A lenda da abelha dourada.
(uma história para lobinhos)
A tarde se fora e noite chegou mansamente. Os lobos e lobas saborearam
com uma linda sopa feita pela Dona Judite, mãe da Marcileia. Balu e Bagheera
levaram a lobada para escovar os dentes e se preparar para a noite. Todos
arrumaram seus sacos de dormir e os que não possuíam um colchonete. Na noite
anterior custaram para dormir. Muitos conversando e rindo. Sinal de primeiro
dia e era sempre assim. Um jogo noturno no campinho de futebol e todos cansados
se recolheram. Balu estava lá com eles
enquanto se preparavam pra dormir. – Se não fizerem barulho prometo contar uma
história, ele disse. Um silêncio reinante. Lá fora na lagoa sapos coachando, na
janela vagalumes tentavam entrar para mostrar ao lampião quem tinha mais luz. Uma
luz se destacava na janela, devia ser o primeiro clarão da lua cheia. Balu era
alto e forte. Tinha uma voz de tenor e todos o amavam muito. – Vamos Balu,
conta! Você prometeu! – Balu olhou de canto a canto e fechando os olhos
começou:
Uma vez, a muitos e muitos anos atrás um "Velho" feiticeiro
chamou uma borboleta cinzenta, feia, sem graça e disse a ela que ele era seu
pai. A borboleta riu. Você não é meu pai. Não pode, já tenho um pai que me dá
de comer e beber. O feiticeiro com raiva disse a borboleta: - Se você não
acredita vou transformar você em um bichinho que voa e todos vão chamá-la de
Abelha dourada. Terás que ir pelo bosque, de árvore em árvore a procura
do néctar da vida para sobreviver. Você vai ter asas, mas suas
pernas serão três pares de patas. Com elas vai limpar suas antenas, sim, isso
mesmo, você vai ter antenas, e pode apoiar e mover para pegar o pólen. Sua
língua vai se mover como um canal formado pelas maxilas e vai terminara em um
tufo de pelos. Isto para você absorver o néctar da flor. Vou colocar em você
uma mandíbula e um maxilar. Eles vão servir para você amassar as escamas de
cera e expelir do abdômen. Vai servir também para varrer a colmeia e mutilar
seus inimigos.
Ah! Não esqueça, vou colocar em você uma linda antena, pois elas serão o
seu olfato e o tato. Você vai ser muito sensível com elas. Com elas
poderá andar na escuridão da noite, e até construir favos bem feitos. E para
terminar vou dar a você um ferrão. Nele você poderá injetar o caule no corpo do
seu inimigo. Cuidado, pois ao fazer isso ficará sem ele, pois estará cravado no
corpo do seu inimigo. Você não terá pai e sim uma rainha. Vai ser uma rainha má
que vai exigir tudo de você. Sua vida será sempre fazer o mel e você não vai
poder saborear. A borboleta cinza não chorou. Até gostou de viver, mesmo
gostando de um zangão cujo amor por ele nunca pode se realizar, ela viveu feliz
por muitos e muitos anos.
- Ninguém dormia. Todos pensando na Borboleta que agora era uma Abelha
Dourada. – Balu! Gritou um lobo, e ela gostou de ser uma Abelha Dourada? – Não
sei lobinho, muitas vezes queremos ser o que não podemos ser. Devemos alegrar o
que somos e o que Deus nos deu. A vida tem caminhos que não escolhemos e ela a
borboleta aceitou sua nova vida como uma abelha dourada. – Mas Balu! E se ela
gostava mais de ser uma borboleta cinzenta? – Balu pensou, coçou levemente sua
cabeça e fechou os olhos pensando em uma resposta. – Sabe Lobinha, um poeta
dizia que ele ouvia o passar do vento, e só de ouvir o vento passar valia a
pena ter nascido para ser o que a vida lhe reservou. Tudo vale a pena quando a
alma não é pequena. Não é a aparência que nos faz feliz. A felicidade está em
nosso coração e não em nosso corpo.
- E
continuou – Tenho certeza que a Borboleta se sentiu feliz em ser uma Abelha
Dourada. Ela sabia seu destino e mesmo se não soubesse ela sabia que sua vida
era assim. Quem sabe ela pensou que vale a pena viver, nem que seja para dizer
que não vale a pena... Os olhinhos se fecharam. Os sonhos de todos agora era um
só. Sonhavam em ser amigos da abelhinha dourada e voar no jardim da primavera. Ah!
Doce primavera. Quem falou nela sem ter visto seu sorriso, falou sem saber o
que era... E a paz reinou no Monte Seoni, onde habitavam os lobos da Alcateia Cinzenta.
Ouviam ao longe o ribombar do Rio Waigunga que corria perto dali, e todos naquele
sonho inesquecível se transformaram em uma abelha dourada correndo para dormir
na Rocha da Paz.
O abutre Chill conduz a
noite incerta
E que o morcego Mang ora
liberta -
É esta a hora em que
adormece o gado,
Pelo aprisco fechado.
É esta a hora do orgulho
e da força
Unha ferina, aguda garra.
Ouve-se o grito: Boa caça
aquele
“Que a Lei da Jângal se
agarra”.
Canto noturno da Jângal.
KIPLING.
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