancamos. Corremos para o quarto nos jogamos sobre a cama abraçados, tensos,
pânico total. Não precisávamos falar nada.
Seja lá o que foi que nos
assustou não era um ser humano. Não sei dizer o que era. A única certeza é que
não foi fruto de nossa imaginação, afinal éramos dois a vivenciar aquilo. Não
tivemos coragem para voltar e ver se conseguíamos descobrir o que foi aquilo.
No outro dia, não havia vestígios nenhum, nenhuma evidência do ocorrido.
Somente as garrafas totalmente desarrumadas e uma cadela ainda meio apavorada
davam os sinais do que havia sido aquela noite.
Só uma certeza... Não
foi sonho, tampouco algo fruto de nossa imaginação.
Um ano depois e a
história quase que se repetiu, desta vez em Mogi Guaçu... Mas este será um
outro conto.
top,top sou de holambra tb !
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