Crônicas de um Chefe Escoteiro.
Um Capitão, um Coronel, um
batalhão, dezenas de jacarés e... Muitas lambanças!
Não gosto de contar estas
lambanças do passado. Muitos não acreditam e outros já me disseram que
lambanças não se contam. Será? Eu não penso assim. Se não acreditam paciência
eu também costumo não acreditar. Risos. E não contar porque não? Se eu gosto de
escrever acho que tenho este direito. Sempre existe a possibilidade de o leitor
ler e depois de ler pensar que não leu! Mas não vamos perder tempo. Senhoras e
Senhores! Com vocês duas lambanças não tão boas como às outras já publicadas:
Primeira – 1968 - Regional em um estado brasileiro.
À noite na sede regional dando plantão. Entra um Coronel da PM. Educado,
simpático e ainda fez o Sempre Alerta no melhor estilo inglês batendo as
botinas. Apresentou-se. Foi logo no assunto – Preciso de alguém para dar um
curso para alguns voluntários na minha cidade. Queremos organizar um Grupo
Escoteiro e não temos ninguém que conhece bem o escotismo. Terá todo apoio.
Prefeitura, Lyons, Rotary, Maçonaria e Batalhão da Policia Militar. Conversamos
por meia hora. Resolvi eu mesmo ir lá e preparar estes voluntários com um
informativo. Dois dias. Expliquei sobre se poderia ser acampado. Dei detalhes.
Dei relação de materiais. No dia determinado embarquei no noturno das onze da
noite. Cheguei lá pelas sete da manhã. Um sargento em um jipe me esperando.
Fomos para o local. Um clube de campo com um belo bosque. Barracas armadas e
alinhadas uma ao lado da outra. Uma recepção militar. 60 soldados, cabos e
sargentos formados em dois batalhões. Um corneteiro tocou “saudação à
autoridade” quando cheguei.
E agora José? Ia ser difícil começar no sistema de
patrulhas. Mesmo assim formei dez patrulhas com seis cada. Dei tempo para
grito, escolha Monitor e chamei os monitores. O capitão não saia do meu lado.
Vieram marchando e prestaram continência. O curso não foi ruim. Difícil
esquecer o militarismo. O Capitão não gostava do que eu fazia. Não disse nada.
Dois dias. No final todos eles sem uniforme. Civil. Se divertindo a valer.
Patrulhas ótimas. Escotismo na “pinta”. Dei adeus. No retorno o capitão me
levou até ao quartel para apresentar ao Coronel Comandante na cidade. Disse que
foi informado como foi o curso. Não gostou. Seus soldados são soldados. Sem
diálogos. Disse que não iam mais fazer o grupo. Melhor seria uma Guarda Mirim.
Perdi meu tempo? Na estação todos os alunos estavam lá. Abraços, sorrisos,
lágrimas e despedida. Juraram que o grupo ia sair. Uma semana depois fui
chamado ao Quartel Geral da Policia na capital. O coronel pediu desculpas. Pela
primeira vez soldados, cabos e soldados fizeram um abaixo assinado. Pediam o
grupo. O coronel da cidade foi trocado. Um grupo surgiu. Cinco anos depois um
dos melhores do estado!
Segunda – Estávamos em marcha de estrada, minha
Patrulha com seis jovens. Israel não estava. Cansados. Interessante não sabia
onde estávamos indo. Uma estradinha de terra. Dos dois lados plantação de cana.
Uma hora depois um enorme lago. Tínhamos que atravessar. Dar a volta seria uma
enormidade. Mais de oito horas para dar a volta. Achamos uma parte estreita.
Mas diacho! A lagoa cheia de jacarés. Nadar ali não dava. Jacaré de lagoa não
dá trégua e adora o gostoso corpo humano. Marinho estava com uma corda de 40
metros. Romildo descobriu que os jacarés seguiam sempre dentro da água onde a
Patrulha ia. Na parte estreita eles ficaram enfileirados. – Deram a ideia e
acho que foi o Fumanchú que se alguém corresse muito e saltasse em cima dos
jacarés com algumas passadas iria chegar do outro lado. Levando duas cordinhas
finas e depois envia-las por arco e flecha de volta poderia puxar a corda
grossa.
Que cara inteligente. Pular em cima dos jacarés
fazendo eles de escada. Risos. E quem se habilita? Todos olhando para mim. – Eu
não! Nem pensem nisto! Mas eu era no colégio o melhor saltador. Escolha certa.
Preparei-me. Fiquei de short. Tirei os sapatos. Se conseguisse não ia ser
difícil fazer uma “Falsa Baiana” e todos poderiam atravessar e depois rir dos
jacarés. Fechei os olhos, fiz uma oração, tomei distância e lá fui eu correndo.
Pulei um, dois, três e no quarto perdi o equilíbrio. Cai de maduro dentro da
lagoa. Vários jacarés me olhando e passando a língua de um lado e outro da
bocarra. Comida farta pensaram. Eu era gordinho. Chorava e gritava, comida de
jacarés! Meu Deus! Acuda-me! Acordei com minha mãe me chamando. Tirava uma
soneca em minha rede. Ainda bem que foi um sonho. Suava a cântaros. Ainda bem.
Detesto jacarés!
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